“\u00c9 importante essa troca de ideias. Porque eu realmente acredito em um mundo de trocas de energias, de saberes, de conhecimento. A minha expectativa \u00e9 sair daqui inspirada, reenergizada, retroalimentada”. <\/span><\/p><\/blockquote>\n
Foi assim que a cineasta e roteirista Viviane Ferreira\u00a0deu in\u00edcio ao terceiro dia da Semana de Orienta\u00e7\u00e3o<\/a> da Academia Internacional de Cinema (AIC).<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>O evento que abre o ano letivo da AIC come\u00e7ou no \u00faltimo dia 17 com a presen\u00e7a do ator Antonio Saboia<\/a> e deu sequ\u00eancia, no dia 18, com a participa\u00e7\u00e3o da tamb\u00e9m cineasta Sabrina Fidalgo<\/a>. No dia 20, o encerramento \u00e9 com o diretor de fotografia do filme “Ainda Estou Aqui”, Adrian Teijido.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
A Estrutura da Encruzilhada<\/span><\/b>\u00a0<\/span><\/h2>\n
\u00a0<\/span>A linguagem \u00e9 dividida em tr\u00eas camadas e reflete a forma como Viviane lan\u00e7a o olhar para os seus personagens. A primeira est\u00e1 no campo do racional, do teleol\u00f3gico, do que a imagem traz para o espectador. A segunda bebe na fonte do semi-teleol\u00f3gico, que \u00e9 quando a pessoa v\u00ea o elemento, n\u00e3o o enxerga exatamente, mas entende que est\u00e1 tudo bem n\u00e3o saber. A terceira e \u00faltima \u00e9 a da ‘feiti\u00e7aria’, quando definitivamente n\u00e3o h\u00e1 interesse em explicar a cena, mas sim trazer para o p\u00fablico as sensa\u00e7\u00f5es do que est\u00e1 sendo reproduzido. “Com a camada da feiti\u00e7aria, eu tiro das minhas costas a necessidade de racionalizar e explicar tudo o que est\u00e1 no meu filme”, conclui.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>Essa percep\u00e7\u00e3o semi\u00f3tica traz um apontamento cr\u00edtico ao mundo de hoje. “O que realmente me interessa \u00e9 fazer sentir o tanto que o tempo acelerado do capital tem tirado de n\u00f3s e das nossas gera\u00e7\u00f5es o entendimento de si pr\u00f3prios”. \u00a0<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>No evento, Viviane tamb\u00e9m revelou ter uma rela\u00e7\u00e3o de amor e \u00f3dio com os festivais de cinema. “Eu adoro os festivais para ver os filmes de colegas e conhecer novas pessoas, mas eu odeio a exist\u00eancia de premia\u00e7\u00e3o. Porque acho que ela rouba uma pr\u00e9-disposi\u00e7\u00e3o de conex\u00e3o com o outro. E tamb\u00e9m acho que a gente gasta muito na tens\u00e3o de que precisamos fazer um filme genial a ponto de um j\u00fari entregar uma estatueta de metal”. Mas \u00e9 enf\u00e1tica ao celebrar as vit\u00f3rias que o filme “Ainda Estou Aqui”, protagonizado por Fernanda Torres, tem colecionado no Brasil e no mundo afora. “Essa atmosfera de final de Copa do Mundo \u00e9 muito bonita, e \u00e9 muito menos sobre ostentar a quantidade de pr\u00eamios, mas sim sobre como o filme tem conseguido se conectar com as pessoas”.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
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Um Dia Com Jerusa<\/span>\u00a0<\/span><\/h2>\n
\u00a0<\/span>Antes da palestra, foi exibido o filme “Um dia com Jerusa”, dirigido pela Viviane. A obra \u00e9 de 2018, mas a ideia foi gestada muitos anos antes quando a pr\u00f3pria diretora trabalhava com pesquisas de mercado pelos bairros de S\u00e3o Paulo. No tr\u00e2nsito, dentro do \u00f4nibus, ela testemunhou uma senhora chorar e se emudecer ao perceber que ningu\u00e9m que ocupava o transporte p\u00fablico estava apto a ajud\u00e1-la, incluindo a pr\u00f3pria Viviane. “Digo que o filme nasceu de uma frustra\u00e7\u00e3o pessoal, de n\u00e3o ajudar uma pessoa que chorou e emudeceu por medo de me incomodar. Depois do que aconteceu, n\u00e3o dormi \u00e0 noite e corri para escrever o que eu tinha passado em um papel, como forma de desabafo”. E foi deste desabafo que, sob insist\u00eancia da s\u00f3cia da sua produtora \u00e0 \u00e9poca, nasceu o roteiro do filme. \u00a0<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>A produ\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m lhe rendeu alguns perrengues. Dois deles, em especial, foram um roubo dentro do set de filmagem, que fez a equipe perder uma cena muito desejada por Viviane e a chuva artificial que o seu irm\u00e3o, e tamb\u00e9m s\u00f3cio, criou usando uma mangueira no lugar de equipamentos sofisticados.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
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Intelig\u00eancia Artificial e Pol\u00edticas P\u00fablicas<\/span><\/b>\u00a0<\/span><\/h2>\n
\u00a0<\/span>Ao longo da conversa, Viviane foi perguntada sobre a interfer\u00eancia da intelig\u00eancia artificial dentro do mercado audiovisual. Ao que ela respondeu com “duas identidades: uma de advogada e outra de artista”. A primeira \u00e9 de defesa da regulamenta\u00e7\u00e3o da tecnologia para que seja poss\u00edvel manter os direitos preservados dos autores, e a segunda, de forma direta, diz n\u00e3o ter medo algum da IA. “Me instiga tentar entender o funcionamento da IA, eu n\u00e3o tenho nenhum tipo de fobia. At\u00e9 mesmo porque o mercado muda e se transforma todos os dias. Quero ser amiga dessa tecnologia, mas, claro, desde que haja regula\u00e7\u00e3o”, pondera.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>Como criadora e defensora das pol\u00edticas p\u00fablicas do setor, Viviane relembra que sem elas seu filme n\u00e3o existiria, al\u00e9m de outros que foram importantes para a cena cinematogr\u00e1fica brasileira recente. “<\/span>Um Dia com Jerusa<\/span><\/i> nasceu a partir de uma pol\u00edtica p\u00fablica afirmativa da Secretaria do Audiovisual (SAV), da Ancine, na mesma \u00e9poca em que <\/span>Marte Um<\/span><\/i>, do Gabriel Martins, e Cabe\u00e7a de N\u00eago, de <\/span>D\u00e9o Cardoso<\/span><\/i>, tamb\u00e9m foram contemplados. \u00c9 ineg\u00e1vel que foram filmes que projetaram as nossas carreiras. Est\u00e1 a\u00ed a import\u00e2ncia de a\u00e7\u00f5es como essa”.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>No final da apresenta\u00e7\u00e3o, a cineasta apontou dois desafios enfrentados diariamente pelo setor: a regulamenta\u00e7\u00e3o do streaming, por defender que os direitos patrimonialistas da obra fiquem com o autor brasileiro e n\u00e3o com a plataforma estrangeira, e o enfrentamento \u00e0 ‘pejotiza\u00e7\u00e3o’ do audiovisual. “Se voc\u00ea n\u00e3o est\u00e1 em um set de filmagem, n\u00e3o h\u00e1 nenhum direito que te d\u00ea seguridade”. E completa: “Eu desejo que as pessoas enfrentem esses problemas com a mesma energia que torcem para o cinema brasileiro no Oscar”. \u00a0<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>Viviane ainda deixou uma dica final para os convidados: “Siga acreditando na sua pr\u00f3pria criatividade e intui\u00e7\u00e3o. A cena independente n\u00e3o tem uma receita de bolo, e isso exige energia para se conectar com pessoas comprometidas com as hist\u00f3rias que voc\u00eas est\u00e3o dispostos a contar e a ser critivo no garimpo de oportunidades”.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
\u00a0<\/span>Sobre sonhos e desejos, at\u00e9 porque a conversa come\u00e7ou em clima de retrospectiva, a cineasta compartilhou a sua utopia: “que todas as pessoas que est\u00e3o nessa sala consigam contribuir para que a gente tenha um audiovisual cada vez mais potente e pujante”.<\/span>\u00a0<\/span><\/p>\n
Texto: Guilherme Mariano<\/em>
\nFoto: Raiss\u00e0 Nashla<\/a><\/em><\/p>\n\u00a0<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"