<\/a><\/p>\nPerguntada sobre um tema bastante atual, o da dificuldade de ingresso das mulheres no mercado de trabalho audiovisual, especialmente na dire\u00e7\u00e3o, Marina observa que, de fato, as pessoas est\u00e3o come\u00e7ando a perceber esse problema. Por que existem t\u00e3o poucos filmes dirigidos por mulheres, se as escolas de cinema est\u00e3o cheias de meninas? O que est\u00e1 acontecendo de errado nesse processo? \u201cTem muita mulher na produ\u00e7\u00e3o, algumas no roteiro e montagem. E a\u00ed voc\u00ea se pergunta: elas n\u00e3o est\u00e3o dirigindo por que n\u00e3o est\u00e3o interessadas? Eu n\u00e3o acredito que seja isso\u201d, afirma. De acordo com Marina, o problema talvez possa estar nas comiss\u00f5es de sele\u00e7\u00e3o de projetos dos editais, que s\u00e3o formadas em sua maioria por homens, ou nos pr\u00f3prios festivas de cinema, cujos filmes em geral tamb\u00e9m s\u00e3o selecionados por profissionais do sexo masculino. \u201cPor que ser\u00e1 que, em 89 anos de Oscar, s\u00f3 uma mulher ganhou como melhor diretora? Isso est\u00e1 estranho, n\u00e3o?\u201d<\/p>\n
Segundo Marina, quando analisamos os n\u00fameros de profissionais do sexo feminino no cinema, eles falam tudo. E as coisas n\u00e3o precisam ser assim. Filmes dirigidos por mulheres exploram mais tem\u00e1ticas femininas, as personagens s\u00e3o mais interessantes, h\u00e1 mais mulheres na equipe… \u201cNo meu pr\u00f3prio filme, todas as cabe\u00e7as de equipe foram mulheres, mas n\u00e3o foi uma a\u00e7\u00e3o afirmativa, simplesmente aconteceu de forma natural. O filme n\u00e3o precisa ser de mulher ou de homem, mas esses n\u00fameros precisam mudar. Se as comiss\u00f5es dos editais de fomento n\u00e3o tiverem 50% de mulheres, a gente vai continuar perpetuando a ideia de que o cinema \u00e9 uma atividade masculina\u201d, ressalta.<\/p>\n
Outra quest\u00e3o est\u00e1 na forma\u00e7\u00e3o de opini\u00e3o. Marina observa que, nos grandes ve\u00edculos de m\u00eddia nacionais, n\u00e3o h\u00e1 muitas jornalistas mulheres com cargos fixos. H\u00e1 d\u00e9cadas as reda\u00e7\u00f5es s\u00e3o dirigidas por homens e formadas por homens. Ou seja, se n\u00e3o existe uma forma\u00e7\u00e3o de olhar pela \u00f3tica feminina, o espa\u00e7o da cr\u00edtica para filmes feitos por mulheres tamb\u00e9m vai ser pequeno. Para a cineasta, essa cadeia de produ\u00e7\u00e3o precisa ser revista de ponta a ponta. \u201cPor isso precisamos bater na tecla da igualdade: para equiparar esses n\u00fameros. N\u00e3o estamos falando de mulher s\u00f3 ver filme de mulher e homem s\u00f3 ver filme de homem. A nossa luta agora \u00e9 pela igualdade, para termos oportunidades iguais.\u201d<\/p>\n
Encruzilhada profissional<\/h5>\n Vencendo os desafios do mercado, outra pergunta de muitos estudantes de cinema diz respeito ao que fazer para descobrir que \u00e1rea seguir. Transitando por trabalhos t\u00e3o diferentes, do document\u00e1rio \u00e0 fic\u00e7\u00e3o, Marina explica que os caminhos nunca s\u00e3o muito claros. Quando se est\u00e1 come\u00e7ando, h\u00e1 in\u00fameras possibilidades. Contudo, ela tamb\u00e9m acredita na versatilidade. \u201cExiste uma tentativa de enquadrarem as pessoas em apenas uma coisa, mas \u00e0s vezes voc\u00ea \u00e9 mais do que aquilo. O que eu posso dizer \u00e9 que voc\u00ea deve perseguir o que gosta, mesmo se depois descobrir que n\u00e3o \u00e9 bem o que queria\u201d, aconselha.<\/p>\n
Marina lembra que entrou na faculdade querendo ser diretora de fotografia, mas acabou desistindo por motivos que, hoje, ela considera errados. Na \u00e9poca, para ser fot\u00f3grafo era necess\u00e1rio passar pela fun\u00e7\u00e3o de segundo assistente de c\u00e2mera, ou seja, a pessoa que carregava as malas pesad\u00edssimas de equipamentos. Embora n\u00e3o exista nada no trabalho do diretor de fotografia que exija for\u00e7a f\u00edsica, ela n\u00e3o sabia que era poss\u00edvel questionar essa hierarquia. Com seu porte pequeno e sem muitos m\u00fasculos, Marina simplesmente n\u00e3o tinha condi\u00e7\u00e3o f\u00edsica para essa fun\u00e7\u00e3o, ent\u00e3o resolveu partir para outras \u00e1reas.<\/p>\n
Por isso, tamb\u00e9m, ela ressalta que sempre \u00e9 importante tentar. \u201cS\u00f3 d\u00e1 pra saber fazendo. Voc\u00ea vai errar, e tudo bem; vai se frustrar, e \u00e9 isso mesmo. Se decidir que quer fazer outra coisa, mude. N\u00e3o tem idade para aprender algo novo, come\u00e7ar uma nova carreira. Essa disposi\u00e7\u00e3o \u00e9 importante. N\u00e3o pode ter medo de fracassar, porque o fracasso faz parte. N\u00e3o se deixe abater, aceite aquilo como uma experi\u00eancia\u201d, enfatiza.<\/p>\n
A liberdade de errar<\/h5>\n Para a turma de futuros diretores e meros interessados, Marina Person deixa uma li\u00e7\u00e3o n\u00e3o apenas para a carreira profissional, mas para a vida: a gente erra muito mais do que acerta, mas podemos aprender e evoluir com os nossos erros. Em qualquer trabalho criativo, \u00e9 preciso n\u00e3o ter medo de errar, sen\u00e3o voc\u00ea pensa que aquilo nunca vai estar suficientemente bom para algu\u00e9m ver. Em tempos que pregam a perfei\u00e7\u00e3o, o conselho da cineasta \u00e9 deixar isso de lado e n\u00e3o sofrer tanto, nem se abater com a autocr\u00edtica.<\/p>\n
Essa \u201cdisposi\u00e7\u00e3o para o fracasso\u201d foi algo que permeou a fala da cineasta. Mesmo estando no mercado de trabalho h\u00e1 muitos anos, ela sabe o quanto isso \u00e9 muito dif\u00edcil, ressaltando inclusive que, muitas vezes, essas s\u00e3o coisas que n\u00e3o se comenta na faculdade. \u201c\u00c9 \u00f3bvio que a gente tem que trabalhar para acertar, mas ter esse compromisso de ser incr\u00edvel o tempo inteiro \u00e9 um ponto de partida perigoso\u201d, completa.<\/p>\n
J\u00e1 ao final do bate-papo, Marina explica que a situa\u00e7\u00e3o do cinema brasileiro anda um pouco incerta, j\u00e1 que ningu\u00e9m sabe muito bem o que vai acontecer. Os processos s\u00e3o lentos, os fomentos n\u00e3o est\u00e3o acontecendo, o governo promete coisas e depois n\u00e3o faz. O pior de tudo, entretanto, \u00e9 sociedade considerar a cultura sup\u00e9rflua. \u201cA gente depende muito de uma consci\u00eancia da import\u00e2ncia da cultura\u201d, refor\u00e7a. \u201cAs pessoas n\u00e3o entendem que cultura \u00e9 identidade, \u00e9 nossa hist\u00f3ria. Se n\u00e3o tivermos isso, a gente vai ser apenas pasto pra soja. M\u00e1rio de Andrade j\u00e1 dizia que a cultura \u00e9 t\u00e3o importante quanto o p\u00e3o. A gente nunca pode abrir m\u00e3o de fazer nossas pr\u00f3prias coisas.\u201d Vindas de algu\u00e9m que vem fazendo sua parte para deixar uma marca no cinema brasileiro, as palavras s\u00e3o um alerta, mas tamb\u00e9m incentivo e inspira\u00e7\u00e3o.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
*Por Katia Kreutz – Foto Yuri Pinheiro \u201cVoc\u00ea precisa estar preparado para fracassar.\u201d Essa foi uma das frases que marcaram quem esteve no primeiro dia da 12\u00aa Semana de Orienta\u00e7\u00e3o da Academia Internacional de Cinema e ouviu Marina Person contar um pouco sobre sua trajet\u00f3ria como produtora, atriz e diretora de cinema. Pequena e de<\/p>\n","protected":false},"author":23,"featured_media":15851,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"site-sidebar-layout":"default","site-content-layout":"","ast-site-content-layout":"default","site-content-style":"default","site-sidebar-style":"default","ast-global-header-display":"","ast-banner-title-visibility":"","ast-main-header-display":"","ast-hfb-above-header-display":"","ast-hfb-below-header-display":"","ast-hfb-mobile-header-display":"","site-post-title":"","ast-breadcrumbs-content":"","ast-featured-img":"","footer-sml-layout":"","theme-transparent-header-meta":"default","adv-header-id-meta":"","stick-header-meta":"","header-above-stick-meta":"","header-main-stick-meta":"","header-below-stick-meta":"","astra-migrate-meta-layouts":"set","ast-page-background-enabled":"default","ast-page-background-meta":{"desktop":{"background-color":"var(--ast-global-color-4)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"tablet":{"background-color":"","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"mobile":{"background-color":"","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""}},"ast-content-background-meta":{"desktop":{"background-color":"var(--ast-global-color-5)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"tablet":{"background-color":"var(--ast-global-color-5)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""},"mobile":{"background-color":"var(--ast-global-color-5)","background-image":"","background-repeat":"repeat","background-position":"center center","background-size":"auto","background-attachment":"scroll","background-type":"","background-media":"","overlay-type":"","overlay-color":"","overlay-opacity":"","overlay-gradient":""}},"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-14975","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-sem-categoria","areacinema-arte","areacinema-atuacao","areacinema-cinema-completo","areacinema-direcao","areacinema-documentario","areacinema-edicao","areacinema-fotografia","areacinema-producao","areacinema-roteiro","areacinema-som","areacinema-teoria"],"acf":[],"yoast_head":"\n
Marina Person fala sobre desafios da carreira no cinema - Academia Internacional de Cinema (AIC)<\/title>\n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n