Papo de Elevador, Síndrome de Tourette e o Exercício 3,2,1
Imagina entrar em um elevador e alguém desatar a falar palavrão entre uma frase e outra. Esse é o mote do curta-metragem “Papo de
Elevador”, dirigido pelo amazonense Emerson Medina, de 41 anos, que veio para a Academia Internacional de Cinema (AIC) em julho do ano passado para cursar o Intensivo de Férias de Cinema.
Pouca gente conhece, mas existe um distúrbio neuropsiquiátrico chamado de Síndrome de Taurette, caracterizado por tiques múltiplos, motores ou vocais. É quando uma pessoa tem tiques compulsivos recorrentes como piscar, tossir, retorcer-se e até mesmo xingar.
A ideia surgiu do também aluno Marcelo Reis, que conhecia a síndrome e queria fazer uma história de humor, mas o exercício, sugerido pela professor de roteiro Thiago Fogaça, exigia uma estrutura de narrativa clássica e a ideia original precisou de algumas adaptações, conta Emerson.
A história deu tão certo que o curta foi selecionado para o Amazonas Film Festival e fez sucesso na Mostra de Curtas.
Estudar X Conhecer Gente
Todo ano, nos meses de férias, é assim. Quem entra no casarão de janelas vermelhas, da Academia Internacional de Cinema (AIC), escuta os mais diversos sotaques e vê pessoas do norte e nordeste cheias de blusa, sentindo muito frio e, os sulistas, praticamente sem roupa, por que acham que aqui faz calor. É uma mistura cultural tão interessante que só por isso já vale o curso, conta Emerson, que conheceu a AIC pela internet. “Gostei da proposta do curso e fiz a inscrição. A experiência é muito proveitosa, em especial, as aulas de roteiro e produção, pois eu já tinha experiência em outros cursos de direção. Além das aulas, o relacionamento com os colegas e a troca de culturas é outro enriquecimento. Ainda hoje conversamos com alguns colegas que voltaram para seus Estados e acompanhamos o que cada um está fazendo na área”, conta.
“Papo de Elevador” foi um dos seis trabalhos finais do Intensivo no ano passado e foi produzido dentro de um exercício chamado de “3,2,1”, que consiste em criar o projeto de um curta de no máximo 3 minutos, com no máximo 2 atores e em 1 única locação. “Como o curso é intensivo e a duração é de um mês, não dá para fazer uma megaprodução, a ideia é produzir um filme de 3 minutos com baixo orçamento e muita criatividade”, conta o Coordenador Cláudio Gonçalves.
“Ainda durante as aulas de roteiro fomos divididos em equipe e tivemos que defender três ideias para que curta fosse filmado. O ‘Papo de Elevador’ foi ideia da equipe de roteiristas que eu fazia parte e acabou sendo votada pela assembleia (todos os alunos do curso) junto com os outros seis projetos. Depois disso foram escolhidos os diretores – sem que se soubesse qual roteiro cada um dirigiria. Por eleição, acabei sendo escolhido para dirigir um dos filmes e ‘Papo de Elevador’ acabou ficando com a minha equipe, que tinha gente do Brasil todo: o roteiro é de Marcelo Reis (SP), Kleberson Cespede (MS) e Ariel Goldenberg (Sim! O ator do longa “Colegas”, de Marcelo Galvão, ganhador do Kikito de ouro em Gramado, também passou pela AIC); Vinícius Bulgarelli (MS) ficou na produção; Eduardo Ávila (RJ) fez a direção de fotografia; Andréa Cohim (PE) a direção de som e montagem original; Giba Vieira (SP) a direção de arte e produção de casting. Os atores são de São Paulo: Márcia Pandeló e Leandro Destácio”, conta Emerson.
O Filme
Emerson conta que a história é sobre um rapaz com Síndrome de Tourette. “Na versão mais popularizada que escolhemos, a pessoa fala palavrões involuntariamente. O nosso protagonista – Leandro está no elevador quando entra a Márcia Pandeló e o elevador sofre uma pane. Márcia, que já estava nervosa, começa a reclamar e xingar sem parar e Leandro só quer sair de lá sem transparecer que tem a síndrome de Tourette”.
A Produção
Um monte de gente de fora da cidade precisando encontrar um elevador para gravar um curta. Parar o elevador de um prédio não é
algo fácil de se conseguir, ainda mais em São Paulo. “O mais complicado foi encontrar a locação – o elevador – já que optamos pela abordagem realista. Quando conseguimos, faltava três dias para o início das filmagens. Foi graças ao diretor de fotografia, Eduardo Ávila, que tinha contatos com uma produtora e negociou a liberação do elevador no prédio dessa produtora. As gravações foram muito tranquilas e agradáveis e gastamos apenas quatro horas das doze que tínhamos disponível”, conta Emerson.
O Diretor
Emerson é jornalista, formado pela Federal do Amazonas e além da pós em Artes Visuais, tem diversos cursos de cinema no currículo,
além de um roteiro premiado. Edita duas revistas em Manaus, mas a grande paixão é o cinema e todas as horas vagas são destinadas para produção de seus curtas. Atualmente está montando seu próximo curta “Nascer, Crescer e Negar”.