A SPcine<\/a> – empresa de cinema e audiovisual da prefeitura de S\u00e3o Paulo, que tem o objetivo de fomentar o cinema paulista, acaba de escolher o filme \u201cHamlet\u201d, do professor da Academia Internacional de Cinema Cristiano Burlan<\/a>, para ser lan\u00e7ado nos cinemas. O filme estreia no pr\u00f3ximo dia 11 de junho e tem exibi\u00e7\u00e3o programada nas salas do Centro Cultural S\u00e3o Paulo, Cine Olido e Centro de Forma\u00e7\u00e3o Cultural Cidade Tiradentes.<\/p>\n
No mesmo dia (11\/6) da estreia de \u201cHamlet\u201d nos cinemas, a atriz Ana Carolina Marinho, que interpreta a Of\u00e9lia no filme, estar\u00e1 na AIC para um encontro e bate-papo especial com a turma do curso de Interpreta\u00e7\u00e3o para Cinema.<\/p>\n
A atriz potiguar, que teve sua estreia no cinema com o filme, migrou para S\u00e3o Paulo e formou-se em Atua\u00e7\u00e3o pela SP Escola de Teatro. Integra o Coletivo Estop\u00f4 Balaio desde sua funda\u00e7\u00e3o e com ele desenvolveu os espet\u00e1culos \u201cO que Sobrou do Rio\u201d (2013) e \u201cA Cidade dos Rios Invis\u00edveis\u201d (2014). Paralelamente, escreve na Revista Antro Positivo, uma revista sobre teatro e pol\u00edtica cultural.<\/p>\n
Em conversa com a comunica\u00e7\u00e3o da AIC, Ana Carolina falou sobre atua\u00e7\u00e3o para cinema e teatro, sobre o processo de cria\u00e7\u00e3o e de trabalho ao lado do diretor Cristiano Burlan e sobre o novo filme que est\u00e1 fazendo com o diretor. Confira a entrevista!<\/p>\n
AIC – A atua\u00e7\u00e3o em Hamlet foi a primeira para o cinema? Conte um pouco sobre como foi esse trabalho e fale sobre as diferen\u00e7as de atuar em teatro e cinema.<\/i><\/b><\/p>\n
Ana Carolina Marinho:<\/b> Hamlet foi o meu primeiro contato com cinema. At\u00e9 ent\u00e3o, todas as minhas experi\u00eancias tinham sido no teatro. O primeiro plano que gravei era um plano sequ\u00eancia em que a c\u00e2mera me filmava de costas enquanto eu atravessava o t\u00fanel da Av. Nove de Julho. Era noite, eu estava insegura, a travessia do t\u00fanel durava uns 15 min, em determinado momento eu cheguei a achar que j\u00e1 n\u00e3o tinha mais ningu\u00e9m atr\u00e1s de mim, que eu estava andando sozinha. O t\u00fanel era extremamente barulhento, n\u00e3o conseguia ouvir os passos deles atr\u00e1s de mim. Falo ao Cristiano que esse plano assentou toda a vaidade e euforia que o cinema me gerava. O plano era duro, seco, cheio de fuligem. Passar 15 minutos em sil\u00eancio nessa travessia foi a melhor forma de come\u00e7ar.<\/p>\n
No teatro, todas as minhas experi\u00eancias foram constru\u00eddas a partir de muito ensaio, repeti\u00e7\u00e3o ou ao menos de um plano de a\u00e7\u00f5es bem definido. Quando o p\u00fablico chegava eu j\u00e1 tinha experimentado aquela cena algumas vezes. O improviso acontece sempre, claro, mas dentro de um roteiro.<\/p>\n
Com o Hamlet tive a sensa\u00e7\u00e3o de que as cenas tinham um teor a mais de performatividade, n\u00e3o houveram ensaios, n\u00e3o houve um plano de a\u00e7\u00f5es definido, as cenas aconteciam na frente da c\u00e2mera com alguns apontamentos do diretor.<\/p>\n
AIC \u2013 Conte sobre \u201cHamlet\u201d, o filme, com as suas palavras.<\/i><\/b><\/i><\/b><\/p>\n
A.C.:<\/b> Hamlet \u00e9 uma respira\u00e7\u00e3o descompassada. Nesse desiquil\u00edbrio, os atores v\u00e3o construindo os personagens. Cada um escreve com a cor e a densidade que imagina e deseja para cada um. O percurso \u00e9 destrutivo, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel sair ileso depois de tantas mortes.<\/p>\n
AIC – Como foi trabalhar com Cristiano Burlan? Conte um pouco sobre a rela\u00e7\u00e3o atriz x diretor.<\/i><\/b><\/p>\n
A.C.:<\/b> Cristiano \u00e9 um diretor muito exigente. Ele d\u00e1 espa\u00e7o para que o ator construa e mostre a percep\u00e7\u00e3o que tem da cena, s\u00f3 depois ele interfere. Se o ator n\u00e3o propor, ele direciona de cara. O espa\u00e7o de cria\u00e7\u00e3o \u00e9 bem aberto, mas o cinema \u00e9 muito rigoroso. N\u00e3o h\u00e1 muito tempo para as tentativas. Muitos dos planos do filme foram gravados em \u00fanica tomada. O risco \u00e9 iminente, pois. Isso \u00e9 extremamente interessante e angustiante para o ator. Venho do teatro, dos ensaios numerosamente repetidos. Fazer o Hamlet foi trabalhar o improviso, a exatid\u00e3o, o rigor em uma \u00fanica vez, sem possibilidade de refa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
AIC – Como conseguiu o papel de Of\u00e9lia? E como \u00e9 dar vida a uma personagem cl\u00e1ssica?<\/i><\/b><\/p>\n
A.C.:<\/b> Ele dizia que o meu sotaque (sou nordestina) aproximava-se da imagem que ele tinha de Of\u00e9lia. Conversamos sobre a personagem. O convite se concretizou. Of\u00e9lia de Shakespeare, assim como a Nina de Tchecov sempre me instigaram profundamente a buscar uma leitura delas que fosse distante da imagem de ingenuidade, tolice, beleza e vaidade a que est\u00e3o acometidas normalmente. Sempre quis retomar o potencial pol\u00edtico delas no enredo. A Of\u00e9lia foi poupada a trag\u00e9dia inteira de existir, \u00e9 preciso admitir que ela se matou e n\u00e3o que o ganho acidentalmente quebrou, por exemplo.<\/p>\n
AIC – O que ir\u00e1 contar na aula no curso de Interpreta\u00e7\u00e3o para Cinema?<\/i><\/b><\/p>\n
A.C.: <\/b>Irei compartilhar sobre os meus processos de cria\u00e7\u00e3o dos personagens, sobre a experi\u00eancia de filmar com o Cristiano em Hamlet e falar tamb\u00e9m sobre o novo filme dele, o Fome. Al\u00e9m de abrir um di\u00e1logo sobre atua\u00e7\u00e3o no cinema e no teatro e mostrar parte do making of das cenas de Of\u00e9lia.<\/p>\n
AIC –\u00a0 J\u00e1 que falou do \u201cFome\u201d, o novo filme do Burlan, conte um pouco sobre esse novo projeto. <\/i><\/b><\/p>\n
A.C.: <\/b>Fome \u00e9 um filme sobre a deambula\u00e7\u00e3o de um homem (Jean-Claude Bernardet) que desistiu de tudo, s\u00f3 n\u00e3o da vida. Um homem que tem fome do submundo e que mergulha no descaso e na invisibilidade como escolha – ou seria por fatalidade? O filme \u00e9, para mim, uma inquieta\u00e7\u00e3o sobre o outro, sobre o desejo em expor o outro. No Fome n\u00e3o houve um roteiro pr\u00e9vio, o filme foi todo gravado a partir das sensa\u00e7\u00f5es do Cristiano. Fa\u00e7o uma estudante de jornalismo que encontra o Jean-Claude na rua e v\u00ea nele a possibilidade de escrever uma narrativa forte e \u00e9 exatamente essa a inquieta\u00e7\u00e3o da personagem, escrever sobre as pessoas sem que elas tenham a dimens\u00e3o do que est\u00e1 sendo escrito.<\/p>\n