Para muitos documentaristas, a distinção entre o que caracteriza um filme de ficção e um documentário pode ser bastante nebulosa. No início, o cinema documental era uma ferramenta de investigação, mas essa definição perdeu espaço para concepções de narrativas mais criativas. Na verdade, o cinema nasceu como documentário; afinal, os primeiros filmes dos irmãos Lumière, pioneiros do fazer cinematográfico, lá no final do século XIX, retratavam cenas do cotidiano dos franceses da época.
Acredita-se que o termo documentary tenha sido cunhado pelo cineasta escocês John Grierson. Segundo ele, o princípio do documentário estava no potencial do cinema para a observação da vida, que poderia ser explorado em uma nova forma de arte. Ele defendia que o ator “original” e a cena “original” seriam melhores para interpretar o mundo moderno do que os elementos que a ficção oferecia. Ou seja, que os conteúdos tirados do “material cru” seriam sempre mais reais do que os encenados.
Para muitos estudiosos, o documentário se diferencia das outras formas de não-ficção porque oferece uma opinião, uma mensagem específica, junto com os fatos que apresenta. Vale lembrar que o documentário é uma prática cinematográfica que está constantemente evoluindo e não tem fronteiras muito claras.
Uma das maiores diferenças entre os dois estilos de filmes é de que o cinema de ficção tem suas responsabilidades éticas, naturalmente, mas no documentário essa responsabilidade aumenta. Por quê? Para um ator, o filme em que ele está trabalhando é apenas um trabalho. Já para o sujeito de um documentário, a filmagem vai acabar, mas a vida continua. Esse “personagem” tem uma experiência existencial com o filme.
Outra diferença é que no documentário você lida com a realidade de uma forma mais intensa, o que inclui as surpresas e decepções que fazem parte do mundo real. O que a realidade apresenta ao documentarista pode fazer parte do filme e enriquecê-lo, mas também podem causar problemas de logística e planejamento. Na ficção, existe uma possibilidade muito maior de se planejar o que acontece no set, embora também exista espaço para improviso. Só que o controle é muito maior.
Enquanto que na ficção boa parte do que se vê no filme já está previamente estabelecido no roteiro, o documentário é muito mais orgânico. Ele se constrói enquanto está sendo feito: a filmagem busca o imprevisto. Nesse contexto, a pesquisa e a montagem são processos longos e importantíssimos para essa construção.
Recentemente, a cultura do documentário se expandiu e a própria ficção tem usado elementos documentais, misturando linguagens. Para muitos cineastas, a diferença entre os gêneros não importa muito, pois trabalhar conscientemente na fronteira entre as várias formas de explorar a realidade pode enriquecer qualquer tipo de arte.
A única distinção que precisa ser feita, para o artista, é de que o filme seja fiel e potente quanto à sua pretensão artística, que tenha coerência interna de linguagem. O impacto que ele vai gerar no público, no final das contas, vai depender de inúmeras variáveis que estão fora do controle do cineasta.
*Texto: Katia Kreutz.
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Foto: Documentário “Olho de Peixe” feito pelos alunos Diogo Nonato, Icaro Cooke Vieira, Felipe Portugal, Sergio Lindeberg Chaves e Carlos Gabriel Gila Silva da turma de documentário de 2015.