*Por Katia Kreutz – Foto Yuri Pinheiro<\/em><\/p>\n
O bate-papo come\u00e7ou com a cineasta contando um pouco sobre seu primeiro longa-metragem de fic\u00e7\u00e3o, \u201cCalif\u00f3rnia\u201d, que foi exibido antes da palestra. Ela lembra que suas primeiras anota\u00e7\u00f5es foram em 2004 e o projeto levou dez anos para ser filmado. \u201cA inspira\u00e7\u00e3o inicial foi minha pr\u00f3pria experi\u00eancia, minha hist\u00f3ria de adolescente em S\u00e3o Paulo nos anos 1980\u201d. Marina v\u00ea elementos autobiogr\u00e1ficos em v\u00e1rios personagens, mas uma das coisas que mais gosta no longa \u00e9 o fato de poder se reconhecer nesse trabalho.<\/p>\n
Mas sobre o que \u00e9 esse filme? A diretora conta que pretendia abordar o momento de abertura pol\u00edtica, das Diretas J\u00e1 no Brasil, em 1984, que foi algo muito significativo em sua juventude \u2013 a primeira vez que o pa\u00eds falava em democracia, depois de vinte anos de ditadura. \u201cEu me lembro da sensa\u00e7\u00e3o de ir para as ruas. Era uma voz un\u00edssona, todo mundo do mesmo lado gritando a mesma coisa\u201d, explica.\u00a0<\/a><\/p>\n
Filha do conceituado cineasta Luis S\u00e9rgio Person, Marina conviveu com o fazer cinematogr\u00e1fico desde muito cedo. Ela sempre pensou que faria cinema, embora n\u00e3o soubesse muito bem se seria atriz, diretora ou fot\u00f3grafa. Foi estudando na ECA\/USP que realmente teve contato com a obra de seu pai. \u201cAt\u00e9 ent\u00e3o, todos me diziam que o trabalho dele era incr\u00edvel, mas eu desconfiava que eram apenas amigos e familiares contando coisas para uma menina que perdeu o pai com menos de sete anos. Toda a rela\u00e7\u00e3o que eu tinha com o cinema dele passava por esse lado afetivo. Quando entrei na faculdade e vi que seus filmes eram estudados na escola, tive outra vis\u00e3o\u201d.<\/p>\n
Apesar do legado de seu pai, Marina afirma que nunca sentiu cobran\u00e7as ou expectativas no sentido de dar continuidade \u00e0 obra dele ou \u201cherdar o talento\u201d, se \u00e9 que isso existe. Ela teve, sim, d\u00favidas se deveria realizar o document\u00e1rio sobre o pai (\u201cPerson – Um cineasta de S\u00e3o Paulo\u201d, lan\u00e7ado em 2003). No entanto, acabou percebendo que esse era um filme que somente ela poderia fazer, sobre uma filha privada dessa conviv\u00eancia com a figura paterna. \u201cO filme foi muito importante porque descobri outro lado do meu pai, que eu n\u00e3o conhecia. Foi uma jornada pessoal, que me poupou v\u00e1rios anos de an\u00e1lise\u201d, brinca.<\/p>\n
Vencendo os desafios do mercado, outra pergunta de muitos estudantes de cinema diz respeito ao que fazer para descobrir que \u00e1rea seguir. Transitando por trabalhos t\u00e3o diferentes, do document\u00e1rio \u00e0 fic\u00e7\u00e3o, Marina explica que os caminhos nunca s\u00e3o muito claros. Quando se est\u00e1 come\u00e7ando, h\u00e1 in\u00fameras possibilidades. Contudo, ela tamb\u00e9m acredita na versatilidade. \u201cExiste uma tentativa de enquadrarem as pessoas em apenas uma coisa, mas \u00e0s vezes voc\u00ea \u00e9 mais do que aquilo. O que eu posso dizer \u00e9 que voc\u00ea deve perseguir o que gosta, mesmo se depois descobrir que n\u00e3o \u00e9 bem o que queria\u201d, aconselha.<\/p>\n
Marina lembra que entrou na faculdade querendo ser diretora de fotografia, mas acabou desistindo por motivos que, hoje, ela considera errados. Na \u00e9poca, para ser fot\u00f3grafo era necess\u00e1rio passar pela fun\u00e7\u00e3o de segundo assistente de c\u00e2mera, ou seja, a pessoa que carregava as malas pesad\u00edssimas de equipamentos. Embora n\u00e3o exista nada no trabalho do diretor de fotografia que exija for\u00e7a f\u00edsica, ela n\u00e3o sabia que era poss\u00edvel questionar essa hierarquia. Com seu porte pequeno e sem muitos m\u00fasculos, Marina simplesmente n\u00e3o tinha condi\u00e7\u00e3o f\u00edsica para essa fun\u00e7\u00e3o, ent\u00e3o resolveu partir para outras \u00e1reas.<\/p>\n
Por isso, tamb\u00e9m, ela ressalta que sempre \u00e9 importante tentar. \u201cS\u00f3 d\u00e1 pra saber fazendo. Voc\u00ea vai errar, e tudo bem; vai se frustrar, e \u00e9 isso mesmo. Se decidir que quer fazer outra coisa, mude. N\u00e3o tem idade para aprender algo novo, come\u00e7ar uma nova carreira. Essa disposi\u00e7\u00e3o \u00e9 importante. N\u00e3o pode ter medo de fracassar, porque o fracasso faz parte. N\u00e3o se deixe abater, aceite aquilo como uma experi\u00eancia\u201d, enfatiza.<\/p>\n
Para a turma de futuros diretores e meros interessados, Marina Person deixa uma li\u00e7\u00e3o n\u00e3o apenas para a carreira profissional, mas para a vida: a gente erra muito mais do que acerta, mas podemos aprender e evoluir com os nossos erros. Em qualquer trabalho criativo, \u00e9 preciso n\u00e3o ter medo de errar, sen\u00e3o voc\u00ea pensa que aquilo nunca vai estar suficientemente bom para algu\u00e9m ver. Em tempos que pregam a perfei\u00e7\u00e3o, o conselho da cineasta \u00e9 deixar isso de lado e n\u00e3o sofrer tanto, nem se abater com a autocr\u00edtica.<\/p>\n
Essa \u201cdisposi\u00e7\u00e3o para o fracasso\u201d foi algo que permeou a fala da cineasta. Mesmo estando no mercado de trabalho h\u00e1 muitos anos, ela sabe o quanto isso \u00e9 muito dif\u00edcil, ressaltando inclusive que, muitas vezes, essas s\u00e3o coisas que n\u00e3o se comenta na faculdade. \u201c\u00c9 \u00f3bvio que a gente tem que trabalhar para acertar, mas ter esse compromisso de ser incr\u00edvel o tempo inteiro \u00e9 um ponto de partida perigoso\u201d, completa.<\/p>\n
J\u00e1 ao final do bate-papo, Marina explica que a situa\u00e7\u00e3o do cinema brasileiro anda um pouco incerta, j\u00e1 que ningu\u00e9m sabe muito bem o que vai acontecer. Os processos s\u00e3o lentos, os fomentos n\u00e3o est\u00e3o acontecendo, o governo promete coisas e depois n\u00e3o faz. O pior de tudo, entretanto, \u00e9 sociedade considerar a cultura sup\u00e9rflua. \u201cA gente depende muito de uma consci\u00eancia da import\u00e2ncia da cultura\u201d, refor\u00e7a. \u201cAs pessoas n\u00e3o entendem que cultura \u00e9 identidade, \u00e9 nossa hist\u00f3ria. Se n\u00e3o tivermos isso, a gente vai ser apenas pasto pra soja. M\u00e1rio de Andrade j\u00e1 dizia que a cultura \u00e9 t\u00e3o importante quanto o p\u00e3o. A gente nunca pode abrir m\u00e3o de fazer nossas pr\u00f3prias coisas.\u201d Vindas de algu\u00e9m que vem fazendo sua parte para deixar uma marca no cinema brasileiro, as palavras s\u00e3o um alerta, mas tamb\u00e9m incentivo e inspira\u00e7\u00e3o.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
*Por Katia Kreutz – Foto Yuri Pinheiro \u201cVoc\u00ea precisa estar preparado para fracassar.\u201d Essa foi uma das frases que marcaram quem esteve no primeiro dia da 12\u00aa Semana de Orienta\u00e7\u00e3o da Academia Internacional de Cinema e ouviu Marina Person contar um pouco sobre sua trajet\u00f3ria como produtora, atriz e diretora de cinema. Pequena e de<\/p>\n","protected":false},"author":23,"featured_media":15851,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"site-sidebar-layout":"default","site-content-layout":"","ast-site-content-layout":"default","site-content-style":"default","site-sidebar-style":"default","ast-global-header-display":"","ast-banner-title-visibility":"","ast-main-header-display":"","ast-hfb-above-header-display":"","ast-hfb-below-header-display":"","ast-hfb-mobile-header-display":"","site-post-title":"","ast-breadcrumbs-content":"","ast-featured-img":"","footer-sml-layout":"","theme-transparent-header-meta":"default","adv-header-id-meta":"","stick-header-meta":"","header-above-stick-meta":"","header-main-stick-meta":"","header-below-stick-meta":"","astra-migrate-meta-layouts":"set","ast-page-background-enabled":"default","ast-page-background-meta":{"desktop":{"background-color":"var(--ast-global-color-4)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"tablet":{"background-color":"","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"mobile":{"background-color":"","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""}},"ast-content-background-meta":{"desktop":{"background-color":"var(--ast-global-color-5)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"tablet":{"background-color":"var(--ast-global-color-5)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"mobile":{"background-color":"var(--ast-global-color-5)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""}},"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-14975","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-sem-categoria","areacinema-arte","areacinema-atuacao","areacinema-cinema-completo","areacinema-direcao","areacinema-documentario","areacinema-edicao","areacinema-fotografia","areacinema-producao","areacinema-roteiro","areacinema-som","areacinema-teoria"],"acf":[],"yoast_head":"\n