A atriz, diretora, pesquisadora e professora da Academia Internacional de Cinema (AIC) nos cursos Filmworks e Técnico em Atuação para Cinema e TV – Sabrina Greve concedeu uma entrevista para o nosso site, onde falou sobre sua carreira e projetos atuais.
Formada em cinema pela FAAP e mestranda em Processos e Meios Audiovisuais na USP, Sabrina trabalhou durante sete anos no Centro de Pesquisa Teatral, sob direção de Antunes Filho. Estreou no cinema no longa-metragem Uma vida em Segredo, de Suzana Amaral (2000), pelo qual recebeu os prêmios de melhor atriz no Festival de Brasília, Festival de Huelva (Espanha), festival Iberoamericano (Bolívia), entre outros. Atuou nos filmes Carandiru, de Hector Babenco, Nina, de Heitor Dhália, Olga, de Jayme Monjardim, Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, de Petrus Cariry, e Todas as Cores da Noite, de Pedro Severien.
Atuou também em vários curtas consagrados em festivais, como “O Duplo”, de Juliana Rojas, menção honrosa na Semana da Crítica do Festival de Cannes e Kikito de melhor atriz no Festival de Gramado.
Na televisão, atuou nas minisséries Assédio, de Maria Camargo, A Casa das Sete Mulheres, de Maria Adelaide Amaral, Carandiru e Outras Histórias, de Hector Babenco, A Garota da Moto, de David França Mendes, nas novelas Além do Horizonte, de Marcos Bernstein e Carlos Gregório, Cristal, de Herval Rossano, entre outras.
Como cineasta, dirigiu o telefilme IRINA, escreveu e dirigiu os curtas-metragens 3.33, No Noel e Um Zé, exibidos em vários festivais. Codirigiu também o curta-metragem Under the Skin, selecionado para a Mostra Panorama da 60th Berlinale Film Festival.
Este ano gravou uma participação na quarta temporada da série PSI, que será exibida ano que vem na HBO, e está envolvida com a produção de um longa que irá dirigir em 2019.
ENTREVISTA
AIC – Você é professora de direção de atores na AIC, como essa atividade contribuiu para sua carreira?
Sabrina Greve: Comecei a lecionar na escola este ano, a convite da Vanessa Prieto. Trabalhamos juntas anos atrás e ela se interessou pela minha pesquisa. Minha dissertação de mestrado aborda o processo de criação entre atores e diretores no cinema, em um percurso que investiga o caminho de apropriações das técnicas teatrais, como o Sistema de Stanislavski, por exemplo, desde o início do século XX, contemplando a formação do Actors Studio e outros desdobramentos. Essa pesquisa surgiu como consequência de inquietações como atriz e diretora, a partir da minha experiência profissional no cinema. A meu ver, no Brasil, ainda é preciso explorar melhor como se dá a relação entre atores e diretores, como cada um pode contribuir para enriquecer o processo criativo na feitura de uma obra. Para tal, é preciso repertório, conhecimento aprofundado de ambas as funções, e a base disso se dá no processo de formação desses futuros atores e diretores cinematográficos. Em sala de aula, não me coloco apenas como professora, mas como uma pesquisadora que está juntamente com os alunos investigando e contribuindo para a construção de um novo processo criativo. Nesse sentido, lecionar para mim é continuar pesquisando, e tem sido extremamente enriquecedor também no papel de atriz e diretora.
AIC – Como são as aulas no curso Técnico de Atuação?
S.G.: Eu acho muito importante os atores conhecerem as mais diversas abordagens sobre a atuação cinematográfica, até para escolherem quais eles mais se identificam.
No âmbito teórico, apresento algumas técnicas desenvolvidas a partir do sistema stanislavskiano, as apropriações realizadas pelo lendário Actors Studio, e também abordagens mais recentes desenvolvidas por outros pesquisadores americanos. Toda essa teoria é aplicada diretamente nos exercícios que eles desenvolvem ao longo do curso, onde eles podem experimentar e descobrir diversos caminhos para a criação de seus personagens. Acredito que o conhecimento de diversas técnicas são um meio para o ator desenvolver seu próprio repertório, e assim ser livre no seu processo criativo.
A proposta do curso técnico de atuação da AIC contempla também o conhecimento das diversas etapas da produção cinematográfica, desde a construção do roteiro até a montagem do filme. A abordagem do curso é extremamente enriquecedora, contribuindo muito para o domínio do ator sobre sua interpretação no cinema.
AIC – Conte um pouco também sobre seus trabalhos como atriz.
S.G.: Profissionalmente, atuo há 22 anos, mas comecei a estudar teatro aos 12 anos de idade. Passei por diversas escolas até integrar o núcleo do CPT (Centro de Pesquisa Teatral), onde trabalhei durante 7 anos com o Antunes Filho. O CPT foi meu primeiro lugar de formação, a base de todo meu trabalho de atriz, não só no teatro como no cinema também. Principalmente por causa do projeto Prêt-à-Porter, onde os atores eram responsáveis não só pela atuação, como também pela direção e dramaturgia. Durante uma das apresentações do projeto, recebi o convite para protagonizar o longa-metragem Uma vida em segredo (2002) de Suzana Amaral, e o cinema entrou de vez na minha vida. Entre longas e curtas, algumas novelas e séries, passei a desejar também estar do outro lado da câmera. Graduada em cinema, passei a dirigir também. Sinto que ambas as funções se retroalimentam, e a experiência como diretora me ajudou muito também como atriz, e vice-versa.
AIC – Em sua carreira, como atriz e diretora de atores, quais foram os maiores desafios que você já enfrentou?
S.G.: Eu parto do princípio que todo trabalho é um desafio, gosto de me entregar para tudo o que faço sem distinção de valores, personagens principais ou coadjuvantes e etc. Posto isso, tem o aspecto divertido da profissão que é se colocar em situações que você não vive cotidianamente. Por exemplo, como atriz, já morri enforcada, envenenada, e tuberculosa umas duas ou três vezes. Para cada morte, uma pesquisa diferente e desafios de expressão. Também já estive em lugares/locações únicas, que muito provavelmente não conheceria se não fosse o trabalho. E também já atuei doente, com febre, ou machucada. Uma vez caí no palco no meio da apresentação e trinquei o cotovelo. Não parei a peça, fui até o fim, quando os aplausos acabaram corri para a coxia e fui levada de figurino para o hospital. Como diretora, cito o desafio comum para todos os diretores: correr contra o tempo e manter a equipe alinhada em torno da mesma visão da obra.
AIC – Quais foram as suas maiores conquistas?
S.G.: Acho que a maior conquista é se manter na profissão, seja como atriz, diretora, professora ou pesquisadora, eu posso dizer que vivo do meu ofício e da minha paixão. É uma carreira cheia de altos e baixos, uma “montanha russa”, digamos assim. É preciso ter muita persistência e suporte emocional.
Outro aspecto, é a constante sensação de recomeço. Cada personagem é um salto no abismo, um enigma a se desvendar, não existe uma fórmula mágica no processo criativo. Ainda bem.
Entrevista: Katia Kreutz e Daniele Castro