{"id":22507,"date":"2020-01-16T19:52:38","date_gmt":"2020-01-16T21:52:38","guid":{"rendered":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/?p=22507"},"modified":"2022-07-15T17:05:54","modified_gmt":"2022-07-15T20:05:54","slug":"entrevista-com-o-compositor-gabriel-yared","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/entrevista-com-o-compositor-gabriel-yared\/","title":{"rendered":"Entrevista com o compositor Gabriel Yared"},"content":{"rendered":"
Compositor da trilha sonora do filme Judy<\/em>, estrelado por Ren\u00e9e Zellweger e com dire\u00e7\u00e3o de Rupert Goold, que estr\u00e9ia esta semana no Brasil, Gabriel Yared comp\u00f4s as m\u00fasicas de O paciente ingl\u00eas<\/em>, que lhe valeu o Oscar de Melhor M\u00fasica, O talentoso Ripley, A vida dos outros, Betty Blue, <\/em>dentre tantos outros filmes ic\u00f4nicos. Ele me recebeu em seu charmoso apartamento em Paris para uma entrevista exclusiva para a Academia Internacional de Cinema (AIC). Yared, sempre com um entusiasmo contagiante,\u00a0 compartilhou comigo, ao longo de duas tardes, diversos momentos importantes da sua trajet\u00f3ria profissional, sua vis\u00e3o singular quanto ao papel da m\u00fasica no cinema, a influ\u00eancia de Godard no seu processo criativo e a import\u00e2ncia da m\u00fasica popular brasileira na sua obra. Detentor dos mais prestigiosos pr\u00eamios internacionais de m\u00fasica para cinema, Yared recebeu recentemente, em Viena, o Max Steiner Film Music Achievement Award.<\/em><\/p>\n
Suspenso entre duas temporalidades distintas, a das superprodu\u00e7\u00f5es hollywoodianas e a da grande tradi\u00e7\u00e3o do cinema europeu, Yared nos d\u00e1 um testemunho das enormes possibilidades e desafios que atravessam a rela\u00e7\u00e3o entre m\u00fasica e imagem.<\/p>\n
Pode nos contar um pouco sobre o seu trabalho no filme Judy<\/em>?<\/strong>\u00a0<\/strong><\/p>\n
O que mais me atraiu em Judy foi a hist\u00f3ria dram\u00e1tica da grande estrela que foi Judy Garland e de sua tr\u00e1gica morte. Ela foi uma atriz lend\u00e1ria e uma crian\u00e7a prod\u00edgio, que pertencia \u00e0 tradi\u00e7\u00e3o hollywoodiana que a mantinha, por contrato, presa a um est\u00fadio como a MGM. Com este projeto eu aprendi bastante sobre a Hollywood dos anos 30 e 40, como se podia criar uma estrela ainda muito jovem, mas j\u00e1 vulner\u00e1vel a se tornar totalmente ostracizada. O filme tem diversas can\u00e7\u00f5es interpretadas pela pr\u00f3pria Ren\u00e9e Zellweger e a minha m\u00fasica cobre cerca de 40 minutos do filme. \u00c9 como se as can\u00e7\u00f5es refletissem a imagem externa que Judy projetava, que \u00e9 contrabalan\u00e7ada pela minha m\u00fasica, que expressa o seu mon\u00f3logo interior, seus sentimentos, ang\u00fastias, seus medos e sua solid\u00e3o.\u00a0<\/em><\/p>\n
Voc\u00ea morou no Brasil por dois anos durante sua juventude\u2026<\/strong>\u00a0<\/strong><\/p>\n
Quando eu tinha 18 anos, conheci, por acaso, no L\u00edbano, Augusto Marzag\u00e3o, fundador e diretor do Festival Internacional da Can\u00e7\u00e3o, um grande evento anual que ocorria no Maracan\u00e3zinho, no Rio de Janeiro.<\/em><\/p>\n
Ele me ouviu tocando e me convidou para representar o L\u00edbano no Festival de 1971; t\u00e3o logo cheguei no Brasil, senti que era o meu pa\u00eds; foi muito estranho.<\/em><\/p>\n
Quando o festival acabou, eu n\u00e3o queria ir embora, ent\u00e3o comecei a procurar trabalhos, qualquer coisa para fazer. A\u00ed eu encontrei o Mauro Furtado, dono do bar Number One, que ficava em Ipanema; ele me ofereceu uma banda com a qual eu poderia tocar todas as noites; ent\u00e3o eu compunha durante o dia e \u00e0 noite eu tocava. Conheci m\u00fasicos incr\u00edveis como Ivan Lins – pra quem eu produzi um \u00e1lbum – Paulo Moura, Milton Nascimento, Chico Buarque, Jorge Ben… Acabei morando dois anos no Brasil.<\/em><\/p>\n
At\u00e9 hoje, a minha m\u00fasica tem uma influ\u00eancia brasileira muito forte, como, por exemplo, a que compus para Betty Blue, ou a pe\u00e7a para viol\u00e3o que fiz para o filme Cidade dos Anjos.<\/em><\/p>\n
A m\u00fasica brasileira, especialmente a Bossa Nova, tem lindas melodias e harmonias sofisticadas; tem alguma coisa nela que sempre flui, nunca como o esperado. \u00c9 muito elegante e musical.<\/em><\/p>\n