Nova retomada do Cinema Brasileiro – Investimentos no Setor Audiovisual
O panorama do cinema brasileiro, com sua riqueza cultural e narrativas únicas, desempenha um papel crucial na representação da complexidade e diversidade da sociedade brasileira. Isso tem se destacado nos últimos anos, impulsionado pelo crescimento das plataformas de streaming e pela crescente demanda por conteúdo local e global. Neste contexto, o Brasil tem se destacado como um mercado em ascensão, atraindo investimentos significativos de gigantes do setor, bem como de órgãos governamentais e regulatórios.
Novos Investimentos
A Agência Nacional do Cinema (Ancine) e o Ministério da Cultura (MinC) historicamente desempenharam papéis fundamentais no apoio ao audiovisual brasileiro. Em setembro de 2023, foi anunciado um investimento de R$ 2,4 bilhões no setor audiovisual, provenientes do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e das Leis de Incentivo. Esse aporte financeiro abrange não apenas a produção de filmes, séries e programas de televisão, mas também a preservação de salas de cinema em todo o país.
Além disso, o investimento engloba a viabilização de mais de 250 projetos cinematográficos por meio de Chamadas Públicas. Há também um edital de R$ 90 milhões destinado ao vídeo on demand (VOD), previsto para lançamento em maio, e aproximadamente R$ 20 milhões destinados a parcerias e acordos internacionais para a internacionalização de conteúdo.
O setor audiovisual brasileiro também recebeu apoio adicional para pequenos exibidores, com um montante total de R$ 6 milhões, visando a manutenção e o funcionamento de salas de cinema, especialmente em pequenas cidades, em um momento chave de retomada do público. O investimento também inclui financiamento para novos estúdios, infraestrutura técnica e salas de cinema.
Somado a isso, a agência está trabalhando na regulamentação para ampliar a presença do conteúdo brasileiro independente na TV e nas plataformas de streaming. O órgão planeja renovar a “Cota de Tela” e regulamentar a prestação de informações por parte dos agentes econômicos do segmento de vídeo sob demanda.
Investimentos para produções internacionais feitas em São Paulo
Uma iniciativa apoiada pela Prefeitura de São Paulo, respaldada pelo governo estadual, oferece incentivos financeiros a produções internacionais realizadas na cidade, representando um marco importante na consolidação da indústria audiovisual. Esse “cash rebate”, prática comum em muitos países, amplia a capacidade das produtoras locais. Com investimentos substanciais por meio da Lei Paulo Gustavo e do FSA, o audiovisual brasileiro está em uma posição única para que no futuro possa competir globalmente, ombro a ombro com potências como os EUA, Espanha e Coreia do Sul.
Gigantes do Streaming
Por outro lado, a entrada de gigantes do streaming, como Netflix, Amazon Prime Video e Disney+, transformou a maneira como o conteúdo brasileiro é criado e consumido. Essas plataformas não apenas investiram em produções locais, mas também abriram as portas para que o conteúdo brasileiro seja apreciado globalmente. Séries e filmes nacionais, que antes tinham uma audiência restrita, agora alcançam espectadores em todo o mundo, incentivando os criadores a desenvolver narrativas que são ao mesmo tempo enraizadas na cultura brasileira e tenham apelo com o público estrangeiro.
A Netflix, uma das maiores plataformas de streaming do mundo, tem sido de muita relevância no desenvolvimento do mercado audiovisual brasileiro, apesar dos desafios enfrentados pela indústria de streaming nos últimos ano. Em setembro de 2023, a empresa anunciou um investimento de R$ 1 bilhão para o período de 2023 a 2024, com foco especial na produção de novelas e séries brasileiras, reconhecendo o potencial desses conteúdos no cenário global.
A vice-presidente de conteúdo da Netflix Brasil, Elizabetta Zenatti, destacou o compromisso da empresa em fornecer entretenimento de alta qualidade, com uma ampla variedade de produções que abrangem desde séries e filmes até documentários e reality shows. Um exemplo será o lançamento de uma minissérie sobre a vida de Ayrton Senna, que promete ser a produção mais cara já realizada pela empresa no Brasil. Essa estratégia busca não apenas atrair novos assinantes, mas também elevar o padrão de qualidade das produções audiovisuais no país.
A importância da Regulamentação
A regulamentação das plataformas de streaming é um tópico de discussão importante. Tanto a Ancine quanto o Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual (Sivac) enfatizam a necessidade de regulamentar o setor, principalmente para garantir a presença de conteúdo brasileiro independente nas plataformas. Isso é fundamental para promover a diversidade cultural e proteger os direitos autorais no país. A regulação também pode influenciar a participação das produções nacionais nas plataformas, abrindo espaço para conteúdo local em um mercado muitas vezes dominado por produções estrangeiras. A discussão sobre a regulamentação envolve questões econômicas, culturais e políticas, buscando encontrar um equilíbrio que beneficie criadores de conteúdo e espectadores.
Valor do Audiovisual Brasileiro para além das cifras
Que o valor do audiovisual transcende as telas, impactando positivamente a economia com um menor impacto ambiental em comparação com outros setores, já se sabe. Cerca de 67% dos investimentos em produção cinematográfica beneficiam setores como hotelaria, alimentação e serviços jurídicos, evidenciando a interconexão da economia.
A economia cultural brasileira é tão significativa que supera até mesmo a contribuição da indústria automobilística para o PIB, classificando o audiovisual como o quinto setor mais relevante em termos econômicos, ultrapassando áreas como farmacêutica e têxtil. É essencial continuar desenvolvendo talentos, melhorando a infraestrutura e facilitando o acesso a linhas de crédito para promover um crescimento sustentável da indústria audiovisual brasileira.
Em entrevista à plataforma Tela Viva, o produtor Fabiano Gullane diz acreditar que o Brasil está pronto para enfrentar desafios de maior escala e ingressar em orçamentos mais robustos, por meio da colaboração entre produtoras independentes e grandes plataformas de streaming. Ele enfatiza a importância de um segundo ciclo de políticas audiovisuais que aumentem os orçamentos, promovam parcerias e estabeleçam regras para as grandes plataformas internacionais.
Com esse apoio sólido, a indústria audiovisual brasileira tem um futuro promissor pela frente, reafirmando seu papel fundamental da cultura e economia do país. A dedicação e resiliência da comunidade de produção brasileira são os verdadeiros motores desse movimento, pronta para contar histórias que ressoam globalmente e refletem a essência do Brasil.
Texto: Leandro Reis.
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