Academia Internacional de Cinema (AIC)

Professor de direção da AIC fala do prêmio em seu primeiro longa

Michael Warhmann

O diretor de Avanti Popolo, Michael Warhmann, que também é profesor de direção na AIC.

Na semana em que retornou de Roma, com o prêmio do filme Avanti Popolo na bagagem, o professor de direção da Academia Internacional de Cinema (AIC), Michael Wahrmann, falou com a gente sobre o filme, a conquista e os bastidores das filmagens.

“Senti ao mesmo tempo muito orgulho e muita surpresa, especialmente por se tratar de um filme tão pequeno, de baixo orçamento, filmado em 7 dias, etc. E, mais do que isso, sinto-me mais brasileiro do que qualquer outra coisa… Então, de alguma forma, representei bem sim o cinema brasileiro lá na Itália!”, confessou orgulhoso o diretor e roteirista de origem judaico-uruguaia, residente no Brasil desde 2004.

Para quem não sabe, Avanti Popolo foi o único filme brasileiro representado no festival, numa mostra que se propõe a valorizar algumas das novas tendências no cinema mundial. Com um orçamento relativamente baixo, foge dos padrões mais tradicionais da cinematografia, segundo Warhmann. De qualquer forma, acabou levando o prêmio competindo com diretores veteranos como Peter Greenway, Mike Figgis, Avi Mugrabi entre outros.

E é claro, isso enche de alegria quem valoriza o cinema nacional, em especial para a comunidade AIC que se sente representada também por mais uma conquista de um professor.

Acompanhe abaixo a entrevista completa!

AIC – Como surgiu a ideia de contar essa história?
Michael Wahrmann – O Avanti Popolo é uma continuação do meu trabalho com meus curtas Avós (2009) e OMA (2011), onde comecei minha pesquisa com temas autobiográficos, ligados à política, à história e à sua relação com a memória e com o recalque de traumas familiares.

Se no Avós e OMA a autobiografia está claramente presente, no Avanti Popolo existem vários momentos inspirados na minha história familiar. Na minha juventude eu militei em partidos de esquerda em Israel, meu tio paterno foi nos anos 60 estudar na Rússia e nunca mais retornou ao Uruguai, eu realmente ouvia as musicas revolucionarias presentes no filme e meu imaginário de adolescente foi construído a partir de historias da ditadura uruguaia.

Passaram-se quase 30 anos desde o fim da ditadura militar no Brasil, e mesmo com as novas políticas do governo e a “comissão da verdade” implantada em 2012, este tema ainda é tratado como um assunto do passado e não necessariamente do presente. O 1o de abril de 1964, ainda é celebrado como o dia da revolução dentro das forças armadas brasileiras, assim como tantas outras vozes que tendem celebrar a ditadura e esquecer suas vitimas. Este projeto nasce do medo do esquecimento.

AIC – E depois dos dois primeiros curtas, bem-sucedidos, como veio a ideia de fazer um longa, o seu primeiro?
Michael Wahrmann – Este filme começou como um projeto de curta-metragem contemplado pelo Prêmio Estímulo de Curta-Metragem da Secretaria de Cultura do Estado de SP e, ao longo da produção e filmagens, sentindo que o tema e os personagens exigiam de mim mais aprofundamento deixei-me levar, filmando material suficiente para realizar meu primeiro longa-metragem. Assim o filme foi rodado em 7 diárias com um orçamento inicial de R$ 80mil.

A estreia veio agora, no ultimo Festival Internacional de Cinema de Roma, que aconteceu entre o dia 9 e 17 de novembro, como parte da seção CineMaxxi dedicada a novas tendências no cinema mundial.

Nessa mostra competitiva, o filme ganhou o prêmio de melhor filme. Como foi o primeiro festival do filme, ainda não sabemos para onde seguirá, mas já estamos com vários convites para exibições em festivais internacionais. O filme será lançado no Brasil no 2o semestre de 2013.

AIC – E como foi para você receber um prêmio tão significativo, logo no primeiro festival que participou, concorrendo com nomes de peso do cinema internacional e sendo o único representante brasileiro na competição?
Michael Wahrmann – Começamos com o pé direito e com muita atenção para um filme tão pequeno e independente como este, competindo com grandes nomes do cinema mundial. Ter conquistado esse prêmio na primeira exibição do filme com certeza é importante para a carreira do próprio e minha pessoalmente. Se conferir a lista dos cineastas da competição você vera vários bem bem antigos como Peter Greenway, Mike Figgis, Avi Mugrabi e outros…

AIC – Pois é, e o prêmio que Avanti Popolo ganhou foi numa categoria nova, que busca novas tendências. Como você identifica isso no seu longa? Como foi a repercussão no festival?
Michael Wahrmann – Sobre como meu filme encaixa em novas linguagens, não sei dizer. Eu apenas fiz um filme. Posso até entender que ele seja um pouco estranho. Pois tem muitos planos fixos, parados, frontais e demorados. A narrativa não é clássica e de alguma forma o filme todo é totalmente “errado” no sentido tradicional do cinema. Mas não sei dizer bem como isso é nova tendência ou forma. Acho até que é bem antiga a forma, pois o inicio do cinema era feito de planos parados e frontais. Então, talvez o velho vira novo quando esquecemos dele. Não sei…

Na verdade lá na Itália, acho que eles não esperavam isso do filme. Pois como disse, ele é um pouco estranho até pros filmes estranhos que tinha na mostra. Então não teve tanta repercussão inicialmente. Mas naturalmente, depois do prêmio, tudo mudou. O fato é que sairam alguns textos, em sites especializados, bem bonitos…

 

AIC – E como foi trabalhar com o elenco, onde nenhum ator era profissional, em especial, com a participação do cineasta Carlos Reichembach atuando como protagonista? Foi o último trabalho cinematográfico dele antes de morrer?
Michael Wahrmann – Sim, foi a última participação dele em um filme, desta vez como ator.

Eu conheci o Carlão no Festival de Cinema de Amiens na França, onde ele foi homenageado e eu ganhei o prêmio de melhor curta com meu primeiro trabalho Avós. Lá conversamos e comecei a perceber sua semelhança com André Gatti que era nosso personagem principal. Ai pensei uns dias e no último dia do festival pedi a ele ser nosso ator junto com Gatti, fazendo o papel do pai. A princípio foi pela imagem e serenidade que ele passava e, claro, sua semelhança física com André.

Claro que aí começam a aparecer novas camadas de leitura, relação pesquisador de cinema e cineasta, relação história e presente, etc, que se constrói na junção das relações entre pai e filho e entre cineasta e pesquisador.

Trabalhar com Carlão foi ótimo, pois ele mais que um grande cineasta era um homem incrível. Modesto, humilde e muito do bem. Antes das gravações temia pelo olhar de um cineasta tão experiente no set: será que ele vai interferir, opinar, etc? Mas ele se concentrou apenas em atuar e entendeu rapidamente seu papel. Acho que como cineasta sua relação com o que estávamos fazendo era muito clara e coerente, pois ele sabia o processo e conhecia ele como poucos. Foi realmente lindo ter sua presença no set. Calma e muito sabia. E claro, que o resultado dos dois não atores foi surpreendente. Aliás, todos os atores no filme são não-atores.

Fora o Gatti, tem o Eduardo Valente, crítico, cineasta e atualmente representante internacional da Ancine. Marcos Bertoni, que é um cineasta totalmente underground, Paulo Rigazzi e Maria da Penha que nada têm a ver com cinema, mas são figuras lindas. E tem também a participação de mais um professor convidado da AIC, Julio Martí, que faz o papel do filho desaparecido no filme. Na verdade, a única atriz professional é a cadela Estopinha, a cadela do Carlão no filme, que é a ficou conhecida no programa do Dr. Pet da TV Record.

AIC – Além de Martí, houve algum outro envolvimento do pessoal da AIC, seja com a participação de alunos ou outros professores no filme?
Michael Wahrmann – Um dos principais atores do filme é o André Gatti, que também já deu aulas na AIC (Comunicação, Cultura e Mídia I: História do Cinema) e foi meu professor na FAAP, onde me formei em cinema em 2007. Além dele, teve também a participação de um aluno meu da AIC, Jardel Tambani, que foi meu  assistente pessoal este ano que me deu muito apoio no processo de pós-produção do filme.

AIC – Daqui pra frente, quais são os planos para o filme e para a sua carreira de professor e cineasta?
Michael Wahrmann – ideia agora é curtir o filme que provavelmente terá um ano de exibições no exterior, acompanhar o filme quando possível e representar ele nos festivais e mostrar. Paralelamente estamos trabalhando e preparando o lançamento no Brasil no segundo semestre de 2013, o que exige muito trabalho. E claro, continuar dando aulas na AIC e desenvolvendo meus projetos pessoais e futuros trabalhos.

Quer ver um trecho do filme Avanti Popolo e saber mais do prêmio no Festival de Roma?

Clique aqui para ver o post.

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Conheça aqui o site do filme (em inglês, em breve haverá versão em português também).

Créditos:
Reportagem e edição: Paulo Castilho.
Fotos: divulgação.

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