Roteirista Raul Perez dá início à Semana de Orientação 2024
O roteirista Raul Perez abriu a Semana de Orientação 2024 compartilhando dicas e ensinamentos sobre o universo do roteiro. Ele apresentou o que considera ser o “kit sobrevivência” para aspirantes na área e compartilhou sobre a sua própria jornada no mercado audiovisual.
Raul contou um pouco sobre sua história e revelou que seu interesse pelo audiovisual começou aos 8 anos, ao descobrir o canal MTV e considerar os videoclipes como “a melhor coisa que a humanidade já inventou”. Sua trajetória inclui contribuições no início da SPCine, atuando na comunicação e nas políticas institucionais. Atualmente, integra a equipe de roteiristas da série Sintonia, da Netflix, e Anderson “Spider” Silva, da Paramount+.
Ao compartilhar dicas para se tornar um bom roteirista, Raul enfatizou a importância de ler roteiros, analisar os pontos de viradas das narrativas e escrever suas próprias histórias sem receio de errar.
Como entrar no mercado de trabalho?
Raul destacou os editais e laboratórios como uma das melhores portas de entrada para o mercado. Ele encorajou a construção de uma rede de contatos, enfatizando que todos dentro da escola são uma potencial rede profissional. Também sugeriu a presença em festivais e eventos cinematográficos para conhecer e se apresentar aos profissionais do mercado.
“É importante saber que todos vocês aqui são uma rede de contato um do outro. Se conectem pelas redes sociais. Vocês estão aqui trocando cartões e se conhecendo profissionalmente. Saber quem são as pessoas que você pode se juntar para entrarem em um edital no futuro”.
Onde um roteirista pode trabalhar?
Raul falou um pouco sobre todas as áreas que um profissional pode atuar, destacando as seguintes:
- Cinema Independente: Trabalhando em cinema independente, onde pode produzir suas próprias histórias, exercendo um papel mais autoral.
- Salas de Roteiro: Participando de salas de roteiro, que envolvem projetos produzidos por mais de um roteirista. Essas equipes colaboram para desenvolver histórias mais complexas.
- Longa-Metragem: Roteirizando longa-metragens, geralmente como um profissional único responsável pela criação do roteiro de um filme mais extenso.
- Instituições e Empresas: Trabalhando em roteiros para instituições e empresas que têm o desejo de contar uma história específica, mas necessitam da expertise de um roteirista para dar vida a essa narrativa.
Como começar um roteiro?
O roteirista compartilhou que a ideia para um projeto pode vir de qualquer lugar, das redes sociais a apresentações ou uma história que ouviu. “Eu escrevo uma história que eu ouvi em um bloco de nota e depois tudo o que eu vejo sobre aquele tema vou adicionando ali. Se eu fosse contar a minha vida como suspense ela teria alguns pontos de virada que se fossem comedia seriam outros. Então é bom olhar sua história em diferentes tons para entender onde ela combina mais”.
Para ele, é considerado um projeto a partir do momento que se tem um protagonista, o universo, o ponto de vista, gênero e o tom.
Como funciona uma sala de roteiro?
Raul contou sobre seu processo como roteirista das salas de roteiro das séries que trabalhou. “O passo a passo é você escrever o episódio designado a você, depois envia ao chefe da sala de roteiro, ele faz as alterações e manda para o player. Só depois desse momento, fazemos as alterações que consideramos um novo tratamento.”
Questionado sobre propor novos acontecimentos à história ele enfatiza que é importante propor com consciência sobre o andamento da narrativa, o orçamento e se faz sentido com o contexto da produção.
Narrativas Pretas dentro de salas de Roteiro
Jhonnã Bao, aluna do Filmworks, perguntou como ocorre a negociação de determinadas pautas nas salas de roteiro. “Às vezes, esperamos que a mudança aconteça de uma vez, de maneira linear, mas ela é não linear. Na minha experiência, vivi todo tipo de situação e acredito que estamos agora entrando em volume (aumento no número de profissionais negros). Às vezes, o mercado não está totalmente preparado para nos receber, e acho que uma das coisas mais importantes é que, quando chegamos, não podemos aceitar estágios não remunerados. Precisamos ter um mínimo de estrutura e parâmetros de trabalho dentro do mercado audiovisual”, respondeu Raul.
Com relação à pauta racial, ele também incentivou a classe a estar mais unida para reivindicar questões específicas, sabendo que há espaços abertos e outros não. “É importante considerar se você deseja estar em determinados locais, mas jamais ser um motivo para desistência”.
Roteirista ganha dinheiro?
Raul trouxe as tabelas sindicais como referência de salário para roteiristas e disse que sim, é possível ganhar bem como profissional da área. “Sim, tem como ganhar dinheiro como roteirista! Principalmente quando você vê a realidade salarial do trabalhador brasileiro. Você percebe que ganha o que uma parcela enorme de população não ganha. Mas, de forma globalizada e, considerando o retorno que essa produção dará para as plataformas, é um salário pequeno”.
A presença dos streamings para roteiristas
Quando há uma lacuna nos investimentos governamentais e um boom de plataformas de streaming, essas passam a ditar o cenário da produção audiovisual no Brasil, mobilizando grandes recursos financeiros e contratando muitos profissionais, incluindo roteiristas. Este é um momento crucial de união para evitar que as multinacionais determinem os rumos do trabalho no audiovisual.
Luca de Oliveira, recém-saído do ensino médio, indagou sobre a possibilidade de espaço para novos gêneros e narrativas, considerando uma saturação de gêneros no Brasil. Raul respondeu: “Sobre o que virá, não há como prever, mas posso dizer que prefiro ser otimista com os pés no chão. A indústria deseja garantias máximas de retorno, por isso investe significativamente em gêneros que já demonstraram sucesso”.
Ele finalizou a noite com uma mensagem otimista. “Eu sigo sendo roteirista porque quero escrever sobre coisas que eu não vejo, escrever sobre o que a televisão ainda não me mostrou. Eu levei 29 anos para virar roteirista porque achei que as pessoas não estavam interessadas no que eu tinha a dizer. Uma hora deixei de resistir, porque se vai dar certo ou errado, o melhor ainda é tentar.”
Clique aqui para ter acesso a apresentação do Raul, que gentilmente disponibilizou o PDF para os participantes da palestra.
O evento segue com palestras gratuitas até o dia 22. Faça sua inscrição e participe.
Semana de Orientação 2024
- Terça, 20/02 – Ana Carolina Marinho
18h exibição dos curtas “Entre”, “Adelaide, aqui não há segunda vez para o erro” e “Desacuendando o Acuenda”
19h – bate-papo com a Diretora - Quarta, 21/02 – Ricardo Calil
17h30 exibição de “Cine Marrocos”
19h bate-papo com o Roteirista e Diretor - Quinta, 22/02 – Heitor Dhalia
17h exibição de “O Cheiro do Ralo”
19h bate-papo com o Diretor
Faça a sua inscrição, é gratuita e limitada.
*Texto Caroline Cherulli e Fotos Victor Poncioni.