Nesse artigo você vai aprender não só o que faz um videomaker e o que o difere do filmmaker, mas também algumas possíveis áreas de atuação, remuneração e dicas para realizar um bom trabalho.
O surgimento da televisão e o avanço das tecnologias digitais, há algumas décadas, colocaram em pauta novos formatos de criação audiovisual. Embora tenha sido desenvolvido depois do cinema, o vídeo se popularizou de tal maneira que, hoje em dia, é quase impossível encontrar uma pessoa que não tenha sua própria câmera no bolso, na forma de um celular. Até mesmo o cinema, que desde seus primórdios privilegiou as filmagens em película, tem abraçado, cada vez mais, a captação, a edição e a finalização de imagens em formatos digitais.
Dessa premissa surge o videomaker, um profissional recente dentro da cadeia de produção audiovisual. Ele surge quase como um contraponto a estrutura do filmmaker, que tem uma dinâmica totalmente diferente de produção. Justamente por isso, antes de entender o videomaker, vale a pena aprender qual a função de um filmmaker.
Antes de qualquer coisa, o que faz um Filmmaker?
Esse é o trabalho do cineasta propriamente dito. É aquela pessoa que, literalmente, faz filmes. Ou seja, o profissional que faz cinema em sua forma mais tradicional: curtas, médias ou longas-metragens de ficção ou documentário; histórias com narrativas mais convencionais, semelhantes às que se encontram na grande indústria cinematográfica.
O filmmaker não faz seu trabalho sozinho. Em geral, ele tem o papel de diretor do filme e cumpre sua parte dentro de uma equipe de filmagem que inclui (pelo menos) um produtor, um roteirista, um diretor de fotografia, um diretor de arte, um editor e uma pessoa responsável pelo som, além dos atores.
Atualmente, no mercado brasileiro, é muito raro encontrar profissionais que trabalham apenas com filmes para o cinema, sejam eles curtas ou longas. Como as possibilidades de atuação no audiovisual são praticamente infinitas, muitos filmmakers acabam trabalhando também com televisão (séries, novelas, jornalismo), publicidade (comerciais, filmes institucionais) ou mesmo internet (vídeos para YouTube, videoarte, etc.) Aqui, chegamos ao trabalho desse tal videomaker.
E o videomaker?
O principal diferencial de um videomaker, com relação ao filmmaker, está no fato de que ele é responsável por diversos processos de produção e criação de um vídeo. Muitas vezes, o profissional realiza sozinho o trabalho todo, desde sua concepção até a finalização no computador.
A profissão é relativamente recente e começou a ganhar adeptos na década de 1990, com a popularização dos equipamentos de captação digital, que substituíram a película pelo vídeo. Isso barateou e, de certo modo, democratizou a forma de fazer filmes. Outro fato importante foi o sucesso dos videoclipes, mais ou menos na mesma época, que trouxeram novas visões e possibilidades a serem exploradas visualmente.
O videomaker, normalmente, não possui um roteiro e precisa lidar o tempo todo com imprevistos. Por isso, a organização é fundamental, já que a estrutura de produção é bem mais enxuta. Embora seja comum que trabalhe sozinho, ele também pode atuar em equipe – tudo depende do cliente que contrata seus serviços ou do projeto em questão.
Algumas possibilidades de atuação:
Em um mercado tão efervescente, são muitas as oportunidades de trabalho para um videomaker. Vamos dar uma olhada nas principais áreas de atuação e quais são suas vantagens, desvantagens e necessidades em uma época em que o vídeo é a base de tudo.
Videoarte
Esse é um dos tipos de vídeos que podem ser produzidos por um videomaker. Talvez seja a categoria menos recompensadora financeiramente, entre as possibilidades do audiovisual, já que não tem tanto apelo comercial quanto outros tipos de vídeo. No entanto, é uma ferramenta extraordinária para expressar sua arte e fazer experimentações.
Videoarte é uma forma artística que usa a tecnologia como meio para transmitir uma ideia ou sensação, dentro de um conceito de “cinema expandido”. Vídeos podem ser usados como parte de instalações em galerias, por exemplo, ou projetados junto com performances de artistas ao vivo.
Uma das diferenças entre videoarte e cinema tradicional está no fato de que o primeiro não precisa necessariamente se pautar nas convenções que definem os filmes “normais”. Pode ser que o vídeo não tenha atores, ou diálogos, nem mesmo uma narrativa ou história muito bem definida. Essa liberdade dá espaço para criações vanguardistas e inovadoras.
O ex-aluno da Academia Internacional de Cinema (AIC) Rodrigo Bok é um dos exemplos de videomaker que seguiu uma linha voltada à videoarte. “As coisas que eu faço costumam ser mais espontâneas. Minha produtora é bem informal, faço experimentações e expressões pessoais, tentando retratar coisas reais. Por isso, é importante ficar muito atento ao que está ao meu redor, para não perder os momentos”, conta.
De acordo com Rodrigo, quando se trabalha como videomaker, o ideal é tentar fazer o máximo possível do processo sozinho, o que barateia os custos. “Em geral, eu tenho uma ordem, um roteiro na cabeça, ou pelo menos um sentido que quero passar, então elaboro os planos e as coisas que desejo transmitir imageticamente. Isso veio de um processo de autoconhecimento da juventude, para me expressar através de uma câmera, mesclando sentimentos e sensações em imagens, pensando em enquadramentos e em planos”, explica.
Rodrigo acredita que o trabalho como videomaker ajudou a formá-lo como diretor. “O que mais me realiza dentro disso é ver minha própria evolução, na formação como cineasta. A função de videomaker é algo que brota da necessidade, uma forma de fazer dinheiro e ganhar experiência quando você ainda está se formando nesse meio, mas minha grande realização é olhar para meus trabalhos e ver uma melhora na linguagem, na fotografia, nos enquadramentos, nos ângulos e movimentos de câmera, na criação de uma narrativa coesa.”
Vídeos institucionais e YouTube
Mercado que tem crescido no país, a produção de vídeos institucionais pode ser uma ótima forma de garantir o sustento de uma pequena produtora. As oportunidades existem em várias áreas diferentes, desde filmes apresentando uma empresa ou organização, contando um pouco de sua história, até aqueles que se utilizam de um formato de entrevistas, com uma veia quase documental.
Os vídeos com foco em treinamento e aulas online são outro segmento que tem sido muito explorado por quem trabalha com projetos institucionais. Esse tipo de material é uma forma dinâmica e moderna de as empresas dialogarem com seus clientes ou colaboradores.
O único cuidado, para quem pretende seguir por esse caminho, é ter jogo de cintura para lidar com o contratante e tentar estabelecer o máximo de diálogo. Assim, o videomaker pode expor suas ideias e sugerir soluções visuais criativas, ao mesmo tempo em que atende às demandas da instituição.
O contato para esses trabalhos costuma acontecer de maneira informal, por meio de indicações. Ter um bom site na internet, ou páginas criativas nas redes sociais, é sempre bacana para mostrar seu portfólio, já que as pessoas podem acessar e facilmente ver seu trabalho.
O YouTube tem sido outra possibilidade de trabalho muito lucrativa para os videomakers. Com a popularidade da plataforma, muitos YouTubers de sucesso chegam a montar empresas e contratar equipes inteiras para produzir seus vídeos. O segredo, para esse tipo de vídeo, é optar por uma linguagem dinâmica e divertida, com inserções de animação que valorizem o conteúdo.
Aproveita para conferir quais são os canais de ex-alunos da AIC que vem se destacando no YouTube.
Vídeos de eventos
Um segmento que também vem crescendo muito é o de eventos. Aqui, entram os vídeos de festas de aniversário e de formatura, casamentos, partos, batizados, ou mesmo acontecimentos de maior porte – como congressos ou feiras.
A ex-aluna da AIC Bia Takata é videomaker de parto humanizado e conta que entrou nessa área fotografando o nascimento do filho de uma amiga. “Naquele momento, nasceu uma família e eu nasci fotógrafa de partos. Saí de lá com a certeza de que queria muito mostrar para o mundo uma forma respeitosa de nascer”, lembra. A paixão por esse tipo de registro foi aumentando e Bia passou a trabalhar com vídeo, para explorar melhor o aspecto narrativo dos partos.
Para Bia, o contato com outros profissionais que já atuavam no audiovisual e com os professores da AIC trouxe uma vivência prática importante sobre o mercado e suas possibilidades de atuação, as dificuldades que enfrentaria e as soluções. “Colocar a mão na massa, pensar e planejar a luz me proporcionou agilidade e capacidade de inovar na minha área. Aprendi a usar criativamente e de forma sensível o que é possível no momento do parto”, comenta.
No caso de Bia, os trabalhos também acontecem por meio de indicações, tanto das famílias que já foram acompanhadas por ela quanto das equipes que atendem aos partos humanizados. Em geral, um primeiro contato se dá por e-mail, seguido de conversas via WhatsApp e uma “reunião pré-parto”, presencial, para criar um vínculo antes do grande acontecimento. “É uma rotina que requer disciplina e organização, equipamentos sempre prontos, disponibilidade e doação.”
Seja qual for o evento que o videomaker estiver cobrindo, formação e conhecimento são as bases para atuar com profissionalismo e assertividade. Uma vez que o mercado no qual você pretende atuar é escolhido, é preciso ter foco e planejamento para executar um bom serviço, respeitando o aspecto humano do material.
O maior desafio é lidar com o desconhecido, com o imprevisto, com as longas jornadas e a renúncia de alguns compromissos para estar presente nos eventos de outras pessoas. Como a área ainda não tem condutas profissionais muito claras, algumas vezes é preciso também “educar” o cliente e justificar a forma de atuação, o orçamento e o que ele contempla.
No entanto, esse também pode ser um segmento extremamente recompensador financeiramente. Existem empresas que realizam a cobertura de casamentos com orçamentos milionários e estruturas de verdadeiros sets de filmagem, com equipamentos e maquinários sofisticados que vão desde gruas até travelling, incluindo ilhas de edição em tempo real, no próprio local da festa.
O desafio é acompanhar a velocidade do evento, sem perder nada do que está acontecendo à sua volta, mas respeitando as pessoas e o momento vivido por elas. A atenção e a concentração são fundamentais, assim como a empatia para lidar com o público, em ocasiões que são únicas e que envolvem uma carga emocional muito intensa.
Videoclipes
Muita gente entra em contato com o universo dos videomakers pela música, seja na filmagem de uma performance de amigos, em sessões ao vivo ou mesmo em videoclipes amadores.
Bianca Medeiros, aluna do FilmWorks – o curso de formação em cinema da AIC, entrou nessa área através da indicação de conhecidos. “O convite para dirigir o clipe de uma dupla sertaneja, recentemente, acabou surgindo porque já tínhamos feito um trabalho com eles. Foi um vídeo simples, de uma apresentação em um casamento. Eles gostaram tanto que nos procuraram depois para a gravação da música nova”, conta.
Como Bianca também trabalha com edição de vídeo em televisão, foi difícil para ela abrir mão dessa área, na pós-produção dos vídeos. “Eu costumava ficar também com essa função. Mas, por conta da correria do dia a dia, aprendi a desapegar disso. Cheguei a atrasar o prazo de entrega, foi um desgaste muito grande tentar conciliar tudo. Agora, dependendo do trabalho, passo para uma amiga editora fazer.”
Segundo Bianca, é essencial estar preparado para as mais diversas situações, já que, na vida do videomaker, a rotina vai depender do tipo de trabalho que ele está realizando. “No clipe, tivemos dois meses de pré-produção. Reuniões para entender o que a dupla queria, levar propostas, referências, fechar orçamento, roteiro, plano de filmagem e tudo mais. O dia de gravação fluiu super bem, pois a equipe estava preparada. Os encontros e planejamento fizeram toda a diferença. Alguns trabalhos não têm esse tempo, aí ficamos na tentativa de erro e acerto, muitas vezes sem poder errar, mas acaba acontecendo. O importante é que a gente aprende.”
Em geral, Bianca não trabalha sozinha e tenta formar equipes majoritariamente femininas. A videomaker relata também que já conseguiu aplicar muitas coisas aprendidas na escola de cinema em seus trabalhos. A experiência prática, nesse caso, realmente conta muito. “Eu recomendo simplesmente fazer. Convidar amigos interessados, e colocar a mão na massa. Não só por uma questão de portfólio, mas para ter oportunidades de criação e maior liberdade para errar e, consequentemente, aprender”, afirma.
No caso de performances musicais ao vivo, Bianca alerta que normalmente o videomaker chega no local e encontra o enquadramento na hora, passeando e testando enquanto as coisas acontecem. Existem empresas que passam roteiro de como querem que o vídeo seja feito, outras deixam mais aberto, mas depende muito do contratante.
Quanto ganha um videomaker?
O fluxo de trabalho de um profissional que faz vídeos depende muito do tipo de trabalho que ele escolhe realizar. Por isso, o pagamento também depende do serviço executado e do cliente.
No caso de eventos como partos e festas menores, o valor médio cobrado por vídeo fica entre R$ 2 mil e R$ 4 mil. No entanto, há empresas grandes que fazem coberturas de eventos badalados que chegam a ser orçados em até R$ 70 mil. Vídeos institucionais podem custar, ao cliente, de R$ 1 mil a R$ 10 mil. Já o valor de um videoclipe geralmente parte de cerca de R$ 2 mil, mas pode atingir o budget de uma superprodução, conforme a estrutura solicitada pelo contratante e a complexidade do projeto.
Quanto aos vídeos para YouTube, o valor também varia muito, de acordo com o tamanho do canal. Muitos YouTubers mais populares possuem equipes e contratam profissionais fixos para produzirem seus vídeos. Nesse caso, o salário médio de um videomaker pleno fica em torno de R$ 5 mil por mês.
Há quem já tenha feito vídeos de graça, apenas para ganhar portfólio, ou por permuta, e o maior erro na profissão é fazer um orçamento errado. Como cada trabalho tem condições diferentes do outro, é preciso saber precificar. Nesse momento, leve sempre em consideração os custos que você terá com o equipamento, o deslocamento, a edição e os profissionais necessários para a realização do serviço.
Equipe básica
Quando tem a possibilidade de trabalhar com uma equipe, o ideal é que o videomaker possa contar com o auxílio dos seguintes profissionais:
- Câmera: Independentemente do tipo de vídeo, sempre será necessário alguém para operar a câmera, que conheça minimamente o equipamento e seja capaz de captar boas imagens.
- Som: Um profissional de captação de som faz a diferença para transformar um vídeo de aspecto amador em profissional. Pode parecer um detalhe, o som é metade do processo no audiovisual.
- Edição: Ser ou ter um bom editor é fundamental para garantir um vídeo interessante, dinâmico e que tenha o ritmo desejado. Nesse caso, é necessário que a pessoa conheça um dos programas de edição disponíveis no mercado (como Adobe Premiere ou Final Cut).
- Produtor: Sempre é bom poder contar com alguém que conheça a fundo os processos de produção e possa auxiliar o videomaker em todas as fases, resolvendo problemas que surgirem e oferecendo soluções práticas para manter tudo dentro do que foi planejado – principalmente com relação ao orçamento e ao cronograma do projeto.
Passo a passo de um vídeo
- Coloque sua ideia no papel, mesmo que não seja em forma de roteiro. Inclua tudo o que você imagina que o filme vai precisar, inclusive uma descrição das imagens e sons que irá captar.
- Se for necessário realizar alguma produção, ou se for gravar em local que precise de autorização, providencie tudo com antecedência. É importante conhecer o lugar e estar familiarizado com o objeto do vídeo.
- Pegue uma câmera e grave todas as imagens/sons que você anotou para o vídeo. Se puder contar com ajuda, organize seus companheiros em diferentes funções, para facilitar o serviço. Por exemplo, um faz a câmera e o outro o som.
- Baixe as imagens em um computador ou HD externo e utilize um programa de edição para montar seu vídeo, de acordo com o que havia planejado.
- Exporte o vídeo e envie para seu cliente, ou compartilhe na plataforma online de sua preferência.
Dicas para ser um bom videomaker
Mesmo se o seu interesse for o cinema mais convencional, ter alguma experiência como videomaker é uma excelente maneira de agregar ferramentas de trabalho. Você pode aprender, fazendo vídeos, desde noções básicas de câmera e de edição até a flexibilidade necessária para lidar com imprevistos em um set de filmagem.
Se optar pela produção solo, tenha sempre em mãos uma boa rede de contatos, para eventualidades. Afinal, nunca se sabe quando vai precisar de um operador de câmera extra, de um profissional de som ou de um montador que entenda de motion design, por exemplo. No vídeo, assim como no cinema, um bom networking pode levar muito longe.
Nesse contexto, fazer um curso de cinema também é uma dica essencial. Independentemente de qual for sua escolha do conteúdo a ser estudado (direção, direção de fotografia, direção de arte, som ou edição), aprender com pessoas que já estão no meio audiovisual é uma das melhores formas de estabelecer bons contatos e crescer profissionalmente. Além disso, quanto mais prático for o curso, mais preparado você vai estar para atender às necessidades de seus clientes.
Outra atitude que ganha muitos pontos é ser inovador e buscar sempre modos interessantes de apresentar seu trabalho. Um bom portfólio certamente ajuda, mas todo mundo precisa começar do zero em algum momento. Nesse caso, tenha em mãos uma quantidade enorme de referências para fundamentar seu vídeo. Afinal, para um videomaker, qualquer coisa pode servir de inspiração, já que ele literalmente trabalha apenas com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça.
*Texto e pesquisa: Katia Kreutz | Foto destaque: Alexandre Borges
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