Academia Internacional de Cinema (AIC)

O cinema além do cinema

Quem pensa em estudar em escolas ou faculdades de cinema quer normalmente trabalhar na produção de filmes, em profissões que estejam diretamente ligadas às diversas atividades que envolvem as etapas do fazer cinematográfico. Mas há muito mais campo para explorar: de alguns anos para cá, com a revolução digital, o mercado audiovisual explodiu a demanda para novas atividades, onde os profissionais podem encontrar grandes oportunidades de colocar os talentos para funcionar. Selecionamos alguns casos bem sucedidos em áreas como games, produção de eventos de cinema e de criação de conteúdos educativos, apresentando novas possibilidades que vão além do mundo das salas de cinema.

GAMES

Ex-aluna da AIC, do curso Filmworks, Carol Frattini hoje é sócia da “44 Toons”, produtora de animação que se originou como uma divisão de uma outra produtora mais antiga, chamada “44 Bico Largo”. Nas duas produtoras, animação e games andam juntos.

Carol Frattini – ex-aluna e sócia da 44Toons

“O Ale McHaddo fundou a 44 Bico Largo, em 1996, como produtora de games. Na época, ele lançou “O Enigma da Esfinge”, até hoje um dos jogos nacionais para PC mais vendidos no Brasil (e recentemente relançado para iPad, na Apple Store). Só em 2006, ele fundou a 44 Toons, dedicada a produção de séries e filmes.”, explica.

Quase 20 anos depois da fundação, a “44 Bico Largo” já tem quatro jogos disponíveis na Apple Store e mais um na loja virtual Google Play.

Segundo Carol, as artes produzidas — tanto para os aplicativos, quanto para os games — são feitas pela mesma equipe que produz a arte para as séries. “Um animador pode tanto trabalhar em uma produtora de audiovisual como uma produtora de games. No fundo, tanto cinema/TV quanto game é sobre uma coisa: contar uma história. A diferença é que no game você interage ativamente, enquanto no cinema e na TV, apenas imerge na história que é proposta na sua frente.”

De fato, se pararmos para reparar, os mercados de games e de cinema e audiovisual em geral andam muito próximos de uns tempos para cá. É o que os especialistas em comunicação têm chamado de “pensar a relação transmídia”, ou seja, criar diferentes tipos de aplicação de conteúdo para um mesmo produto principal. Assim, quando se pensa num filme ou num seriado, logo também surgem produtos paralelos oriundos dele, como os games, por exemplo. Ou vice-versa dos games para um filme ou seriado.

“Hoje existe uma necessidade de se tirar o produto audiovisual de sua matriz primária para migrá-lo para outras plataformas. Se você gosta de uma série, vai procurar um aplicativo daquela marca para baixar no smartphone, ou um game para jogar no Facebook ou no site. Da mesma forma, se você tem aplicativo que vira febre, trata logo de fazer uma série para TV, como aconteceu com o ‘Angry Birds’.”, diz a ex-aluna da AIC.

Segundo Carol Frattini, atualmente o mercado de produtos multiplataformas está em franco crescimento, principalmente para o universo infantil, onde há uma necessidade cada vez maior de se colocar a mesma marca em diversos meios. “O foco neste assunto é tão grande que até em editais de captação para longa-metragens se pergunta qual é o potencial multiplataforma do produto.”, alerta Carol aos interessados em garantir recursos para a produção de seus próprios filmes.

PRODUÇÃO DE EVENTOS DE CINEMA

André Albregard – ex-aluno e produtor da Mostra Mundo Árabe de Cinema

Aluno do quarto semestre do Filmworks, da AIC, atualmente, André Albregard entrou no curso com o sonho de formar sua própria equipe de filmagem. Os caminhos profissionais, entretanto, o levaram a atuar profissionalmente na produção de mostras de cinema.

“A produção executiva de mostra de cinema foi um meio que encontrei de estudar cinema e conhecer filmes e pessoas que estejam interessadas nessa arte”, conta André. No ano passado, ele teve sua primeira experiência nesta área dentro da própria AIC, como curador do “Tela em Movimento”, um evento promovido pela escola, que traz cineastas e seus filmes para realizar discussões de temas selecionados com os estudantes.

Atualmente, ele trabalha com a produção da “8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema”, que acontece nos meses de agosto e setembro, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O evento é dedicado à difusão de acervo audiovisual de um conteúdo que raramente chega ao circuito comercial brasileiro e traz filmes que retratam a realidade política, social e cultural dos países árabes, além de abordar a presença da cultura árabe na sociedade brasileira e latino-americana.

“Na produção executiva, fico responsável por coordenar o orçamento do projeto, atender às demandas dos patrocinadores, distribuidores dos filmes selecionados, exibidores, do Ministério da Cultura e dos demais parceiros.”, explica André.

De acordo com ele, o mercado de produção de festivais, hoje em dia, oferece amplas possibilidades para quem tem paixão com o trabalho que envolve o cinema além da produção de filmes. André avisa ainda que é necessário ter comprometimento, capacidade de trabalho em horários alternativos, boa redação e organização para redigir projetos e controlar orçamentos.

“No campo de cinema e produção cultural não existem entrevistas e dinâmicas de grupo. O que há de fato são encontros e reencontros que podem render grandes parcerias profissionais. Por isso, é importante muita disposição para ir aos festivais, sessões de cinema, debates em mostras, shows, peças de teatro, etc.  Para fazer filmes ou lidar com qualquer manifestação artística – como produzir filmes, mostras e festivais -, é necessário ir onde existem pessoas discutindo e produzindo esses conteúdos”, conclui André.

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO EDUCATIVO

Jornalista por formação, a ex-aluna Cátia Reis sempre gostou muito de escrever e contar histórias. Foi isso que a levou, em 2005, a buscar o curso de roteiro da AIC. Entusiasmada, no ano seguinte, ela também se inscreveu no Filmworks.

Cátia Reis – ex-aluna e sócia da Tujalê

“Queria dominar a arte de escrever em linguagem audiovisual. O que aprendi no contato diário com colegas e professores ampliou muito meu olhar sobre toda a cadeia produtiva do cinema, o que hoje entendo ser fundamental para quem quer ser roteirista: conhecer melhor e de forma completa todo o processo de produção de um filme.”, conta Cátia.

Depois da AIC, Cátia tornou-se uma pesquisadora acadêmica e estuda hoje o uso do vídeo em da sala de aula. Ela também se aproximou do universo educativo e fundou a “Tujalê”: uma produtora com a proposta de transformar conteúdos didáticos em mídias digitais.

“De um ano e meio pra cá, em parceria com o Everton Sebben (também ex-aluno AIC), passamos a focar nossos esforços na produção de objetos educacionais. A maior parte da nossa produção atual são vídeos, mas também desenvolvemos jogos e infográficos.”, completa Cátia.

A ex-aluna da AIC vê boas perspectivas e um futuro promissor na área educacional para pessoas que têm boa formação na área audiovisual. “Recentemente, o Ministério da Educação instituiu uma lei em que todas as editoras brasileiras que fornecem materiais didáticos pro Governo, precisam, a partir de 2014, entregar junto com o livro impresso uma certa quantidade de materiais digitais. E a produção desses objetos se configura como um novo desafio para o mercado.”, diz otimista.

Bem-sucedidos fora das telonas, em comum para nossos entrevistados fica o reconhecimento do aprendizado que receberam e um aviso para aqueles colegas que ainda estudam audiovisual e querem conquistar um lugar no mercado: “Aproveitem, que dá saudades!”.

*Matéria feita por Paulo Castilho para a Revista ZOOM – fotos arquivo pessoal alunos. Foto em destaque animação produzida pela empresa 44Toons.

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