A expectativa e a empolga\u00e7\u00e3o foram palp\u00e1veis na entrega dos pr\u00eamios do FilmWorks Film Festival (FWFF). Em sua 10a<\/sup> edi\u00e7\u00e3o, o evento celebrou os melhores curtas-metragens produzidos, entre 2018 e 2019, por alunos da Academia Internacional de Cinema (AIC). Em S\u00e3o Paulo, o evento teve 33 filmes em sua programa\u00e7\u00e3o, divididos entre os dias 15 e 16 de agosto. Tanto a mostra quanto a premia\u00e7\u00e3o atra\u00edram um p\u00fablico enorme ao Museu da Imagem e do Som (MIS), institui\u00e7\u00e3o parceira da AIC, chegando a esgotar os lugares da sala de exibi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
De acordo com Martin Eikmeier, coordenador do FilmWorks, os trabalhos deste ano surpreenderam positivamente os jurados do festival. \u201cH\u00e1 alguns semestres, temos apostado de forma mais sistem\u00e1tica na rela\u00e7\u00e3o entre os nossos diretores e os atores do curso t\u00e9cnico de atua\u00e7\u00e3o. Eles convivem todas as semanas, fazendo exerc\u00edcios de filmagem, realizando e repetindo cenas. Essa pr\u00e1tica constante tem feito uma diferen\u00e7a enorme nos filmes e tamb\u00e9m se mostrado o grande diferencial da AIC\u201d, declara.<\/p>\n
Temos acompanhados alunos de dire\u00e7\u00e3o que escrevem seus projetos conjuntamente com atores, ou mesmo para um ator\/colega. Eles ensaiam, repetem e reescrevem a partir desses encontros. A diferen\u00e7a \u00e9 not\u00e1vel. Os artistas entram no set de filmagem com plena convic\u00e7\u00e3o da hist\u00f3ria que querem contar, por que querem cont\u00e1-la e como faz\u00ea-lo\u201d, explica o coordenador.<\/p>\n
\u201c\u00c9 um orgulho gigantesco coordenar um curso como o T\u00e9cnico em Atua\u00e7\u00e3o para Cinema e TV e promover essa integra\u00e7\u00e3o com o FilmWorks. Especialmente porque isso promove um encontro que o cinema nacional precisa, que \u00e9 o do diretor com seu ator ou atriz, e ningu\u00e9m entre eles. Os meus alunos ser\u00e3o grandes diretores de atores e tamb\u00e9m grandes atores de cinema, que saber\u00e3o contribuir com o roteiro, se controlar no set, se concentrar na bagun\u00e7a de uma di\u00e1ria, se preservar em uma jornada de trabalho de 12 horas. Cinema \u00e9 uma arte coletiva, uma arte afetiva, e eu vejo isso acontecendo diariamente na escola\u201d, completa a professora Vanessa Prieto.<\/p>\n
Julio Wainer, coordenador do Curso de Document\u00e1rio e um dos s\u00f3cios da AIC, tamb\u00e9m aponta a import\u00e2ncia dessas mudan\u00e7as, ao longo da exist\u00eancia da escola. \u201cS\u00e3o 10 anos do FilmWorks Film Festival, mas 15 anos de AIC. Esse \u00e9 decididamente o grande momento da Academia. H\u00e1 um ano come\u00e7ava o curso T\u00e9cnico em Atua\u00e7\u00e3o para Cinema e TV, mas j\u00e1 deu para ver como ele impactou os filmes. O trabalho de ator est\u00e1 mais atento, o diretor est\u00e1 ouvindo o ator sobre como ele enxerga o personagem. A gente tamb\u00e9m passou a ser virtual, lan\u00e7ando os cursos online, o que causou alguma perplexidade. Mas encontramos um caminho coletivo para viver essa experi\u00eancia juntos, por meio de exerc\u00edcios. O resultado disso \u00e9 que um desses exerc\u00edcios foi exibido neste festival e tamb\u00e9m em outros\u201d, observa. \u201cOutra coisa muito importante tem sido como estamos conseguindo fazer com que os cursos conversem entre si. \u00c9 assim que a gente faz uma escola\u201d.<\/p>\n
Os curtas vencedores do FilmWorks Film Festival s\u00e3o escolhidos por jurados que n\u00e3o fazem parte da comunidade de professores da AIC. Este ano, como em eventos anteriores, o festival foi apresentado pelos coordenadores do programa, Martin Eikmeier e Juliana Salazar, e os pr\u00eamios foram entregues aos alunos por parceiros ou professores da escola. Um dos aspectos marcantes da noite foram os questionamentos levantados com rela\u00e7\u00e3o a recentes decis\u00f5es governamentais, envolvendo pol\u00edticas p\u00fablicas de incentivo \u00e0 produ\u00e7\u00e3o audiovisual. \u201cEsses filmes mostram que a gente tem uma quantidade enorme de sonhos, contrariando uma tend\u00eancia que tem se instaurado no pa\u00eds, de intoler\u00e2ncia a diferentes maneiras de se amar, de existir e de olhar para o mundo\u201d, ressalta Martin.<\/p>\n
Os filmes apresentados na 10\u00aa edi\u00e7\u00e3o do FWFF formaram uma sele\u00e7\u00e3o muito variada, tanto em termos de tem\u00e1tica quanto de linguagem visual. \u201cN\u00e3o temos um tema dominante, como t\u00ednhamos no passado. Quest\u00f5es existenciais e relacionamentos pautam bastante a experi\u00eancia dos jovens e \u00e9 natural que esses assuntos sejam acessados com frequ\u00eancia. No entanto, a eloqu\u00eancia com a qual a pol\u00edtica entrou em choque com a vida p\u00fablica, e com a subjetividade e os afetos de todos n\u00f3s, fez desse um tema mais relevante neste \u00faltimo semestre\u201d, afirma o coordenador do FilmWorks. \u201cAo ver esses filmes, a gente ganha um pouco de esperan\u00e7a\u201d.<\/p>\n
Exemplo de um trabalho que valorizou as quest\u00f5es emocionais e internas dos personagens \u00e9 o vencedor de melhor filme, Arcaica<\/em>, dirigido e roteirizado por Julia Rantigueri. No curta, que tamb\u00e9m levou o pr\u00eamio na categoria som, a protagonista procura por objetos perdidos de seu falecido irm\u00e3o, em meio a lendas da cidade de S\u00e3o Luiz do Paraitinga. \u201cFoi um processo muito dif\u00edcil, muito complicado. Eu tinha a personagem principal, j\u00e1 havia pensado nela, mas n\u00e3o foi uma hist\u00f3ria s\u00f3 minha. Foi constru\u00edda junto com a equipe e todos acrescentaram bastante\u201d, conta Julia. \u201cN\u00e3o imaginei que ganharia esse pr\u00eamio. Eu gosto muito do filme. A equipe inteira trabalhou bem, todo mundo deu seu m\u00e1ximo\u201d.<\/p>\n
Este ano, o pr\u00eamio de J\u00fari Popular, decidido por meio de vota\u00e7\u00e3o do p\u00fablico ap\u00f3s as sess\u00f5es, ficou com o document\u00e1rio Territ\u00f3rio de Mim<\/em>, de Aline Cortes, Daniela Moura, Elis Cordeiro, Lorena Oliveira, Raul Dias e Yggor Ara\u00fajo. A hist\u00f3ria retrata o territ\u00f3rio de viol\u00eancia no qual vive a popula\u00e7\u00e3o LGBTQIA+, buscando por um espa\u00e7o seguro e ressignificando quest\u00f5es relativas \u00e0 fam\u00edlia, amor e respeito. Iggor, um dos realizadores, agradeceu \u00e0s pessoas que lutam por serem reconhecidas na nossa sociedade. \u201cSem voc\u00eas a gente n\u00e3o tem hist\u00f3ria, nem transforma\u00e7\u00e3o, ainda mais no momento em que vivemos, de polariza\u00e7\u00e3o e fake news<\/em>. Precisamos reconhecer que o nosso papel, inclusive de privil\u00e9gio, \u00e9 conseguir trazer esse debate e essas hist\u00f3rias que inspiram e mudam a realidade para melhor, e nos apegarmos ao nosso prop\u00f3sito, que \u00e9 fazer com que sejam ouvidas essas outras vozes, que \u00e0s vezes n\u00e3o t\u00eam tanta for\u00e7a\u201d.<\/p>\n
Outro filme premiado que abordou tem\u00e1ticas atuais foi o vencedor da categoria de melhor document\u00e1rio, Made in V\u00e1rzea<\/em>, de Rodney Suguita. Questionando um decreto que vigorou no Brasil entre os anos de 1941 e 1983, que proibia as mulheres de jogar futebol, o curta retrata os desafios e a luta do futebol feminino por espa\u00e7o em nossa sociedade, partindo dos campos de v\u00e1rzea.<\/p>\n
J\u00e1 o trabalho Peixe, Pizza e Picaretas<\/em> deu ao cineasta brit\u00e2nico (radicado no Brasil) Maynard Stuart Farrell o pr\u00eamio de melhor dire\u00e7\u00e3o, assim como melhor dire\u00e7\u00e3o de fotografia para seu colega Paulo Pampolin. O pr\u00eamio foi apresentado e entregue por Hugo Janeba, s\u00f3cio da Mixer Filmes. \u201cO festival tem uma energia maravilhosa, uma mistura incr\u00edvel de talentos. Acho que \u00e9 isso que vai fazer a diferen\u00e7a no nosso setor: gente nova, com vis\u00f5es novas\u201d, salienta Hugo.<\/p>\n
O coordenador do FilmWorks destaca que o que chamou a aten\u00e7\u00e3o, na sele\u00e7\u00e3o do festival deste ano, foi a qualidade das hist\u00f3rias e o empenho dos alunos e alunas com o que queriam contar em seus filmes. Martin tamb\u00e9m destacou as escolhas cuidadosas de atores e de loca\u00e7\u00f5es, algo que alunos e professores da AIC costumam prezar bastante, em todos os projetos realizados desde o in\u00edcio das atividades da escola. Um dos trabalhos que prova essa afirma\u00e7\u00e3o \u00e9 Dos Dias que se Passam<\/em>, drama familiar que garantiu \u00e0 atriz Gabriela Moreno o pr\u00eamio de melhor atua\u00e7\u00e3o do festival. \u201cO cinema \u00e9 poesia e resist\u00eancia. E a nossa fun\u00e7\u00e3o, como artistas, \u00e9 resistir\u201d, afirma Gabriela.<\/p>\n
A Donzela da Torre<\/em>, a hist\u00f3ria de uma jornalista portadora de Alzheimer, que vive imersa em suas mem\u00f3rias do regime militar brasileiro, levou as premia\u00e7\u00f5es nas categorias de dire\u00e7\u00e3o de arte e montagem. J\u00e1 o divertido curta-metragem Minha Querida Ansiedade<\/em>, que acompanha tr\u00eas personagens que passam por crises pessoais e se encontram em uma farm\u00e1cia, foi o vencedor de melhor roteiro.<\/p>\n
H\u00e1 alguns anos, o FilmWorks Film Festival celebra tamb\u00e9m as categorias Curta Livre, em que concorrem os trabalhos dos alunos dos Curso de Forma\u00e7\u00e3o Livre da AIC (cujo vencedor, nesta edi\u00e7\u00e3o, foi o curta experimental Olho M\u00e1gico<\/em>) e New Vision (que premia uma obra que se destacou pela inventividade, este ano contemplando Sala de Espera<\/em>).<\/p>\n
Com entrada gratuita (sujeita \u00e0 disponibilidade das salas), o FilmWorks Film Festival possibilita aos alunos da AIC terem suas produ\u00e7\u00f5es exibidas em uma tela de cinema, preparando-os para festivais nacionais e internacionais. Al\u00e9m disso, as premia\u00e7\u00f5es oferecidas aos vencedores, pelas institui\u00e7\u00f5es parceiras da escola, s\u00e3o outro grande atrativo do evento.<\/p>\n
\u201cO fato de este ser um festival competitivo pode parecer um pouco controverso para uma escola que aposta no processo\u201d, observa Martin. \u201cA coisa mais importante para a gente, como institui\u00e7\u00e3o de ensino, \u00e9 o processo pelo qual as pessoas passam para chegar nessas realiza\u00e7\u00f5es, o aprendizado que nasce disso. No entanto, entendemos que faz parte desse processo pedag\u00f3gico experimentar a viv\u00eancia de festival de cinema, essa coisa gostosa de ver os filmes dos colegas, entender como eles est\u00e3o sendo \u2018lidos\u2019 pelo p\u00fablico e tamb\u00e9m por especialistas do j\u00fari, al\u00e9m da oportunidade que o festival d\u00e1 para que esses filmes sejam finalizados de maneira profissional\u201d.<\/p>\n
Entre os pr\u00eamios concedidos aos premiados, estiveram a loca\u00e7\u00e3o de kit de c\u00e2meras, mixagem, corre\u00e7\u00e3o de cor, reprodu\u00e7\u00e3o de c\u00f3pias em DCP, servi\u00e7o de acessibilidade, aluguel de equipamentos de ilumina\u00e7\u00e3o, est\u00e1gio remunerado, book fotogr\u00e1fico e chave do programa Final Draft.<\/p>\n
Al\u00e9m da parceria com o MIS, este ano a AIC contou com o apoio da Cinemateca do MAM, Gullane, Locall, CTAV, Monstercam, Mistika, Arkive, Iguale, Naymar, Link Digital, Mixer, Aura Est\u00fadio, plataforma Ooppah, Flaviane Copolla Fotografia, Zumbi Post, Vetor Zero, Teleimage e Los Angeles Brazilian Film Festival.<\/p>\n
*Por Katia Kreutz e fotos Ale Borges e Carol Magali<\/em><\/p>\n
Conhe\u00e7a tamb\u00e9m os vencedores do Rio de Janeiro<\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"