Inspirado na biografia “Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins”, livro dos jornalistas Ivan Finotti e André Barcinski, a série conta com a direção de Vitor Mafra. Já o roteiro é assinado por Barcinski, Mafra e pelo ex-aluno e hoje professor de roteiro da Academia Internacional de Cinema (AIC), Ricardo Grynszpan. O ator Matheus Nachtergaele dá vida ao Mojica/Zé do Caixão e encarna o personagem do terror brasileiro como ninguém, com direto a barba falsa e muita unha postiça.
Ricardo conta que cada episódio é sobre uma etapa da carreira do José Mojica. “O fio condutor é a produção de seus filmes, que vão do faroeste ao pornô, passando obviamente pelo terror, onde surgiu o personagem Zé do Caixão. E aborda também os momentos do cinema brasileiro da Boca do Lixo, que era o habitat do Mojica. A série, como um todo, pretende mostrar como o personagem foi tomando conta do criador. Porque é uma coisa muito maluca, essa do sujeito deixar de ser ele próprio para ser o personagem que ele criou”.
Conheça um pouco mais sobre o roteirista Ricardo Grynszpan e sobre o processo de roteirização da série!
ENTREVISTA
Ricardo Grynszpan: Fui indicado pelo Ricardo Tiezzi, que foi meu professor aí na AIC e hoje coordena o curso de Roteiro para TV.
AIC – Como foi a dinâmica de trabalho, já que são três roteiristas? Todos os roteiros foram escritos a seis mãos ou cada um cuidou de episódios específicos?
R.G.: O André Barcinski foi quem escreveu a biografia e portanto é quem mais conhece da história e o diretor Vitor Mafra foi quem concebeu o projeto. Eles foram fundamentais para a criação da história. Minha função como roteirista foi criar a estrutura narrativa para as ideias deles terem o impacto desejado no espectador.
AIC – A série é baseada na biografia “Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins”. Como é roteirizar baseado numa biografia?
R.G.: A vida de uma pessoa não costuma ter uma narrativa igual à do cinema, da TV. Mas certos trechos da vida têm. São esses trechos que a gente procura para fazer adaptação de biografia. E se não encontra, aí tem que “massagear “os fatos para que sirvam à narrativa. O bom do Barcinski é que ele é muito ligado ao cinema, então a biografia já vem meio cinematográfica. Você lê e na hora já fala “Putz, isso aqui dá uma série de TV!”.
R.G.: Nem sempre o roteirista tem a oportunidade de conviver com os atores. Nesse caso eu tive. Ver o Matheus ali, falando as coisas que você escreveu, é bom demais. Tinha frase que eu achava que não tava lá grandes coisas, mas com ele falando ficava redondo. Ele realmente é um ator fora de série. Com um craque em campo fica bem mais fácil do time jogar.
Sem contar que o Matheus é uma estrela do cinema, da TV. Isso faz muita diferença para que o público se interesse pela série, traz prestígio. O Matheus só perde em fama para o Zé do Caixão, que é praticamente uma figura do folclore nacional.
AIC – Conte um pouco sobre você, sua trajetória, influências e referências.
R.G.: Eu comecei no roteiro audiovisual tarde, com 39 anos. Talvez tenha sido a idade certa, sei lá. Essa é uma profissão que quanto mais você vê as coisas da vida e do mundo, melhor. Antes disso eu era apenas um espectador comum.
AIC – Conte como foi sua experiência no curso da AIC?
R.G.: Nunca havia me passado pela cabeça ser roteirista. Eu era um exímio contador de piadas quando criança, foi o mais perto que cheguei disso. Aí em 2009 eu fiz uns cursos e oficinas na AIC. Num deles o Ricardo Tiezzi foi meu professor e me chamou para fazer parte da equipe dele na série “Julie e os Fantasmas”. Ali eu passei da arrebentação. Dali em diante é o mar aberto em que ainda me encontro navegando. Tem tubarão, tem correnteza, tem virada de maré. Mas pelo menos não estou na beiradinha da praia tomando onda na cabeça.
Fotos: Ana Ottoni / Divulgação