Muita gente se pergunta se é melhor fazer uma faculdade de cinema ou cursos de prática audiovisual fora das universidades. Há muita ansiedade envolvida nessas escolhas, pois elas definem as estratégias que irão configurar o nosso futuro e por à prova os nossos sonhos. Quando escolhemos uma carreira em cinema, é difícil entender o processo que leva alguém de fato a trilhar a profissão. Afinal, muitos realizadores, criadores, diretores, produtores e técnicos vêm das mais diversas formações, que incluem ou não uma faculdade de audiovisual.
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A questão é: que tipo de curso escolher?
Depende de quanto tempo e recursos você quer e pode investir, e de uma análise mais profunda dos tipos de cursos disponíveis, para ver se correspondem aos objetivos que você quer alcançar. As modalidades de cursos e tempo aproximado são: bacharelado (4 anos); curso tecnológico (2 anos); curso técnico (2 anos), cursos livres (carga horária variável).
Bacharelado
Uma faculdade de cinema apresenta-se como um espaço de estudos acadêmicos e análise crítica com oportunidades de experimentação valiosas, que obedecem às regras de uma formação mais formal. O aprendizado no formato acadêmico tem algumas especificidades: processo seletivo para ingresso no curso, formato de avaliações com nota lançada em histórico escolar, estágios obrigatórios, aulas em áreas correlatas, ainda que não diretamente ligadas ao audiovisual, que enriquecem o currículo na área de humanas. Além de um contato a longo prazo com acadêmicos e profissionais da área, a faculdade abre caminho para uma carreira acadêmica como professor universitário, com a possibilidade de sequência através de mestrado e doutorado. Fator tempo e custo são mais altos.
Cursos tecnológicos e técnicos
Mais curtos do que os cursos de bacharelado, dão mais ênfase à prática e à capacitação profissional, com o objetivo de inserção de profissionais no mercado. Os programas desses cursos variam muito de curso para curso: desde os que se concentram em aspectos puramente técnicos e/ou especializados aos que combinam a técnica a estudos de linguagem. Nesse ambiente, é preciso avaliar a fundo a grade curricular de cada curso para ver se este reflete o que se quer estudar. Os cursos tecnológicos são regulados pelo MEC (formação superior) e costumam ter processo seletivo; os técnicos são regulados pelas Secretarias de Educação dos estados em que se localizam (formação técnica), e não exigem vestibular. Menos custosos, os cursos tecnológicos e técnicos compreendem um período significativamente menor do que os cursos de bacharelado. A AIC oferece o Filmworks – Curso Técnico em Direção Cinematográfica nas unidades Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).
Cursos Livres
Os cursos hands-on oferecidos por escolas de cinema normalmente dão ênfase à prática, à técnica e à linguagem audiovisual, em diversos formatos. Num tempo menor e a um custo menor, concentram-se na capacitação e na especialização. Com regras menos rígidas quanto ao histórico acadêmico de seus professores, as escolas que oferecem cursos livres tendem a trazer rotativamente profissionais atuantes no mercado, oferecendo oportunidades de networking. Estágios acontecem de forma mais orgânica. Em geral não há processo seletivo, e é comum vermos pessoas formadas em outras áreas procurando cursos de extensão e especialização nas mais diversas áreas do cinema, e ingressando no mercado dessa forma, muitas vezes trazendo para o cinema experiências vindas de áreas estudadas anteriormente. Como esses cursos não são regulados pelo MEC ou por Secretarias de Educação, é importante fazer uma pesquisa comparativa e avaliar os currículos, o quadro de professores, o histórico e a reputação das escolas e dos cursos em questão. A AIC oferece inúmeros cursos livres de cinema abrangendo todas as etapas da produção audiovisual nas unidades Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).
Em todos os casos, um bom curso audiovisual é aquele que mescla conhecimentos de linguagem com o estudo da técnica e exercícios práticos, criando uma simbiose entre teoria e prática que é expressa no trabalho produzido pelos alunos e futuros profissionais. É aquele que de fato prepara o profissional para o mercado de trabalho, e ao mesmo tempo o imbui de um embasamento teórico, necessário ao seu crescimento.
Segundo o recente artigo “Mercado Audiovisual e Formação Profissional: O Perfil dos Cursos Superiores em Cinema e Audiovisual no Brasil” (Pesquisa UFSCAR/Forcine 2016), o mercado cresce de forma consolidada, mas o ensino superior do audiovisual encontra desafios:
“De acordo com o SIAESP [Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo], o mercado audiovisual possui a menor taxa de mortalidade do setor, o que significa que as empresas têm conseguido se manter no mercado de forma consistente – contam com mais de 15 anos de atuação em sua maioria. Se as empresas têm sucesso no mercado, também o têm os profissionais que delas fazem parte.
Curiosamente, esses profissionais, na maior parte dos casos, não possuem formação em audiovisual, eles vêm de outras áreas com maior afinidade com setores produtivos e adquiriram conhecimentos específicos no audiovisual através da experiência prática. É nesse alicerce que se instaura a primeira crítica à formação dos profissionais em audiovisual.
Nas falas realizadas durante o I Seminário Paulista de Ensino e Mercado, indicou-se que a dificuldade fundamental que envolve a formação dos profissionais é a falta de experiência prática, o que faz com que os profissionais saiam do ensino superior sem uma noção real do modo de produzir do audiovisual e de quais áreas mais os interessam para uma especialização.”
Cada vez mais cientes dessa realidade, várias universidades vêm ao longo dos anos adaptando seus currículos para refletir as demandas práticas inerentes da profissão, mas esse é um processo lento e burocrático, que precisa ser realizado dentro dos moldes estabelecidos pelo MEC. Só o fato desse tipo de estudo existir já demonstra um avanço sobre o tema.
Além da formação prática, há também a questão da especialização. O cinema é por natureza uma atividade realizada por especialistas: roteiro, direção, arte, produção, fotografia, edição, música, pós-produção, distribuição etc. Cada uma dessas categorias tem uma série de sub-especializações envolvidas. Além disso, há uma série de novas funções afiliadas ao audiovisual por conta do uso de novas tecnologias.
De acordo com artigo publicado pela Forcine, que cita discussões do I Seminário Paulista de Ensino e Mercado, “outra questão levantada remete diretamente ao perfil de formação oferecido pelas instituições. De acordo com os diversos profissionais que participaram do evento, o segundo problema principal para a inserção no mercado é o excesso de profissionais com formações generalistas, sem uma especialização. Conforme expõem alguns produtores, os alunos recém-formados chegam ao mercado sem experiência e sem foco em uma área específica de trabalho, o que gera grande demanda por profissionais especializados.”
Nesse sentido, cursos de capacitação, como cursos tecnológicos, cursos técnicos e cursos livres, acabam ocupando essa lacuna e tendo um efeito positivo sobre o mercado. Ainda não se fez um estudo formal sobre o papel de cursos de capacitação no desenvolvimento do setor audiovisual, mas é sem dúvida o próximo passo na tentativa de compreender melhor o panorama profissional.
*Fotos Yuri Pinheiro