Academia Internacional de Cinema (AIC)

E o Oscar vai para…

Conhecido mundialmente como uma das premiações mais importantes do cinema, o Oscar acontece há 90 anos em Hollywood, promovido pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS (em tradução livre, Academia de Artes e Ciências Cinematográficas). Normalmente entre os meses de fevereiro e março, uma grande festa é realizada para anunciar os destaques do cinema do ano anterior, votados pelos membros da Academia.

Em 1931, Margaret Herrick – secretária executiva da Academia – ao ver a estatueta pela primeira vez, comentou que ela lembrava o “Tio Oscar” – essa é uma das versões da origem do apelido da premiação.

Muito se discute sobre a origem do apelido da premiação, oficialmente chamada de Academy Awards. Uma biografia de Bette Davis, que já foi presidente da Academia, afirma que a atriz deu o nome ao prêmio em homenagem a seu primeiro marido, o músico Harmon Oscar Nelson. Outra versão sustenta que, em 1931, a secretária executiva da Academia, Margaret Herrick, ao ver a estatueta pela primeira vez, comentou que ela lembrava o “Tio Oscar” (como era chamado Oscar Pierce, na verdade seu primo). Segundo consta, o colunista Sidney Skolsky estava presente nesse momento e publicou que os “empregados afetuosamente apelidaram a famosa estatueta de Oscar”.

As categorias

Ao todo, são 24 prêmios distribuídos pela Academia, em reconhecimento pela excelência e pelas conquistas técnicas e artísticas dos filmes lançados no decorrer do ano. O foco está em produções norte-americanas, embora exista uma categoria destinada especificamente a Filmes Estrangeiros. Contudo, profissionais e filmes de outros países também podem concorrer nas demais categorias – como foi o caso de Fernanda Montenegro, indicada como Melhor Atriz em 1999 por Central do Brasil.

As categorias atualmente são as seguintes:

Os vencedores recebem uma estatueta dourada, que foi originalmente esculpida pelo artista George Stanley, partindo de um desenho do diretor de arte Cedric Gibbons (vencedor de 11 Oscars ao longo de sua carreira). A estátua tem o formato de um cavaleiro no estilo art deco, segurando uma espada, sobre um rolo de filme com cinco níveis – cada um representando uma das áreas de atuação dos membros da Academia: Atores, Escritores, Diretores, Produtores e Técnicos.

A estatueta é banhada a ouro e pesa quase 4 quilos, tendo 34,3 centímetros de altura. Em sua base, é gravado o nome do vencedor – tarefa que, nos dias de hoje, é feita no próprio local do evento, logo após a cerimônia. Para evitar que o prêmio seja vendido, posteriormente, há uma regra estipulando que nenhum Oscar pode ser colocado à venda antes de ser oferecido de volta à Academia pelo valor simbólico de um dólar.

Um pouco de história

Primeira cerimônia do Oscar, no Hollywood Roosevelt Hotel em 1929.

A primeira cerimônia do Oscar foi realizada em maio de 1929, em um jantar exclusivo no Hollywood Roosevelt Hotel, homenageando os melhores filmes de 1927 e 1928.

Já a primeira transmissão do evento aconteceu pelo rádio, em 1930. Somente em 1953 a festa passou a ser televisionada, tendo se tornado uma atração anual em mais de 200 países, além de ser transmitida pela Internet.

Desde o surgimento da premiação, já foram entregues mais de 3 mil estatuetas.

O local de realização da cerimônia de entrega do Oscar variou muito, no decorrer dos anos, embora sempre tenha sido em Los Angeles, na Califórnia.

Desde 2002, a premiação acontece no Dolby Theatre (também conhecido como Kodak Theatre). Foi nele que aconteceu a entrega dos prêmios este ano, pela 90ª vez, em um evento que teve como anfitrião o apresentador Jimmy Kimmel.

Como funciona?

Teatro Dolby em Los Angeles, também conhecido como Kodak Theatre, onde a premiação acontece desde 2002.

Para que um filme seja elegível nas categorias de longa-metragem, ele deve ter no mínimo 40 minutos de duração e possuir cópias em 35 mm ou 70 mm. Recentemente, passaram a ser aceitos também longas em formato digital de alta resolução. Os produtores dos filmes também devem preencher formulários online, especificando os créditos de cada produção, dentro de um prazo.

Ao final de dezembro, cédulas de votação e um lembrete da Lista de Lançamentos Elegíveis são encaminhados aos membros da Academia, contendo cinco indicados em cada categoria – exceto Melhor Filme, que pode ter até dez produções concorrendo. Na maioria dos casos, os votantes escolhem os vencedores apenas dentro das áreas em que eles mesmos atuam (por exemplo, atores votam nos atores) – exceto, novamente, para a escolha do Melhor Filme, em que todos os membros participam.

Em geral, o anúncio dos filmes indicados ao Oscar é anunciado ao público na metade de janeiro. Produtoras e distribuidoras gastam milhares de dólares em marketing todos os anos – no período conhecido como “Oscar season” – para convencer os membros da Academia a votarem em determinado filme, especialmente nas categorias consideradas mais importantes. No entanto, a própria Academia busca limitar essas campanhas, de modo a permitir uma votação minimamente imparcial.

O Brasil no Oscar

A categoria de Melhor Filme Estrangeiro foi introduzida apenas no ano de 1957. Antes disso, os filmes de outros países eram premiados com o Special Achievement Award. O primeiro brasileiro a ser indicado a um Oscar foi Ary Barroso, em 1945, pela composição “Rio de Janeiro” na categoria Melhor Música Original, para o filme norte-americano Brazil. Na categoria Melhor Filme Estrangeiro, a primeira vitória veio em 1960, com o drama ítalo-franco-brasileiro Orfeu do Carnaval. Apenas em 1963 o Brasil teve seu próprio representante entre os melhores filmes estrangeiros do ano, com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte.

Ainda no que diz respeito a coproduções, o longa brasileiro, francês e belga Raoni concorreu na categoria de Melhor Documentário, em 1979. Já em 1986, a co-produção brasileira e norte-americana O Beijo da Mulher-Aranha recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor para o cineasta naturalizado brasileiro Hector Babenco.

Centra do Brasil (1999) é indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Os anos 1990 podem ser considerados uma boa fase do cinema nacional no Oscar, já que três representantes nossos tiveram indicações na categoria de Melhor Filme Estrangeiro: O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999).

A primeira indicação do Brasil a um Oscar de Melhor Curta-Metragem foi em 2001, para Uma História de Futebol. Em 2004, Cidade de Deus surpreendentemente recebeu quatro indicações, nas categorias Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição, mesmo tendo sido ignorado como Melhor Filme Estrangeiro.

Entre as conquistas mais recentes estão as indicações ao Oscar de Melhor Longa-Metragem de Documentário para os filmes Lixo Extraordinário(2011), uma produção do Brasil e Reino Unido, e O Sal da Terra (2015). Em 2016, tivemos nossa primeira indicação na categoria de Melhor Longa-Metragem de Animação, com O Menino e o Mundo, de Alê Abreu. No entanto, o cineasta brasileiro Carlos Saldanha também já esteve na premiação algumas vezes por seu trabalho nas animações norte-americanas A Era do Gelo (Ice Age), Aventura Perdida de Scrat (Gone Nutty), Rio e O Touro Ferdinando (Ferdinand).

Cada país deve submeter apenas um longa-metragem por ano à categoria de Melhor Filme Estrangeiro, cuja única regra é que seus diálogos sejam predominantemente em uma língua diferente do inglês. Caso a obra seja selecionada para estar entre os cinco filmes indicados ao Oscar, é interessante que tenha sido vista pela maior quantidade possível de membros da Academia – já que nem todos os votantes conseguem assistir a todos os filmes.

Questões polêmicas –  representatividade

Atualmente, o número de membros votantes da Academia é de 8 mil profissionais do cinema. Há representantes das mais diversas áreas dentro da produção cinematográfica, selecionados de acordo com sua contribuição para a sétima arte; contudo, os atores constituem o bloco mais numeroso, com 22% do total. Um dado preocupante é que, na última pesquisa realizada, constatou-se que 94% dos membros da Academia eram brancos, 77% homens e 54% com idade acima de 60 anos. Esses números deram origem a movimentos que buscam representatividade e inclusão em Hollywood, com destaque para o recente #OscarsSoWhite. A falta de diversidade é gritante nas estatísticas: de 1929 a 1991, apenas 6.4% dos indicados a Oscars não eram brancos; a partir de então, esse número passou para 11.2%. A lista de vencedores de estatuetas entre as minorias é ainda mais insignificante.

A atriz e ativista de direitos civis Sacheen Littlefeather, de origem indígena, que participou da cerimônia no lugar de Marlon Brando, que se recusou a receber sua estatueta de Melhor Ator em O Poderoso Chefão (1972) alegando ser contra a discriminação e os retratos estereotipados da população indígena na indústria cinematográfica norte-americana.

Outra crítica está no fato de que muitos filmes usam uma fórmula conhecida como “Oscar bait” (ou isca de Oscar) para “fisgar” os membros da Academia. Geralmente são filmes grandiosos, como romances épicos e históricos, dramas biográficos ou melodramas familiares, lançados nos cinemas dos Estados Unidos três meses antes do final do ano. A Academia tem fama de favorecer certos tipos de filmes, em detrimento de gêneros como suspense e ficção científica (exceto nas categorias técnicas, como efeitos especiais) ou mesmo produções independentes.

Outro incidente que ajudou a manchar a credibilidade da cerimônia ocorreu em 2017, quando os atores Warren Beatty e Faye Dunaway anunciaram erroneamente que o vencedor na categoria Melhor Filme era o musical La La Land, quando na verdade o prêmio deveria ir para Moonlight. Posteriormente, descobriu-se que o envelope errado havia sido entregue aos apresentadores. O constrangimento foi ainda maior pelo fato de que a equipe de La La Land já se encontrava no palco, com as estatuetas em mãos, fazendo seus agradecimentos.

Houve também quem tenha recusado o Oscar, como forma de protesto. O primeiro a boicotar a cerimônia e abrir mão do prêmio foi o roteirista Dudley Nichols (vencedor de Melhor Roteiro em 1935), por conta dos conflitos, na época, entre a Academia e o Sindicato dos Roteiristas. George C. Scott foi a segunda pessoa a recusar um Oscar, referindo-se ao prêmio como um “desfile de carne” e dizendo que não queria fazer parte disso. Já Marlon Brando recusou sua estatueta de Melhor Ator em O Poderoso Chefão (1972) alegando ser contra a discriminação e os retratos estereotipados da população indígena na indústria cinematográfica norte-americana. Ele chegou a enviar à cerimônia, em seu lugar, a atriz e ativista de direitos civis Sacheen Littlefeather, de origem indígena, para ler um discurso de 15 páginas a respeito do assunto.

“And the Oscar goes to…”

Walt Disney foi premiado com 22 Oscars, de um total de 59 indicações.

Três filmes seguem empatados como maiores vencedores de Oscars da história, com um total de 11 prêmios: Ben-Hur (1959), nomeado em 12 categorias; Titanic (1997), nomeado em 14 categorias; e The Lord of the Rings: The Return of the King (2003), nomeado em 11 categorias e vencedor em todas elas.

Entre os que receberam mais indicações, com um total de 14, estão os filmes: All About Eve (1950), Titanic (1997) e La La Land (2016).

Quanto à pessoa que mais recebeu estatuetas em sua carreira, certamente foi o dono dos estúdios Disney. O magnata da animação Walt Disney foi premiado com nada menos do que 22 Oscars, de um total de 59 indicações.

Katharine Hepburn foi a mulher que mais venceu como Melhor Atriz, com um total de quatro estatuetas.

Entre os atores, Meryl Streep é a campeã de indicações, tendo sido nomeada 21 vezes, como Melhor Atriz e Coadjuvante. Ela ganhou três Oscars, assim como Ingrid Bergman.

Katharine Hepburn foi a mulher que mais venceu como Melhor Atriz, com um total de quatro estatuetas.

Em meio aos homens, o vencedor é Jack Nicholson, que soma 12 indicações, tendo vencido em três ocasiões – assim como Daniel Day-Lewis, com três vitórias como Melhor Ator, e Walter Brennan, que ganhou três vezes como Melhor Ator Coadjuvante.

Nos 90 anos de história do Oscar, apenas dois atores receberam a estatueta postumamente: o britânico Peter Finch, que venceu como Melhor Ator por Network – Rede de Intrigas (1976) e o australiano Heath Ledger, como Melhor Ator Coadjuvante em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2009).

Kathryn Bigelow é a única mulher a receber um Oscar como melhor diretora na história do evento, por Guerra ao Terror (2010).

Os prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção sempre estiveram conectados na cerimônia do Oscar, tanto que são os últimos a serem apresentados durante a festa. Das 90 produções que venceram na categoria Melhor Filme, 63 também receberam o prêmio de Melhor Direção.

Esse número inclui a única mulher a receber um Oscar como melhor diretora na história do evento: Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror (2010).

Apenas outras quatro cineastas já receberam indicações nessa categoria: Greta Gerwig (2018), Lina Wertmuller (1977), Jane Campion (1994) e Sofia Coppola (2004).

Leia também: Mulheres no Audiovisual

Lista de filmes vencedores do Oscar

Confira a lista de todos os vencedores do Oscar de Melhor Filme, ao longo dos 90 anos de existência do prêmio:

*Pesquisa e texto por Katia Kreutz. Fotos divulgação. 

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