Escrito por Lula Mattos – aluna do curso de História do Cinema: Hollywood Clássica e Nova Hollywood – Online
O sistema de estúdio (Studio System) que dominava Hollywood desde os anos 1930 até o final da década de 1940, sempre esteve atrelado ao fato de que a produção cinematográfica visava única e exclusivamente o lucro, a compensação financeira. Esse sistema funcionava como a indústria de produção automobilística: produção, direção, roteiro, distribuição e comercialização eram peças independentes que se juntavam para entregar o produto final, como numa linha de montagem dos automóveis. Toda essa engrenagem era operada sob as ordens e a supervisão dos executivos dos grandes estúdios.
O sistema de estúdio se estabeleceu como uma força propulsora de lucro, começou a sofrer o primeiro revés com o advento da televisão, na década de 1950, que mantinha grande parte dos espectadores em casa, longe dos cinemas, portanto sem pagarem ingresso.
Após a derrubada da lei que garantia esse sistema, Hollywood teve de se reinventar, produzindo filmes de grande orçamento, épicos e espetaculares, com inovações como a “widescreean”, exatamente para fazer frente à “telinha” dos aparelhos de televisão.
A seguir, na década de 1960, marcada pelos movimentos pelos direitos civis dos afroamericanos e protestos contra a guerra do Vietnã, Hollywood é vista como algo que vai na contramão da “contracultura”, que propagava a liberdade em todas as esferas da população civil.
Aliado a todos esses movimentos, chegava aos Estados Unidos os ecos da “Nouvelle Vague” (movimento do cinema francês que pregava o cinema “autoral”, onde o diretor deveria ter toda a liberdade para fazer o seu filme), que inspiraram diretores e produtores independentes.
Apesar de perderem o completo domínio sobre seus filmes, os executivos dos grandes estúdios ainda exerciam o poder de interferir nas decisões dos profissionais contratados para cada filme (não eram mais funcionários dos estúdios), sobretudo sobre a escalação de elenco e direção.
Nesse contexto aparece o diretor Francis Ford Coppola, que de posse de um Oscar pelo roteiro de “Patton“, filme de grande sucesso de público, foi convidado pela Paramount Pictures para dirigir a adaptação do livro “The Godfather” de Mario Puzo, que aliás já tinha feito a versão para o cinema.
Vale ressaltar que Coppola não foi o primeiro nome cogitado pela Paramount, mas surgiu depois da recusa dos diretores Sergio Leone e Peter Bogdanovich (ambos já consagrados no circuito independente, à margem de Hollywood). Ele não havia ainda obtido sucesso e se encontrava endividado na ocasião, daí aceitou a missão com reservas, pois sabia o que iria enfrentar: a interferência do estúdio nas suas decisões. Só que isso não o impediu de bater de frente com o produtor sobre a contratação do elenco – os nomes de Marlon Branco e Al Pacino não eram aceitos, sobre a época em que se passaria história – o estúdio queria adaptar o livro para a então década de 1970, visando uma contenção no orçamento, e novamente Coppola manteve-se irredutível em filmar como no livro original (a década de 1940).
Um detalhe importante dessa nova geração de profissionais do cinema, é que eles frequentaram universidades do cinema (Coppola veio da UCLA – Faculdade de Cinema da Universidade da Califórnia) chegando na “Nova Hollywood” com ideias e posturas revolucionárias que não cabiam mais naquele controle que Hollywood exercia até então, anteriormente pelo “Studio System”, e depois pela pressão dos produtores a mando dos executivos dos grandes estúdios.
Assim, Francis Ford Coppola com sua postura irredutível em dirigir “O Poderoso Chefão” fielmente de acordo com as suas ideias, abriu caminho para que a indústria Hollywoodiana entendesse que os filmes, apesar de “independentes”, poderiam gerar muito lucro (“O Poderoso Chefão” teve um orçamento de U$8 milhões, e arrecadou U$300 milhões).
Coppola também carimbou definitivamente a expressão “Cinema de Autor”, quando o diretor tem absoluta liberdade para filmar de acordo com as suas ideias e conceitos, sem a interferência de produtores e executivos da indústria cinematográfica.
Após dois anos da estreia, Coppola filmou a continuação do “O Poderoso Chefão” com toda a tranquilidade e liberdade dadas pela mesma Paramount Pictures.