Da mesma forma que o filme mistura força e delicadeza, Mascaro trouxe esses sentimentos à plateia. Por um lado, defendeu suas ideias e contou sobre a produção do longa com força e convicção. Por outro, mostrou uma grande humanização dos processos de trabalho e no carinho e serenidade como tratou toda a construção fílmica.
Começou falando sobre seu processo de pesquisa que durou seis anos e sobre a feitura do roteiro, dos diálogos e da preparação do elenco. “O roteiro pressupõe uma porosidade. É um filme poroso, com brechas, para que a vida transborde. Para que o filme carregue com ele as experiências dos personagens. A própria preparação do elenco foi muito rica. Tinham os bois, os cavalos e os animais também imprimiam uma forma de jogar os atores para fora de um lugar de controle. De repente um boi berrava, (risos) os personagens davam aquele respiro e a gente continuava. No cinema, geralmente, tiramos da cena tudo que é considerado perda de tempo. Minha ideia era fazer ao contrário, para mim essa ‘perda de tempo’ era a força corporal do filme. Boi Neon é um filme generoso com esses rituais orgânicos e banais do cotidiano”, contou para o público.
“O método de trabalho de boi neon começou com a convivência com os vaqueiros, queria construir e imprimir de fato essa relação de afeto. Além disso, o filme não tem cortes e pensamos muito em como lidar com essa estética de atuação, já que não contaríamos com as possíveis manipulações da montagem”, contou. Falou também sobre a questão da intimidade com os personagens já que não foram usados closes. “Quanto mais eu me afastava mais eu descobria esse lugar da intimidade. É um filme distante. Você quase não tem close, mostramos os atores no todo, é uma relação muito paradoxal o de perceber um lugar e de construir uma realidade de intimidade no distanciamento. A ideia era um pouco a recusa da emoção. O filme não aponta para a psicodramaturgia dos personagens. Ninguém se transforma”, contou.
Mascaro revelou que a tudo começou com a ideia de fazer um filme sobre fazendeiros e cavalos, sobre a aristocracia dos fazendeiros. Mas dentro desse tema não achou um lugar de afeto onde pudesse se encontrar. Até que, durante sua pesquisa, conheceu um vaqueiro que trabalhava também com costura. Foi com a energia desse personagem real, pensando nas contradições universais que habitam o mesmo lugar e as ambiguidades do próprio corpo, que nasceu toda a ideia do filme.
Por fim, o diretor aconselhou os estudantes: “O mais importante é você ser honesto consigo mesmo, com as suas ideias. Não se preocupar muito com essa lógica de carreira e deixar as coisas virem”.
*Fotos Raissa Nosrallaa