{"id":22550,"date":"2020-02-03T18:00:30","date_gmt":"2020-02-03T20:00:30","guid":{"rendered":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/?p=22550"},"modified":"2020-10-01T17:26:14","modified_gmt":"2020-10-01T20:26:14","slug":"narrativa-transmidia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/narrativa-transmidia\/","title":{"rendered":"Narrativa transm\u00eddia: o que \u00e9 e como funciona?"},"content":{"rendered":"
Se voc\u00ea acha que n\u00e3o sabe o que \u00e9 narrativa transm\u00eddia<\/a>, grandes s\u00e3o as chances de n\u00e3o saber s\u00f3 que ela tinha esse nome. Com certeza, algum filme ou s\u00e9rie que voc\u00ea assistiu recentemente fez uso desse recurso em suas hist\u00f3rias, de uma forma ou outra.<\/p>\n O grande desafio desse tipo de narrativa \u00e9 que ela pressup\u00f5e mudan\u00e7as na forma e, muitas vezes, grandes adapta\u00e7\u00f5es no conte\u00fado<\/strong> ao contar uma hist\u00f3ria por meio de diferentes m\u00eddias. Essas mudan\u00e7as, como veremos, podem assumir contornos radicais ou tentar manter, tanto quanto poss\u00edvel, a fidelidade \u00e0 m\u00eddia original.<\/p>\n A escolha de como contar uma mesma hist\u00f3ria com elementos que se interligam perpassando diferentes meios requer muito talento do cineasta<\/strong> e, sobretudo, do roteirista<\/a>. Em alguns casos, h\u00e1 um p\u00fablico espec\u00edfico e cativo que deve ser agradado, o que nunca \u00e9 f\u00e1cil, j\u00e1 que essas pessoas podem ter um conhecimento profundo da hist\u00f3ria original.<\/p>\n Abaixo, voc\u00ea confere a conceitua\u00e7\u00e3o da narrativa transm\u00eddia, assim como dicas para sua aplica\u00e7\u00e3o em roteiros<\/a>. Tamb\u00e9m vamos fazer uma breve an\u00e1lise da mec\u00e2nica que existe por tr\u00e1s de uma adapta\u00e7\u00e3o como essa e dar exemplos de como aplicar. Leia at\u00e9 o fim!<\/p>\n A sutileza do racioc\u00ednio dos seres humanos atinge n\u00edveis em que \u00e9 poss\u00edvel contar hist\u00f3rias<\/a> apenas sugerindo acontecimentos. Em alguns casos, pode-se tamb\u00e9m optar por tramas mais densas, recheadas de detalhes e dados, coisa que os document\u00e1rios fazem muito bem.<\/p>\n O Cinema \u00e9 uma arte majoritariamente visual, embora contenha fortes elementos de narrativa na quase totalidade das vezes. No entanto, ele nunca vai ter o poder descritivo e detalhista da Literatura, por exemplo.<\/p>\n Esta, por sua vez, s\u00f3 pode sugerir ideias visuais de ambientes e paisagens, contando que a imagina\u00e7\u00e3o do leitor as preencha com suas pr\u00f3prias viv\u00eancias pict\u00f3ricas.<\/p>\n Ent\u00e3o, cada meio tem suas caracter\u00edsticas pr\u00f3prias<\/strong>, o que o torna mais facilmente adapt\u00e1vel a um certo tipo de hist\u00f3ria a ser contada. Os quadrinhos, por exemplo, s\u00e3o imag\u00e9ticos, mas tamb\u00e9m din\u00e2micos. No storyboard<\/em> (uma esp\u00e9cie de esbo\u00e7o da narrativa que o quadrinista realiza antes de come\u00e7ar a desenhar a obra propriamente dita) s\u00e3o decididos os recursos visuais de que se vai lan\u00e7ar m\u00e3o para contar a hist\u00f3ria.<\/p>\n Ent\u00e3o, a pintura, o desenho, o teatro, o cinema e os outros modelos de cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica podem ser utilizados em maior ou menor grau, para a constru\u00e7\u00e3o de narrativas. Mas, ainda que se trate de uma mesma hist\u00f3ria, \u00e9 imposs\u00edvel que essa narrativa seja id\u00eantica em todos eles<\/strong>.<\/p>\n <\/p>\n <\/a><\/p>\n <\/p>\n A narrativa transm\u00eddia consiste na utiliza\u00e7\u00e3o de <\/strong>diferentes modelos criativos para contar uma \u00fanica hist\u00f3ria<\/strong><\/a>. Mas cuidado: n\u00e3o a confunda com a adapta\u00e7\u00e3o, que \u00e9 a transposi\u00e7\u00e3o de uma hist\u00f3ria presente em um meio para outro, com os ajustes que o novo m\u00e9todo requer.<\/p>\n Seguindo a l\u00f3gica da adapta\u00e7\u00e3o entre m\u00eddas, um livro pode ser transformado em filme, uma hist\u00f3ria em quadrinhos pode servir de inspira\u00e7\u00e3o para um ensaio fotogr\u00e1fico e assim por diante. O que importa \u00e9 que haja uma narrativa e que, em ess\u00eancia, ela seja mantida<\/strong> quando for realizada a transposi\u00e7\u00e3o entre as m\u00eddias.<\/p>\n A narrativa transm\u00eddia no cinema vai al\u00e9m da adapta\u00e7\u00e3o f\u00edlmica. Ela recorre a v\u00e1rios meios para contar uma mesma hist\u00f3ria, que pode come\u00e7ar em um filme, passar por uma s\u00e9rie e terminar nos quadrinhos.<\/p>\n Se voc\u00ea precisa de um exemplo pr\u00e1tico para compreender esse conceito, pense na saga Star Wars<\/em>. Voc\u00ea pode ter contato com diversas partes de sua hist\u00f3ria nos filmes (como Uma Nova Esperan\u00e7a<\/em> ou O Ataque dos Clones<\/em>), aprofundar-se nessa hist\u00f3ria em anima\u00e7\u00f5es (como A Guerra dos Clones<\/em>) e entender melhor o universo em que a saga acontece nas s\u00e9ries de spin off<\/em> (como \u00e9 o caso da rec\u00e9m-lan\u00e7ada The Mandalorian<\/em>).<\/p>\n Nas obras cinematogr\u00e1ficas, h\u00e1 v\u00e1rios motivos para estender uma hist\u00f3ria a v\u00e1rias m\u00eddias. Por exemplo, \u00e9 poss\u00edvel aprofundar as an\u00e1lises psicol\u00f3gicas de um ou mais personagens<\/strong> que poderiam parecer excessivamente planas em um longa-metragem de menos de duas horas de dura\u00e7\u00e3o.<\/p>\n O cinema produzido nos dias atuais, mesmo aquele mais notadamente comercial, criou uma demanda no p\u00fablico. As pessoas se envolvem com seus protagonistas e antagonistas em n\u00edveis mais profundos que antigamente<\/strong>, muito em fun\u00e7\u00e3o do momento efusivo que vivem as s\u00e9ries produzidas por servi\u00e7os de streaming, como a Netflix<\/a> e a Amazon Prime V\u00eddeo.<\/p>\n Assim, o expectador do s\u00e9culo XXI \u00e9 muito mais paciente com as narrativas que consome e o tempo de dura\u00e7\u00e3o delas<\/strong>. Como decorr\u00eancia disso, ele tamb\u00e9m passa muito mais horas assistindo fic\u00e7\u00e3o na televis\u00e3o ou cinema do que acontecia em outras \u00e9pocas.<\/p>\n No passado, filmes com mais de tr\u00eas horas de dura\u00e7\u00e3o, como \u00e9 o caso da trilogia O Poderoso Chef\u00e3o<\/em>, por exemplo, eram consideradas obras de f\u00f4lego. Hoje, boa parte das s\u00e9ries mais assistidas contam com cerca de 30 epis\u00f3dios de uma hora cada, em m\u00e9dia.<\/p>\n E j\u00e1 que o objetivo \u00e9 explorar \u00e0 exaust\u00e3o das personagens, suas hist\u00f3rias e pontos de vista, a narrativa transm\u00eddia vem muito a calhar. Ele oferece um “descanso” da m\u00eddia original em que a obra foi criada, aproveitando o carisma dos mesmos personagens, mas expondo-os a situa\u00e7\u00f5es de tens\u00e3o diversas, fazendo uso de meios narrativos diferentes.<\/p>\n H\u00e1 uma s\u00e9rie de situa\u00e7\u00f5es em que vale a pena recorrer a uma narrativa transm\u00eddia. Em geral, ela n\u00e3o \u00e9 algo f\u00e1cil de se fazer, mas, se bem utilizada, essa t\u00e9cnica pode ser muito bem-sucedida em algumas situa\u00e7\u00f5es:<\/p>\n H\u00e1 outras maneiras menos comerciais de aplic\u00e1-la, mas \u00e9 bom ressaltar que a narrativa transm\u00eddia exige um pacto ficcional profundo. Afinal, ela costuma propor hist\u00f3rias longas e esmiu\u00e7ar detalhes que as narrativas comuns deixam passar despercebidos.<\/p>\n Observada essa ressalva, n\u00e3o \u00e9 exagero dizer que n\u00e3o h\u00e1 limites para a aplica\u00e7\u00e3o da narrativa transm\u00eddia. Ela depende apenas de um trabalho cuidadoso e criativo da equipe de roteiro, antes de mais nada.<\/p>\n Para explicar como a narrativa transm\u00eddia funciona, ningu\u00e9m melhor que o pr\u00f3prio criador do conceito, Henry Jenkins, que o cunhou em 2009, no seu livro Cultura da Converg\u00eancia<\/em>:<\/p>\n “Uma hist\u00f3ria transm\u00eddia desenrola-se por meio de m\u00faltiplas plataformas de m\u00eddia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transm\u00eddia, cada meio faz o que faz de melhor \u2014\u00a0a fim de que uma hist\u00f3ria possa ser introduzida num filme, expandida pela televis\u00e3o, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atra\u00e7\u00e3o de um parque de divers\u00f5es.”<\/p><\/blockquote>\n Logo, para que ela funcione \u00e9 necess\u00e1rio, antes de tudo, planejamento. O sucesso desse tipo de estrat\u00e9gia consiste em desdobrar uma hist\u00f3ria em v\u00e1rias partes e, com base na natureza de cada uma dessas partes, escolher a melhor m\u00eddia<\/strong> para represent\u00e1-la.<\/p>\n Suas possibilidades pr\u00e1ticas s\u00e3o muitas: ela pode subsidiar uma campanha publicit\u00e1ria que se desenvolve em textos, imagens e v\u00eddeo, por exemplo.<\/p>\n Esse tipo de narrativa deve ser planejada, como dissemos acima. Isso porque ela envolve profissionais de diversas \u00e1reas, trabalhando em uma perspectiva multidisciplinar.<\/p>\n Ent\u00e3o, o mais dif\u00edcil n\u00e3o \u00e9 pensar o que vai acontecer e em que meio art\u00edstico, mas certificar-se de que haja uma coer\u00eancia est\u00e9tica entre as partes<\/strong>, coisa que s\u00f3 acontece com uma equipe muito integrada.<\/p>\n Isso pode ser conseguido quando o roteiro ou, pelo menos o brainstorming<\/em> que dar\u00e1 origem a ele, for elaborado em grupo. Se n\u00e3o for poss\u00edvel juntar toda a equipe, experimente marcar reuni\u00f5es setoriais com todos os roteiristas envolvidos, permitindo que eles discutam detalhes e conceitua\u00e7\u00f5es importantes para a coer\u00eancia da trama como um todo.<\/p>\n Outro ponto importante \u00e9 uma revis\u00e3o atenta para evitar furos no roteiro<\/strong>. Muitas narrativas transm\u00eddia envolvem lapsos temporais, como quando troca-se de m\u00eddia e volta-se no tempo para contar a hist\u00f3ria de algum personagem ou uma sequ\u00eancia de acontecimentos que levou a uma decis\u00e3o importante de um deles.<\/p>\n Mesmo que grandes audi\u00eancias sejam relativamente tolerantes com furos no enredo, a aus\u00eancia deles quase sempre \u00e9 o que diferencia um bom filme de uma obra memor\u00e1vel. Uma narrativa transm\u00eddia bem fechada prende a aten\u00e7\u00e3o das pessoas e as conquista como nenhum outro recurso t\u00e9cnico cinematogr\u00e1fico.<\/p>\n Tamb\u00e9m conhecida como “Casa das Ideias”, a Marvel Comics, que come\u00e7ou como uma editora independente de quadrinhos, passou por um grande processo de renova\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica e de pensamento nos \u00faltimos 15 anos.<\/p>\n O in\u00edcio de suas atividades data da primeira metade do s\u00e9culo 20, mais especificamente do ano de 1939. Ao que tudo indica, daqui a 19 anos, a Marvel deve comemorar seu centen\u00e1rio em grande estilo, como uma das maiores e mais revolucion\u00e1rias produtoras de conte\u00fado<\/a> de todos os tempos.<\/p>\n E a que se deve o estrondoso sucesso da adapta\u00e7\u00e3o f\u00edlmica que a editora fez dos seus quadrinhos para o cinema? Em parte, a uma utiliza\u00e7\u00e3o consciente e muito bem planejada do conceito de transm\u00eddia<\/strong>.<\/p>\n Quadrinhos, anima\u00e7\u00f5es, s\u00e9ries e muitos longas-metragens transformaram a chamada Saga do Infinito ou Jornada do Infinito em um fen\u00f4meno da cultura pop. Ela atingiu cifras multibilion\u00e1rias, deixando muito para tr\u00e1s os valores da HQ de 1990 escrita por Jim Starlin, que serviu de ponto de partida para as atra\u00e7\u00f5es cinematogr\u00e1ficas recentes.<\/p>\n Contando apenas os longas, foram lan\u00e7ados 32 filmes da saga. H\u00e1, ainda, s\u00e9ries, anima\u00e7\u00f5es e quadrinhos que se relacionam direta ou indiretamente com os eventos descritos nos filmes e suas consequ\u00eancias, o que torna dif\u00edcil dizer exatamente quantas publica\u00e7\u00f5es e outras obras secund\u00e1rias est\u00e3o inclu\u00eddas.<\/p>\n V\u00e1rias s\u00e3o as an\u00e1lises de cr\u00edticos conceituados que afirmam que a narrativa transm\u00eddia foi o grande trunfo da Marvel e da Disney<\/strong> \u2014\u00a0empresa que adquiriu os direitos da Marvel Entertainment Group, bra\u00e7o da editora fora do mundo dos quadrinhos \u2014\u00a0para chegar a tantos f\u00e3s antigos e, ao mesmo tempo, fidelizar novos espectadores.<\/p>\n \u00c9 curioso notar como apreciadores de quadrinhos muito exigentes com as hist\u00f3rias que leram na juventude e um p\u00fablico at\u00e9 certo ponto leigo coexistem muito facilmente nas salas de cinema da Marvel, sem que nenhum dos dois tipos se desinteresse pelos filmes.<\/p>\n A Saga do Infinito apostou em uma f\u00f3rmula interessante para conseguir esse feito: a cria\u00e7\u00e3o de obras que se completam mutuamente, mas que, separados, t\u00eam exist\u00eancia pr\u00f3pria<\/strong>. Ent\u00e3o, \u00e9 poss\u00edvel compreender as hist\u00f3rias em uma perspectiva macro (o duelo dos her\u00f3is contra o vil\u00e3o Thanos) ou micro (suas origens e dificuldades locais).<\/p>\n Pequenos trechos narrativos que aparecem depois da exibi\u00e7\u00e3o dos cr\u00e9ditos cinematogr\u00e1ficos n\u00e3o foram inven\u00e7\u00e3o da Marvel. No entanto, foi na Casa das Ideias que elas come\u00e7aram a ser utilizadas a favor da narrativa transm\u00eddia.<\/p>\n Passagens que poderiam causar confus\u00e3o, se utilizadas no meio dos longas (afinal, nem todos os espectadores estavam familiarizados com a saga em sua extens\u00e3o) passaram a ser exibidas depois de terminados os filmes.<\/p>\n Via de regra, a fun\u00e7\u00e3o dessas cenas era apresentar a pr\u00f3xima obra ou interligar a hist\u00f3ria que acabara de ser exibida \u00e0 saga<\/strong> como um todo. A f\u00f3rmula deu certo, e tornou-se h\u00e1bito as pessoas esperarem pacientemente nas salas de cinema, ao final dos filmes, pelo momento de receber algum esclarecimento ou antecipa\u00e7\u00e3o a respeito da trama.<\/p>\n <\/p>\n <\/a><\/p>\n <\/p>\nQuais s\u00e3o as diferen\u00e7as fundamentais entre as m\u00eddias?<\/h2>\n
O que \u00e9 narrativa transm\u00eddia?<\/h2>\n
Para que a narrativa transm\u00eddia serve?<\/h2>\n
Quais s\u00e3o suas principais aplica\u00e7\u00f5es?<\/h2>\n
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Como ela funciona?<\/h2>\n
Como fazer uma narrativa transm\u00eddia?<\/h2>\n
Os filmes da Marvel utilizam narrativas transm\u00eddia?<\/h2>\n
A narrativa transm\u00eddia na Saga do Infinito<\/h3>\n
A import\u00e2ncia das cenas p\u00f3s-cr\u00e9dito<\/h3>\n