*Por Katia Kreutz e equipe da Academia Internacional de Cinema
“Luz, câmera… Ação!” Do famoso clichê tão usado para ilustrar a produção cinematográfica, dois desses itens (luz e câmera) acabam caindo nas mãos da direção de fotografia.
Construir e registrar a imagem que vai aparecer na tela do cinema talvez seja uma das tarefas mais importantes em um filme. Afinal, o que o público vê projetado tem muito do trabalho da direção de fotografia.
Para um diretor de fotografia, é um momento mágico olhar pelo monitor ou pelo visor da câmera e ver um ator se movimentando na luz que ele criou, através da lente que ele escolheu. É como se a história ganhasse vida ali. Comercialmente, o filme nasce quando é lançado, mas para quem está fazendo ele nasce a cada tomada, a cada plano.
Mas o que exatamente faz esse profissional? Conceitua a parte imagética da história? Opera a câmera, mexe na luz?
Neste artigo, vamos responder às principais dúvidas sobre a carreira de diretor de fotografia:
- O que faz um diretor de fotografia
- Quanto ganha um diretor de fotografia
- Dia a dia de um diretor de fotografia
- Responsabilidades de um diretor de fotografia
- Desafios de um diretor de fotografia
- Como se tornar um diretor de fotografia
- Cursos de Direção de Fotografia
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- Quero ser Roteirista
- Quero ser Diretor de Fotografia
- Quero ser Diretor de Arte
- Quero ser Ator
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- Quero trabalhar com Som para Cinema
- Quero ser Documentarista
- Trabalhar com Cinema, Sonho ou Realidade?
O que faz um diretor de fotografia?
A direção de fotografia é a área que controla o processo de construção e registro das imagens de um filme, levando para a tela toda a atmosfera e a linguagem imaginadas na pré-produção, por meio de ferramentas técnicas como iluminação, filtros, lentes, movimentos de câmera, enquadramento, cor, exposição. Uma definição genérica seria dizer que o diretor de fotografia usa a câmera e a luz para transformar as palavras do roteiro em imagens.
Na verdade, essa é apenas uma pequena parte do trabalho desse profissional, embora a função geralmente seja associada a algo mais técnico, por conta do equipamento. Qualquer pessoa que olhe para um set de filmagem verá basicamente isso: as câmeras, os refletores e todo o maquinário da fotografia. Mas o mais importante não é isso. É a ideia que importa.
Então o trabalho de um diretor de fotografia no cinema começa conhecendo o roteiro, seus detalhes e informações narrativas e dramáticas. A partir daí, numa conversa com o diretor (ou diretora), surge um conceito relativo às imagens. Pode-se dizer que esse é um processo herdado das artes plásticas: existe um tema, mas cada artista define como vai representar aquilo conceitualmente.
A fotografia carrega uma mensagem para o público. Isso se constrói junto com a direção do filme, porque é papel do diretor transformar a ideia em matéria. E essa mensagem também é uma escolha: de enquadramento, movimento, cor, luz, exposição. Todo o alfabeto necessário para “escrever” a direção de fotografia está nessas ferramentas.
A questão humana é a base de todo o trabalho. Porque boa parte do que faz um diretor de fotografia envolve a convivência com o diretor do filme, o bom relacionamento com toda a equipe. O aparato técnico deve ser usado para se relacionar com os outros profissionais envolvidos na tarefa de contar essa história e também para “falar” com o público.
Quais as responsabilidades de um diretor de fotografia?
Em um filme de longa-metragem, o ideal é que o diretor de fotografia esteja presente em todas as partes do processo, desde a pré-produção até a finalização. Basicamente, o trabalho do fotógrafo começa ao ler o roteiro e termina quando a cópia de exibição está pronta.
Uma das partes mais importantes do trabalho desse profissional acontece justamente na pré-produção. Seu trabalho é como o de uma orquestra, que precisa passar meses ensaiando para depois se apresentar.
Na pré-produção, algumas das responsabilidades do diretor de fotografia são a pesquisa e o estudo de referências (filmes, fotos, pinturas) para conceitualizar o que funciona melhor e chegar a um consenso visual para a história, além da escolha de equipe, do equipamento, testes, visitas às locações, conversas com a direção de arte, análise da decupagem com o diretor. Essa preparação é praticamente 50% do trabalho.
Por mais que o espectador não veja esses aspectos técnicos (ao menos não conscientemente), é o conceito que vai fazer com que ele sinta algo. O filme não deve invadir, mas carregar o público. É claro que os elementos técnicos são indispensáveis, mas apenas para que se consiga passar essa essência que o expectador vai sentir. Por isso o cinema é tão complexo: ele atinge o público em vários níveis.
Quando a equipe chega ao set de filmagem para a gravação, é hora de realizar o que foi pensado. Existe uma energia ali, por estarem todos concentrados, em silêncio, com a atenção voltada para os atores. Claro que existe espaço para improvisos, mas é a hora de executar tudo o que foi planejado, transformar aquela ideia em algo concreto, em matéria. Sim, porque até chegar ao local de filmagem e montar a luz, ligar a câmera e colocar os personagens para falar e agir, tudo é apenas uma ideia.
Então, na fase de filmagem, o trabalho relativo à iluminação, ao controle de tempo, à movimentação de câmera, maquinário, enquadramento, composição e mesmo a liderança da equipe de cinematografia são algumas das principais responsabilidades do diretor de fotografia.
Apesar de a tecnologia digital ter facilitado um pouco a questão de alterar ou corrigir detalhes na pós-produção, o ideal é que a fotografia de um filme já saia pronta do set de filmagem. É naquele momento que as coisas estão todas alinhadas: atores, direção de arte… Hoje em dia até é possível alterar um pouco a imagem na pós-produção, mas mesmo nesses casos tudo precisa ser muito bem pensado na captação – como foi o caso do filme “O Regresso/The Revenant”, de Alejandro González Iñárritu. O contraste, a direção da luz e a atmosfera são criados no set, por isso deixar para fazer esse trabalho na pós muitas vezes gera um resultado diferente do esperado, com imagens de aspecto “falso”, que não combinam com as já captadas. Esse tipo de intervenção também demora muito tempo, além de encarecer o projeto.
Mas e quanto à participação do diretor de fotografia na fase de finalização? Quer dizer que, uma vez desligada a câmera, ele não participa mais do filme? Tudo depende do diretor, mas é fundamental que o fotógrafo participe também dessa fase. Não por ego profissional, apenas porque a responsabilidade pela imagem do filme é dele.
A pós-produção ajuda a completar o processo da captação, já que as imagens “cruas” não são necessariamente bonitas, mas “saltam” durante o processo de correção de cor (color grading). Ter consciência e saber utilizar essas ferramentas hoje, conhecer minimamente as possibilidades, também faz parte da direção de fotografia. Assim como um eletricista dá ao fotógrafo soluções para luz, o colorista dá soluções para a imagem na pós.
Quando o fotógrafo está com o diretor até o filme ficar pronto, suas tarefas incluem participar nesse processo de correção de cor, no ajuste fino das imagens, e fazer os testes de projeção. O trabalho desse profissional só acaba, de fato, quando a cópia de exibição do filme está pronta. Uma cópia consistente, que transmita todo o trabalho que ele e sua equipe passaram meses conceituando e realizando.
Como é o dia a dia de um diretor de fotografia?
Uma coisa é possível dizer sobre a rotina (nada rotineira) de um diretor de fotografia: não dá pra ter preguiça de trabalhar. Principalmente quando se está filmando, é preciso acordar cedo, ficar várias horas em pé, carregar (ou ajudar a carregar) equipamentos pesados, ter muita paciência e atenção, lidar com diretores exigentes e que mudam de ideia com frequência.
Certamente é um trabalho que cansa, que exige uma carga de concentração absurda e não tem muito do glamour que as pessoas imaginam, vendo as coisas de fora. Num filme, muitas vezes os profissionais envolvidos não entregam somente sua força de trabalho, mas sua emoção, sua sensibilidade.
Por outro lado, tem o lado interessante nisso: quem participa da filmagem de um longa-metragem, de certo modo, vive outra vida. Mesmo quando a gravação acontece na cidade onde as pessoas da equipe moram, quando elas chegam no set, é como se entrassem em outro universo, outra dimensão.
Quanto tempo demora cada projeto?
Pode parecer uma resposta vaga, mas realmente depende do projeto: se é um curta ou longa-metragem, documentário ou ficção… O ideal, no caso de um longa de ficção, seria que o diretor de fotografia entrasse no processo de conceitualização do filme pelo menos um mês antes da filmagem. Em média, o período de filmagem, nas produções cinematográficas nacionais, dura entre um mês e um mês e meio.
No caso de um documentário, tudo depende muito da agenda dos entrevistados. Às vezes a gravação pode ser feita em várias etapas, dependendo também da verba, da necessidade de viajar. Alguns filmes levam anos para serem completados, mas o tempo padrão é de alguns meses para pré-produção, produção e montagem/finalização.
Checklist – Responsabilidades do Diretor de Fotografia
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Quanto ganha um diretor de fotografia?
Essa é uma dúvida muito natural quando se está decidindo investir tempo e dinheiro em uma carreira. Antes de responder a pergunta, vale lembrar que é um pouco arriscado dar muito peso para esse fator.
Em qualquer carreira, existem oportunidades de crescimento e de remuneração em diferentes níveis. O que vai fazer você crescer profissionalmente é a sua dedicação, vocação para a área e experiência, além de um pouquinho de sorte.
Agora, respondendo à pergunta: quanto ganha um diretor de fotografia? Isso depende do projeto, do tamanho da produção. Uma maneira de ter uma base é observar a tabela do Sindcine, que estabelece como valor de cachê para um diretor de fotografia cerca de 2500 reais por semana. Ou seja, para um longa-metragem, com duração de um a dois meses, o salário mensal seria em torno de 10 mil reais. Num curta-metragem, a média fica entre 3 e 5 mil reais para o projeto inteiro (que normalmente dura entre uma e três semanas). Já na publicidade, muitas vezes o valor pago em apenas uma diária do profissional é de 3 mil reais. Sentiu a diferença?
No caso de uma produção totalmente independente, muitas vezes é difícil seguir tabelas de sindicatos. Alguns fotógrafos começam trabalhando por muito pouco, assim como todo o resto da equipe, se acreditarem em uma ideia, se aquela for uma história que eles queiram contar.
Ok, mas dá pra viver de fotografia? A resposta é sim, porém é necessário escolher bem os projetos e ter uma boa organização financeira para conseguir se manter entre um trabalho e outro. O sucesso nessa carreira, como em qualquer outra, depende de um trabalho consistente, competência e dedicação. Reconhecimento é algo que se conquista, com muito trabalho e estudo.
A formação profissional em direção de fotografia abre um enorme leque de possibilidades, já que existem diversas carreiras relacionadas a essa área no universo audiovisual, que muitas vezes são etapas para se chegar ao cinema. Você pode trabalhar com televisão, internet, publicidade. Pode começar como assistente de câmera e ir subindo os degraus até a direção de fotografia cinematográfica.
Naturalmente, a maioria das pessoas precisa começar de baixo, e como em todas as áreas, cada profissional vai se encontrando e se estabilizando em diferentes degraus de atuação e de remuneração. Se você chegar a figurar entre os cinco maiores diretores de fotografia do Brasil, sua remuneração será igualmente alta.
Mas e se eu não chegar a esse nível de reconhecimento? Não é necessário estar entre os cinco maiores diretores de fotografia do Brasil para que essa seja sua profissão e principal fonte de renda, e conforme você adquire experiência os rendimentos tendem a crescer. Sua carreira precisa ser construída dentro das oportunidades que surgirem – sejam elas trabalhos como autônomo para vídeos institucionais, publicidade, casamentos, YouTube, ou mesmo algo fixo em uma emissora ou produtora de cinema ou TV.
Embora, em grande parte dos casos, não seja possível ter carteira assinada e plena estabilidade no que diz respeito ao salário, também não existe rotina. Trata-se de um trabalho interessante, em que tudo muda constantemente, sempre com algo novo para criar e aprender. Além disso, a (falta de) rotina de um freelancer exige mais do profissional, é algo desafiador. É preciso ter mais iniciativa, melhorar e crescer constantemente. Mas são esses desafios também que fazem as pessoas terem energia e vontade de fazer cada vez mais.
Como se tornar um diretor de fotografia?
Existem diversas maneiras de ingressar na carreira. Em primeiro lugar, é preciso ter responsabilidade e competência. O networking é muito importante, mas só funciona no cinema – assim como em qualquer outra área – se o profissional for bom, pois ninguém vai deixar um filme com orçamento de 4 milhões de reais na mão de um profissional inexperiente só porque ele é amigo de alguém.
No Brasil, o curso de carreira mais clássico no mercado costumava seguir uma hierarquia que começava no video assist, passando para segundo assistente de câmera, primeiro assistente de câmera, até eventualmente chegar ao cargo de diretor de fotografia.
Com o boom das câmeras digitais, as coisas mudaram um pouco. Esse sistema de “escadinha”, num mundo em que todos têm acesso a equipamentos desde cedo, acabou sendo substituído pelo bom e velho “aprender fazendo”. Estudando, lendo, testando, às vezes observando o trabalho dos outros…
Uma dica para quem pretende ingressar na profissão é investir em estudo. Um curso ou faculdade facilita conhecer pessoas, praticar e se especializar. É muito saudável essa troca de contatos e amizades num curso de cinema, em que todas as pessoas estão ali com a mesma vontade e foco, entrando no mercado de trabalho juntas e muitas vezes formando parcerias para uma vida toda.
Mas não seria melhor investir esse dinheiro na compra de uma câmera, ao invés de pagar um curso? Até mesmo do ponto de vista mercadológico e financeiro, comprar um equipamento sem saber o que fazer com ele é um péssimo negócio. Por que usar seu dinheiro em um objeto que vai se defasar, se você pode investir em si mesmo, no seu conhecimento? Também é possível que você acabe comprando o equipamento errado, isso sem contar o fato de que projetos diferentes exigem equipamentos diferentes. Mesmo em grandes produções e empresas, o mais comum é alugar não comprar.
Hoje em dia, em escolas de qualidade, os alunos filmam projetos no decorrer de seus cursos e realizam aulas práticas, exercícios, curtas-metragens. A própria AIC é assim, possibilitando colocar a mão na massa e aprender fazendo. Por isso, ao avaliar uma escola ou faculdade, sempre pergunte qual o número de projetos que serão realizados e a quantidade de atividades práticas, bem como o grau de autonomia e responsabilidade que o aluno tem nessas atividades, buscando se informar também se os professores são profissionais ativos no mercado audiovisual.
Você sempre pode comprar sua câmera depois. O que não funciona é comprar primeiro e aprender depois, porque você provavelmente vai desconhecer o mais importante da arte cinematográfica, que é construir a narrativa.
Claro que, nos dias de hoje, qualquer pessoa pode entrar na internet e pesquisar tudo sobre o trabalho de um diretor de fotografia, ver making of de filmes, ler tudo sobre os mais variados tipos de câmeras e lentes… Mas essa teoria acaba chegando fragmentada, e muitos sites publicam informações erradas ou simplificações. Na escola, há um espaço de aprendizado. Existe direcionamento, mas liberdade criativa, sem a responsabilidade de uma produção profissional.
Além disso, não se faz um filme sozinho. Então o jeito é ir atrás de outras pessoas que estão fazendo cinema. Afinal, não vai cair um longa-metragem no seu colo. A vantagem de estudar é que esse ambiente oferece aos iniciantes equipamento, convivência com os futuros colegas de trabalho e orientação de pessoas mais experientes.
A primeira pessoa que vai te ajudar na carreira pode ser um ex-colega de sala que entra em uma produtora, ou um professor que chama o aluno para ser terceiro assistente de um longa. As redes de contatos começam na escola e se expandem a cada projeto realizado.
É muito comum as pessoas crescerem juntas nesse mercado. Filmes de sucesso projetam todos os profissionais para níveis mais altos. Um curta feito em sala de aula que ganha um festival traz visibilidade para toda a equipe. Assim, o networking se expande e começa a trazer oportunidades cada vez maiores e mais interessantes. Tudo isso exige, não apenas que se conheça as pessoas certas, mas que o profissional cumpra suas funções direitinho e nunca pare de desenvolver suas habilidades, de evoluir como artista.
Película vs. digital
Vivemos em uma realidade em que o que mais importa é a velocidade, a tecnologia, o imediatismo, o avanço. A película, antes a principal ferramenta de trabalho do diretor de fotografia, acabou se tornando algo quase nostálgico. No Brasil, hoje, é muito difícil trabalhar com formatos analógicos. Na verdade, financeiramente ainda seria viável, mas não temos mais infra-estrutura de pós-produção em película, o que torna esse processo muito caro, já que o negativo precisa ser revelado e telecinado (digitalizado) fora do país.
Se por um lado a tecnologia digital democratizou as coisas e permitiu inúmeras possibilidades para quem está ingressando no mercado, o processo de fazer, refazer, testar, experimentar e muitas vezes errar também faz parte do desenvolvimento profissional. Porém, o cuidado com a imagem deve ser o mesmo que havia nos tempos da película. O pensamento da “importância daquele momento” precisa continuar.
Dificuldades e desafios
A tecnologia digital não precisa ser uma desculpa para ter preguiça, só porque tudo está aparentemente mais fácil e acessível. É ótimo que esteja mais fácil, porque assim é possível, cada vez mais, colocar a mão na massa. No entanto, é preciso sempre lembrar que a facilidade de filmar não quer dizer que qualquer um por aí seja diretor de fotografia, pelo simples fato de ter uma câmera.
Essa distorção de valores faz com que as pessoas acabem dando um “pulo na carreira”, pelo menos na teoria, sem terem de fato os conhecimentos mais básicos da cinematografia. Nesse sentido, quem está começando precisa agir com humildade e curiosidade, por mais que possua os melhores equipamentos do mundo, porque essa é uma arte que se aprende depois de muitas horas no set e muitos anos (sim, anos!) de experiência.
Podemos usar a analogia de um piloto e as horas de voo: quanto mais horas de prática ele tiver, além de familiaridade com os equipamentos, mais seguro estará para voar. No caso do diretor de fotografia, conhecer o equipamento não quer dizer necessariamente no sentido de operar, mas de saber quais possibilidades existem no uso da luz, da câmera, da cor, do tempo, do movimento, para contar uma história.
Referências e conselhos
Para quem quer saber um pouco mais sobre o trabalho de um diretor de fotografia no Brasil, um excelente filme é o documentário de longa-metragem “Iluminados”, de Cristina Leal (disponível na íntegra no YouTube). O longa revela o olhar sobre a fotografia de cinema pelas lentes de alguns dos maiores profissionais da recente cinematografia brasileira: Dib Lutfi, Edgar Moura, Fernando Duarte, Mario Carneiro, Pedro Farkas e Walter Carvalho.
Outra dica é “Luz & Sombra – Fotógrafos do Cinema Brasileiro”, uma série documental que aponta suas lentes para aqueles que estão por trás das câmeras. Cada episódio mostra a trajetória de um importante fotógrafo cinematográfico, suas experiências e os filmes que marcaram sua carreira.
No longa norte-americano “Visions of Light – The Art of Cinematography”, dirigido por Arnold Glassman, Todd McCarthy e Stuart Samuels, profissionais de câmera discutem a arte da cinematografia e o trabalho do diretor de fotografia, ilustrando suas falas com clips de longas conhecidos.
O filme “Cinematographer Style”, de Jon Fauer, também traz alguns dos maiores cinematógrafos do mundo para falar sobre sua arte, explicando como e por que usaram determinadas linguagens visuais em seus filmes.
“Cameraman: The life and work of Jack Cardif”, com direção de Craig McCall, é um filme que fala sobre uma época mais artesanal da direção de fotografia, em que efeitos especiais eram criados na prática, por meio de perspectiva. O documentário é interessante para conhecer como era o processo da direção de fotografia no cinema no passado.
“Writing with light: Vittorio Storaro”, dirigido por David Thompson, fala sobre esse que é um dos maiores diretores de fotografia do cinema italiano e do mundo. Já o filme “No Subtitles Necessary: Laszlo & Vilmos”, conta um pouco da trajetória de dois grandes amigos e diretores de fotografia, os húngaros Laszlo Kovacs e Vilmos Zsigmond, e como seu trabalho impactou o cinema norte-americano.
Com tantas referências sobre a profissão, resta apenas dizer que o maior conselho de quem já tem experiência na área é trabalhar com dedicação, profissionalismo e humildade. Observar outros profissionais mais experientes ou, se possível e ainda melhor, começar atuando como assistente de câmera.
Paralelamente, é essencial expandir os conhecimentos e se atualizar sempre, num mundo digital que muda constantemente e traz novas tecnologias todos os dias. E nunca parar de exercitar a imaginação, que é uma das primeiras coisas necessárias a um diretor de fotografia, quando ele pega um roteiro nas mãos.
Vale lembrar que a direção de fotografia não é um trabalho somente técnico, mas que requer domínio da criatividade conceitual e narrativa. Não é algo mágico, mas que faz parte da construção da magia do cinema. Muitas pessoas buscam o fazer cinematográfico por serem cinéfilas, e muitas também acabam se frustrando com a realidade difícil do set de filmagem.
É muito prazeroso e fascinante, fazer cinema. Mas também é extremamente exaustivo: trabalha-se diversas horas seguidas, tudo é muito intenso, a pressão é enorme. No momento em que a câmera começa a rodar, todos ficam em estado de alerta, e essa tensão vai se acumulando no seu corpo, seu emocional.
O fotógrafo, de certa maneira, é uma das pessoas que mais se movimenta no set – antecipando, resolvendo e pensando no próximo take, “pilhado” o tempo inteiro. Dentro desse contexto, a parte mais complexa é a relação humana, porque não somos máquinas produzindo filmes. Não basta simplesmente ligar a câmera e pronto. O cinema é uma expressão de pessoas para outras pessoas. O processo criativo requer empatia, conexão. Por isso, quanto mais você filma, quanto mais convive com outras pessoas, mais aprende.
Quando a gravação de um filme acaba, muitos profissionais dizem que parece que você está se separando de uma família – por mais piegas que isso possa soar. Essas pessoas viajaram juntas para um “outro mundo”, uma história única. É essa relação de respeito e confiança que se espera de uma equipe de filmagem.
Afinal, já é tudo tão cansativo e estressante, as pessoas precisam tomar inúmeras decisões e correr contra o tempo. Se estiverem em uma externa, a luz acaba, tem horário. Os atores erram, cansam, o diretor quer improvisar… Se não houver uma boa relação, principalmente entre o diretor e o diretor de fotografia, isso atrapalha o trabalho de todos. O ambiente tenso passa pra equipe, ninguém consegue se concentrar. Então fica aqui nossa recomendação: busque crescer tecnicamente, criativamente, mas também nas relações humanas.
É a convivência nas diversas partes do processo, em especial no set de filmagem, que forma um diretor de fotografia e sua visão de mundo. Mesmo em um filme de entretenimento, sem pretensão de discutir algo mais profundo, ele pode contribuir com uma linguagem, uma atmosfera ou estética interessante. Esse é o poder da luz e da câmera para a ação.
Leu tudo e se identificou? Confira estes cursos de direção de fotografia para iniciar ou se aprofundar na área.
* Fontes consultadas para esse artigo, professores da Academia Internacional de Cinema: André Moncaio, André Besen e Cleumo Segond.