Mulheres de diferentes áreas que de uma forma ou de outra encontram pontos em comum em histórias envolvendo sexismo e assédio em seus ambientes de trabalho. O lado bom de tudo isso são os coletivos que surgem com a intenção de aglutinar e organizar profissionais mulheres e transgêneros como o Coletivo das Diretoras de Fotografia do Brasil (DAFB), do qual Andrea Capella faz parte, com a intenção de fortalecer, estimular e ocupar a participação das mulheres em espaços que naturalmente não são habitados por elas.
Presença Feminina no Cinema Brasileiro
Paula Alves, doutoranda na questão da presença feminina no cinema, fez uma média de dados encontrados no site Filme B e em relatórios do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA – Ancine) e trouxe os números: dos longas-metragens produzidos entre 2001 e 2010 3% foram fotografados por mulheres, 15% dirigidos, 14% roteirizados, 24% produzidos e 18% protagonizados. Já entre 2012 e 2014, apenas 6% dos filmes tiveram a direção de fotografia feita por mulheres, 23% trabalharam em cargos de produção, 17% com montagem, 13,5% no roteiro, 15% na direção e 16% protagonizado filmes.
Jéssica Queiroz lembra que os números são quase inexistentes quando falamos de mulheres negras no cinema. “Além da barreira de ser mulher, sou negra e periférica. Comecei a trabalhar em agencia de publicidade e até hoje preciso dividir o meu tempo entre os meus filmes, meus projetos e bater cartão de segunda a sexta em agencia de publicidade. É importante comentar que dos últimos 200 filmes lançados no Brasil, segundo números de 2015 da Ancine, 84% deles foram feitos por homens brancos, 16% por mulheres brancas e nenhum por mulheres negras. E o pior é que isso não é nem questionado nas escolas e em nenhum outro lugar. Sem contar na forma como somos retratados, só aparecemos no Favela Movie como pobres ou bandidos. Nunca somos protagonistas da nossa história. É preciso repensar nesse modelo e principalmente agir e contratar mulheres, negras e periféricos”.
A representação da Mulher no Cinema
Outro assunto debatido foi a forma como a mulher é representada na telona, geralmente repleta de estereótipos de gênero, objetificando o corpo de forma sexualizada. As palestrantes lembraram da pesquisa Investigação sobre o Impacto da representação de gênero no cinema e na televisão brasileira, divulgado em 2016 pelo Instituto Geena Davis, que tem como objetivo ampliar a participação da mulher no audiovisual.
A atriz Britt Harris falou que ainda é mais fácil conseguir se posicionar no mercado como atriz do que trabalhar atrás das câmeras, e conseguir reconhecimento. Ainda assim, há as dificuldades de se sobreviver como atriz nesse universo. Britt também ressaltou de que é preciso pensar em como quebrar os estereótipos: “É preciso parar de chamar o negro para fazer o papel do negro. É preciso parar de chamar mulheres apenas para fazer o papel já conhecido de mulheres”.
Andrea Capella contou que tenta fugir dos estereótipos ao retratar o corpo feminino. “Sempre tento fazer uma luz que expresse relação não objetificação, nada de câmera lenta subindo do pé. É preciso ficar muito atento em como fotografamos esses corpos para não maximizar as questões de gênero”.
Ainda foram ressaltadas questões de formação de público, da necessidade de projetos ainda nas escolas, da democratização das mídias e principalmente a importância de ceder espaço e oportunidade para que as mulheres ocupem seus espaços.
*Fotos Alê Borges e Ivanildo Carmo