Se você se cansou das produções comerciais de Hollywood, que tal assistir a um filme independente? São produções com pouco ou, até mesmo, nenhum envolvimento de grandes estúdios de cinema. Além disso, geralmente, os atores e cineastas são conhecidos, facilitando a distribuição por subsidiárias de estúdios populares.
Esses filmes também têm outras características que diferem das grandes produções, seja pelo conteúdo ou documentários, seja pelo estilo do cineasta. Inclusive, alguns são bem conhecidos e trazem enredos e atuações fantásticas. Neste post, existem 9 produções independentes para você conhecer e se inspirar. Por isso, acompanhe para conferir!
1. Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)
Moonlight é um filme com muitas estreias no mundo cinematográfico. Além de ter sido o primeiro filme LGBT a ganhar o Oscar, também é a primeira produção que tem todo o elenco 100% negro.
O enredo é dividido em 3 etapas para contar as fases da vida de Chiron e os desafios que ele enfrenta para lidar com a pobreza e sua orientação sexual em uma época repleta de preconceito e discriminação. A década é a de 80, em uma cidade pobre de Miami e no auge do crack.
Chiron é um garoto da periferia que descobriu ser gay quando nem sabia o que significava isso. A mensagem do filme levanta questões importantes para lidar com aprovação social e inversão de valores. Por exemplo, enquanto a mãe é usuária de drogas, a pessoa que ele considera como pai é quem fornece para ela, criando um conflito interno na cabeça do personagem.
O filme foi dirigido pelo incrível Barry Jenkins, que também participou de Medicine for Melancholy. Traz uma fotografia impecável, com iluminação e enquadramento perfeitos. O foco na expressão dos personagens cria uma conexão forte com o espectador.
Agora, você sabia que o filme inteiro foi gravado em 25 dias? Inclusive, mesmo com esse prazo e orçamento curtos, Jenkins conseguiu manter sua proposta inicial de não deixar que os atores, de diferentes fases da vida de Chiron, se encontrassem nas gravações. A ideia era para cada um transmitir seu estilo ao personagem sem interferências. Ou seja, Moonlight brilhou!
2. Quem quer ser um milionário? (2008)
Como um garoto indiano e da favela conseguiu chegar no final de um jogo milionário? Essa é a indagação feita no começo do filme para apresentar a história de Jamal Malik, um rapaz de 18 anos que chega no gran finale de um programa milionário respondendo perguntas de conhecimentos gerais.
Conforme o personagem avança no jogo, as autoridades começam a questionar sua honestidade, afinal, nem os participantes com graduação de peso conseguiram chegar tão longe. Mas, aclamado pela mídia, Jamal luta para provar que o mérito vem das experiências que teve ao longo da vida, misturado com a pobreza e desigualdade social.
A produção independente é do cineasta Danny Boyle, que também dirigiu outros filmes conhecidos como Extermínio e Sunshine. De qualidade duvidosa, as cores saturadas e os enquadramentos trêmulos têm a proposta de transmitir a simplicidade da vida do personagem por meio de flashbacks.
É um filme que faz alusão à cultura pop enquanto mostra que a miséria e a falta de oportunidades não são indicativos na construção do caráter humano. Dany usou uma tradição literária inglesa para aplicar a uma narrativa de Bollywood, isto é, na indústria de cinema de língua hindi, criando um enredo original. Vale a pena conferir esse resultado.
3. 127 horas (2010)
Outro drama dirigido por Danny Boyle, 127 horas é uma produção britânica que conta a história real do alpinista Aron Ralston, que lutou por sua vida durante incansáveis 127 horas depois de um acidente nas montanhas de Utah, nos Estados Unidos.
Apesar de ser um filme baseado em fatos, o que pode torná-lo clichê, Danny conseguiu apresentar uma história que envolve o espectador do início ao fim. No começo, você vai conhecer o universo que envolve o protagonista — estrelado pelo ator James Franco, o Duende Verde do filme Spider Man —, até cair na fenda com ele, quando começam as cenas agonizantes.
Sabe aquele ditado: “tinha tudo para dar errado, mas deu certo”? Ele se encaixa perfeitamente nesse filme. Era para ser mais um clichê de superação em que um alpinista fica preso numa pedra e luta com todas as suas forças pela sobrevivência. Mas, se transformou numa história contagiante, com cenas que prendem o espectador do começo ao fim.
Aliás, a escolha de James como ator principal foi justamente devido à semelhança que ele traz com o Aron Ralston. Então, se você busca uma produção de cinema completa, com qualidade cinematográfica, enredo bem construído e mensagem forte, vai gostar desse filme independente.
4. Cães de aluguel (1993)
Reservoir Dogs ou “Cães de Aluguel”, é uma produção escrita e dirigida pelo talentoso Quentin Tarantino, quem inclusive, marcou sua estreia como roteirista. O filme narra a história de 6 criminosos que são “recrutados” por Joe Cabot, estrelado por Lawrence Tierney, para assaltar uma loja de joalherias com valor alto em diamantes.
A narrativa faz uma mistura de elementos clássicos com referências à cultura pop. Os personagens trazem diálogos do cotidiano, com piadas, palavrões e menções banais, criando uma história realista e natural. Por exemplo, tem uma cena em que um pergunta: “Não matou pessoas de verdade?”, enquanto o outro responde: “Não, só tiras”.
Na história, o espectador se envolve com os dois lados dos personagens, tanto o “ético e profissional”, que mostra a visão da delinquência pelas lentes dos criminosos, quanto o “justo e bondoso”, quando se revoltam com a morte de uma garota de 20 anos.
Nesse filme independente e incrível, Tarantino conduz a trama recheada de flashbacks, close no rosto dos personagens e movimentos da câmera que prendem a atenção do espectador. Também tem cenas violentas que mantêm a expectativa do que acontecerá nos próximos minutos. Foi esse realismo com tom dos anos 70 que tornou o filme um ícone da época.
5. Precisamos falar sobre o Kevin (2011)
Outro filme independente de sucesso, “Precisamos falar sobre Kevin” conta a história de uma mãe, vivida por Tilda Swinton, que precisa reconstruir a vida depois que o filho Kevin, estrelado por dois grandes atores, Jasper Newell e Ezra Miller, cometeu um massacre na escola quando era criança.
O enredo se divide em linhas temporárias, narrando cenas do passado e do presente para explicar como foi a criação familiar e o relacionamento entre a mãe e o filho. O filme deveria ser mais uma história para abordar drama e horror que eventos violentos causam, no entanto, a direção de Lynne Ramsay construiu uma mensagem diferenciada para focar na experiência dos personagens envolvidos.
Por exemplo, enquanto Kevin comete o massacre, a câmera foca na dor e desespero das pessoas presentes, inclusive, na frustração do próprio Kevin. Logo, contextualiza com as experiências vividas na infância.
É uma produção independente que foi adaptada do romance de Lionel Shriver, mergulhando em anseios de culpa e terror para criar vários questionamentos. A atriz Tilda Swinton está incrível no papel de Eva, mãe de Kevin, transmitindo com maestria as fases da vida pelo qual a personagem passa.
A produção tem um visual arrojado, com uma narrativa que fragmenta e arrebata o enredo todo o tempo. Se você busca qualidade e emoção, vai se surpreender com esse filme.
6. Shame (2011)
Estrelado pelo talentoso Michael Fassbender — do clássico Sherlock Holmes —, “Shame” conta a história de Brandon, um homem bem sucedido, mas que enfrenta frustrações em relacionamentos amorosos. Então, sua fuga está na prática sexual, tornando-se um amante incontrolável e viciado por sexo.
Talvez você possa pensar que o filme retrata a história de um Don Juan, mas, a grande sacada é como Brandon lida com isso de maneira incômoda. Ele se entrega às mulheres como se caminhasse rumo a um abatedouro. No entanto, esse escape é interrompido quando sua irmã Sissy chega para uma estadia súbita, interpretada por Carey Mulligan.
O filme foi dirigido por Steve McQueen e sua produção independente foge dos roteiros convencionais, porque aborda a maneira como o personagem se submete ao vício sexual. A estética é fria e a fotografia traz enquadramentos que transformam o espectador em um voyeur das experiências e conflitos de Brandon.
7. O Palhaço (2011)
Agora, vamos deixar as produções estrangeiras de lado e saudar o cinema brasileiro. Em “O Palhaço”, Selton Mello é o grande protagonista de toda a trama, porque, além de ser o ator principal, também escreveu, produziu e dirigiu o filme.
O enredo narra a vida de Benjamin e o pai Valdemar, estrelado pelo ator Paulo José. Juntos, eles formam uma dupla de palhaços Pangaré & Puro Sangue, atuando no Circo Esperança. A forma como o filme retrata o dia a dia dos integrantes do Circo faz com que o espectador se sinta íntimo de cada personagem, vivendo desde suas amarguras até suas alegrias.
É visível que ter participado da produção do início ao fim fez com que Selton Mello conseguisse transmitir os anseios e emoção do personagem. No entanto, não era essa a ideia inicial. Ele chegou a oferecer o papel do palhaço Pangaré para Wagner Moura e Rodrigo Santoro, mas estavam com a agenda cheia na época.
O filme também traz um elenco incrível, com atores como Jorge Loredo, Larissa Manoela e Moacyr Franco. Ao mesmo tempo que é sério e retrata o mundo real dos comediantes, também faz menção ao lúdico, diversão e humor.
A produção foi escolhida para indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mas ficou de fora da cerimônia. Também foi considerado um dos 100 melhores filmes brasileiros pela ABRACCINE.
8. Boa sorte, meu amor (2012)
Com uma produção épica fazendo luz ao estiloso preto e branco, “Boa Sorte, Meu Amor” é um longa-metragem dirigido por Daniel Aragão que retrata um conflito amoroso, enquanto aborda questões sociais do cotidiano. O filme narra o romance entre Maria (Christiana Ubach) e Dirceu (Vinicius Zinn) que, apesar de terem raízes sertanejas, não conseguem criar a mesma sintonia com a metrópole em que vivem.
Ao mesmo tempo que a trama gira em torno dos personagens, também explora fatos da cidade de Recife, como desigualdade social e forte urbanismo. A trilha sonora traz tensão e emoção, enquanto a fotografia em preto e branco explora os dois mundos entre a capital e o sertão nordestino.
É essa mistura de regime feudal com mundo contemporâneo que o filme quer transmitir. Por isso, traz uma história de amor diferente dos clichês romantizados. Os conflitos não giram em torno de Dirceu e Maria, mas sim do ambiente em que vivem.
A produção traz uma belíssima fotografia, exploradas pela iluminação e ausência de cores. É um filme que compõe um grande momento vivido pelo cinema pernambucano, reconhecido nacionalmente por sua qualidade nas produções cinematográficas. Isso também justifica ter recebido o título de Melhor Filme no Festival de Locarno, na Suíça.
9. O som ao redor (2013)
Escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho, “O Som ao Redor” é um longa-metragem com histórias paralelas, mas que, ao mesmo tempo, estão entrelaçadas. Ele narra os desafios de moradores da classe média alta de Recife, Pernambuco, que precisam lidar com a chegada de uma milícia onde moram, comprometendo a tranquilidade na rua.
O filme transmite uma mensagem profunda sobre as relações sociais e como elas evoluem até chegar ao ápice da violência. Inclusive, traz uma visão pouco explorada sobre a classe média brasileira, mostrando um público revoltado querendo mudanças, mas que não perdem tempo para agir e resolver os problemas.
A narrativa do filme traz uma proposta diferente com o que vimos no cinema tradicional, e que lembra sutilmente as ideias defendidas pelo ícone do cinema, Charles Chaplin. Ele sempre acreditou que as produções barulhentas comprometem a experiência que o cinema traz para o espectador. Por isso, defendeu o cinema mudo por anos.
Então, em meio a tantas produções cada vez mais barulhentas, eis que surge esse roteiro incrível de Kleber com um ritmo próprio e prezando pela sensibilidade sonora. É um filme independente com uma mistura de elenco supertalentoso, tanto profissionais quanto amadores.
Como você viu, existem produções independentes belíssimas . Mas, você sabe quais são as regras para considerar um filme independente? A produção deve ter, pelo menos, 1h10m de duração e ter custado menos do que U$ 20 milhões. Além disso, também precisa ter participado de um lançamento, seja num festival de cinema ou por uma semana numa sala comercial.
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