{"id":15003,"date":"2017-02-16T19:07:23","date_gmt":"2017-02-16T21:07:23","guid":{"rendered":"http:\/\/www.aicinema.com.br\/?p=15003"},"modified":"2025-01-16T11:41:21","modified_gmt":"2025-01-16T14:41:21","slug":"beto-brant-fala-sobre-pitanga-cinema-autoral-e-resistencia-na-aic","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/beto-brant-fala-sobre-pitanga-cinema-autoral-e-resistencia-na-aic\/","title":{"rendered":"Beto Brant fala sobre \u201cPitanga\u201d, cinema autoral e resist\u00eancia na AIC"},"content":{"rendered":"
Com seu jeito despojado e bem humorado, Beto Brant come\u00e7a o bate-papo com os participantes da Semana de Orienta\u00e7\u00e3o na Academia Internacional de Cinema contando que acaba de voltar de Recife, onde estava com o cineasta Cl\u00e1udio Assis. Do calor pernambucano para o paulistano, a conversa passa por v\u00e1rios t\u00f3picos, do fazer cinematogr\u00e1fico \u00e0 situa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica do pa\u00eds.<\/p>\n Como introdu\u00e7\u00e3o, Beto fala um pouco sobre seu novo document\u00e1rio, \u201cPitanga\u201d, que acaba de ser exibido com exclusividade na AIC. O longa conta um pouco da hist\u00f3ria de Ant\u00f4nio Pitanga, um dos maiores atores do cinema nacional, protagonista de filmes importantes de Glauber Rocha, Cac\u00e1 Diegues e Walter Lima Jr.<\/p>\n Beto Brant comenta sobre o momento pol\u00edtico pelo qual o Brasil tem passado, um per\u00edodo pessimista e um pouco desalentador, em que as pessoas sumiram da rua, no qual o discurso de Pitanga \u2013 um discurso afirmativo, do negro, da mulher, de resist\u00eancia \u2013 \u00e9 mais atual do que nunca. \u201c\u00c9 importante poder falar das coisas que ele fala e ter essa influ\u00eancia, esse poder de afeto, de uma posi\u00e7\u00e3o \u00edntegra com a vida\u201d, explica.<\/p>\n O cineasta conta que Pitanga vinha sendo esquecido. \u201cEu acho que at\u00e9 ele estava esquecendo quem era. Andava triste, me disse que esse era seu \u00faltimo voo antes do mergulho. E agora, depois do filme, j\u00e1 o chamaram para diversos trabalhos, ele est\u00e1 com a agenda lotada.\u201d A recep\u00e7\u00e3o que o filme tem tido junto \u00e0s plateias onde foi exibido tem dado novo f\u00f4lego tanto para o cineasta quando para seu protagonista.<\/p>\n As palavras de Pitanga, quando o diretor o abordou para fazer o document\u00e1rio, foram essas: \u201cEu nunca participei de movimento negro. Eu sou um negro em movimento.\u201d Ent\u00e3o, a ideia n\u00e3o foi de filmar o que Beto Brant imaginava que Ant\u00f4nio Pitanga fosse, mas embarcar na jornada dele e conhecer esse movimento. \u201c\u00c9 uma viagem do artista, reencontrando seu passado e dando a ele um novo significado.\u201d<\/p>\n Uma observa\u00e7\u00e3o que aflora na conversa, que \u00e9 algo interessante tanto na fala de Pitanga quanto na maneira como Beto organiza seu filme, \u00e9 que as narrativas da hist\u00f3ria dele mostram um pouco da hist\u00f3ria do cinema. Isso traz \u00e0 tona uma discuss\u00e3o sobre o abismo que existe, hoje, na pol\u00edtica e na maneira como os artistas t\u00eam desenvolvido suas narrativas cinematogr\u00e1ficas.<\/p>\n Beto acredita que \u201cir para a rua\u201d com esse filme, lembrar que j\u00e1 houve resist\u00eancia pol\u00edtica dentro do cinema, foi uma de suas propostas com \u201cPitanga\u201d. Combater um pouco esse lado \u201ccareta\u201d que a produ\u00e7\u00e3o audiovisual nacional tem abra\u00e7ado.<\/p>\n A narrativa dominante no mercado, nos tempos atuais, parece ser a da massifica\u00e7\u00e3o, de uma linguagem que busca o sucesso de bilheteria. \u201c\u00c9 tudo muito pobre\u201d, lamenta o cineasta. Na contram\u00e3o disso, ele busca o fazer cinematogr\u00e1fico como inven\u00e7\u00e3o. \u201cO cinema, para mim, sempre foi uma forma de observa\u00e7\u00e3o da aventura que consigo ter com a vida. Meu enfrentamento direto com a realidade. Uma forma de encontrar quem eu sou.\u201d<\/p>\n A c\u00e2mera, para Beto Brant, n\u00e3o est\u00e1 a servi\u00e7o da hist\u00f3ria, mas sim do olhar do artista. \u00c9 o cineasta quem escolhe o que vai enquadrar, de que modo quer narrar aquela hist\u00f3ria, que personagem vai colocar ali. \u201cTudo \u00e9 sobre escolhas. E hoje em dia a gente v\u00ea muito o olhar sendo colocado em segundo plano, a favor de um mercado, de um neg\u00f3cio\u201d, afirma.<\/p>\n Na \u00e9poca em que Beto Brant come\u00e7ou a fazer cinema, no governo Collor, houve um resgate do cinema brasileiro, mais autoral. \u201cDe repente valorizaram nosso jeito de entender cinema. Foi a\u00ed que consegui fazer meu primeiro filme\u201d, lembra o diretor. Hoje, ele continua resistindo e se reinventando, trabalhando com parceiros, fazendo document\u00e1rios e n\u00e3o esperando dinheiro de editais. \u201cA gente tem que fazer um cinema poss\u00edvel, mas livre, sem interven\u00e7\u00e3o\u201d, defende.<\/p>\n<\/a>*Por Katia Kreutz, Foto: Yuri Pinheiro<\/p>\n
\u201cPitanga\u201d<\/b><\/h5>\n
Cinema autoral<\/b><\/h5>\n
<\/a><\/p>\n
Desafios do fazer cinematogr\u00e1fico<\/b><\/h5>\n