{"id":23301,"date":"2020-04-06T15:00:56","date_gmt":"2020-04-06T18:00:56","guid":{"rendered":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/?p=22853"},"modified":"2021-02-25T16:40:28","modified_gmt":"2021-02-25T19:40:28","slug":"efeito-kuleshov","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/efeito-kuleshov\/","title":{"rendered":"Voc\u00ea sabe o que \u00e9 o efeito Kuleshov? Entenda!"},"content":{"rendered":"
Se voc\u00ea acredita que a narrativa de cinema \u00e9 algo constru\u00eddo apenas pela rela\u00e7\u00e3o entre atores e diretores, precisa saber o que \u00e9 efeito Kuleshov.<\/p>\n
O sucesso dessa t\u00e9cnica permite afirmar que a edi\u00e7\u00e3o sugere diferentes sentimentos e ideias para quem assiste a um material<\/strong>, e que isso, at\u00e9 certo ponto, independe da ideia que o ator tentou transmitir nas filmagens.<\/p>\n Leia este artigo at\u00e9 o fim, saiba o que \u00e9 o efeito Kuleshov e entenda como ele tem sido aplicado no cinema, al\u00e9m de ver a maneira pela qual grandes mestres da s\u00e9tima arte se apropriaram dessa descoberta!<\/p>\n No in\u00edcio do s\u00e9culo 20, Lev Kuleshov, \u00e0 \u00e9poca um renomado cineasta sovi\u00e9tico, resolveu colocar \u00e0 prova sua teoria sobre a montagem cinematogr\u00e1fica. O mundo assistia e se encantava com filmes mudos, nos quais a edi\u00e7\u00e3o era fundamental para suprir a falta de som.<\/p>\n Kuleshov apresentou um pequeno v\u00eddeo<\/a> a algumas pessoas e depois pediu a elas que o descrevessem. O v\u00eddeo mostrava o rosto do ator Ivan Mosjouskine em um close, e ele havia sido instru\u00eddo a fazer uma express\u00e3o facial t\u00e3o neutra quanto fosse poss\u00edvel<\/strong>.<\/p>\n Ao editar esse pequeno v\u00eddeo, Kuleshov utilizava outros tr\u00eas takes intercalados com ele:<\/p>\n O v\u00eddeo era posteriormente apresentado a diferentes grupos de pessoas, mas cada uma s\u00f3 tinha acesso a uma das tr\u00eas montagens. Ao fim, essas pessoas tinham que descrever sua impress\u00e3o sobre a interpreta\u00e7\u00e3o de Mosjouskine.<\/p>\n Essa impress\u00e3o acabou sendo moldada pelo que cada cena exibia<\/strong>. Quando o rosto do ator aparecia antes do prato de sopa, as pessoas descreviam sua express\u00e3o como sendo de fome. Ao ser apresentada junto da menina morta, tristeza e sofrimento. O terceiro grupo viu libido na sobreposi\u00e7\u00e3o de Mosjouskine \u00e0 cena da mulher no div\u00e3.<\/p>\n N\u00e3o se sabe se Lev Kuleshov teve contato com a ideia de uma intencionalidade da consci\u00eancia<\/strong>, cunhada pelo fil\u00f3sofo Edmund Husserl. Seja como for, a cena e a teoria se completam perfeitamente e seus autores s\u00e3o da mesma \u00e9poca.<\/p>\n Para Husserl, a nossa consci\u00eancia n\u00e3o \u00e9 uma caixa vazia que vai sendo preenchida por dados da realidade objetiva. Ela atribui sentidos a esses dados de antem\u00e3o, o que levou o alem\u00e3o a afirmar que “toda consci\u00eancia \u00e9 consci\u00eancia de algo”. Assim, s\u00f3 \u00e9 poss\u00edvel falar sobre estar consciente em rela\u00e7\u00e3o \u00e0quilo que a consci\u00eancia assimila.<\/p>\n A conclus\u00e3o de Kuleshov foi de que a edi\u00e7\u00e3o \u00e9 t\u00e3o ou mais importante para a constru\u00e7\u00e3o do sentido nos filmes quanto o papel desempenhado pelo ator<\/strong>. Com isso, o que passou a ser chamado de efeito Kuleshov tornou-se uma pr\u00e1tica recorrente no cinema.<\/p>\n Mesmo com o fim dos filmes mudos, passamos a ver diversos cineastas usando esse tipo de sobreposi\u00e7\u00e3o de imagens para transmitir ideias aos telespectadores sem a necessidade de utilizar di\u00e1logos, que muitas vezes s\u00e3o considerados recursos pobres e de pouca a\u00e7\u00e3o.<\/p>\n E se voc\u00ea acha que se trata de um recurso para plateias intelectualizadas e que n\u00e3o funcionaria no cinema dito “comercial”, est\u00e1 engando. Holywood faz uso do efeito Kuleshov em muitos dos seus filmes mais aclamados<\/a>.<\/p>\n O que torna a t\u00e9cnica t\u00e3o eficiente \u00e9 a capacidade de oferecer recursos narrativos que permitem a apreens\u00e3o n\u00e3o intelectual da hist\u00f3ria<\/strong>. Em outras palavras, transmitir uma ideia por meio de voice over<\/em> ou di\u00e1logos apela para o lado racional da plateia.<\/p>\n A apresenta\u00e7\u00e3o de cenas em sequ\u00eancia, por outro lado, permite dar andamento \u00e0 trama de um modo mais intuitivo e contemplativo. Muitas ideias s\u00e3o formadas na cabe\u00e7a dos espectadores, mesmo sem que eles se deem conta disso.<\/p>\n Como dissemos no t\u00f3pico anterior, o uso do efeito Kuleshov come\u00e7ou no cinema mudo sovi\u00e9tico, mas continuou existindo ap\u00f3s a cria\u00e7\u00e3o do cinema falado. Ele tamb\u00e9m foi sendo assimilado por outros cineastas ao redor do mundo.<\/p>\n Isso se deve \u00e0 comprova\u00e7\u00e3o emp\u00edrica que o criador do m\u00e9todo imp\u00f4s \u00e0 sua cria\u00e7\u00e3o. Ao propor verificar na pr\u00e1tica o funcionamento dessa t\u00e9cnica<\/strong>, Kuleshov deu pouca margem para d\u00favidas ou inseguran\u00e7as na sua aplica\u00e7\u00e3o em obras maiores.<\/p>\n Alguns cineastas s\u00e3o particularmente entusiastas dessa metodologia. Abaixo, separamos alguns deles e tentamos analisar algumas cenas de filmes famosos que fizeram uso do efeito Kuleshov. Acompanhe.<\/p>\n Hitchcok, nas suas correspond\u00eancias com outro g\u00eanio do cinema, Fran\u00e7ois Truffault<\/a>, admite sua paix\u00e3o pelo uso desse recurso e o ilustra com diversas passagens do filme “A Janela Indiscreta”, um de seus mais famosos longas.<\/p>\n De fato, o cineasta ingl\u00eas teve sua obra marcada por narrativas \u00e1geis e pouco calcadas em di\u00e1logos. Para que seus filmes sustentassem rela\u00e7\u00f5es de tens\u00e3o por longos per\u00edodos, Hitchcock sempre lan\u00e7ou m\u00e3o de sobreposi\u00e7\u00f5es de cenas. Ele chegou a explicar como o efeito funciona em uma entrevista<\/a>.<\/p>\n Em c\u00e9lebre cena do seu filme “Shame”<\/em> (2011), o cineasta brit\u00e2nico Steve McQueen coloca o ator Michael Fassbender em um contexto de observa\u00e7\u00e3o de uma mulher no metr\u00f4 de Londres. Seus olhos permanecem fixos e sua express\u00e3o n\u00e3o muda, mas as altera\u00e7\u00f5es na atitude da mulher d\u00e3o consist\u00eancia \u00e0 cena<\/strong>.<\/p>\n Ela se mostra primeiro interessada e, depois, muito incomodada com a express\u00e3o do seu observador. O personagem de Fassbender passa das situa\u00e7\u00f5es de flerte para ass\u00e9dio sem que sua express\u00e3o se modifique.<\/p>\nO que \u00e9 o efeito Kuleshov<\/h2>\n
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O papel ativo da consci\u00eancia<\/h3>\n
Como ele tem sido aplicado no cinema<\/h2>\n
Alguns exemplos do efeito Kuleshov<\/h2>\n
Alfred Hitchcock<\/h3>\n
Steve McQueen<\/h3>\n