O telespectador brasileiro nunca teve tantas boas opções de séries de TV como nos dias de hoje. Basta ligar a TV e zapear pelos canais
mais conhecidos. No GNT, por exemplo, três séries brasileiras são exibidas semanalmente. Na Rede Globo são seis. Segundo dados da Ancine – Agencia Nacional de Cinema, o número de obras brasileiras veiculadas em alguns dos principais canais de TV por assinatura foi quadriplicado no ano passado e, o principal motivo desse crescimento é a Lei da TV Paga.
Ricardo Tiezzi – roteirista da TV Globo e professor do novo curso de Roteiro para Série de TV da Academia Internacional de Cinema (AIC) afirma, “o motivo principal é mesmo a lei, que gerou a necessidade de as emissoras colocarem conteúdo ficcional no ar. A lei de fato modificou significativamente a quantidade de produção. Um outro motivo é que o formato de série se consolida como uma possibilidade dramatúrgica forte. É um formato que tem respeitabilidade, devido à qualidade das séries estrangeiras, e que estabelece com o espectador um tipo de relação diferente da novela, por exemplo. Por ter um tempo menor e uma narrativa mais compacta, gera um tipo de relação mais próxima”.
Um Pouco de História
As séries de hoje são bem diferentes das de antigamente. Quem não lembra com saudosismo de personagens famosos, como Zelda, Juba e Lula de “Armação Ilimitada”, que ficou no ar de 1985 a 1988, na TV Globo? Com linguagem moderna (para a época) e muito humor, a série girava em torno do triangulo amoroso dos personagens.
Já a primeira série brasileira foi ao ar em 1961, na TV Tupi. “O Vigilante Rodoviário” contava a história de um policial, sempre acompanhado de seu cão, que lutava contra os ladrões das rodovias paulistas. Todo gravado em película, a série teve 38 capítulos e foi muito reprisado na década de 1970.
Depois veio “Alô, Doçura”, a primeira sitcom brasileira. Em 1978 foi ao ar “Malu, Mulher” com temas polêmicos sobre a emancipação feminina, como divórcio, aborto e orgasmo. Entre outras séries famosas como: “Carga Pesada”, “Mulher”, “A Grande Família”, “Os Normais” e “A Diarista”.
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Ricardo Tiezzi e o Intensivo de Férias de Roteiro para Série de TV
Escritor, professor e roteirista da TV Globo, Ricardo Tiezzi acabou de entregar os últimos capítulos da temporada de “Malhação”. Também roteirizou a comédia “Superpai”, que deve estrear nos cinemas no segundo semestre, produzido pela Querosene filmes, com Danton Mello como protagonista. Já escreveu dezenas de séries e programas, entre eles estão: “Café Filosófico” (Cultura), “A Vida de Rafinha Bastos” (Fox) e “Julie e os Fantasmas” (Band / Nickelodeon). Também tem dois livros de crônicas: “O Primo de Deus” e o romance policial “O Sorriso da Morte” e promete escrever o terceiro ainda este ano.
Tiezzi, que já coordena o curso de Roteiro para TV da AIC, também está à frente do novo curso de Série para TV. O curso tem como
objetivo ensinar a arte e a técnica desse tipo de narrativa audiovisual e a compreensão da linguagem específica desse formato. O curso explora, de forma prática e teórica, quatro tópicos centrais da narrativa seriada: fundamentos – os princípios da narrativa audiovisual; personagem – a alma do seriado; estrutura – de episódio e de temporada; cena e diálogo – a sintonia fina.
Confira a entrevista que Ricardo respondeu para a comunicação da AIC e entenda um pouco mais sobre roteiro para seriado.
AIC – Quais são as diferenças básicas de roteiro para novela e para série de TV?
Ricardo Tiezzi: A novela e a série diferem na extensão, o que impacta diretamente na narrativa. A série tende à concentração, a uma espécie de narrativa sob permanente tensão. Assim, muitas vezes evitam-se cenas de preparação e cenas que comentam ou repercutem os momentos fortes. A novela, por outro lado, busca a distensão. Cada momento forte é acompanhado de cenas anteriores que os preparam e cenas posteriores que os comentam.
AIC – O que faz uma série de TV ter sucesso? O que prende o espectador e faz com que ele assista o próximo episódio?
R.T.: Sei que corro o risco de uma resposta vaga, mas não há como fugir, pois é uma resposta velha e permanente. Que é: o que prende o espectador é uma boa história bem contada. Um outro desafio é a série superar um paradoxo corrente em televisão que consiste em “fazer o mesmo só que diferente”. Significa surpreender o público, oferecer algo que ele quer mas às vezes nem sabe que quer, mas ao mesmo tempo trabalhar com um repertório narrativo já conhecido. Algo como dar dois passos à frente mas um passo de recuo.
AIC – Como se especializou na área de TV/ séries?
R.T.: Minha formação é em jornalismo. Depois, quando tive a intenção de virar roteirista, a dedicação integral foi em formação. A especialização continua nas séries e programas de TV escritos, mesmo os que não foram ao ar. Mesmo assim, ainda que trabalhando na área há um bom tempo, a formação continua. Meu mestrado, por exemplo, é na área de narrativa e religião.
AIC – Como funciona uma sala de escritores?
R.T.: A sala dos escritores é o lugar onde os escritores se reúnem para criar uma série ou, pelo menos, falhar em comunhão. Um fator determinante do sucesso das séries é o seu método de criação, que consegue, pela criação em grupo, exponenciar o potencial de cada escritor.
AIC – Conte um pouco sobre o novo curso da AIC – Roteiro para Séries de TV.
R.T.: O curso pretende ser um laboratório de uma sala de escritores. No entanto, é preciso ter claro que a criação sem um sólido repertório teórico e analítico – de dramaturgia, de narrativa, de estrutura, personagem, técnica e tudo o mais – não consegue ir muito longe. Por isso, os momentos de criação de um projeto de série serão acompanhados por aulas expositivas.