{"id":19096,"date":"2018-08-14T16:19:12","date_gmt":"2018-08-14T19:19:12","guid":{"rendered":"http:\/\/aicinema.site.brtloja.com.br\/?p=19096"},"modified":"2022-03-30T18:56:40","modified_gmt":"2022-03-30T21:56:40","slug":"expressionismo-alemao-movimentos-cinematograficos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/expressionismo-alemao-movimentos-cinematograficos\/","title":{"rendered":"Expressionismo Alem\u00e3o"},"content":{"rendered":"

O que foi o movimento cinematogr\u00e1fico, suas principais caracter\u00edsticas est\u00e9ticas, filmes e cineastas mais importantes e suas influ\u00eancias para o cinema contempor\u00e2neo.<\/strong><\/h3>\n

\u201cEu acredito que os filmes do futuro usar\u00e3o cada vez mais esses \u2018\u00e2ngulos de c\u00e2mera\u2019 ou, como prefiro cham\u00e1-los, esses \u2018\u00e2ngulos dram\u00e1ticos\u2019. Eles auxiliam o pensamento cinematogr\u00e1fico.\u201d<\/em><\/p>\n

F.W. Murnau<\/p><\/blockquote>\n

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O Expressionismo alem\u00e3o \u00e9 um dos estilos do cinema mudo mais reconhecidos, embora \u00e0s vezes seja dif\u00edcil de definir. O movimento expressionista nas artes foi algo que despontou na poesia e na pintura, no in\u00edcio do s\u00e9culo 20, influenciando tamb\u00e9m o teatro, a arquitetura e, naturalmente, o cinema, em especial depois da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918)<\/a>.<\/p>\n

O que o Expressionismo buscava era uma representa\u00e7\u00e3o subjetiva do mundo, que fosse capaz de revelar as ang\u00fastias da exist\u00eancia humana atrav\u00e9s de imagens distorcidas e afastadas da realidade, remetendo a pesadelos. Esses conceitos se originam, em parte, do Romantismo alem\u00e3o.<\/p>\n

Com seu uso de sombras e contrastes, hist\u00f3rias abordando temas inquietantes, al\u00e9m de cen\u00e1rios, maquiagens e figurinos exagerados, o cinema mudo alem\u00e3o dos anos 1920 estabeleceu as bases para dois grandes g\u00eaneros do cinema moderno: o filme de terror e o filme noir<\/em>.<\/p>\n

Nesse artigo voc\u00ea vai conhecer a hist\u00f3ria, o desenvolvimento, as caracter\u00edsticas, principais obras e diretores do movimento. Vamos entender como o Expressionismo Alem\u00e3o marcou presen\u00e7a no in\u00edcio da s\u00e9tima arte e se tornou um dos g\u00eaneros fundadores do cinema moderno.<\/p>\n

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O que foi o movimento<\/strong><\/h3>\n

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O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920)<\/figcaption><\/figure>\n

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O Expressionismo alem\u00e3o consistiu em uma s\u00e9rie de movimentos criativos na Alemanha, na \u00e9poca da Primeira Guerra Mundial, que teve seu auge em Berlim, nos anos 1920. Esses acontecimentos faziam parte de uma tend\u00eancia expressionista mais ampla, que tomava conta da cultura europeia daquele per\u00edodo e que, basicamente, caracterizava-se por uma rejei\u00e7\u00e3o das conven\u00e7\u00f5es ocidentais, mostrando a realidade de maneira extremamente distorcida para causar impacto emocional.<\/p>\n

Muito influenciados por artistas pl\u00e1sticos como Vincent van Gogh<\/a>, Edvard Munch<\/a> e El Greco<\/a>, os expressionistas n\u00e3o se preocupavam tanto em produzir composi\u00e7\u00f5es esteticamente agrad\u00e1veis, mas buscavam gerar rea\u00e7\u00f5es profundas do p\u00fablico ao seu trabalho, por meio de contrastes, \u00e2ngulos e formas abruptas. Em sua ess\u00eancia, o movimento explorava a rela\u00e7\u00e3o entre arte e sociedade, abrangendo in\u00fameros campos, incluindo o cinema.<\/p>\n

Assim como as pinturas expressionistas, os filmes desse per\u00edodo buscavam abordar as experi\u00eancias pessoais e subjetivas do ser humano. No cinema, essa caracter\u00edstica \u00e9 mais particularmente associada a sets pouco realistas, \u00e2ngulos profundos e sombras marcantes, para intensificar a atmosfera do filme.<\/p>\n

Para compensar a falta de grandes or\u00e7amentos, os primeiros filmes expressionistas usavam cen\u00e1rios pouco realistas, com desenhos pintados nas paredes e nos pisos para representar luzes, sombras e objetos. As hist\u00f3rias e narrativas geralmente tratavam de loucura, insanidade, trai\u00e7\u00e3o e outros temas existenciais trazidos \u00e0 tona pelas experi\u00eancias traum\u00e1ticas da Primeira Guerra Mundial.<\/p>\n

O antirrealismo extremo do Expressionismo teve vida curta, dissipando-se depois de poucos anos. No entanto, os temas do movimento permaneceram, de forma um pouco mais sutil, nos filmes produzidos em anos subsequentes, entre as d\u00e9cadas de 1920 e 1930.<\/p>\n

Essa escola de cinema sombria e melanc\u00f3lica acabou sendo levada para os Estados Unidos, mais tarde, quando os nazistas conquistaram o poder e muitos cineastas alem\u00e3es foram obrigados a emigrar para Hollywood. Esses artistas perceberam que os est\u00fadios norte-americanos estavam dispostos a acolh\u00ea-los, e diversos diretores e operadores de c\u00e2mera alem\u00e3es obtiveram sucesso no pa\u00eds, produzindo filmes hollywoodianos que impactaram o cinema como um todo.<\/p>\n

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Um pouco de hist\u00f3ria<\/strong><\/h3>\n

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O Anjo Azul (Josef von Sternberg, 1930)<\/figcaption><\/figure>\n

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Os filmes expressionistas tiveram sua origem em solo alem\u00e3o, em um momento hist\u00f3rico no qual o pa\u00eds se encontrava em relativo isolamento. Em 1916, o governo baniu a exibi\u00e7\u00e3o de filmes estrangeiros no pa\u00eds. A partir de ent\u00e3o, a demanda das salas de cinema por mais filmes levou a um aumento da produ\u00e7\u00e3o dom\u00e9stica, que ganhou popularidade e passou de 24 filmes por ano em 1914 para 130 filmes em 1918.<\/p>\n

N\u00e3o demorou muito para que esse novo estilo conquistasse o p\u00fablico tamb\u00e9m de outros pa\u00edses. No in\u00edcio dos anos 1920, diversos cineastas j\u00e1 faziam experimenta\u00e7\u00f5es com a est\u00e9tica arrojada do cinema alem\u00e3o. O p\u00fablico europeu tamb\u00e9m come\u00e7ou a apreciar esse estilo, em parte devido a uma diminui\u00e7\u00e3o do sentimento anti-alem\u00e3o que predominava na Europa, com o t\u00e9rmino da Primeira Guerra. Quando o banimento de importa\u00e7\u00e3o de filmes deixou de vigorar na Alemanha, o cinema nacional j\u00e1 havia se tornado uma ind\u00fastria internacional.<\/p>\n

O movimento terminou depois que a moeda se estabilizou, tornando mais barata a compra de filmes estrangeiros. Os est\u00fadios da Universum Film AG (UFA) entraram em colapso financeiro e os produtores alem\u00e3es come\u00e7aram a negociar com os italianos. O poder norte-americano na ind\u00fastria cinematogr\u00e1fica tamb\u00e9m levou alguns cineastas germ\u00e2nicos a continuarem suas carreiras nos Estados Unidos. O \u00faltimo filme da UFA foi O Anjo Azul<\/em> (Der Blaue Engel<\/em>), de Josef von Sternberg, em 1930, considerado uma obra de arte expoente do Expressionismo alem\u00e3o.<\/p>\n

As caracter\u00edsticas est\u00e9ticas propostas pelos cineastas expressionistas na Alemanha eram bem aceitas durante a Rep\u00fablica de Weimar (1919 a 1933), per\u00edodo democr\u00e1tico antes da ocupa\u00e7\u00e3o nazista, mas aos poucos foram se diluindo e se misturando com outras abordagens e estilos visuais. Essa varia\u00e7\u00e3o do Expressionismo perdurou por muitas d\u00e9cadas subsequentes \u2013 nos \u00e2ngulos acentuados e nos jogos de sombras dos filmes noir<\/em>, por exemplo.<\/p>\n

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Principais caracter\u00edsticas est\u00e9ticas<\/strong><\/h3>\n

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O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920)<\/figcaption><\/figure>\n

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Por ter florescido em meio aos horrores da guerra e \u00e0 devasta\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica que dominou a Alemanha depois disso, o cinema expressionista buscava express\u00f5es viscerais de emo\u00e7\u00e3o e desprezava a obedi\u00eancia das regras de composi\u00e7\u00e3o e representa\u00e7\u00e3o. Embora tenha sido um movimento que emergiu do mesmo clima cultural que deu origem ao nazismo, os expressionistas eram um grupo de rebeldes que pregavam valores art\u00edsticos como a abstra\u00e7\u00e3o e o antagonismo \u00e0 tradi\u00e7\u00e3o, aliados \u00e0 necessidade quase obsessiva de expressar seus sentimentos, o que fez com que se referissem a si mesmos como os \u201cadolescentes apocal\u00edpticos\u201d.<\/p>\n

Muitos cr\u00edticos v\u00eaem um link direto entre o cinema e a arquitetura da \u00e9poca, j\u00e1 que os cen\u00e1rios e a dire\u00e7\u00e3o de arte dos filmes em geral mostravam pr\u00e9dios com \u00e2ngulos pontiagudos e ambientes grandiosos, visualmente sobrecarregados, como a Torre de Babel no filme Metr\u00f3polis<\/em>, de Fritz Lang. Fortes elementos do monumentalismo e do modernismo aparecem nos filmes can\u00f4nicos do Expressionismo alem\u00e3o, como o pr\u00f3prio Metr\u00f3polis<\/em>, em que a arquitetura se apresenta de maneira massiva e muitas vezes opressora.<\/p>\n

Os pintores expressionistas alem\u00e3es que inspiraram o Expressionismo no cinema rejeitavam a representa\u00e7\u00e3o naturalista de uma realidade objetiva.\u00a0 Eles retratavam figuras humanas, pr\u00e9dios e paisagens de maneira distorcida e estilizada, sem muita preocupa\u00e7\u00e3o com as conven\u00e7\u00f5es da perspectiva ou da propor\u00e7\u00e3o, para desorientar o observador. Essa abordagem era usada para transmitir emo\u00e7\u00f5es internas e subjetivas por meio de ferramentas externas e objetivas.<\/p>\n

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O principal exemplo do estilo visual expressionista \u00e9 a atmosfera de sonho do filme O Gabinete do Dr. Caligari<\/em>, reconhecido como um dos marcos do cinema expressionista. Hermann Warm, o diretor de arte do filme, trabalhou com os pintores e diretores de arte Walter Reimann e Walter R\u00f6hrig para criar sets fant\u00e1sticos, que remetiam a pesadelos, com criaturas retorcidas e paisagens com formas pontiagudas e linhas obl\u00edquas. Alguns desses desenhos foram constru\u00eddos, outros pintados diretamente em telas.<\/p>\n

Os filmes expressionistas alem\u00e3es n\u00e3o apenas sintetizam o contexto sociopol\u00edtico no qual foram criados, como tamb\u00e9m trabalhavam problemas intrinsecamente modernos de auto-aceita\u00e7\u00e3o e identidade, expressando um pouco do que se passava na consci\u00eancia coletiva da \u00e9poca. Segundo J.P. Telotte, em \u2018Expressionismo Alem\u00e3o: Um Problema Cinem\u00e1tico\/Cultural\u2019 do livro Tradi\u00e7\u00f5es do Cinema Mundial<\/em> (2005), o movimento voltou seu foco ao \u201cpoder dos espet\u00e1culos\u201d para oferecer ao p\u00fablico uma esp\u00e9cie de imagem meton\u00edmia de sua pr\u00f3pria situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Os filmes expressionistas permanecem marcados por seus cen\u00e1rios e atua\u00e7\u00f5es extremamente estilizados, seu visual altamente contrastado e edi\u00e7\u00e3o simples. A maior parte deles era gravada em est\u00fadios, onde se podia usar ilumina\u00e7\u00e3o e \u00e2ngulos de c\u00e2mera deliberadamente exagerados e dram\u00e1ticos, para enfatizar algum aspecto particular dos personagens \u2013 medo, horror, dor, etc. Algumas das t\u00e9cnicas expressionistas foram posteriormente adaptadas por diretores norte-americanos e incorporadas em muitos filmes de Hollywood<\/a>.<\/p>\n

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Principais filmes<\/h3>\n

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O Gabinete do Dr. Caligari<\/h3>\n

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Entre os filmes mais emblem\u00e1ticos do Expressionismo alem\u00e3o, certamente \u00e9 preciso destacar O Gabinete do Dr. Caligari<\/em> (Das Cabinet des Dr. Caligari<\/em>), de 1920, dirigido por Robert Wiene. O filme \u00e9 famoso por sua atmosfera angustiante e pela hist\u00f3ria macabra, na qual o personagem Francis tenta resolver uma s\u00e9rie de assassinatos que ele suspeita serem obra de um hipnotizador, o Dr. Caligari, e de seu comparsa son\u00e2mbulo, Cesare.<\/p>\n

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Nosferatu<\/h3>\n

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Outro filme extremamente representativo do movimento foi Nosferatu<\/em> (1922), de F.W. Murnau. Embora tenha usado diversas loca\u00e7\u00f5es reais, o que n\u00e3o era comum nos filmes da \u00e9poca, o filme desenvolve o desespero e a ang\u00fastia de maneira crescente e assustadora. O diretor transforma o familiar em algo estranho, dando toques expressionistas \u00e0s paisagens da vida real, o que gradualmente transporta o espectador da realidade para o pesadelo.<\/p>\n

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Metr\u00f3polis<\/h3>\n

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Metr\u00f3polis<\/em> (1927), de Fritz Lang, tamb\u00e9m \u00e9 considerado um dos mais famosos filmes do Expressionismo e do cinema mudo como um todo. O longa-metragem mistura elementos g\u00f3ticos com uma est\u00e9tica futurista que ainda hoje inspira o g\u00eanero de fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica. Sua vis\u00e3o extremista de uma sociedade movida pela luta de classes, com os ricos vivendo no topo iluminado da cidade e os pobres embaixo, nas sombras.<\/p>\n

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M, o Vampiro de Dusseldorf<\/h3>\n

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Mais um filme de Fritz Lang, conhecido especialmente por suas ideias ousadas, dessa vez inspirando-se em um caso real de um sequestrador infantil para, mais uma vez, fazer um paralelo com a realidade dentro do expressionismo. A cr\u00edtica era voltada para a criminalidade e disputas de poder dentro da Rep\u00fablica De Weimar, mas essa inser\u00e7\u00e3o de realidade n\u00e3o foi a \u00fanica novidade: M, o Vampiro de Dusseldorf<\/em> tamb\u00e9m \u00e9 o primeiro filme com som do diretor.<\/p>\n

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O Homem Que Ri<\/h3>\n

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Cruzando para o al\u00e9m mar, O Homem Que Ri foi possivelmente o filme expressionista estadunidense mais importante do per\u00edodo. Dirigido pelo alem\u00e3o Paul Leni, a obra adapta o romance de mesmo nome de Victor Hugo em que um jovem \u00e9 condenado a rir para sempre. O filme se destacou pela caracteriza\u00e7\u00e3o macabra do personagem principal com um sorriso perene e bizarro e que, aliado a est\u00e9tica expressionista forte, faz com que o filme seja sempre aliado ao terror por mais que esteja muito mais pr\u00f3ximo da constru\u00e7\u00e3o de um melodrama.<\/p>\n

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Legado para o cinema<\/h3>\n

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Alfred Hitchcok dirigindo um de seus primeiros filmes.<\/figcaption><\/figure>\n

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O cinema expressionista alem\u00e3o dos anos 1920 defendia a premissa de que o filme se transforma em arte na medida em que suas imagens se afastam da realidade. Essa interpreta\u00e7\u00e3o particular acabou influenciando alguns dos mais relevantes cineastas do s\u00e9culo 20. O estilo seminal do Expressionismo conseguiu transpor em imagens o sentimento popular de um per\u00edodo turbulento da hist\u00f3ria europeia, dando origem a obras poderosas com um olhar revelador sobre a sociedade da \u00e9poca, expressando toda a desilus\u00e3o, desconfian\u00e7a e isolamento enfrentados pelo povo alem\u00e3o.<\/p>\n

Os filmes mudos da Alemanha estavam muito \u00e0 frente do que era produzido em Hollywood no mesmo per\u00edodo. De certo modo, o cinema no mundo inteiro se beneficiou com o desenvolvimento desse estilo e das novas t\u00e9cnicas, que se tornaram cada vez mais vis\u00edveis nas telas. A est\u00e9tica expressionista ainda \u00e9 incorporada por cineastas e diretores de fotografia contempor\u00e2neos.<\/p>\n

No campo das artes pl\u00e1sticas, o russo Wassily Kandinsky foi um dos pintores fortemente inspirados pelo Expressionismo. O mesmo pode-se dizer do escritor Franz Kafka, na literatura, e do compositor austr\u00edaco Arnold Schoenberg, na m\u00fasica. J\u00e1 no cinema, dois g\u00eaneros foram especialmente influenciados: os filmes de terror e os filmes noir<\/em>.<\/p>\n

Inspirado pelo movimento expressionista, o fundador dos est\u00fadios da Universal, Carl Laemmle, ficou famoso por produzir filmes de terror para o cinema mudo norte-americano, como O Fantasma da \u00d3pera<\/em> (The Phantom of the Opera<\/em>), em 1925. Cineastas de origem alem\u00e3, radicados nos Estados Unidos, como Karl Freund (que foi diretor de fotografia de Dr\u00e1cula<\/em>, em 1931), ajudaram a definir a atmosfera dos filmes de monstros produzidos pela Universal nos anos 1930. Com suas caracter\u00edsticas peculiares de dire\u00e7\u00e3o de arte e de fotografia, esses profissionais criaram um modelo estil\u00edstico para as futuras gera\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Em 1924, o jovem Alfred Hitchcock foi enviado para trabalhar no filme The Blackguard<\/em> (Die Prinzessin und der Geiger<\/em>), como assistente de dire\u00e7\u00e3o e diretor de arte para os est\u00fadios UFA, em Berlim. O efeito imediato desse ambiente de trabalho pode ser visto no design de seus cen\u00e1rios para esse longa-metragem. O Expressionismo alem\u00e3o influenciou o diretor ao longo de toda a sua carreira, assim como o cinema de Hitchcock influenciou diversos outros cineastas modernos.<\/p>\n

Em seu terceiro filme, O Inquilino<\/em> (The Lodger: A Story of the London Fog<\/em>), de 1927, Hitchcock apresentou ao p\u00fablico t\u00e9cnicas de ilumina\u00e7\u00e3o e truques de c\u00e2mera ousados, contra a vontade do est\u00fadio. Essa influ\u00eancia expressionista tamb\u00e9m pode ser percebida no bem sucedido Psicose<\/em> (Psycho<\/em>), de 1960, no qual a imagem borrada do assassino, vista atrav\u00e9s de uma cortina de banheiro, \u00e9 uma reminisc\u00eancia a Nosferatu<\/em>, na cena em que o vampiro \u00e9 mostrado por meio de uma sombra.<\/p>\n

Nos anos 1940, diretores como Fritz Lang, Billy Wilder, Otto Preminger, Orson Welles, Carol Reed e Michael Curtiz introduziram o estilo expressionista nos dramas norte-americanos, expandindo ainda mais a influ\u00eancia do movimento no fazer cinematogr\u00e1fico moderno.<\/p>\n

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O expressionismo no cinema moderno<\/h3>\n

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\"Batmna:
Batmna: O Retorno (Tim Burton, 1992)<\/figcaption><\/figure>\n

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Mais recentemente, em 1979, o filme Nosferatu: O Vampiro da Noite<\/em> (Nosferatu: Phantom der Nacht<\/em>), do cineasta alem\u00e3o Werner Herzog, foi um tributo ao longa de F.W. Murnau, usando as mesmas t\u00e9cnicas expressionistas para contar uma hist\u00f3ria de valor simb\u00f3lico muito profundo. Outro filme recente que usa contraste acentuado e elementos fant\u00e1sticos \u00e9 a produ\u00e7\u00e3o norte-americana Cidade das Sombras<\/em> (Dark City<\/em>), de 1998, dirigida por Alex Proyas.<\/p>\n

Elementos estil\u00edsticos empregados do Expressionismo s\u00e3o comuns atualmente em obras de fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica \u2013 por exemplo, Blade Runner: O Ca\u00e7ador de Androides<\/em> (Blade Runner<\/em>), de Ridley Scott, lan\u00e7ado em 1982 e visivelmente influenciado por Metr\u00f3polis<\/em>; e Neblina e Sombras<\/em> (Shadows and Fog<\/em>), de Woody Allen, de 1991, uma homenagem aos cineastas expressionistas Fritz Lang, Georg Wilhelm Pabst e F.W. Murnau.<\/p>\n

O estilo tamb\u00e9m pode ser percebido tamb\u00e9m na filmografia do diretor Tim Burton. Batman: O Retorno <\/em>(Batman Returns<\/em>), de 1992, \u00e9 muito citado como uma tentativa moderna de capturar a ess\u00eancia do expressionismo alem\u00e3o. As formas angulares dos pr\u00e9dios e a apar\u00eancia agressiva da cidade de Gotham evocam a hostilidade e a amea\u00e7a presentes em Metr\u00f3polis<\/em>. Al\u00e9m disso, o Gabinete do Dr. Caligari<\/em> foi a inspira\u00e7\u00e3o para a apar\u00eancia grotesca do Pinguim, interpretado por Danny DeVito.<\/p>\n

As influ\u00eancias expressionistas de Burton s\u00e3o ainda mais aparentes no conto de fadas moderno Edward M\u00e3os de Tesoura (Edward Scissorhands)<\/em>. O protagonista \u00e9 uma refer\u00eancia ao servo son\u00e2mbulo de Caligari. Burton provoca desconforto com os ambientes do filme, desde o sub\u00farbio colorido at\u00e9 o castelo g\u00f3tico do protagonista. A seu modo, o diretor subverte o pesadelo de Caligari com uma narrativa surpreendentemente inspiradora, apresentando o outsider<\/em> como her\u00f3i e os habitantes da vila como vil\u00f5es. O mesmo pode-se dizer sobre o filme Sweeney Todd: O Barbeiro Demon\u00edaco da Rua Fleet (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street<\/em>), de 2007, tamb\u00e9m dirigido por Tim Burton, cujo protagonista aparece sempre com roupas escuras, maquiagem branca no rosto e olheiras profundas.<\/p>\n

*Texto e pesquisa: Katia Kreutz <\/em><\/strong><\/p>\n

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Confira tamb\u00e9m os outros artigos sobre os Movimentos Cinematogr\u00e1ficos:<\/p>\n