Silvia Cruz e Chiquinho falam sobre distribuição, sala de cinema e festivais
Francisco César Filho e Silvia Cruz falam sobre distribuição, sala de cinema e festivais.
Nem os problemas do metrô nem o trânsito enlouquecido das sete horas da noite intimidaram as pessoas. Aos poucos, foram chegando alunos, convidados e curiosos até atingir lotação recorde no estúdio, 130 pessoas. Na varanda da casa antiga – sede da AIC, luzes e flashes, para uma breve entrevista antes do evento. Silvia Cruz e Chiquinho (como prefere ser chamado) chegaram e roubaram a cena e todas as atenções. Não apenas pelo fato de serem os convidados da noite, mas pelo carisma, pela simplicidade e pela eloquência com que falaram do tema proposto, como se estivessem em um café, entre amigos. Esse foi o clima da segunda noite da Semana de Cinema e Mercado. Casa cheia, gente querendo aprender e gente que entende, falando o que sabe.
O tema da noite era Distribuição de curtas, filmes independentes e carreira em festival. Mas o papo foi além. Começou com uma baita aula de história sobre as mudanças ocorridas nas salas de cinema entre os anos 70 e 80. “Até os anos 70 as pessoas consumiam filmes de maneira diferente. As salas eram enormes, ficavam nos grandes centros, lugares de grande circulação de pessoas. O ingresso era ridiculamente barato, era o lazer mais barato da época. Os filmes ficavam meses em cartaz, pois o que os vendia era a propaganda boca a boca. Dentro dessa realidade existia espaço para Truffaut, Bergman e Rossellini. O que muda no final dos anos 80? O centro das grandes cidades não é mais obrigatório, nem sequer agradável. As salas enormes deixam de fazer sentido. A classe média alta migra para os shoppings, lugar de consumo, de entretenimento, não de cultura. O preço do ingresso sobe. No espaço ocupado por apenas uma sala, constroem-se vinte. Com isso, podem-se ter sessões começando o tempo todo. As grandes produtoras começam a focar os filmes nesse público, de shopping, que consume entretenimento, espetáculo, e não arte”, conta Chiquinho.
Por isso os festivais se proliferaram na década de 1990. Pois já não existia espaço para filmes de arte nas salas comerciais, explica. “No começo dos anos 90 existiam em média 22 festivais no Brasil, hoje, são aproximadamente 250. Os festivais acabaram virando uma vitrine de exibição para o realizador e uma das poucas formas de se ver filmes fora do circuito comercial”.
Silvia trouxe todos os exemplos de Chiquinho para a atualidade, ressaltou ainda mais a importância de participar de festivais. “Além de enviar filmes, o realizador precisa ir, precisa estar nos festivais, principalmente se os filmes deles forem selecionados. A troca que existe nos festivais é essencial. Depois que o diretor conversa com o público, a visão das pessoas sobre o filme pode mudar, e isso pode fazer toda a diferença na hora da premiação”.
Silvia também contou sobre os cálculos da distribuição, como ocorrem as porcentagens de distribuição de lucro entre produtor, cinema e distribuidor e revelou curiosidades que todos queriam saber sobre seu último trabalho de grande sucesso “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho.
Chiquinho contou detalhes sobre o Festival Latino-Americano de São Paulo, sobre como faz as seleções dos filmes. Também deu dicas sobre o envio de filmes e a escolha de festivais. “Imagina que um curador de Festival chega assistir 250 filmes em um mês. Você precisa prender atenção de quem está selecionando no primeiro minuto do filme”.
Os dois finalizaram respondendo perguntas sobre cineclubismo, exibição e lançamento de curtas na internet e sobre o trabalho de marketing feito pelos grandes estúdios americanos.
Ao final, a sensação de “quero mais”! Se pudéssemos, todos ficaríamos ali mais uma, duas horas…
Terceiro Dia
Hoje a noite o tema é ENTRANDO NA TV – COMO DISTRIBUIR SEU PRIMEIRO PRODUTO AUDIOVISUAL, com João Worcman, diretor geral da Synapse Produções, uma das principais distribuidoras de conteúdo brasileiro e estrangeiro no mercado doméstico, que atende mais de 200 fornecedores internacionais, entre eles canais como BBC Worldwide e Channel 4.
Se você fez sua inscrição, chegue com antecedência para garantir o seu lugar.
*Fotos: Alessandra Haro