Para completar esses dias de puro aprendizado, a Academia Internacional de Cinema<\/a> (AIC) recebeu dois profissionais da \u00e1rea t\u00e9cnica, s\u00e3o eles: Ariel Henrique<\/a> e Samanta do Amaral<\/a>. Os convidados apresentaram um tema bastante esquecido por todos, a p\u00f3s-produ\u00e7\u00e3o e mostraram como essa etapa do processo do filme \u00e9 t\u00e3o importante quanto o restante.<\/p>\n
Samanta comenta sobre o primeiro filme que utilizou o processo digital aqui no Brasil, \u201cCidade de Deus<\/a>\u201d, e Cesar Charlone<\/a>, o fot\u00f3grafo, oriundo da publicidade, trouxe a imagem estilizada para o cinema, \u201cvimos que foi a partir desse filme que se iniciou a explora\u00e7\u00e3o desse conceito de se estilizar a imagem no cinema<\/i>\u201d conta ela.\u00a0 De qualquer forma, a profissional chama a aten\u00e7\u00e3o para o fato de que, o fot\u00f3grafo precisa ter bem definido o que quer para o filme, pois o processo de tratamento de cor estilizado ou n\u00e3o, agrega muito valor ao produto. Na sequ\u00eancia, ela passa alguns filmes mostrando a diferen\u00e7a entre o antes e depois. E Ariel tamb\u00e9m mostra o que os efeitos sonoros podem acrescentar ao filme. Usou o longa de terror, o \u201cIsolados<\/a>\u201d, de Tom\u00e1s Portella<\/a> como exemplo, e exibiu uma cena tr\u00eas vezes. A primeira, somente com o di\u00e1logo, a segunda j\u00e1 conta com os sons dieg\u00e9ticos, ou seja, todo o universo sonoro que \u00e9 percept\u00edvel pelos personagens em cena, tais como a paisagem sonora (o som dos carros numa cidade, o ru\u00eddo de uma multid\u00e3o, os p\u00e1ssaros no campo, a m\u00fasica num bar, etc.), e a terceira vers\u00e3o, j\u00e1 trazia o elemento m\u00fasica. Foi bastante percept\u00edvel aos presentes a diferen\u00e7a e como o \u00e1udio valoriza a mensagem que o filme quer transmitir.<\/p>\n
Foi perguntado aos convidados se eles achavam que os profissionais chegam ao mercado despreparados, e Samanta lembrou o caminho que percorreu, s\u00e3o dez anos de estrada, que come\u00e7aram como assistente, exig\u00eancia essa que servia para se dar um tempo de aprender tudo, \u201co que n\u00e3o elimina o fato de ter que continuar estudando, pois hoje a tecnologia muda muito rapidamente e exige prepara\u00e7\u00e3o constante, por outro lado, devido \u00e0 democratiza\u00e7\u00e3o dos meios, ficou mais f\u00e1cil se tornar diretor de fotografia, diretor, etc., e talvez essa rapidez com que se chega ao set n\u00e3o tem ajudado os profissionais a se preparar melhor<\/i>\u201d, ela frisa a import\u00e2ncia da constante busca pelo conhecimento seja por meio do estudo, seja na pr\u00e1tica, \u00e9 a jun\u00e7\u00e3o dos dois fatores que ir\u00e1 produzir profissionais capacitados. E Ariel tamb\u00e9m engrossa o coro quando responde \u00e0 quest\u00e3o: \u201ctem o pessoal que quer trabalhar \u00e1udio, mas n\u00e3o tem conhecimento t\u00e9cnico e tem aqueles que possuem conhecimento t\u00e9cnico, mas lhes falta entender a linguagem. Por isso juntar pr\u00e1tica \u00e0 teoria<\/i>\u201d.<\/p>\n
Tanto Ariel quanto Samanta trabalham com briefing, por\u00e9m nada os impede de sugerir mudan\u00e7as e inserir sons que se percebem bastante caracter\u00edsticos. No caso da cor, Samanta conta que no filme \u201cIsolados\u201d fez uma mudan\u00e7a de dia para noite em uma cena, onde o personagem leva uma porrada e cai desacordado, para ela, como j\u00e1 era final do dia, e n\u00e3o se sabia quanto tempo ele permaneceu assim, a profissional sugeriu a mudan\u00e7a, o que foi acatada com entusiasmo, mas n\u00e3o sem surpresa pelo diretor e fot\u00f3grafo que n\u00e3o tinham percebido essa elipse de tempo. J\u00e1 para Ariel e seu \u00e1udio, todos os trabalhos tamb\u00e9m s\u00e3o feitos com briefing antes para orientar o t\u00e9cnico, mas independente disso, \u201ctem o b\u00e1sico que o editor faz, como a utiliza\u00e7\u00e3o dos sons clich\u00eas; aqueles que quando utilizados, o espectador j\u00e1 consegue entender o recado,\u00a0 como por exemplo: se for utilizado grilo dar\u00e1 leitura de noite, se for colocada cigarra, dar\u00e1 leitura de dia, e se for utilizado passarinho, \u00e9 come\u00e7o da manh\u00e3 ou final de tarde<\/i>\u201d.<\/p>\n
Para a corre\u00e7\u00e3o da cor, a profissional diz utilizar dez dias para realizar um bom trabalho, diz ela: \u201cum longa \u00e9 dividido em cinco rolos de 20 minutos, nesses dez dias s\u00e3o 02 dias dedicados para 20 minutos de mat\u00e9ria, duas di\u00e1rias de 06 a 08 horas. No primeiro dia, inicio o equil\u00edbrio de c\u00e2mera e j\u00e1 come\u00e7o a dar uma inten\u00e7\u00e3o do que vai ser o tratamento da imagem do material e o segundo dia de cada rolo, \u00e9 para fazer a parte mais poderosa do tratamento de cor e de aprovar o material<\/i>\u201d.<\/p>\n
Como Ariel diz, num mundo ideal, seriam dois meses para a edi\u00e7\u00e3o do som e mais quatro semanas para a mixagem. \u201cTem um editor de di\u00e1logo editando som direto, o pessoal do foley gravando e editando foley, um editor recriando ambi\u00eancias. E em paralelo, a gente fazendo listas do que no som direto n\u00e3o ficou legal e ter\u00edamos que regravar. Mas tem sido muito frequente diminuir o tempo devido aos or\u00e7amentos apertados<\/i>.\u201d<\/p>\n
Durante toda a conversa, os dois chamaram bastante aten\u00e7\u00e3o para essa situa\u00e7\u00e3o, \u201ca p\u00f3s n\u00e3o salva, ou pelo menos n\u00e3o deveria, mas agrega e valoriza o produto final<\/i>.\u201d Para Samanta, o tempo tamb\u00e9m \u00e9 importante para se realizar um bom trabalho, \u201cmuitas vezes o material chega para n\u00f3s porque entrou num festival, ou vai ter uma exibi\u00e7\u00e3o, e n\u00e3o se tem o tempo necess\u00e1rio para trabalhar. A quest\u00e3o do or\u00e7amento \u00e9 sempre negoci\u00e1vel, mas o tempo n\u00e3o \u00e9 negoci\u00e1vel, eu pe\u00e7o dez dias para fazer um longa. Por isso eu quero dar um conselho a todos voc\u00eas que est\u00e3o come\u00e7ando na profiss\u00e3o, pensem na p\u00f3s, j\u00e1 na fase de pr\u00e9-produ\u00e7\u00e3o, para que tudo seja bem feito.<\/i>\u201d<\/p>\n
Ariel d\u00e1 conselho para quem est\u00e1 come\u00e7ando agora: \u201cE se fosse para dar uma dica para quem est\u00e1 tentando trabalhar com \u00e1udio, \u00e9 importante ir \u00e0s finalizadoras ou procurar est\u00fadios e tentar est\u00e1gios, por exemplo. Outra coisa tamb\u00e9m, \u00e9 ir ao cinema; a gente se acomoda um pouco, pois \u00e9 muito mais barato ficar em casa e assistir ao NETFLIX, do que pagar 30 reais para ir ao cinema e ver um filme, e faz toda a diferen\u00e7a ir at\u00e9 l\u00e1 e descobrir como o som est\u00e1 sendo feito<\/i>.\u201d Al\u00e9m disso, para Samanta \u00e9 importante construir repert\u00f3rio, \u201cvejam de tudo, pois a gente pode tirar coisas boas de produtos ruins, e aprender como n\u00e3o deve ser feito<\/i>\u201d.<\/p>\n
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