{"id":24911,"date":"2020-10-14T11:54:49","date_gmt":"2020-10-14T14:54:49","guid":{"rendered":"http:\/\/aicinema.site.brtloja.com.br\/?p=24911"},"modified":"2021-02-25T23:00:36","modified_gmt":"2021-02-26T02:00:36","slug":"trilha-sonora-como-o-cinema-pode-ajudar-a-viver-de-musica","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/trilha-sonora-como-o-cinema-pode-ajudar-a-viver-de-musica\/","title":{"rendered":"Trilha sonora: como o cinema pode ajudar a viver de m\u00fasica"},"content":{"rendered":"
Se voc\u00ea estudou m\u00fasica, certamente j\u00e1 conhece as diversas possibilidades de carreira que essa profiss\u00e3o oferece. Mas talvez n\u00e3o tenha considerado uma delas, que \u00e9 trabalhar com trilha sonora no cinema ou audiovisual. Esse trabalho n\u00e3o abrange apenas a parte musical, mas todo o conte\u00fado sonoro que tem fun\u00e7\u00e3o narrativa, ou seja, que ajuda a contar uma hist\u00f3ria.<\/p>\n
Ent\u00e3o quer dizer que \u00e9 poss\u00edvel viver de m\u00fasica, mas fazendo filmes?<\/strong> Sim, porque a \u00e1rea de som no audiovisual \u00e9 uma das que mais demanda por profissionais especializados, especialmente no Brasil. Esse \u00e9 um dos motivos pelos quais a Academia Internacional de Cinema desenvolveu o curso de trilha sonora.<\/p>\n N\u00e3o \u00e9 obrigat\u00f3rio ser m\u00fasico para trabalhar com trilha sonora, mas a sensibilidade para sons pode ser um primeiro passo para ingressar nessa \u00e1rea t\u00e3o interessante da produ\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica. Continue lendo para entender um pouco melhor que fun\u00e7\u00f5es no set est\u00e3o envolvidas no trabalho com som e quais os conhecimentos necess\u00e1rios para exercer essa profiss\u00e3o.<\/p>\n <\/p>\n Imagine a experi\u00eancia de conhecer um novo e fascinante universo da linguagem audiovisual, fazendo exerc\u00edcios que desenvolvam a narrativa sonora de um filme. Essa \u00e9 a proposta do curso de trilha sonora da AIC. A cada aula, os alunos trabalham em um projeto que ajuda a ampliar seu repert\u00f3rio, para que eles compreendam como a trilha sonora contribui em termos dramat\u00fargicos dentro de uma cena. \u201cEm uma das aulas, por exemplo, o projeto \u00e9 criar toda a hist\u00f3ria que acontece fora do quadro e que naquela cena \u00e9 mais importante do que o que vemos. Algo acontece, mas vemos apenas a rea\u00e7\u00e3o do personagem. Os alunos constroem essa narrativa\u201d, conta o coordenador pedag\u00f3gico Martin Eikmeier.<\/p>\n O programa do curso tem ainda um projeto final, que contempla o acabamento sonoro de uma cena. Esse projeto \u00e9 trabalhado pelos alunos e pelo professor durante v\u00e1rias aulas, at\u00e9 chegar em sua vers\u00e3o definitiva. \u201cOs alunos recebem um feedback<\/em> e podem refazer seus projetos a partir dessa devolutiva. A repeti\u00e7\u00e3o \u00e9 algo muito importante, em qualquer \u00e1rea criativa. Voc\u00ea somente aprimora sua habilidade em rela\u00e7\u00e3o a algo se pode repetir o que fez\u201d, ressalta Martin.<\/p>\n <\/p>\n \u201cA trilha sonora abrange muito mais do que apenas a m\u00fasica do filme. Ela \u00e9 toda a banda sonora\u201d, explica o coordenador pedag\u00f3gico da AIC. \u201cDo ponto de vista concreto, material, estamos falando das palavras do filme, as falas dos personagens (que tamb\u00e9m t\u00eam um trabalho de edi\u00e7\u00e3o), a m\u00fasica propriamente dita e tamb\u00e9m todos os efeitos sonoros, ou seja, os sons que n\u00e3o s\u00e3o nem musicais, nem verbais.\u201d<\/p>\n De acordo com Martin, o principal elemento do curso \u00e9 pensar som e m\u00fasica do ponto de vista da dramaturgia. Ou seja, entender como eles contribuem para contar uma hist\u00f3ria e como podem at\u00e9 mesmo ser protagonistas no discurso. \u201cH\u00e1 momentos em que toda a cena est\u00e1 vindo da m\u00fasica. Por exemplo, no filme Tubar\u00e3o<\/em> (1975), de Steven Spielberg, h\u00e1 cenas em que pouca informa\u00e7\u00e3o vem da imagem, da palavra ou da dire\u00e7\u00e3o de arte. \u00c9 a m\u00fasica que est\u00e1 anunciando tudo: a presen\u00e7a e o car\u00e1ter do personagem (no caso, o tubar\u00e3o), sua a\u00e7\u00e3o de se deslocar, por meio da acelera\u00e7\u00e3o do ritmo mel\u00f3dico na m\u00fasica. \u00c9 o som que d\u00e1 a entender que ele est\u00e1 se aproximando da sua v\u00edtima, j\u00e1 que a imagem est\u00e1 parada. A a\u00e7\u00e3o est\u00e1 toda na trilha musical e na imagina\u00e7\u00e3o do espectador\u201d, observa Martin.<\/p>\n Outro exemplo citado pelo coordenador \u00e9 o longa-metragem A Bruxa<\/em> (2016), dirigido por Robert Eggers. \u201cNo filme, a voz do personagem \u00e9 trabalhada para criar uma ideia sobre ele, de uma masculinidade exacerbada. O que aparece na cena n\u00e3o \u00e9 a voz realista do ator. Ela \u00e9 editada para soar daquele jeito, para que o p\u00fablico configure o car\u00e1ter daquele personagem. Parte desse car\u00e1ter \u00e9 veiculado por suas a\u00e7\u00f5es, sua vis\u00e3o de mundo, como ele se comporta, mas a voz tem uma contribui\u00e7\u00e3o enorme em como o personagem \u00e9 \u2018lido\u2019 pelo espectador\u201d, destaca.<\/p>\n Al\u00e9m de in\u00fameros profissionais estrangeiros de renome que atuam nessa \u00e1rea, muitos deles que migraram da m\u00fasica para o cinema, Martin tamb\u00e9m cita refer\u00eancias brasileiras de excelentes trabalhos com trilha sonora, como os cineastas Marco Dutra e Juliana Rojas. \u201cEles d\u00e3o muita aten\u00e7\u00e3o ao trabalho com som em seus filmes, de forma narrativa. N\u00e3o significa que voc\u00ea vai ouvir um monte de explos\u00f5es, mas a trilha sonora \u00e9 bem pensada. H\u00e1 muitas cenas em que o desenho de som tem protagonismo no que o espectador recebe em termos de hist\u00f3ria.\u201d<\/p>\n <\/p>\n Segundo Martin, \u00e9 muito comum, no cinema, que m\u00fasica e som \u201cdesenhem\u201d hist\u00f3rias que est\u00e3o fora do enquadramento, que a imagem n\u00e3o mostra. \u201cO quadro \u00e9 sempre limitado, ele restringe a vis\u00e3o e emoldura uma imagem. A m\u00fasica e o som criam discursos que transcendem a moldura do plano\u201d, ressalta. O curso de trilha sonora mostra justamente como fazer isso: pensar muito al\u00e9m de conceitos como atmosfera e clima.<\/p>\n Na verdade, esses elementos sonoros muitas vezes geram conte\u00fados extremamente concretos, objetivos, como a constru\u00e7\u00e3o de um personagem na cena. \u201cM\u00fasica e som me mostram como devo pensar esse personagem. \u00c9 um racioc\u00ednio cujo vocabul\u00e1rio vem mais da dramaturgia do que da m\u00fasica\u201d, afirma o coordenador. O desafio est\u00e1 justamente em traduzir esse racioc\u00ednio e esse vocabul\u00e1rio, que s\u00e3o t\u00edpicos da linguagem audiovisual e dramat\u00fargica, para desenvolver o processo criativo por meio da m\u00fasica e do som. \u201cA ideia \u00e9 que o seu ponto de partida n\u00e3o seja nem a m\u00fasica, nem o som, mas a hist\u00f3ria que est\u00e1 sendo contada.\u201d<\/p>\n <\/p>\n Nesse sentido, ter um background<\/em> musical pode n\u00e3o apenas ajudar nos exerc\u00edcios, como se tornar um diferencial no mercado de trabalho, j\u00e1 que a sensibilidade sonora \u00e9 uma habilidade que fornece ferramentas para o trabalho com trilha sonora audiovisual \u2013 seja para o cinema, a TV ou a internet. Ela torna um profissional de m\u00fasica ainda mais completo. Al\u00e9m disso, caso a pessoa tenha o sonho de trabalhar na composi\u00e7\u00e3o de trilha musical para filmes, esse tamb\u00e9m \u00e9 um \u00f3timo caminho pelo qual come\u00e7ar. O curso abre novas possibilidades de carreira a m\u00fasicos que gostam de cinema, j\u00e1 que expande seu leque de atua\u00e7\u00e3o. O conte\u00fado aborda n\u00e3o somente o aspecto da cria\u00e7\u00e3o sonora, do design sonoro, como o sentido de pensar o conjunto.<\/p>\n Contudo, n\u00e3o \u00e9 preciso necessariamente possuir conhecimentos musicais para ingressar no estudo do tema. O mais importante \u00e9 ter interesse pela \u00e1rea, principalmente para aqueles que buscam uma alternativa de carreira. \u201cMuitos de meus alunos n\u00e3o s\u00e3o m\u00fasicos. No cinema, existe a fun\u00e7\u00e3o do diretor musical, um profissional que n\u00e3o comp\u00f5e nada, mas que escolhe as m\u00fasicas que ir\u00e3o funcionar em determinada cena, para traduzir os elementos da dramaturgia dentro daquele contexto\u201d, comenta Martin.<\/p>\n O curso \u00e9 v\u00e1lido tamb\u00e9m para diretores que desejem se aprofundar no universo da trilha sonora, o que pode ajud\u00e1-los a pensar em seus projetos de forma mais aberta a uma linguagem na qual a m\u00fasica e o som tenham algum protagonismo. \u201cUm compositor se beneficia disso porque j\u00e1 trabalha diretamente com a \u00e1rea. Mas um diretor vai poder organizar sua cena e conversar com os m\u00fasicos ou os t\u00e9cnicos de som de sua equipe. Ele vai ter mais vocabul\u00e1rio para fazer esse movimento\u201d, salienta o coordenador. \u201cTamb\u00e9m tenho muitos alunos roteiristas, que querem entender como pensar a trilha sonora nas cenas. O p\u00fablico \u00e9 muito diversificado.\u201d<\/p>\n <\/p>\n O profissional de trilha sonora pode trabalhar em in\u00fameras \u00e1reas do processo de produ\u00e7\u00e3o audiovisual. \u201cPodemos citar o trabalho de um editor de di\u00e1logo, de um compositor, de um artista de foley<\/em> (que faz todas as dublagens de ru\u00eddos) e do mixador (que junta tudo isso na mixagem de som)\u201d, detalha Martin.<\/p>\n No caso do artista de foley<\/em>, em geral ele \u00e9 respons\u00e1vel por refazer, em est\u00fadio, os ru\u00eddos que comp\u00f5em uma cena. \u201cExiste uma l\u00f3gica para isso, que nem sempre contempla uma expectativa realista que a cena naturalmente traria; muitas vezes, \u00e9 o contr\u00e1rio. O som deve trabalhar mais a favor da narrativa do que de um realismo objetivo e neutro\u201d, explica o coordenador pedag\u00f3gico. \u201cO cinema quase nunca \u00e9 objetivo no que diz respeito ao som. No filme THX 1138<\/em> (1971), de George Lucas, as pessoas vivem em uma condi\u00e7\u00e3o de isolamento, em um mundo dist\u00f3pico. Ent\u00e3o, no som ambiente, as vozes humanas, a presen\u00e7a de vida, est\u00e1 sempre longe do personagem, nunca \u00e9 ouvida de perto. Passamos a ler esse personagem como uma pessoa isolada de vida. \u00c9 um som ambiente que tem uma fun\u00e7\u00e3o n\u00e3o apenas descritiva, como narrativa\u201d, exemplifica.<\/p>\n J\u00e1 para aqueles que t\u00eam o objetivo profissional de compor trilha musical para filmes, o curso pode ajudar a entender por onde come\u00e7ar. \u201cQue m\u00fasica devo colocar em cada cena, e por qu\u00ea? Do que a cena precisa? Que hist\u00f3ria ela est\u00e1 contando? Esses s\u00e3o questionamentos v\u00e1lidos, porque talvez a maior dificuldade, para um m\u00fasico, n\u00e3o seja necessariamente a composi\u00e7\u00e3o em si, mas decidir qual m\u00fasica deve compor\u201d, descreve Martin. Afinal, o processo criativo para esse tipo de cria\u00e7\u00e3o musical come\u00e7a pela hist\u00f3ria, com quest\u00f5es como: quem \u00e9 o personagem? Qual o g\u00eanero do filme? Qual \u00e9 seu arco narrativo? O que est\u00e1 acontecendo? Onde a m\u00fasica entra e em que momento ela volta? \u201cTodas essas decis\u00f5es s\u00e3o anteriores \u00e0 composi\u00e7\u00e3o musical. Elas t\u00eam a ver com a compreens\u00e3o dos elementos que comp\u00f5em a narrativa de um filme.\u201d<\/p>\n <\/p>\n Al\u00e9m de abrir uma nova possibilidade de carreira, o curso de trilha sonora da Academia Internacional de Cinema oferece a chance, para os moradores da regi\u00e3o Sul e dos estados de Minas Gerias e Esp\u00edrito Santo, de que o aluno possa aprender de maneira totalmente gratuita \u2013 gra\u00e7as ao projeto Cinema 360. Trata-se de uma parceria entre a AIC e a Ancine, que est\u00e1 selecionando estudantes para bolsas de estudos em cursos de cinema online, por tempo limitado.<\/p>\n Ser\u00e3o 360 vagas gratuitas, ao longo de 360 dias. O projeto abrange sete cursos em diferentes \u00e1reas do cinema, de modo que o conhecimento seja levado \u00e0s pessoas que realmente precisam dele. Os 360 graus representam algo abrangente, um verdadeiro giro pelo territ\u00f3rio brasileiro, disseminando o saber audiovisual por todo o pa\u00eds.<\/p>\n A participa\u00e7\u00e3o no projeto \u00e9 limitada a pessoas com idade acima de 17 anos e que tenham renda abaixo de cinco sal\u00e1rios m\u00ednimos. O processo seletivo \u00e9 baseado em uma carta de inten\u00e7\u00e3o. O projeto Cinema 360 foi dividido em uma etapa por regi\u00e3o, para torn\u00e1-lo din\u00e2mico e dar a mesma oportunidade a todas as regi\u00f5es. As inscri\u00e7\u00f5es e tamb\u00e9m o curso s\u00e3o realizados online.<\/p>\n Texto e pesquisa: Katia Kreutz<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Se voc\u00ea estudou m\u00fasica, certamente j\u00e1 conhece as diversas possibilidades de carreira que essa profiss\u00e3o oferece. Mas talvez n\u00e3o tenha considerado uma delas, que \u00e9 trabalhar com trilha sonora no cinema ou audiovisual. Esse trabalho n\u00e3o abrange apenas a parte musical, mas todo o conte\u00fado sonoro que tem fun\u00e7\u00e3o narrativa, ou seja, que ajuda a …<\/p>\nO curso de trilha sonora<\/strong><\/h3>\n
O que exatamente faz um profissional de trilha sonora?<\/strong><\/h3>\n
Mais do que atmosfera<\/strong><\/h3>\n
Aprendendo a ouvir<\/strong><\/h3>\n
\u00c1reas de atua\u00e7\u00e3o<\/strong><\/h3>\n
Cinema 360<\/strong><\/h3>\n
Inscreva-se<\/a><\/strong><\/h3>\n