{"id":29234,"date":"2023-11-01T11:04:42","date_gmt":"2023-11-01T14:04:42","guid":{"rendered":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/?p=29234"},"modified":"2023-11-01T11:05:18","modified_gmt":"2023-11-01T14:05:18","slug":"inteligencia-artificial-no-audiovisual","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/inteligencia-artificial-no-audiovisual\/","title":{"rendered":"Intelig\u00eancia Artificial no Audiovisual"},"content":{"rendered":"

O audiovisual \u00e9 uma \u00e1rea de converg\u00eancia entre arte<\/a> e tecnologia. Tal como em v\u00e1rias profiss\u00f5es, a incurs\u00e3o da Intelig\u00eancia Artificial suscita debates acerca de direitos autorais, \u00e9tica e a evolu\u00e7\u00e3o da m\u00eddia em si. A maneira como as obras s\u00e3o executadas, ou em certos casos, criadas e desenvolvidas, podem alterar o tempo que elas levam para que sejam finalizadas, modificando a log\u00edstica de produ\u00e7\u00e3o e, consequentemente, sua distribui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ferramentas e Evolu\u00e7\u00e3o do Mercado<\/strong><\/h2>\n

Muitas dessas ferramentas j\u00e1 fazem parte do workflow <\/em>de produ\u00e7\u00f5es de pequeno e grande porte. No \u00e2mbito dos softwares da empresa Adobe, por exemplo, o futuro promete a implementa\u00e7\u00e3o do Content Aware<\/a><\/em>, presente hoje no Photoshop como parte do projeto Firefly<\/em>, para o After Effects, permitindo altera\u00e7\u00f5es em tempo real em v\u00eddeos.<\/p>\n

Uma das pr\u00f3ximas evolu\u00e7\u00f5es do software de edi\u00e7\u00e3o de imagens Adobe Premiere Pro ser\u00e1 a edi\u00e7\u00e3o de v\u00eddeos diretamente atrav\u00e9s do texto, algo que pode tornar a ferramenta mais acess\u00edvel para quem n\u00e3o tem um conhecimento aprofundado da ferramenta. Estas e outras transforma\u00e7\u00f5es fazem parte do Project Fast<\/em>, uma iniciativa da Adobe voltada a incorporar a IA em suas ferramentas de v\u00eddeo.<\/p>\n

O Premiere Pro j\u00e1 emprega a IA na funcionalidade Scene Edit Detection<\/em>, sugerindo cortes ap\u00f3s an\u00e1lise dos takes importados. O Roto Brush<\/em> facilita a cria\u00e7\u00e3o de composi\u00e7\u00f5es na hora de separar algo no primeiro plano do fundo de uma cena. O Remix<\/em>, uma das ferramentas mais impressionantes recentemente implementadas, pode alongar ou reduzir uma trilha de acordo com a dura\u00e7\u00e3o do v\u00eddeo, diminuindo o tempo de ajuste que o editor precisaria empregar para deixar a m\u00fasica melhor inserida em um v\u00eddeo, s\u00e9rie ou filme.<\/p>\n

Isso sem mencionar a ferramenta de transcri\u00e7\u00e3o, que acelera o processo de legendagem e colabora para a acessibilidade dessas obras. Ferramentas similares podem ser encontrados tamb\u00e9m no DaVinci Resolve, que oferece ainda a cria\u00e7\u00e3o de mapas de profundidade com uma velocidade impressionante.<\/p>\n

H\u00e1 tamb\u00e9m uma vasta quantidade de ferramentas<\/a> j\u00e1 dispon\u00edveis para cineastas e videomakers que podem ser encontradas online. O Topaz <\/em>\u00e9 uma das mais conhecidas, proporcionando melhoria na qualidade de imagens de resolu\u00e7\u00e3o inferior. H\u00e1 tamb\u00e9m o Colourlab.ai<\/em>, voltando \u00e0 corre\u00e7\u00e3o de cor. No campo da gera\u00e7\u00e3o de imagens, o Midjourney<\/em>, o DALL-E<\/em>, o Stable Diffuson<\/em>, o Kaiber<\/em> e o Runway Studio<\/em>, se n\u00e3o encarados como ferramentas para cria\u00e7\u00e3o de produtos finais, podem ser componentes poderosos no desenvolvimento de projetos. As ferramentas s\u00e3o capazes de gerar backgrounds para produ\u00e7\u00f5es de baixo custo, permitindo um ganho no valor de produ\u00e7\u00e3o em obra de autores independentes.<\/p>\n

Um uso valioso para tais ferramentas pode ser a utiliza\u00e7\u00e3o de imagens em pitchings, onde um roteirista pode dar uma identidade visual ao seu projeto antes de obter aporte financeiro para a contrata\u00e7\u00e3o de um artista que criar\u00e1 artes conceituais. Caso o roteirista prefira utilizar imagens de outras obras como refer\u00eancia ao inv\u00e9s de gerar imagens do zero, o Kive <\/em>e o Flim <\/em>utilizam a intelig\u00eancia artificial para localizar frames conforme a descri\u00e7\u00e3o em texto, pesquisando cenas a partir de elementos como cores, enquadramento, tom e fotografia.<\/p>\n

Outra ferramenta, o Neutron<\/em>, utiliza a intelig\u00eancia artificial para aprimorar o som, proporcionando uma maneira de elevar a qualidade sonora de um v\u00eddeo por profissionais que n\u00e3o tenham habilidades avan\u00e7adas em DaVinci, por exemplo, uma ferramenta muito usada em praticamente todas as etapas de p\u00f3s-produ\u00e7\u00e3o e finaliza\u00e7\u00e3o. J\u00e1 o Polycam<\/em>, um aplicativo para celular, consegue transformar qualquer objeto em um modelo 3D, algo que pode ser importado em ferramentas como o Blender ou o Unreal Engine.<\/p>\n

As novas promessas e os limites \u00e9ticos<\/strong><\/h2>\n

Uma das promessas mais atuais \u00e9 o software Wonder Studios AI<\/a><\/em>, da empresa Wonder Dynamics. Tamb\u00e9m voltada aos efeitos especiais, o programa \u00e9 capaz de analisar o ator em uma cena e substitu\u00ed-lo por um modelo 3D, como um rob\u00f4 ou uma criatura alien\u00edgena, por exemplo. A ferramenta tamb\u00e9m consegue criar rigs<\/em> para a modelagem de personagens a partir da an\u00e1lise de uma cena com uma pessoa real, o que pode acelerar projetos que utilizam anima\u00e7\u00e3o. A Wonder Dynamics tem o envolvimento dos diretores Steven Spielberg e Joe Russo, conferindo quase que um selo de oficialidade quanto \u00e0 presen\u00e7a desses softwares no futuro da produ\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica.<\/p>\n

Hoje est\u00e1 bem claro que estas tecnologias vieram para ficar, pois n\u00e3o h\u00e1 forma de ir na dire\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria do processo inovativo que elas representam. O que tem ocorrido e deve prosseguir \u00e9 a determina\u00e7\u00e3o, por parte dos profissionais das \u00e1reas criativas, de limites<\/a> para que estas ferramentas n\u00e3o esbarrem no aspecto humano e criativo das produ\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

A recente greve de roteiristas e atores em Hollywood evidenciou alguns dos receios desses profissionais. Os atores, por exemplo, se preocupam com a possibilidade do uso indevido de suas imagens e t\u00e9cnicas em um futuro n\u00e3o muito distante, temendo que a reprodu\u00e7\u00e3o digital possa vir a substitu\u00ed-los ou a explorar sua imagem sem a devida compensa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Por outro lado, os roteiristas apontam o risco do uso da IA no desenvolvimento de roteiros completos. Eles evidenciam que a IA, ao automatizar o processo criativo, pode minimizar o papel humano, desvalorizando a originalidade e a nuance que um roteirista traz para o trabalho. H\u00e1 tamb\u00e9m uma preocupa\u00e7\u00e3o sobre como a IA poderia padronizar a narrativa, reduzindo a diversidade e a inova\u00e7\u00e3o no campo da escrita de roteiros. Estas preocupa\u00e7\u00f5es real\u00e7am o debate cont\u00ednuo sobre a integra\u00e7\u00e3o equilibrada da tecnologia nas artes, de modo a potencializar projetos sem anular a ess\u00eancia humana que \u00e9 central para a express\u00e3o art\u00edstica.<\/p>\n

Em entrevista ao jornal O Globo, o pesquisador em comunica\u00e7\u00e3o e intelig\u00eancia artificial, Vin\u00edcius Laureto, diz acreditar na IA como recurso auxiliar. “Temos modelos incr\u00edveis para gera\u00e7\u00e3o de dados. Mas, para criar do zero, ainda \u00e9 algo muito complicado. Vejo a intelig\u00eancia artificial mais presente durante a produ\u00e7\u00e3o e a p\u00f3s-produ\u00e7\u00e3o, com softwares de montagem, coloriza\u00e7\u00e3o etc. Voc\u00ea pode corrigir enquadramentos, apagar tremores e remover coisas da cena de forma mais f\u00e1cil.\u201d, afirmou ao jornal.<\/p>\n

A quest\u00e3o sobre cria\u00e7\u00e3o levantadas por Laureto esbarra em outro tema sens\u00edvel quando abordamos plataformas gerativas. Como n\u00e3o criam algo do zero, as ilustra\u00e7\u00f5es geradas por elas s\u00e3o baseadas em artes existentes de outros artistas, sem que estes tenham conhecimento de que seu trabalho est\u00e1 sendo utilizado para treinar uma IA que pode, eventualmente, acabar competindo com eles mesmos. Isso porque, uma vez que os modelos de IA hoje n\u00e3o s\u00e3o capazes de criar algo de forma aut\u00f4noma, eles realizam uma esp\u00e9cie de curadoria por qualidades t\u00e9cnicas de outros art\u00edsticas que atendam o prompt<\/em> requerido por usu\u00e1rios.<\/p>\n

Realidade Brasileira <\/strong><\/h2>\n

No Brasil, a produtora O2 Filmes<\/a> criou, no final de 2022, um grupo de pesquisa voltado a novas tecnologias, composto por desenvolvedores, diretores, profissionais de VFX e roteiristas.\u00a0 \u201cTemos um modelo de large language model (LLM) propriet\u00e1rio em desenvolvimento espec\u00edfico para leitura e decupagem t\u00e9cnica de roteiros. Essa ferramenta auxiliar\u00e1 nas estimativas e or\u00e7amento de produ\u00e7\u00e3o, p\u00f3s-produ\u00e7\u00e3o e efeitos visuais\u201d, contou Paulo Barcellos, CEO da produtora, ao portal Meio & Mensagem<\/a>.<\/p>\n

No curto prazo, o cen\u00e1rio que se desenha \u00e9 de que profissionais que conseguirem inserir estas novas ferramentas em seu workflow podem ter prefer\u00eancia por produtoras interessadas em explorar e capitalizar atrav\u00e9s destas tecnologias. A m\u00e9dio prazo, uma s\u00e9rie de desafios j\u00e1 pautam discuss\u00f5es entre profissionais do setor. Dentre eles, o uso de IA na dublagem, empregando a voz de um ator em idiomas diferentes, pode representar um obst\u00e1culo para profissionais especializados em locu\u00e7\u00e3o, narra\u00e7\u00e3o e dublagem.<\/p>\n

A utiliza\u00e7\u00e3o de IA nesse contexto pode alterar drasticamente o campo da dublagem<\/a>, instigando quest\u00f5es \u00e9ticas e profissionais sobre autenticidade, consentimento e remunera\u00e7\u00e3o justa, ao passo que abre novas possibilidade para a acessibilidade lingu\u00edstica.<\/p>\n

A necessidade de uma nova perspectiva para o uso de ferramentas inovadoras por humanos e n\u00e3o os substituindo, parece mais urgente do que em outros momentos em que a ind\u00fastria esteve de frente com mudan\u00e7as radicais na forma como ela opera. Talvez o motivo seja a velocidade com que essas ferramentas t\u00eam evolu\u00eddo, muito mais r\u00e1pido do que a pr\u00f3pria ind\u00fastria consegue absorver.<\/p>\n

O debate fermenta em paralelo a outros t\u00f3picos significativos e transformadores, como a produ\u00e7\u00e3o virtual de s\u00e9ries inteiras e o momento atual onde o cinema buscas redescobrir-se como express\u00e3o art\u00edstica frente a desafios como a sobreviv\u00eancia das salas de exibi\u00e7\u00e3o e o intervalo de tempo que uma pessoa consegue se dedicar a uma obra. Enquanto arte industrial, o audiovisual \u00e9 moldado pelas mudan\u00e7as tantas vezes dr\u00e1sticas que acabam impulsionando sua relev\u00e2ncia para espectadores de gera\u00e7\u00f5es futuras.<\/p>\n

*Texto Leandro Reis<\/em><\/p>\n

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