Academia Internacional de Cinema (AIC)

A atriz Isadora Ferrite dá dicas de como se tornar um bom ator

Novela Deus Salve o Rei
Como ser um bom ator? É possível aprender, treinar ou desenvolver esse talento? Isadora Ferrite, a Brumela de “Deus Salve o Rei” e professora da Academia Internacional de Cinema (AIC) do Rio de Janeiro, conta um pouco sobre seu processo de preparação para a novela e dá dicas para quem quer seguir carreira de ator na TV e no Cinema

 

“Não existe critério pré-definido. De onde menos se espera pode vir um grande talento”, afirma Isadora. De acordo com a atriz, não depende da cultura, da classe social ou de quantos anos a pessoa tem, mas sim de sua capacidade individual e dedicação para estudar e se aprimorar.

Filha de dois atores, a carioca Isadora Ferrite passou a infância em camarins de teatros, vendo as peças de seus pais. “Lembro de falar: eu quero estar lá no palco, quero fazer isso”, conta. Para ela, o amor pelas artes cênicas foi algo que marcou sua vida desde muito cedo, mas a atriz acredita que não há idade para começar.

“Não existe critério pré-definido. De onde menos se espera pode vir um grande talento”, afirma Isadora. De acordo com a atriz, não depende da cultura, da classe social ou de quantos anos a pessoa tem, mas sim de sua capacidade individual e dedicação para estudar e se aprimorar, desenvolvendo essas habilidades. “Qualquer um pode ser um bom ator. De onde menos se espera, pode surgir um grande talento.”

Novela Deus Salve o Rei

O papel na novela global surgiu para Isadora depois de um longo período de experiências no teatro. Aos 12 anos, ela iniciou seus estudos no tablado, partindo então para o curso técnico da CAL, no Rio de Janeiro. Após participar de vários grupos de teatro em São Paulo, a atriz acabou retornando à sua terra natal para fazer faculdade e completar os estudos.

“Eu sempre fui muito apaixonada por teatro e nunca pensei que faria televisão”, diz. A oportunidade surgiu durante o showcase do material gravado para sua conclusão do curso de graduação. Alguns produtores da TV Globo assistiram à prova de câmera de Isadora e o coordenador de produção de elenco André Reis identificou na atriz o perfil ideal para Brumela.

Sobre a personagem, Isadora ressalta que é uma mulher muito firme, de pulso e autoridade, mas que ao mesmo tempo tem uma dose de humor. “Eu me identifico com essas características, porque ela é uma mulher dura e forte, mas também tem um lado divertido, que será mais explorado no decorrer dos capítulos.”

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Preparação e improvisação

Para entrar no papel, Isadora participou de um processo de preparação de um mês na Rede Globo. “Eu e os atores do elenco pudemos exercitar tudo sobre os personagens: a forma de caminhar, de falar, de se movimentar… Tivemos espaço para experimentações físicas e para desenvolver um entrosamento uns com os outros”, comenta a atriz, que também assistiu a diversos filmes e séries relacionados ao período medieval, época em que se passa a história de Deus Salve o Rei, além de pesquisar conteúdos e referências relacionados à função de Brumela – chefe de cozinha.

Isadora conta que, mesmo fazendo o papel de uma chef, ela não tem grandes habilidades culinárias. Por isso mesmo, a preparação para a novela incluiu aulas com as cozinheiras do programa Mais Você. “Elas me ensinaram vários truques, coisas que complementam as cenas. A ação ajuda muito a dar vida para o personagem, então até consigo enganar que estou cozinhando… Mas daí a fazer um prato e ficar gostoso, é outra história”, brinca.

As improvisações com os colegas de elenco também foram essenciais para o desenvolvimento de Brumela. “Lembro de um improviso que fiz com Rosa Maria Murtinho, uma vivência profundamente marcante. Ela me disse coisas que ficaram registradas na minha mente e que vou carregar até o final da novela, coisas que me ajudaram a preencher a personagem”, explica. Para Isadora, a troca com outros atores é algo que enriquece muito o processo de criação.

A atriz se recorda de um momento específico que compartilhou com Rosa Maria, a consagrada atriz que fez o papel da rainha – cujo personagem morre logo nos primeiros capítulos. “Eu disse para ela: ‘Fica tranquila, que eu vou cuidar dos meninos (seus dois netos, os herdeiros do trono).’ Ela ficou extremamente emocionada e me respondeu: ‘Minha querida, eu confio em você.’ Isso me ajudou a compreender minha função na novela e se tornou algo como um legado da Brumela, para mim. Ela é a funcionária mais antiga do castelo, a chefe da cozinha, e essa improvisação me ajudou a acreditar na fidelidade incondicional dessa mulher ao reino.”

“Eu e os atores do elenco pudemos exercitar tudo sobre os personagens: a forma de caminhar, de falar, de se movimentar… Tivemos espaço para experimentações físicas e para desenvolver um entrosamento uns com os outros”, comenta a atriz.

A arte de relaxar

“Outra coisa que me chamou a atenção foi uma cena com Johnny Massaro”, acrescenta a atriz. “Ele é maravilhoso, um dos melhores atores de sua geração. Mesmo sendo muito jovem, já tem uma experiência incrível na TV.”

Isadora, que estuda as cenas profundamente antes de gravar, “para que saia de primeira”, estava preocupada em não errar o texto e fazer tudo corretamente. Foi quando ela reparou em Johnny, sentado e tranquilo, esperando a equipe marcar a luz e simplesmente ouvindo Gal Costa no celular. “Eu estava lá concentradíssima e ele ouvindo Gal”, diverte-se ela.

Para a atriz, essa leveza e desprendimento são algumas das melhores características de um ator. “É preciso estar descontraído, permitir-se brincar. A gente precisa se esforçar para voltar a ter a fé cênica de uma criança: se alguém destrói seu castelo de areia, ela abre um berreiro, porque acredita piamente naquilo. O ator também é assim”, explica. O simples fato de ver Johnny Massaro usando a música para entrar no personagem foi uma verdadeira lição para Isadora. “Aquilo me fez lembrar que o trabalho não precisa ser uma coisa pesada, séria.”

Como ser um bom ator –  Cinco dicas de Isadora Ferrite

Isadora acredita que, além de muito esforço e dedicação, aqueles que desejam se tornar atores devem levar em consideração algumas dicas.

“O ser humano é a maior inspiração. Atuar é prestar atenção no mundo ao seu redor”, diz Isadora.
  1. Seriedade no estudo, leveza em cena: “O ator tem dois lados que parecem opostos, mas que se complementam. O primeiro é a necessidade de estudar muito, de se preparar e buscar todas as referências possíveis para compor um papel e realmente mergulhar nele. O segundo é o contrário disso, ou seja, a capacidade de manter o frescor na vida, de ver com um olhar leve tudo aquilo que ele vivencia.”
  2. Desprender-se de si mesmo: “Você não pode ser um obstáculo para seu personagem. Cada um de nós carrega características muito fortes – sotaque, personalidade, bloqueios emocionais etc. Muitos atores fazem terapia, para que isso não seja um problema. A personalidade do ator não pode interferir no personagem; deve existir esse desprendimento, esse controle. É preciso treinar constantemente a voz, o corpo, a respiração, para servir ao papel e não virar um ator de um personagem só.”
  3. Entender a linguagem de cada veículo: “Existe uma enorme diferença entre a linguagem cinematográfica, a televisiva e a teatral. Isso interfere diretamente na maneira como ator realiza seu trabalho. No teatro, você comunica tudo o tempo inteiro. Na televisão e no cinema, há uma série de outros fatores que comunicam. Somente quando você entende as sutilezas de cada veículo é possível dosar sua interpretação.”
  4. Conhecer o roteiro e seu personagem: “É muito importante saber ler o roteiro e entender a função de seu personagem dentro da cena. Além disso, é necessário conhecer a curva do personagem: em uma peça de teatro, a curva inteira é dada em pouco mais de uma hora; em uma novela, são cerca de 150 capítulos, por isso a história vai se desenvolvendo de maneira muito mais demorada. Na televisão, é preciso controlar essa ansiedade de querer resolver tudo em pouco tempo, porque as coisas acontecem mais lentamente.”
  5. Nunca parar de aprender: “Recentemente, na faculdade, eu convivi com muitos atores jovens, e a dica que daria para eles é que nunca parem. Todos os dias é preciso fazer algum movimento pelo seu trabalho: mandar fotos, currículos, fazer novos contatos, ver filmes e peças de teatro, aumentar suas referências de leitura e se informar o máximo possível. Esse olhar observador de estudante, aprendendo com o trabalho dos outros, é algo que o ator nunca deve perder. A inércia, nessa profissão, é como uma doença degenerativa. Não desista! Mas também não adianta ler livros e críticas, frequentar cursos, se você não olhar para o porteiro de seu prédio. O ser humano é a maior inspiração. Atuar é prestar atenção no mundo ao seu redor. Finalmente, não adiante esperar que tudo aconteça de imediato. É preciso ter paciência, porque a carreira de ator é uma jornada longa e muitas vezes difícil.”

Amor pelo trabalho

Isadora é uma pessoa que se considera privilegiada por fazer algo que ama. Embora a personagem Brumela não seja uma das protagonistas da novela, ela conta que, se pudesse, gravaria todos os dias, porque adora o ritmo do set de filmagem. “Eu me sinto mais viva quando estou trabalhando. Às vezes é cansativo, mas é um cansaço com muito brilho nos olhos”, completa.

A atriz afirma que teve a sorte, em seu trabalho em Deus Salve o Rei, de contar com uma equipe de diretores extremamente amáveis e competentes, capazes de deixar os atores à vontade para darem o melhor de si. “Algumas vezes podemos até assistir às cenas que acabamos de gravar, se o dia está tranquilo. Mas não me sinto insegura, justamente por eles serem assim: quando falam que está bom, eu confio.”

De acordo com Isadora, é muito simples identificar quando um ator está fazendo a coisa certa: “O bom profissional é aquele que te leva junto, que faz você embarcar na cena. Já o mau ator é o que te tira da brincadeira, que racionaliza demais e acaba trazendo – tanto o espectador quanto seus colegas de cena – de volta para a realidade. É um deleite quando um ator é muito bom nesse jogo de fazer acreditar, porque isso eleva o trabalho de todo mundo.”

De olho no futuro

“O bom profissional é aquele que te leva junto, que faz você embarcar na cena. Já o mau ator é o que te tira da brincadeira, que racionaliza demais e acaba trazendo – tanto o espectador quanto seus colegas de cena – de volta para a realidade. É um deleite quando um ator é muito bom nesse jogo de fazer acreditar, porque isso eleva o trabalho de todo mundo.”

Atualmente, Isadora Ferrite está filmando um documentário de longa-metragem sobre Glorinha Beuttenmüller, fonoaudióloga e escritora brasileira considerada a moderadora da fala do jornalismo brasileiro. Esse projeto marca seu primeiro trabalho como diretora de um filme.

Além disso, a atriz colaborou na formatação do pioneiro Curso Técnico em Atuação para Cinema e TV, da Academia Internacional de Cinema (AIC). “Neste momento, não poderei dar aulas, por conta da novela, mas o curso que elaboramos é ideal para preparar profissionalmente um ator de cinema. Os alunos irão aprender sobre a linguagem cinematográfica, sobre como a edição e o roteiro influenciam o trabalho do ator, para que saibam atuar dentro disso”, descreve.

Isadora completa que o curso abrange ainda aulas de corpo e voz, para que os alunos aprendam a expressar fisicamente as emoções, e também de fotografia, para que possam entender o posicionamento da câmera e seus enquadramentos. “Passamos meses discutindo e preparando uma grade de matérias que consideramos importante para que o ator saia bem preparado. É um curso que eu mesma gostaria de fazer”, conclui, com a humildade característica de toda excelente atriz.

*Por Katia Kreutz – Fotos Divulgação 

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