Era uma vez um jornalista que adorava escrever histórias. Seu nome era Henrique Melhado Barbosa e tinha 28 anos. Ele sempre escreveu e contou histórias muito bem, mas, por algum motivo, não acreditava que conseguiria viver como roteirista de séries de TV… Em um belo dia, Henrique entrou em um concurso para roteiristas, competiu com outras 1800 boas histórias e conseguiu o melhor prêmio de todos: um final feliz.
O concurso mobilizou mais de 3 mil criadores de 26 estados brasileiros e recebeu 1,8 mil inscrições. Os oito vencedores foram anunciados no final do mês de outubro. Entre eles está Henrique, com os roteiros da série “Velhos Lobos”.
“Velhos Lobos” – Artrite, Viagra e Rock’n’Roll
“Velhos Lobos” é uma série de comédia com episódios de 30 minutos que conta a história de quatro homens à beira dos setenta anos que decidem retomar o The Wolves, banda de rock obscura dos anos 60, após a morte de seu ex-baterista. Cansados do marasmo da velhice e de serem tratados como incapazes, Alex Dias, Wolfgang Rocha e os irmãos Renato e Rafael Lobo reerguerão a banda que criou uma canção de grande sucesso na sua época, mas fracassou com brigas internas e um disco conceitual e psicodélico que estava à frente de seu tempo. A série mostrará os desafios dos quatro amigos em resgatar o protagonismo de suas próprias vidas e voltar aos holofotes numa época em que o mundo, a música e seus corpos já não são mais os mesmos.
O projeto nasceu da vontade que ele sempre teve em trabalhar com os temas terceira idade e rock. “Uma combinação aparentemente incomum, mas que vemos ela nos palcos do mundo todos os dias nas figuras do Paul McCartney, Rolling Stones, The Who, Black Sabbath, que estão chegando ou ultrapassando os 70, e ainda dão as cartas no mundo da música. O seriado é uma comédia e a intenção é mostrar que a velhice não precisa ser marcada pela sombra do fim, como estamos acostumados a ver em outras representações do tema”, conta o roteirista.
O Prêmio
Além do prêmio em dinheiro, os vencedores participarão do Laboratório NETLABTV, receberão consultoria de desenvolvimento dos roteiros e participarão de rodadas de apresentação dos seus projetos a canais, produtores e distribuidores. O primeiro dia de laboratório, que acontece no próximo dia 11, contará com a presença da roteirista e produtora Liz Devine, da famosa série “CSI”.
“A semana de consultorias com outros roteiristas e profissionais dos canais de TV por assinatura, tem como objetivo desenvolver o projeto e prepará-lo para a apresentação aos canais. Também haverá uma troca de ideias com os outros vencedores, em que cada um dará sua visão sobre o projeto do colega, seminários sobre negociação e uma oficina de pitching”, conta Henrique.
A Entrevista
Conheça um pouco mais sobre o autor e sua formação, a série e seus personagens e, assim como a gente aqui da AIC, torça para que o projeto saia logo do papel.
AIC – Conte um pouco sobre o processo e as etapas do concurso.
Henrique M. Barbosa: O Netlabtv foi um concurso organizado pela NET para prospectar novas ideias de séries, já que por conta da lei da TV Paga (lei n.12.485), os canais por assinatura precisam exibir algumas horas de conteúdo nacional na sua programação em horário nobre. O concurso selecionou tanto projetos de ficção como de não ficção, como ideias para reality shows. Na primeira etapa do concurso, tive que enviar a sinopse e argumento da série, a descrição dos personagens, sinopses de 6 episódios, a visão do roteirista e mais o roteiro do primeiro episódio, que chamamos de piloto. Os projetos foram analisados por uma comissão formada por profissionais do mercado e 15 foram selecionados para figurarem entre os finalistas. Posteriormente, a comissão e os canais pontuaram os projetos e foram escolhidos os 4 vencedores de ficção, incluído aí o “Velhos Lobos”.
AIC – Quem é Henrique? Conte um pouco da sua trajetória e sua formação.
H.M.B.: Eu tenho 28 anos, sou formado em Jornalismo pela USP e fiz dois anos de cinema. Estou finalizando agora uma pós-graduação em Roteiro. Trabalhei alguns anos com jornalismo, mas aos poucos fui caindo para a área de roteiro. Trabalhei um ano como pesquisador e roteirista assistente na produtora Moonshot e fui um dos roteiristas da série “Julie & Os Fantasmas”. Hoje trabalha como roteirista de uma escola de cinema em São Bernardo.
AIC – Conte um pouco sobre a série.
H.M.B.: A série nasceu da minha vontade de trabalhar com dois temas: terceira idade e rock. O seriado é uma comédia e a intenção é mostrar que a velhice não precisa ser marcada pela sombra do fim, como estamos acostumados a ver em outras representações do tema. A série vai falar sobre como a geração dos anos 60, responsável por uma revolução comportamental e política na sua juventude, envelheceu no século 21. Durante as pesquisas, eu pude observar que os vovôs de hoje estão muito longe daquela imagem do velho caquético sedimentada na TV. Então, a série vai procurar retratar os velhos como eles realmente são: indivíduos em busca de viver a vida à sua maneira, tanto como nós, embora com uma dose a mais de dores, remédios e reclamações.
AIC – Como o curso da AIC contribuiu no desenvolvimento do seriado?
H.M.B.: Eu fiz dois cursos ministrados pelo professor Ricardo Tiezzi na AIC em 2009: “Narrativa para Cinema e Televisão” e “Oficina Prática de Narrativa para Cinema e TV”. Na época eu trabalhava como pesquisador para a Moonshot Pictures e estava começando meus estudos em roteiro, mas posso dizer que foram as aulas do professor Tiezzi que realmente abriram minha cabeça para a área. Logo na primeira aula, ele explicou que o trabalho do roteirista é como o de um artesão que usa a técnica e o estudo para produzir sua obra. É muito diferente da ideia do gênio romântico que cria a partir do nada guiado apenas por sua inspiração. Além de ter um domínio completo sobre a teoria do roteiro, ele também é um roteirista experiente na área e isso contribuiu muito durante as discussões em sala de aula. O primeiro curso durou alguns meses e foi mais voltado para a parte teórica e o aprendizado de técnicas. Nessas aulas, entrei pela primeira vez em contato com conceitos como “jornada do herói”, do Joseph Campbell e do Christopher Vogler, que acho fundamentais na criação de um seriado. O segundo curso foi um oficina prática em que desenvolvemos dois seriados e um projeto de longa-metragem em sala de aula. Foi uma experiência riquíssima e a primeira oportunidade que tive de aprender como se desenvolve uma obra para a TV.
AIC – Como se sente em ter ficado entre os vencedores?
H.M.B.: É um verdadeiro privilégio estar entre os 4 vencedores de ficção. Ainda mais em um concurso tão concorrido e com séries tão legais com foi o Netlabtv. Foi um longo ano de desenvolvimento com muitos rascunhos e dúvidas ao longo do caminho, como não poderia deixar de ser. Mas o importante é sempre ir em frente. Agora espero dar forma final ao projeto com as consultorias e apresentar a série para os canais de TV.