Diversidade e Inclusão em Debate na 12ª Semana de Cinema e Mercado AIC
O segundo dia da 12ª Semana de Cinema e Mercado da Academia Internacional de Cinema (AIC) foi marcado por um debate potente sobre a diversidade e inclusão nas produções audiovisuais. No painel intitulado “Quais Histórias Contamos: Diversidade e Representatividade no Cinema”, a AIC recebeu Indianara Ànrèré, coordenadora pedagógica da Quanta Escola, e Marcelo Rocha, Superintendente de Investimentos e Parcerias Estratégicas da Spcine, com mediação do professor Fernando Timba.
Durante o debate, Indianara se aprofundou na importância de humanizar personagens e narrativas no cinema. “Quando vamos fazer papéis como pessoas negras, não podemos nos limitar a representar apenas a negritude”, afirmou. A discussão destacou o papel das instituições de ensino na formação de profissionais que desenvolverão essas histórias: “Os espaços formativos precisam abrir essa discussão, humanizando os personagens e tirando estereótipos. Precisamos falar sobre quão humano devemos tornar esses personagens”, disse Indianara.
Marcelo Rocha também abordou os avanços na representatividade, mas destacou que ainda há muito a ser feito: “Temos, sim, avanços, mas precisamos de muito mais. É importante assistir a filmes de diferentes identidades — LGBT, mulheres, pessoas negras — que não sejam necessariamente sobre questões políticas. A baixa circulação e a falta de oportunidades dificultam o acesso a essas histórias.”
Indianara propôs um exercício prático chamado “teste do pescoço”: “Precisamos olhar ao nosso redor [virar o pescoço] e observar: que equipe é essa? Quem são essas pessoas? Quando existe diversidade, qual o papel que cada um desempenha? Não basta estar onde não se tem voz; é preciso participar efetivamente.” Marcelo concordou, ressaltando que a formação e a educação são fundamentais: “Precisamos conectar isso à realidade. É essencial abrir espaço para a inclusão e entender as necessidades e oportunidades do mercado, pois o audiovisual também é um discurso político que molda nossas percepções.”
O debate ressaltou que trazer as pessoas para mais perto e entender a dinâmica entre formação, criatividade e negócios é crucial. Marcelo destacou que a diversidade não apenas enriquece as narrativas, mas também representa uma oportunidade de negócio: “Podemos escrever e abordar as temáticas que quisermos, e a diversidade também rende dinheiro. Precisamos que isso beneficie tanto as grandes empresas quanto aqueles que estão na base, construindo essas histórias.” Ele enfatizou que o objetivo deve ser ajudar pessoas com potencial a entrar no mercado e gerar frutos financeiros, em vez de simplesmente tratar a inclusão como uma questão de filantropia.
Indianara complementou essa visão, ressaltando que o investimento em jovens talentos vai além da simples contratação. “Não é filantropia. Os jovens que passaram pela Quanta Escola e hoje estão brilhando demonstram que o acompanhamento, a orientação e o processo de escuta são essenciais. Quando a pessoa formada ganha, a empresa que contrata também se beneficia. Essa é uma relação de ganhos mútuos, onde todos se beneficiam ao investir em um ambiente mais inclusivo e diverso.”
O debate encerrou-se com uma reflexão sobre o uso responsável da tecnologia e da inteligência artificial no audiovisual. Ambos mencionaram a importância de considerar a diversidade na programação de algoritmos, ressaltando que essas tecnologias são programadas por pessoas. Além disso, é fundamental acompanhar e questionar as decisões que estão sendo tomadas.
Com uma agenda rica em reflexões sobre o futuro do cinema, a 12ª Semana de Cinema e Mercado continua até o dia 9 de agosto, promovendo diálogos essenciais para o desenvolvimento do audiovisual brasileiro.
*Fotos: Lucylli Alves