{"id":19316,"date":"2018-09-25T10:30:54","date_gmt":"2018-09-25T13:30:54","guid":{"rendered":"http:\/\/aicinema.site.brtloja.com.br\/?p=19316"},"modified":"2024-04-11T17:45:01","modified_gmt":"2024-04-11T20:45:01","slug":"nouvelle-vague","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/nouvelle-vague\/","title":{"rendered":"Nouvelle Vague"},"content":{"rendered":"<h2><strong>O que foi o movimento cinematogr\u00e1fico, suas principais caracter\u00edsticas est\u00e9ticas, filmes e cineastas mais importantes e seu legado para o cinema.<\/strong><\/h2>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Reunindo alguns dos grandes representantes do cinema moderno europeu, a Nouvelle Vague francesa foi um dos movimentos mais relevantes da hist\u00f3ria do cinema. <\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Os diretores daquele per\u00edodo buscavam usar a t\u00e9cnica como uma forma de estilo. Para eles, um cineasta era, antes de mais nada, um autor. O filme deveria desafiar as conven\u00e7\u00f5es e desconstruir as bases do cinema, ou seja, a l\u00f3gica narrativa\u00a0<\/span><span style=\"font-weight: 400;\">tradicional e a continuidade do espa\u00e7o e tempo. \u00c9 como se o cineasta fosse um ensa\u00edsta que \u201cescrevesse com a luz\u201d, usando a c\u00e2mera como sua caneta \u2013 um conceito que foi chamado de <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">cam\u00e9ra-stylo<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">.<\/span><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<div id=\"formulario-geral-c35df8e4639b56533190\" role=\"main\"><\/div>\n<p><script type=\"text\/javascript\" src=\"https:\/\/d335luupugsy2.cloudfront.net\/js\/rdstation-forms\/stable\/rdstation-forms.min.js\"><\/script><script type=\"text\/javascript\"> new RDStationForms('formulario-geral-c35df8e4639b56533190', 'UA-1993895-1').createForm();<\/script><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<h3><b>O que foi o movimento<\/b><\/h3>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<figure id=\"attachment_19325\" aria-describedby=\"caption-attachment-19325\" style=\"width: 710px\" class=\"wp-caption aligncenter\"><img decoding=\"async\" class=\"size-medium wp-image-19325\" src=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/bazin-et-la-camera-710x400.jpg\" alt=\"Andre Bazin\" width=\"710\" height=\"400\" srcset=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/bazin-et-la-camera-710x400.jpg 710w, https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/bazin-et-la-camera-768x433.jpg 768w, https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/bazin-et-la-camera.jpg 1200w\" sizes=\"(max-width: 710px) 100vw, 710px\" \/><figcaption id=\"caption-attachment-19325\" class=\"wp-caption-text\">Andr\u00e9 Bazin, cujas ideias ajudaram a moldar toda uma gera\u00e7\u00e3o de estudiosos, cr\u00edticos e cineastas.<\/figcaption><\/figure>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">O termo Nouvelle Vague (que, em tradu\u00e7\u00e3o literal, significa \u201c<\/span><span style=\"font-weight: 400;\">nova onda\u201d), foi usado inicialmente entre o final da d\u00e9cada de 1950 e o in\u00edcio dos anos 1960, na Fran\u00e7a, por um grupo de cr\u00edticos cinematogr\u00e1ficos da popular revista <a href=\"https:\/\/www.cahiersducinema.com\/\" target=\"_blank\" rel=\"noopener noreferrer\">Cahiers du Cin\u00e9ma<\/a>.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">As bases te\u00f3ricas mais importantes para os integrantes desse grupo vieram dos escritos de Alexandre Astruc e, sobretudo, de Andr\u00e9 Bazin, cujas ideias ajudaram a moldar toda uma gera\u00e7\u00e3o de estudiosos, cr\u00edticos e cineastas.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">O conceito da <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">cam\u00e9ra-stylo<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> via o cinema como uma forma de linguagem audiovisual, fundamentalmente escrita pelo diretor do filme. A Cahiers du Cin\u00e9ma, fundada por Bazin em 1951, tornou-se o \u201cquartel general\u201d de um grupo de jovens cin\u00e9filos, amantes da s\u00e9tima arte: Fran\u00e7ois Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Jacques Rivette e Eric Rohmer \u2013 que, posteriormente, se tornariam os mais conhecidos diretores da Nouvelle Vague.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Um dos principais argumentos de Bazin consistia na rejei\u00e7\u00e3o da est\u00e9tica da montagem, tanto os cortes radicais propostos pelo cineasta russo Sergei Eisenstein quanto o estilo \u201cinvis\u00edvel\u201d de edi\u00e7\u00e3o dos filmes hollywoodianos. Ele defendia longos planos e uso da profundidade de campo, no que chamava de <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">mise-en-sc\u00e8ne<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (algo como \u201crepresenta\u00e7\u00e3o da cena\u201d). Os elementos que compunham a estrutura f\u00edlmica, de acordo com esse pensamento, eram todos aqueles que precediam a montagem propriamente dita, incluindo posicionamento e movimento de c\u00e2mera, ilumina\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o da a\u00e7\u00e3o nos planos.<\/span><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<figure id=\"attachment_19317\" aria-describedby=\"caption-attachment-19317\" style=\"width: 284px\" class=\"wp-caption aligncenter\"><img decoding=\"async\" class=\"wp-image-19317 size-medium\" src=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/Cahiers-du-cinema-284x400.jpeg\" alt=\"Cahiers du cinema\" width=\"284\" height=\"400\" srcset=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/Cahiers-du-cinema-284x400.jpeg 284w, https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/Cahiers-du-cinema-768x1083.jpeg 768w, https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/Cahiers-du-cinema-482x680.jpeg 482w, https:\/\/www.aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2018\/09\/Cahiers-du-cinema.jpeg 1092w\" sizes=\"(max-width: 284px) 100vw, 284px\" \/><figcaption id=\"caption-attachment-19317\" class=\"wp-caption-text\">Marilyn Monroe na capa da revista &#8220;Cahiers du cin\u00e9ma&#8221; (1956).<\/figcaption><\/figure>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Os cr\u00edticos da Cahiers n\u00e3o abra\u00e7aram apenas as ideias de Bazin, como tamb\u00e9m tomaram emprestado de Astruc o conceito de autoria. A chamada <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">politique des auteurs<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (\u201cpol\u00edtica dos autores\u201d) sustentava que o filme deveria ser uma forma de express\u00e3o art\u00edstica pessoal e que as melhores obras cinematogr\u00e1ficas eram aquelas nas quais estava vis\u00edvel a assinatura de seus autores.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">O movimento rejeitava ainda a <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">tradition de qualit\u00e9<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> \u2013 filmes adaptados de obras cl\u00e1ssicas da literatura, que dominavam as salas de cinema francesas na \u00e9poca. O \u00edmpeto por novidade que movia os jovens autores ficou evidente em uma esp\u00e9cie de manifesto escrito em 1953 por Fran\u00e7ois Truffaut, <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Une certaine tendance du cin\u00e9ma fran\u00e7ais<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (\u201cUma certa tend\u00eancia do cinema franc\u00eas\u201d). No texto, o cineasta denunciava as adapta\u00e7\u00f5es liter\u00e1rias para o cinema como uma forma segura de garantir bilheterias, resultando em trabalhos sem imagina\u00e7\u00e3o, o que ele chamou de <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">cin\u00e9ma de papa<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (\u201ccinema de papai\u201d).<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Os autores dispostos a criar uma \u201cnova onda\u201d do cinema franc\u00eas tinham uma coisa em comum: o desejo de gravar em loca\u00e7\u00f5es reais, abordando temas de cunho social. Muitos dos cineastas do movimento estavam ativamente engajados nas revoltas pol\u00edticas que aconteciam na Fran\u00e7a, na d\u00e9cada de 1960. At\u00e9 mesmo suas experimenta\u00e7\u00f5es radicais com a edi\u00e7\u00e3o, o estilo visual e a narrativa faziam parte de uma necessidade de quebrar os paradigmas conservadores daquele tempo.<\/span><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<h3><b>Um pouco de hist\u00f3ria<\/b><\/h3>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">A Nouvelle Vague se imp\u00f4s como a reitera\u00e7\u00e3o de um princ\u00edpio do Neorrealismo: usar o cinema como ferramenta de transforma\u00e7\u00e3o do mundo. O diferencial dos franceses estava em n\u00e3o buscar apenas a renova\u00e7\u00e3o do mundo atrav\u00e9s do cinema, como tamb\u00e9m sintonizar sua arte com as inquieta\u00e7\u00f5es contempor\u00e2neas. Justamente por isso, o movimento surgiu em meio a jornalistas e a cr\u00edticos de cinema.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Alguns te\u00f3ricos defendem que a Nouvelle Vague se iniciou em 1954, com o primeiro trabalho em longa-metragem da cineasta belga Agn\u00e8s Varda, <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">La Pointe Courte<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">; embora tenha se tornado um evento de peso na Fran\u00e7a apenas em 1959, com <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Os Incompreendidos (Les quatre cents coups<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">), de Fran\u00e7ois Truffaut. Acredita-se que os anos de maior popularidade do movimento tenham sido entre 1958 e 1964, ainda que outros filmes nessa mesma linha existam at\u00e9 1973.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">As situa\u00e7\u00e3o socioecon\u00f4mica da Europa, logo depois da Segunda Guerra Mundial, foi um fator marcante para a exist\u00eancia desse grupo. Politicamente e economicamente abalada, a Fran\u00e7a passou por um per\u00edodo de conservadorismo, no qual buscava recorrer \u00e0s tradi\u00e7\u00f5es pr\u00e9-guerra, o que inclu\u00eda um retorno ao cinema narrativo convencional. A for\u00e7a que movia a Nouvelle Vague estavam justamente na rebeli\u00e3o contra os m\u00e9todos antigos de fazer filmes, em especial as adapta\u00e7\u00f5es liter\u00e1rias.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Os jovens cineastas criticavam a maneira como o cinema cl\u00e1ssico era usado para for\u00e7ar o p\u00fablico a aceitar um tipo de linha narrativa ditatorial. Os filmes de \u00e9poca, adaptados de cl\u00e1ssicos da literatura, eram muito aclamados em festivais de cinema na Fran\u00e7a e considerados \u201cintoc\u00e1veis\u201d pela cr\u00edtica. No entanto, os autores da \u201cnova onda\u201d propunham um cinema de vanguarda, empregando novas t\u00e9cnicas estil\u00edsticas de dire\u00e7\u00e3o e sem depender de grandes or\u00e7amentos para a produ\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Os autores devem sua popularidade ao apoio que receberam de sua jovem audi\u00eancia. A maior parte dos cineastas da Nouvelle Vague nasceu nos anos 1930 e cresceu em Paris, o que permitia aos espectadores se identificarem com a maneira como eles viam a vida e suas quest\u00f5es existenciais. O dia a dia da juventude francesa foi muito bem capturado por esses filmes. Contudo, o movimento n\u00e3o foi bem sucedido apenas localmente, j\u00e1 que influenciou muitos outros cineastas ao redor do mundo, ao longo das d\u00e9cadas seguintes.<\/span><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<h3><b>Principais caracter\u00edsticas est\u00e9ticas<\/b><\/h3>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Os filmes da Nouvelle Vague apresentavam m\u00e9todos de express\u00e3o sem precedentes no cinema, como longos planos sequ\u00eancia, di\u00e1logos improvisados e falta de continuidade. Al\u00e9m disso, exploravam temas existenciais, como as preocupa\u00e7\u00f5es do indiv\u00edduo e a aceita\u00e7\u00e3o do absurdo da experi\u00eancia humana. Recheados de ironia e sarcasmo, tamb\u00e9m faziam muitas refer\u00eancias a outras obras cinematogr\u00e1ficas.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Muitos dos longas-metragens da Nouvelle Vague francesa foram produzidos com or\u00e7amentos bastante reduzidos, frequentemente gravados em apartamentos ou quintais de amigos, usando os conhecidos do diretor como integrantes da equipe de filmagem. Os cineastas tamb\u00e9m eram obrigados a improvisar no que diz respeito ao equipamento (por exemplo, usando carrinhos de mercado para movimentos de <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">travelling<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">). Como o custo da pel\u00edcula cinematogr\u00e1fica era muito alto, as formas de economizar acabaram se transformando em inova\u00e7\u00f5es estil\u00edsticas.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">De certo modo, essa abordagem ajudou os cineastas a buscarem uma express\u00e3o de arte essencial, dentro de um modo de produ\u00e7\u00e3o muito mais confort\u00e1vel e contempor\u00e2neo, alinhado \u00e0s condi\u00e7\u00f5es que possu\u00edam. Em <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Acossado<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (<\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">\u00c0 bout de souffle<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">), ap\u00f3s ouvir que seu filme era muito longo e que deveria ser cortado para uma hora e meia, Godard decidiu remover diversas cenas que haviam sido gravadas em planos sequ\u00eancia usando <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">jump cuts<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">, uma t\u00e9cnica de corte abrupto que vai de um momento para outro do plano sem qualquer tipo de transi\u00e7\u00e3o suave. Ou seja, as decis\u00f5es de ordem pr\u00e1tica acabaram se tornando escolhas propositalmente estil\u00edsticas.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">O novo estilo cinematogr\u00e1fico desenvolvido durante a Nouvelle Vague francesa trouxe um frescor visual ao cinema, com roteiros feitos de improviso, r\u00e1pidas mudan\u00e7as de cena e planos sem muita unidade, que quebravam o eixo convencionado de 180\u00b0. Os filmes do movimento n\u00e3o pretendiam usar a c\u00e2mera para hipnotizar o p\u00fablico com narrativas elaboradas e imag\u00e9tica ilus\u00f3ria, mas para brincar com suas expectativas, em uma combina\u00e7\u00e3o de realismo objetivo e coment\u00e1rio autoral.<\/span><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<h3><b>Principais cineastas e filmes<\/b><\/h3>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Alguns dos mais proeminentes nomes da Nouvelle Vague, incluindo Fran\u00e7ois Truffaut, Jean-Luc Godard, \u00c9ric Rohmer, Claude Chabrol e Jacques Rivette, iniciaram suas carreiras como cr\u00edticos da revista Cahiers du Cin\u00e9ma, fundada pelo famoso te\u00f3rico Andr\u00e9 Bazin. Henri Langlois, fundador e curador da Cin\u00e9math\u00e8que Fran\u00e7aise, tamb\u00e9m foi uma das figuras paternas do movimento.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Influenciados pelas teorias de Bazin e de Alexandre Astruc, e inspirados pelo trabalho de inovadores cineastas norte-americanos (como Charlie Chaplin, Alfred Hitchcock, Orson Welles, Howard Hawks e John Ford), os autores da Cahiers criticavam n\u00e3o apenas o cinema vigente na Fran\u00e7a \u00e0 \u00e9poca, mas tamb\u00e9m o trabalho padronizado da maioria dos diretores hollywoodianos, presos ao fluxo da narrativa tradicional.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Isso n\u00e3o quer dizer que o grupo era totalmente contra o que estava sendo produzido nos Estados Unidos. Truffaut costumava creditar o diretor norte-americano Morris Engel e seu filme <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">O Pequeno Fugitivo<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (<\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Little Fugitive<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">), de 1953, por colaborar com as bases da Nouvelle Vague, mostrando aos jovens criadores franceses \u201co caminho para a produ\u00e7\u00e3o independente\u201d.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Apesar da import\u00e2ncia dos filmes de Agn\u00e8s Varda e de Jean Rouch para o despontar do movimento, <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Le Beau Serge<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (1958) de Claude Chabrol, \u00e9 considerado por muitos como o primeiro longa-metragem da Nouvelle Vague. O assunto ainda \u00e9 muito debatido, j\u00e1 que o pr\u00f3prio Truffaut afirmou, em entrevista, que a Nouvelle Vague n\u00e3o era nem um movimento, nem uma escola, nem um grupo, mas uma caracter\u00edstica. <\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Godard, por sua vez, declarou publicamente que a Nouvelle Vague era composta exclusivamente por ele pr\u00f3prio, Truffaut, Chabrol, Rivette e Rohmer, afirmando que a Cahiers foi o n\u00facleo do movimento. Ele reconhecia o trabalho de cineastas como Resnais, Astruc, Varda e Demy, mas considerava-os distintos do movimento, por representarem outro tipo de cinema.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Na verdade, cineastas como Agn\u00e8s Varda, Alan Resnais, Chris Marker, Jean-Pierre Melville, Alain Robbe-Grillet e Marguerite Duras faziam parte do <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Rive Gauche<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\"> (ou Margem Esquerda). Esse grupo n\u00e3o pertencia \u00e0 ala mais popular e financeiramente bem sucedida do movimento (a Margem Direita), ou seja, a dos autores da Cahiers. Eram diretores mais velhos, que se aproximavam dos ideais da Nouvelle Vague na maneira como praticavam o modernismo cinematogr\u00e1fico, mas que demonstravam certa impaci\u00eancia com a conformidade da Margem Direita, eram mais envolvidos com a literatura e as artes pl\u00e1sticas, al\u00e9m de se identificarem com a esquerda pol\u00edtica. <\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Um grupo n\u00e3o se opunha ao outro; no entanto, \u00e9 ineg\u00e1vel que o sucesso internacional da Nouvelle Vague, tanto de cr\u00edtica quanto de p\u00fablico, foi conquistado essencialmente por Godard, com <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Acossado<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">, e Truffaut, com <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">Os Incompreendidos<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">. Esses filmes voltaram a aten\u00e7\u00e3o do mundo para as atividades do grupo e permitiram que o movimento florescesse.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Ao lado de Truffaut, Godard foi certamente a figura mais representativa da Nouvelle Vague. Seu m\u00e9todo de fazer filmes, frequentemente buscando chocar e surpreender os espectadores, tirando-os da passividade, era inovador e ousado. Por suas escolhas e t\u00e9cnicas, ele foi inclusive acusado de desprezar o p\u00fablico (uma acusa\u00e7\u00e3o que outros diretores experimentais, como Stanley Kubrick e David Lynch, tamb\u00e9m enfrentariam alguns anos depois). Mas sua abordagem estil\u00edstica era, de certa forma, um modo de lutar contra o cinema <\/span><i><span style=\"font-weight: 400;\">mainstream<\/span><\/i><span style=\"font-weight: 400;\">, atacando a ingenuidade do espectador comum. Seu cinema desafiador \u00e9 cultuado at\u00e9 os dias de hoje, j\u00e1 que ele foi o precursor de muitos recursos hoje amplamente utilizados, at\u00e9 mesmo pelo cinema comercial \u2013 como a \u201cquebra da quarta parede\u201d (quando um personagem fala diretamente com o p\u00fablico). <\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Muitos dos diretores que fizeram parte da Nouvelle Vague continuaram produzindo filmes v\u00e1rias d\u00e9cadas depois \u2013 inclusive Godard e Agn\u00e8s Varda, que atualmente ainda trabalham como cineastas.<\/span><\/p>\n<h3><b>Legado para o cinema<\/b><\/h3>\n<blockquote><p><span style=\"font-weight: 400;\">\u201cUma hist\u00f3ria deve ter um come\u00e7o, um meio e um fim, mas n\u00e3o necessariamente nessa ordem.\u201d \u2013 Jean-Luc Godard<\/span><\/p><\/blockquote>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">De certa forma, o in\u00edcio da Nouvelle Vague foi uma esp\u00e9cie de exerc\u00edcio pr\u00e1tico para os escritores da Cahiers, aplicando seus conceitos te\u00f3ricos em filmes dirigidos por eles pr\u00f3prios. Al\u00e9m de romper com a narrativa convencional, esses cineastas defendiam que o diretor \u00e9 o verdadeiro autor dos filmes e que ele deixa uma assinatura pessoal vis\u00edvel ao longo de sua filmografia. <\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">Fugindo dos princ\u00edpios de narrativa cl\u00e1ssica, que consideravam opressiva e determinista, esses artistas n\u00e3o buscavam a \u201csuspens\u00e3o da descren\u00e7a\u201d do espectador. Pelo contr\u00e1rio, faziam o poss\u00edvel para constantemente lembrar o p\u00fablico de que o filme n\u00e3o passava de uma sequ\u00eancia de imagens em movimento, independentemente de qu\u00e3o perfeitas fossem sua dire\u00e7\u00e3o de arte e fotografia. <\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">\u201cAt\u00e9 agora, a maioria dos cineastas pensava saber como fazer filmes. Assim como um escritor ruim n\u00e3o se pergunta se \u00e9 realmente capaz de escrever um romance \u2013 ele acha que sabe. Se os diretores de filmes fossem construtores de avi\u00f5es, haveria um acidente a cada decolagem. Mas, no cinema, esses acidentes s\u00e3o chamados de Oscars\u201d, afirmou Godard.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">O ponto chave da mudan\u00e7a de paradigmas provocada pela Nouvelle Vague, que consiste na cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica mesmo sem dinheiro, trouxe \u00e0 tona a quest\u00e3o do \u201cvalor de produ\u00e7\u00e3o\u201d no cinema. Naquele contexto social e econ\u00f4mico, os artistas buscavam alternativas aos m\u00e9todos de produ\u00e7\u00e3o tradicionais, motivados pela gera\u00e7\u00e3o de neorrealistas italianos que vieram antes deles. Hoje, meio s\u00e9culo depois, esse questionamento permanece.<\/span><\/p>\n<p><span style=\"font-weight: 400;\">A Nouvelle Vague mostrou que \u00e9 poss\u00edvel usar todos os recursos dispon\u00edveis, por menores que fossem, para levar uma vis\u00e3o criativa e inovadora \u00e0s telas do cinema. Com seus planos desconectados, personagens que mudavam drasticamente de uma cena para a outra, ou mesmo loca\u00e7\u00f5es nas quais pessoas comuns acidentalmente dividiam o quadro com os atores do filme, esse grupo de arrojados diretores inegavelmente trouxe um novo olhar para o fazer cinematogr\u00e1fico na Fran\u00e7a \u2013 e tamb\u00e9m no mundo.<\/span><\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<h5><strong>Confira tamb\u00e9m os outros artigos sobre Movimentos Cinematogr\u00e1ficos:<\/strong><\/h5>\n<ul>\n<li><a href=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/expressionismo-alemao-movimentos-cinematograficos\/\">Expressionismo Alem\u00e3o<\/a><\/li>\n<li><a href=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/neorrealismo-italiano\/\" target=\"_blank\" rel=\"noopener noreferrer\">Neorrealismo Italiano\u00a0<\/a><\/li>\n<\/ul>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<p class=\"xmsonormal\">Quem saber mais sobre algum <b><a href=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/cursos\/\"><span style=\"color: #0563c1;\">curso<\/span><\/a><\/b> da Academia Internacional de Cinema? 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