“Cine es la Mirada”, diz Pablo Giorgelli
A naturalidade e simplicidade das cenas de “Las Acacias” paracem habitar Pablo Giorgelli. Um cara comum, humano, daquele que, se
você encontrasse na rua, jamais saberia que fez um grande filme, ganhou dezenas de prêmios famosos e já esteve com todo o tipo de celebridade. Sem roupas diferentes, sem óculos, sem ego inflado. Sem nenhum estereótipo ou clichê que geralmente persegue os profissionais da área. Um argentino, como tantos outros. Casado, filha pequena, joga futebol aos domingos e é fã de Diego Maradona. Mas, quando Pablo Giorgelli começa a falar sobre sua arte ele encanta, magnetiza. Mostra a que veio. Mostra que tudo que faz, faz a perfeição.
Assim começou o terceiro dia da Semana de Orientação da Academia Internacional de Cinema (AIC). Primeiro a exibição de “Las Acacias”, vencedor do Câmera de Ouro em Cannes 2011, depois, uma verdadeira aula sobre cinema com tom de bate-papo informal.
Compartilhar Experiências
“Estou aqui para compartilhar a experiência da produção de ‘Las Acacias’. Mas digo que não há caminho certo. Cada um precisa encontrar o seu, o que lhe serve. Achava que seria um diretor novo, mas, ‘Las Acacias’ ficou pronto em 2011, eu tinha 44 anos. Antes disso, trabalhei em vários roteiros e, ainda bem, não filmei nenhum”, contou rindo. “Não estava pronto, não confiava em minha própria voz. Levei 20 anos para confiar e poder fazer meu filme. A coisa mais importante é confiar em si mesmo, em nosso próprio gosto, em nossas ideias, em nossa voz. Esta é a coisa mais valiosa que temos, a voz. Ninguém canta como nós. E quando alguém disser que você está cantando fora do tom, esqueça isso”.
Pablo contou que demorou dois anos para escrever o roteiro. Um para encontrar os atores. Ao todo, até o filme ficar pronto, foram cinco anos. “Escrevi o roteiro em meio a uma crise pessoal, um momento de solidão e angústia. Várias coisas aconteceram, quase simultaneamente, a doença de meu pai, a crise econômica na Argentina, me separei, enfim, uma bagunça. Em meio a tudo isso, as primeiras ideias nasceram. Acho que, de alguma forma, a história trata de solidão, paternidade, dificuldade em se comunicar com os outros e a dor de perder pessoas. Mas também fala da possibilidade de renascimento. De alguma forma, a viagem que Rubén faz também é uma viagem interior, uma jornada de transformação”, conta.
Making Of
Pablo também mostrou cenas do making of e contou sobre as filmagens dentro de um caminhão. “Filmar em movimento já é complicado. Fica ainda mais complicado quando o filme todo se passa dentro de um caminhão e temos uma equipe de 40 pessoas, parecíamos uma caravana de circo. Dependíamos das condições climáticas, ao mesmo tempo precisávamos filmar rápido pois tínhamos um bebê e bebês crescem muito rápido. A cabine era um espaço sagrado, e acho que isso era fundamental para alcançar o tom intimista que o filme passa, quase como se tivesse sido filmado com uma câmera escondida no interior da cabine do caminhão”.
Também contou curiosidades sobre a escolha do elenco e sobre estar em Cannes e ganhar o prêmio mais importante do Festival.
La Mirada
Para finalizar, Pablo encorajou os alunos. Reforçou a importância de estar convencido da própria ideia e de fazer o filme que se quer fazer. Sem interferências. “Ouso dizer que todo mundo deve tentar encontrar o seu próprio caminho, não apenas no cinema, é claro. Mas, falando de filmes, acho que a primeira dica é descobrir o que você quer fazer. Fazer um filme dá trabalho, é um grande esforço físico, emocional e econômico. Então, antes de começar, você precisa ter certeza que quer entrar nessa loucura e claro, estar convencido da ideia”. Também falou dos festivais como um “passo sagrado” e fechou: “cine es sobretudo…. la mirada”.
*Fotos: Alessandra Haro