Academia Internacional de Cinema (AIC)

“Posicionar bem a câmera? Não adianta nada, se você não tiver o que dizer” James Schamus fala para futuros cineastas na AIC-RJ

James Schamus na AIC-RJ

Roteirista e produtor, o americano trouxe ao Rio seu primeiro filme como diretor, “Indignação”

Texto: Clara Meirelles

Quando James Schamus chegou à entrada da Academia Internacional de Cinema (AIC), no Humaitá, cerca de setenta pessoas já o aguardavam e disputavam as senhas para vê-lo falar. O premiado roteirista e produtor, que trabalhou com diretores como Paul Schrader, Sofia Coppola, Todd Haynes e Todd Solondz, é um dos grandes parceiros de Ang Lee, para quem escreveu os roteiros de “Tempestade de Gelo” e “Aconteceu em Woodstock e produziu o sucesso “O Segredo de Brokeback Mountain. Schamus também é professor de História do Cinema na Universidade de Columbia e veio ao Rio de Janeiro por um motivo especial: trazer o seu primeiro filme como diretor, “Indignação, ao Festival do Rio. Estava acompanhado por um dos produtores do longa, Rodrigo Teixeira. A palestra foi uma parceria entre a AIC, o Festival do Rio e a produtora RT Features.

James Schamus e Rodrigo Teixeira na AIC – RJ

 

Trinta anos de cinema

Schamus começou o encontro contando sua trajetória. Criado em Los Angeles, o artista foi para Nova Iorque para estudar cinema, aos vinte e poucos anos, e se deparou com o então incipiente mercado do cinema independente, que agregava muitos diretores em busca de dinheiro para suas produções. O palestrante contou que não sabia fazer dinheiro, mas tentava, o que fez com que as pessoas achassem que era produtor. Assim, ele começou sua carreira trabalhando como assistente durante o dia e à noite, como ele mesmo definiu, “fingia ser produtor”.

Cauã Reymond – Palestra James Schamus – AIC – RJ

A estratégia deu certo. Ao longo de sua carreira, ele cofundou a produtora Good Machine e a distribuidora Focus Features, responsáveis por inúmeros lançamentos no cinema hollywoodiano. Ilda Santiago, diretora artística do Festival do Rio, também presente no evento, o definiu como um artista do estilo renascentista, tamanha a sua versatilidade e capacidade de desempenhar papéis diferentes dentro da cadeia de produção de um filme.

Trinta anos depois de começar a levantar produções, Schamus afirmou que o mercado do cinema independente avançou muito e hoje já há uma estrutura de mídias digitais e uma nova geração trabalhando. Mas deixou claro que a dificuldade ainda existe: “Todo ano, no Oscar e no Independent Spirit, um ou dois caras sobem no palco, pegam o troféu e falam que ninguém acreditava no projeto. Para cada um que sobe no palco, há milhões de fracassados. Isso é uma coisa normal no ramo”.

Conselhos para a nova geração
Palestra James Schamus – AIC-RJ

Dono de um senso de humor ácido, Schamus propôs uma dinâmica com os estudantes de cinema presentes na sala. Perguntou qual é o melhor conselho que já ouviram. A cada resposta, o cineasta rebatia dizendo exatamente o contrário. Posicionar bem a câmera? Não adianta nada, se você não tiver o que dizer. Fazer o filme impetuosamente? Ridículo, imagina se isso fosse dito a um cirurgião cardíaco. A plateia gostou da brincadeira, mas ficou desnorteada. Schamus então arrematou a dinâmica, dizendo que queria mostrar que não há regras na arte, o que faz com que todo e qualquer conselho pareça útil. E expôs o que, para ele, é importante ao se fazer cinema: “a presença das pessoas, a atenção, o contexto, estar ouvindo, trocando, testando, sentindo. Isso importa”.

James Schamus – AIC – RJ

Perguntado sobre a inclusão das minorias sociais no cinema, Schamus foi categórico ao dizer que o Oscar é uma festa da indústria, preocupada em lucrar. “Vamos ver cada vez mais asiáticos em papéis de liderança porque os chineses estão colocando dinheiro”, afirmou. E citou uma frase de sua esposa: “O Oscar é uma festa em que coisas boas acontecem para pessoas ruins”. A sala toda gargalhou.

Na cadeira do diretor

Seu primeiro longa-metragem como diretor, “Indignação, é uma adaptação do romance homônimo do escritor americano Philip Roth. Schamus mandou o roteiro para Roth assim que terminou de escrever e o autor fez um grande favor: se recusou a ler e deu total liberdade para a realização do filme.

Para o agora diretor, a linguagem do roteiro de uma adaptação cinematográfica é a mesma dos casamentos ruins: “filme e livro são fiéis apenas no espírito”, afirmou. Despreocupado com as críticas, ele reiterou a necessidade de liberdade e risco para se fazer cinema. E pouco antes de sair da sala, sob aplausos entusiasmados, Schamus se definiu como um artista que gosta de criar mundos para os atores e para compartilhar com a equipe – para ele, uma característica essencial a qualquer um que queira ser criador na arte do cinema.

*Fotos: AIC/André Motta

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