Quem é Eduardo Coutinho? Conheça as particularidades desse documentarista
Você sabia que um dos maiores documentaristas de todos os tempos é brasileiro? Estamos falando de Eduardo Coutinho, que tornou-se célebre graças a títulos como Cabra Marcado Para Morrer, Jogo de Cena, Edifício Master, Peões e diversos outros. Mas você sabe por que seus documentários marcaram tanto?
Nascido em São Paulo no ano de 1933, Coutinho encerrou sua vida de forma trágica: em 2014, foi assassinado pelo próprio filho. À época, o cineasta trabalhava em um documentário sobre alunos da rede pública de ensino do Rio de Janeiro — obra que acabou sendo finalizada por João Moreira Salles e lançada como Últimas Conversas.
A extensa filmografia de Eduardo Coutinho traz à tona temáticas sociais contadas por meio das histórias de pessoas invisíveis. Quer conhecer melhor suas obras e entender as características que o imortalizaram na história do cinema brasileiro e mundial? Continue a leitura!
A ética jornalística
Na década de 60, Coutinho começou a trabalhar naquele que viria a ser o maior marco de sua carreira: em uma pequena cidade da Paraíba, ele acompanhou o comício de Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas.
O projeto original envolvia um elenco formado pelos próprios camponeses paraibanos, inclusive Elizabeth Teixeira no papel dela mesma. Porém, depois de duas semanas de filmagens, o Golpe Militar de 1964 resultou na prisão de grande parte da equipe — a justificativa é de que eles seriam comunistas.
Então, Coutinho retomou a carreira de sua formação — jornalismo — e foi chamado para trabalhar no Globo Repórter. No programa, ele teve a chance de exercitar seus talentos de documentarista e, com o salário, retomou o projeto interrompido pelo Golpe Militar.
Mas Coutinho aproveitou o contexto real da obra para moldá-la: as novas filmagens do filme que viria a ser Cabra Marcado Para Morrer acompanharam justamente a volta do diretor e sua equipe à cidadezinha e a vida atual dos habitantes locais.
Esse projeto viria a ser concluído com sucesso e lançado sob o título Cabra Marcado para Morrer.
A verdade por trás do subjetivo
Coutinho tinha um jeito muito peculiar e eficaz de conduzir as entrevistas com seu elenco e de escolher o que sua câmera mostraria. Ele entendia que, mesmo que todos os entrevistados fossem absolutamente sinceros, o simples fato de o diretor e o montador escolherem quem vai ser mostrado quando e falando o que, já era uma forma de moldar a realidade.
Por isso, era preciso encontrar a sinceridade máxima (ainda que inteiramente subjetiva) na maneira com que o próprio Coutinho se torna um personagem e em como ele aborda as emoções, medos e revelações de quem está na tela.
O mais brilhante exemplo disso é Jogo de Cena, em que Coutinho reúne diversas pessoas para, em sequência, contarem a mesma história. A quem pertencem as experiências? Quem está apenas declamando um texto decorado? Isso faz alguma diferença nas emoções causadas em quem conta e em quem houve?
A beleza crua da simplicidade
Eduardo Coutinho costumava dizer que se interessava naquilo “que existe, pelo simples fato de existir”. Seus filmes, sobre figuras muitas vezes às margens da sociedade, contribuíam para trazer à tona questões sociais e políticas importantes.
Sua necessidade de escancarar o lado “ficcional” dos documentários fazia com que ele frequentemente se tornasse também personagem — muito, muito discreto — de suas obras, mas sem jamais tirar o foco dos reais protagonistas.
Entender quem é Eduardo Coutinho e o que faz com que seus documentários sejam únicos é fundamental para discutir temáticas ainda muito atuais, como política, moradia e condições de trabalho.
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*Foto Divulgação