Que Horas Ela Volta? entra em sua quarta semana de exibição nos cinemas
Semana passada o site Filme B noticiou que o filme “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, ganhou mais salas de exibição, aumentando o circuito em 90%. “No dia 27 de agosto, o filme abriu em 91 salas fazendo uma média pouco expressiva de 287 espectadores. Na segunda semana, encolheu um pouco, para 69 salas. Na terceira, reverteu a curva, subiu para 78 salas e viu seu público aumentar em 88% em relação à segunda semana”, escreveu o jornalista Thiago Stivaletti.
Geralmente os filmes começam em várias salas e, se não atraem bilheteria já no primeiro final de semana, vão perdendo espaço. Bárbara Sturm, que cursou o FILMWORKS – curso técnico em direção cinematográfica da Academia Internacional de Cinema (AIC), é diretora da Pandora Filmes e responsável pela distribuição do longa. Ela diz que as redes sociais deram uma grande ajuda. Muita gente reclamou da falta de horários na página de Facebook do filme e Bárbara encaminhou as mensagens aos exibidores quando foram negociar a terceira semana. “Tivemos diversos fatores, trabalhamos por semana, e a última teve um crescimento bom. Nas três primeiras tivemos frio, o que leva mais pessoas para as salas. Também teve a pré-indicação para o Oscar, a diretora Anna Muylaert e Regina Casé no programa do Jô, a entrevista da Regina no Fantástico. Mas o fundamental, sem dúvida, foi o boca a boca. Esse movimento, o diálogo, a identificação com as pessoas é o que realmente faz o filme crescer”, conta.
O Filme
Para quem ainda não viu (precisa ir!), o filme conta a história de Val, uma nordestina que deixa sua filha aos cuidados de parentes em Pernambuco para trabalhar como babá numa família de classe alta em São Paulo. Treze anos mais tarde, ela tornou-se uma segunda mãe para o menino Fabinho. Quando Jéssica, filha adolescente de Val vai para São Paulo prestar vestibular, e fica hospedada na casa da família, a situação complica. Sua personalidade forte mexe na hierarquia social da família e consequentemente questiona a rigidez dos papéis sociais vigentes.
Com isso o filme apresenta diversas questões do Brasil contemporâneo. A ação se passa quase que totalmente dentro de uma casa de classe média alta do bairro do Morumbi em São Paulo. Ali reproduz-se não apenas a arquitetura, mas também os costumes sociais e o jogo de afetos desenhados para nós desde o período Colonial.
“Esse filme pode ser visto como social, mas não é só isso. Minha abordagem não é julgar os personagens e suas ações, mas sim mostrar a verdade de maneira crua”, declara a diretora Anna Muylaert.
Entrevista
Em entrevista para a comunicação da AIC, Bárbara conta um pouco mais sobre as estratégias de distribuição do longa. Confira!
AIC – Quem é Bárbara Sturm?
Bárbara Sturm: Eu atuo no mercado de cinema desde 2006, me formei em cinema na AIC e fiz direção de fotografia de diversos curtas. Também atuei como diretora no curta “O Susurro”, que teve sua estreia na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e atualmente estou fazendo o meu novo curta-metragem documental “Sugira uma Alternativa Razoável”.
Há quatro anos sou diretora da distribuidora Pandora Filmes, faço a programação do Caixa Belas Artes em São Paulo, e junto com o meu marido, André Gevaerd, fundei e faço a curadoria do Cineramabc – Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú.
AIC – Conte um pouco sobre as ações e estratégias de distribuição do “Que Horas Ela Volta?”.
B.S.: As cine semanas são de quinta a quarta. A distribuidora e os cinemas recebem os números toda segunda-feira. Dependendo dos números, das estreias que irão acontecer, começamos a negociação para a próxima semana. Para a estratégia de pré-lançamento várias ações foram realizadas, entre elas: um Facebook superforte e ativo; três mapas de divulgação diferentes com ações específicas para sudeste, sul e nordeste, com a intenção de dialogar com as diferenças do brasil; anúncios em jornais e televisão; três pré-estreias, no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, sendo que a de Porto Alegre foi logo após o Festival de Gramado. Em todas as pré-estreias a Anna e os atores participaram, além de diversos convidados; Também tivemos um dia exclusivo de entrevistas individuais, com a Regina Casé, a atriz Camila Márdila e a diretora Anna Muylaert; e por fim uma sessão gratuita em são Paulo e outra no Rio só para empregadas domésticas.
AIC – Conte um pouco sobre como é trabalhar em um filme deste porte?
B.S.: Eu diria que não é um filme grande e sim um filme fenômeno, já que é um filme independente, pequeno e de autor. Acho que o cuidado que a Pandora tem com os seus filmes fez toda a diferença. Está sendo uma honra, afinal é um filme indicado ao Oscar e um dos únicos brasileiros que ganhou prêmio em Sundance e no Festival de Berlin. Está sendo um prazer enorme.
AIC – Que dica daria para quem está começando, quem ainda está no FILMWORKS?
B.S.: O que eu falaria para quem está estudando cinema é tente entender bem essa parte de distribuição, é fundamental fazer o filme pensando no lançamento. Ter noção do filme que tá fazendo e o público que pretende alcançar. Aqui na pandora a gente entra no filme já no roteiro. Claro, não vamos interferir no roteiro, mas começamos desde o início. É importante conhecer o trabalho internacional, o que é um agente de vendas faz, como ele pode te ajudar, pra que festival mandar o filme. O Brasil ainda é bem carente neste mercado.