Vencedores do Filmworks Film Festival 2017 – edição São Paulo
Pode parecer clichê cinematográfico, mas, a sensação que costurou toda a premiação da 8ª edição do FILMWORKS FILM FESTIVAL foi a comoção. Agitação de sentimentos tanto dos premiados como da plateia. Emoção em sua forma mais pura. Seja pela temática dos filmes, pelo discurso emocionado dos ganhadores ou por fatores mais simples, como o auditório lotado e caloroso, as palmas estridentes a cada troféu entregue ou pela apresentação emocionada da coordenadora Juliana Salazar. Além disso, para deixar tudo ainda melhor, o Festival Exclusivo da Academia Internacional de Cinema (AIC) contou com duas novas sessões, uma mostra de documentário e uma de filmes LGBTs. Pela primeira vez também, o festival recebeu a inscrição de filmes de alunos dos cursos de cinema e documentário, além dos já tradicionais filmes dos alunos do FILMWORKS – o curso técnico em direção cinematográfica da escola.
Ao todo foram 27 filmes exibidos no CineSesc, entre os dias 2 e 3 de junho, concorrendo a 12 categorias: Direção, Roteiro, Fotografia, Edição, Direção de arte, Som, Atuação, Melhor Filme, New Vision, Júri Popular, Curta Livre e Melhor Documentário. Segundo os jurados, essa foi de longe a edição mais acirrada e a votação foi apertada, muitos filmes não receberam prêmios por muito pouco e todos foram unanimes ao dizer que os filmes eram muito bons e tiveram dificuldades na escolha.
O Melhor Filme
O prêmio de melhor filme foi para “Tempos de Cão”, de Ronaldo Dimer e Victor Amaro. O curta traz à tona questões da crise hídrica paulista e não-atores que vagam por uma São Paulo inabitada (um cenário “futurista-mad-max”) e tentam resistir a extinção eminente e a falta de água. A dupla de diretores já trabalhou junto em “Armat Jakawinaka – Vidas Ausentes”, filme vencedor dos prêmios de Melhor Filme, Roteiro e Direção no Filmworks Film Festival de 2015 e que também foi exibido na Mostra Foco, na 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O filme também recebeu o prêmio de Melhor Arte. Quem assina a direção de arte do curta são os alunos Cris Cortilio e Victor Amaro.
Mulheres negras e Empoderamento Feminino
Dois curtas-documentários que retratam o universo da mulher negra e seu percurso de empoderamento, tema atual e necessário, que trouxeram ainda mais emoção para o evento, também saíram vencedores do festival. “Carolina”, curta-documentário de Camilla Lima, Fernanda Pithan, Jéssica Cruz, Natália Francis e Felipe Nunes revela a história da migrante, negra, favelada e mãe solteira, Carolina Maria de Jesus que escreveu o livro “Quarto de Despejo”, publicado nos anos 60. O filme recebeu os prêmios de Curta Livre e Júri Popular. “A Carolina caiu nas nossas mãos por um acaso do destino! Fazer esse filme foi muito importante para nós e acredito que ele seja de extrema relevância para o debate do empoderamento feminino”, conta Fernanda Pithan, uma das diretoras do filme. “Esse Bumbo é Meu” recebeu o prêmio de Melhor Documentário. Dirigido por Paula Simões, Ruy Reis, Dagmar Serpa, Daniel Mirolli e Marina Chekmysheva, apresenta a luta, preconceitos e conflitos vividos pelas mulheres do samba que tentam manter viva a cultura de seus ancestrais, o samba de bumbo, expressão musical tradicional do interior paulista, herança do tempo da escravidão.
“Dos seis documentários que estavam na mostra, três tratavam do protagonismo feminino, em especial da mulher negra, e um filme do protagonismo de um personagem negro, num bairro afro-italiano, que é o Bexiga em são Paulo. Os filmes são dos alunos, claro, mas de alguma forma, a AIC dá a oportunidade para que esses filmes sejam produzidos. Então, a gente fica muito feliz, como escola de cinema, em dar espaço para que apareçam na esfera pública trabalhos com essa densidade social. A questão da mulher, a questão da mulher negra, a questão da cultura popular… Talvez, se não fossem oportunidades como essa, esses projetos não viessem à tona com a urgência que eles precisam ter”, diz Júlio Wainer, documentarista e sócio mantenedor da AIC.
Melhor Atuação e New Vision
Danna Lisboa, transexual e não-atriz que estrela o filme “Cidade Neon” também trouxe questões importantes em seu discurso. Emocionada, após receber o prêmio por sua atuação, falou da necessidade da sociedade conhecer outros corpos, diferente daqueles que são ‘catalogados’ e conhecidos. “Outros corpos existem e precisam ser conhecidos e aceitos”, falou, arrancando gritos e aplausos da plateia. O crítico de cinema Rubens Ewald Filho, além de jurado, apresentou o prêmio New Vision. Em seu discurso, contou que acompanha a trajetória da escola e dos filmes produzidos pelos alunos e ficou muito feliz em ver a evolução dos filmes e todo o potencial da escola e dos alunos. Entregou o prêmio para Akira Kamiki, que dirigiu o filme “Poente”.
Confira todos os vencedores:
- Roteiro | Meire Teve Um Sonho Estranho | Matheus Candido
- Direção | Onde o céu acerta seus ponteiros | Marco Aurélio Paiva
- Fotografia | ORODETOLO | Bruno Trentin
- Arte | Tempos de Cão | Cris Cortilio e Victor Amaro
- Edição | Fragmentos de uma Metrópole | Raphael Cubakowic
- Som | ORODETOLO | Bruno Cabral
- Atuação | Cidade Neon |Danna Lisboa
- New Vision | Poente
- Curta Livre | Carolina
- Melhor Documentário | Esse Bumbo é Meu
- Melhor Filme | Tempos de Cão
- Júri Popular | Carolina
Prêmios
Além do troféu os alunos receberam prêmios dos parceiros. Mistika – uma cópia em DCP; Locall – crédito de R$ 4.000 em diária / locação de equipamento de iluminação; Iguale – serviço de acessibilidade; Elitecan – 3 diárias de kit de filmagem; Imovision – kit de dvd’s; Gullane – estágio remunerado; CineSesc – sala de cinema; CTAV – 20h de mixagem ou empréstimo de equipamentos (SI-2K e acessórios) por duas semanas; Livraria da Vila – kit de DVDs.
Parceiros
*Fotos: Alexandre Borges