Como fazer os filmes brasileiros serem mais vistos? Pergunta André Miranda, na Semana de Orientação da AIC
André Miranda, crítico e repórter especial do Jornal “O Globo”, esteve ontem na Academia Internacional de Cinema (AIC) do Rio de Janeiro, e na segunda, na AIC São Paulo. Palestrante convidado da Semana de Orientação, que tradicionalmente abre o ano letivo da escola, André quebrou a imagem caricata do crítico sisudo e dono da verdade e bateu um papo descontraído – e muito informativo – com a plateia.
Como tema central do debate a pergunta: Como fazer os filmes brasileiros serem mais vistos? De quem é a culpa – se é que existe um culpado – para que o cinema brasileiro ainda tenha tão pouco público.
Contou que no ano passado 120 filmes brasileiros foram lançados e perguntou pra plateia, “quem assistiu mais de cinco filmes brasileiros ano passado?”. Poucos levantaram a mão. “De quem é a culpa que todos esses filmes não estão sendo vistos? Do exibidor? Do cineasta? Preconceito com o cinema nacional? Existe um culpado?”. E uma enxurrada de respostas e divagações apareceram.
“Não basta fazer um filme bom, ele precisa ser visto”, disse André, que para exemplificar, usou o caso de sucesso do filme “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro. Amplamente divulgado nas redes sociais e com estratégias originais de distribuição, entre elas a versão pirata “oficial”, numa iniciativa de combater à pirataria. O filme recebeu importantes prêmios, entre eles os prêmios Teddy (dedicado a produções com tem ética LGBT), o prêmio da crítica da mostra Panorama e Melhor Filme eleito pelo público no Festival de Berlin 2014, o filme atingiu 200 mil expectadores nos cinemas, um número bem alto para produções nacionais desse porte.
André também falou da Lei da TV Paga e do Fundo Setorial, do quanto o mercado cresceu, do salto de qualidade dos canais brasileiros e de que cada vez mais diretores de cinema fazem TV. “José Padilha está fazendo uma série para o Netflix, Fernando Meirelles fez ‘Felizes para Sempre’ na Globo, isso tudo, em algum momento será revertido para o cinema. O filme mais popular que você faz primeiro, banca o de arte que vem depois”.
Por último falou da importância da diversificação de gêneros. “Estamos começando a diversificar os gêneros dos filmes brasileiros, até bem pouco tempo atrás, tínhamos só chanchada e miséria, e o Cinema Novo. Depois vieram os ‘favela movies’ e agora estamos lançando até filme de terror. E isso é ótimo”. E sem dar uma resposta pronta para a pergunta que lançou no começo do bate-papo, André desafiou a todos a pensarem sobre como aumentar o número de espectadores do cinema nacional.
*Fotos Duda Tavares