Evaldo Mocarzel fala sobre seu novo filme “Até o Próximo Domingo”
O último dia da Semana de Orientação da Academia Internacional de Cinema (AIC) de São Paulo contou com a presença do premiado documentarista Evaldo Mocarzel, que além do bate-papo com os alunos e convidados, exibiu seu último filme, ainda inédito e em processo de finalização.
“Até o Próximo Domingo” é um documentário baseado no livro “Luis Antonio – Grabriela”, do dramaturgo Nelson Baskerville que conta a história do irmão de Baskerville, o Luis Antonio do título, um homossexual que viveu com família conservadora até completar 30 anos, quando deixou a casa dos pais e desapareceu por 30 anos. A história narra em episódios a relação de Luís Antônio com a família, Baskerville e a irmã mais velha dos dois, Maria, desde acontecimentos da infância até o reencontro de Maria com Luís Antônio, que mudara de sexo e passara se chamar Gabriela, fazendo shows em boates na Espanha. Gabriela morreu em 2006, de Aids, sem que Baskerville nunca reatasse com sua irmã, o que o levou a escrever a peça.
Mocarzel contou sobre a produção do documentário, sobre suas escolhas e sobre o trabalho com Baskerville.
Salientou principalmente os aspectos sonoros do documentário, “O som é uma potência linguística. Se bem utilizado dentro da linguagem cinematográfica, pode ser mais poderoso que a imagem. Para se construir experiências no cinema o som deve ser o principal elemento de linguagem. Bresson falou que o apito de uma locomotiva faz com que você imagine toda a estação de trem. Você acende a imagem na tela mental do espectador. O som sugere sem mostrar e para mim, a potência da arte é a sugestão”, defendeu.
Mocarzel também contou algumas curiosidades do processo de trabalho, como o da criação da paisagem sonora e da trilha do filme. “Os compositores foram parar dentro da ilha de edição. Eu tenho o habito de escrever cartas de montagem, quase que como um segundo roteiro, para contaminar o montador. Nesse filme, os músicos liam a carta de montagem e improvisavam. Foi o caminho que eles encontraram para materializar o que eu queria e, foi um processo de construção incrível”, contou.
Também falou sobre o processo de leitura do livro por Baskerville. “A princípio não tínhamos a intenção de usar esses offs. Era apenas uma leitura guia. Mas a potência do material foi tanta que resolvemos usar. Quando uma emoção genuína rompe fica impossível reproduzir num estúdio. Acredito que quando a precariedade é orgânica com a dramaturgia que você constrói, se torna linguagem. O erro se torna um acerto”.
Outros assuntos também pontuaram o bate-papo, como as questões éticas do documentário, as diferenças entre linguagem ficcional e documental etc. Por fim, Mocarzel aconselhou os alunos: “em documentário, quando você não tem a solução, problematize. Nem sempre a ética vai chegar na expressão do seu filme. Mas a sua intenção tem que ser ética”.
*Fotos: Raissa Nosralla