Michael Wahrmann, na AIC, no dia 09/02
O premiado diretor Michael Wahrmann é um dos palestrantes convidados da Semana de Orientação, evento tradicional da AIC que abre o ano letivo do curso FILMWORKS. A palestra será no próximo dia 09 e o tema será “O início da carreira de um cineasta: como sobreviver com cinema independente”. Para se inscrever, basta enviar um e-mail com nome, telefone e a palestra que deseja assistir para rsvp@aicinema.com.br.
Michael Wahrmann é diretor, roteirista e editor. Nasceu em 1979, em Montevidéu, no Uruguai. Em 1985, aos seis anos, mudou-se para Israel. Em 2002, entrou para a Academia Bezalel de Artes e Design, em Jerusalém. Em 2004, mudou-se para São Paulo onde recebeu uma bolsa para estudar cinema na FAAP. Graduou-se em 2007 apresentando o curta, “Avós”, que teve sua estreia no 60o Festival Internacional de Cinema de Berlin, e recebeu mais de 40 prêmios no Brasil e no exterior. No mesmo ano, fundou sua pequena produtora, Sancho Filmes. Em 2011 lançou seu 2o curta, “Oma”, ganhador do prêmio de melhor curta no Forum.Doc BH, na Mostra de cinema de Londrina e Premio Especial do Júri no Festival de Cinema de Sta. Maria da Feira, Portugal. É montador do Curta “Praça Walt Disney”, de Serio Oliveira e Renata Moura, um dos curtas mais premiados em 2011. Atualmente esta finalizando seu novo filme “Esperando Gatti”, desenvolvendo seu primeiro longa-metragem.
Para saber um pouco mais sobre Michael, confira a entrevista que a AIC preparou.
Você nasceu no Uruguai e com seis anos se mudou para Israel. Você tem lembranças de como foi chegar a um país de cultura tão diferente?
M.W.: Essa questão acompanha a família faz tempo. Meus avós paternos, judeus fugidos da Alemanha, chegaram ao Uruguai nos anos 30, e os maternos, sobreviventes dos campos de concentração, chegaram após a guerra. Acho que até o fim das suas vidas, eles não superaram o choque cultural. Agora, chegar criança, em um país desconhecido, é mais fácil, a criança se acostuma rápido, aprende a língua sem muitos problemas e se adapta através da escola, dos amigos na rua etc. Mas lembro-me de algumas passagens engraçadas, uma delas, um pouco antes da mudança, tive uma conversa com meu padrasto, investigando como eram as coisas em Israel. Perguntei “Em Israel tem inundações?” Ele respondeu que não. “Tem vulcões?” A resposta também foi negativa. “Não tem furacão, terremoto, nada?” insisti. Ele novamente disse não…Só esqueci de perguntar se tinham guerras… (risos).
Conte-nos um pouco sobre sua vida em Israel e sobre sua formação na Academia Bezalel de Artes e Design.
M.W.: Já que ninguém tinha me contado sobre a Guerra antes de ir, quando entendi melhor o que estava acontecendo, com uns 13 ou 14 anos, comecei a militar em movimentos da esquerda. Organizava manifestações a favor de paz, seminários, arrumava briga, essas coisas. Aos 18, entrei no serviço militar obrigatório. Tentando evitar confrontos, optei pela marinha, que supostamente seria mais calmo. Três anos depois, sai do exercito e comecei a trabalhar como garçom e cozinheiro em um restaurante que também funcionava como galeria de arte. Fiz uns cursos de fotografia, fiz minha primeira exposição, e depois de muitas idas e vindas decidi tentar entrar na academia de artes. Estudei Comunicação Visual, um curso que mistura artes, design e vídeo. Aí que meu interesse foi crescendo dentro dos estúdios de vídeo. Fiquei lá dois anos e decidi fazer um intercâmbio no Brasil. A princípio, ficaria aqui por um semestre.
Falando em Brasil, como você veio parar aqui?
M.W.: Como toda essa questão familiar de imigrante já estava presente na minha vida, assim que terminei o serviço militar, vim fazer um passeio no Brasil, como mochileiro, fiquei três meses no nordeste, na praia. Conheci uma paulistana, fiquei um mês em São Paulo e voltei a Israel. Voltei para Jerusalém, estudar. Mas, Jerusalém é uma cidade muito difícil. O conflito esta presente em todos os lados. Além disso, a situação politica em Israel estava complicada (ainda esta), eu tinha perdido a esperança, tinha um governo de direita, e o clima geral era de violência. Decidi que precisava sair de lá… Não sabia para onde, estava no 2o ano de faculdade e uma coisa levou a outra. Consegui um intercâmbio para estudar cinema na FAAP. Vim, por um semestre, e aqui estou, até hoje, sete anos depois, casado e com um lindo filho brasileiro de dois anos.
Qual a sua opinião sobre o cinema brasileiro da atualidade?
M.W.: O cinema brasileiro vive uma época de ouro, naturalmente ligada ao boom econômico brasileiro dos últimos anos. Existe um maior investimento no cinema, inúmeros editais de todos os tipos, leis de incentivo, fundos etc. Ainda não é o melhor e ainda existem vários problemas, mas dentro da América Latina, o Brasil é onde se produz mais e mais fácil. Atualmente tem um número enorme de filmes sendo produzido aqui, de todos os tipos, gêneros e cores. Diretores jovens conseguem financiamento, mesmo brigando com os mais consolidados, e os que não conseguem, estão criando sistemas de produção paralelos, independentes e autoeficientes a partir das novas tecnologias e os olhares criativos. Novos sistemas de distribuição estão surgindo, como a Vitrine Filmes da Silvia Cruz, e surpreendentemente, são esses jovens independentes, talvez pelas soluções criativas e novos olhares, que estão conseguindo uma visibilidade maior nos festivais internacionais e assim, criando laços de coprodução que ainda são fracos no Brasil. Então, a meu ver, tem muito onde melhorar, mas, a largada foi dada, a produção está a todo vapor, e isso é incrível. Só espero que isso não exploda logo na nossa cara…