{"id":28492,"date":"2023-03-16T09:00:23","date_gmt":"2023-03-16T12:00:23","guid":{"rendered":"https:\/\/loja.aicinema.com.br\/?p=28492"},"modified":"2023-06-12T21:42:02","modified_gmt":"2023-06-13T00:42:02","slug":"gabriel-uchida-fala-sobre-a-producao-do-documentario-o-territorio","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/gabriel-uchida-fala-sobre-a-producao-do-documentario-o-territorio\/","title":{"rendered":"Gabriel Uchida fala sobre a produ\u00e7\u00e3o do document\u00e1rio \u201cO Territ\u00f3rio\u201d"},"content":{"rendered":"
Texto Estefania Lima<\/em> Gabriel Uchida, um dos produtores do filme \u201c<\/em>O Territ\u00f3rio\u201d (2022), do estadunidense Alex Pritz, foi o convidado do \u00faltimo dia da 17\u00aa Semana de Orienta\u00e7\u00e3o da Academia Internacional de Cinema (AIC). Assim como todos os palestrantes que estiveram presentes na AIC ao longo da Semana de Orienta\u00e7\u00e3o, Gabriel iniciou sua fala contando sobre sua trajet\u00f3ria.<\/p>\n Nascido em S\u00e3o Paulo e radicado em Rond\u00f4nia, Uchida se considera um contador de hist\u00f3rias. Formado em jornalismo, o produtor contou como seu trabalho de correspondente internacional o levou da cobertura de um atentado terrorista no Curdist\u00e3o a luta dos povos ind\u00edgenas brasileiros contra o desmatamento da Amaz\u00f4nia.<\/p>\n Enquanto cobria a guerrilha de mulheres curdas, Uchida pisou em uma bomba e viu muita gente morrer. A situa\u00e7\u00e3o causou estresse p\u00f3s-traum\u00e1tico, mas n\u00e3o diminuiu seu desejo por cobrir conflitos. \u201cA adrenalina \u00e9 uma droga muito boa\u201d, afirmou o produtor, que estava indo registrar o in\u00edcio da Guerra da R\u00fassia com a Ucr\u00e2nia, quando um amigo lhe chamou aten\u00e7\u00e3o para as quest\u00f5es territoriais da Amaz\u00f4nia. Uchida, que na \u00e9poca morava na Alemanha, cancelou seu voo para a Ucr\u00e2nia e retornou para a Am\u00e9rica do Sul.<\/p>\n Chegando em Porto Velho – RO, em 2016, come\u00e7ou a registrar as hist\u00f3rias que via. Dois anos depois, passou a filmar \u201cO Territ\u00f3rio\u201d, document\u00e1rio sobre a luta do povo ind\u00edgena Uru-eu-wau-wau contra o desmatamento feito por posseiros ilegais e uma associa\u00e7\u00e3o de fazendeiros n\u00e3o-origin\u00e1rios na Amaz\u00f4nia. O mote era acompanhar os quatro anos do governo Bolsonaro e seus impactos, j\u00e1 previs\u00edveis, na regi\u00e3o. \u201cForam quatro anos de muitas desgra\u00e7as, as coisas iam acontecendo na nossa frente.\u201d, contou o produtor. Por seguran\u00e7a, e no in\u00edcio tamb\u00e9m por falta de recursos, as filmagens foram feitas com equipes de no m\u00e1ximo tr\u00eas pessoas. \u201cN\u00f3s n\u00e3o quer\u00edamos incomodar os ind\u00edgenas e nem atrapalhar a din\u00e2mica das aldeias. \u00c9ramos uma equipe de poucas pessoas e equipamentos.\u201d, revelou.<\/p>\n Sobre a escolha das personagens, Uchida contou que durante muito tempo eles acompanharam uma s\u00e9rie de pessoas, para s\u00f3 ent\u00e3o, escolherem aquelas com o melhor arco dram\u00e1tico. Mesmo assim, muitas escolhas foram feitas apenas na ilha de edi\u00e7\u00e3o. A escolha dos invasores das terras ind\u00edgenas registrados no filme, passou, por exemplo, pela escolha de n\u00e3o vilaniz\u00e1-los. \u201cA gente n\u00e3o entende os invasores como os criadores do problema. Eles s\u00e3o parte do conflito, de uma estrutura colonial que segue existindo”, relatou, Uchida, lembrando que a mentalidade de explora\u00e7\u00e3o e conquista faz parte da cultura da regi\u00e3o: “Rond\u00f4nia tem essa agenda de colonizar o oeste, que a floresta n\u00e3o \u00e9 nada. Eles realmente se sentem do lado certo da hist\u00f3ria.\u201d, avaliou.<\/p>\n J\u00e1 com rela\u00e7\u00e3o \u00e0s personagens do lado ind\u00edgena, a principal preocupa\u00e7\u00e3o foi com a seguran\u00e7a. A indigenista Neidinha Bandeira, protagonista do filme, por exemplo, precisou ficar exilada e escondida por tr\u00eas meses. Para situa\u00e7\u00f5es como esta foi criado um fundo de prote\u00e7\u00e3o aos envolvidos. Qualquer um das personagens do document\u00e1rio que se sentissem amea\u00e7ados, poderiam, e ainda podem, acessar esse fundo, e ter total apoio da produ\u00e7\u00e3o do filme para isso. Al\u00e9m disso, os ind\u00edgenas Uru-eu-wau-wau foram co-produtores do filme e dividiram de forma igual os lucros da venda do document\u00e1rio para a National Geographic.<\/p>\n Ali\u00e1s, o caminho para garantir o financiamento de \u201cO Territ\u00f3rio\u201d aconteceu ao longo dos anos. Uchida e Pritz inscreveram o document\u00e1rio em incont\u00e1veis editais e percorreram diversas cidades do mundo atr\u00e1s de verba. A virada veio quando, em 2019,\u00a0 Darren Aronofsky<\/a>, diretor de \u201cA baleia\u201d (2022), entrou no time como co-produtor. \u201cComo outras pessoas de Hollywood, o Darren est\u00e1 preocupado com as quest\u00f5es clim\u00e1ticas\u201d, contou Uchida, sobre o diretor que arcou com metade do or\u00e7amento do filme.<\/p>\n
\nFoto Fernanda Muller<\/em><\/p>\n