Deivison Fiuza, ex aluno da AIC, lança o longa “Abraço – a única saída é lutar”
No próximo dia 29 de outubro o filme Abraço – a única saída é lutar, do ex-aluno da Academia Internacional de Cinema (AIC) Deivison Fiuza, chega nas plataformas de streaming. O longa, baseado em fatos reais e que conta a luta de professores no Estado de Sergipe, estreou no último dia 15 em drive-ins e cinemas digitais.
Vencedor de três prêmios no Festival de Cinema de Pernambuco em 2019, de Melhor Filme (júri popular), Melhor Atriz e Melhor Trilha Sonora Original, o longa conta a história de professores que travam uma luta jurídica com o governo sergipano para evitar a perda de direitos já conquistados. Mais de 30 mil professores deixam suas escolas e partem em jornada a Aracaju. Uma das líderes, a professora Ana Rosa, vive o desafio de ser mãe, mulher e dirigente sindical.
Abraço contou com a participação de mais de 500 figurantes reais e outros 80 atores locais, de Sergipe, desconhecidos do grande público. O filme foi produzido pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese) e contou com a parceria da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Fiuza bateu um papo com a equipe da AIC e contou como foi essa experiência de roteirizar e dirigir Abraço.
Entrevista
AIC – O filme foi pensado para ser um documentário, né? O que fez você mudar de ideia?
AF – Em 2017, o sindicato dos professores de Sergipe completou 40 anos. Neste mesmo ano, eles me convidaram para produzir um documentário para contar a história do sindicato. Mas eu percebi que ali estava uma excelente oportunidade para fazer um filme que de algum modo dialogasse com a atual realidade de retirada de direito da classe trabalhadora, de destruição da cultura, de engessamento da ANCINE, do total descaso e ataques à educação, aos estudantes universitários, a professores, a movimentos sindicais e sociais. Então, ao invés de fazer um documentário sobre a história do sindicato, conversei com a direção do sindicato e eles aceitaram financiar a produção de um filme de ficção baseado em um episódio da história do sindicato, de preferência um episódio que eu pudesse dialogar com o Brasil atual. Assim nasceu o o filme.
AIC – Gostaria que você falasse sobre a importância do Sintese, com parceria CNTE e da CUT, de produzir um filme de ficção, baseado em fatos reais, neste momento tão conturbado para o audiovisual.
AF – O sindicato dos professores com o apoio da CUT e da CNTE iriam financiar apenas a produção e pós-produção do filme. A distribuição seria via edital da ANCINE. Inscrevemos o filme e ganhamos o edital. Mas aí, Bolsonaro foi eleito presidente e iniciou seu processo de ataque à cultura, à ciência, à educação etc. Ganhamos o edital, mas a ANCINE parou, e com isso centenas de projetos aprovados foram parar em alguma gaveta qualquer e fim de conversa.
Trabalhamos muito e demos muito sangue para produzir Abraço e não podíamos morrer na praia por causa de um governo que não gosta de arte, que odeia tudo. Foi assim que mais uma vez reunimos os sindicatos e conseguimos lançar o filme no dia 15 de outubro, dia dos professores.
O governo não só deixou de pagar o edital, como também nos causou um prejuízo. Para concorrer ao edital tivemos que colocar a marca da ANCINE na abertura do filme e depois pagar para retira-la, para evitar qualquer tipo de perseguição ou processo.
Então, por um lado é muito bom que organizações como sindicatos produzam cultura, mas por outro, não podemos permitir que o governo deixe de cumprir o seu papel constitucional de incentivo e apoio às artes, e além disso, a cultura é uma indústria que gera emprego e renda para milhares de profissionais, é um setor econômico importante para o desenvolvimento do país. Atacar a cultura não é só perseguir artistas, é também retirar o emprego e o alimentos de milhares de famílias.
AIC – Alguma dica para quem está cursando cinema?
AF – Encontre o seu discurso. Primeiro, existe o impulso, a vontade incontrolável de dizer alguma coisa, de falar, de expressar. Depois, vem a ferramenta, o meio através do qual materializamos o discurso. Saber para onde apontar a câmera é mais importante do que a própria câmera. Dominar a linguagem cinematográfica é fundamental para um cineasta, mas ter o que dizer, ter consciência do discurso que está construindo é mais importante. Pelos menos é assim que eu penso.
AIC – Que lembrança você guarda da época em que estudou cinema na AIC?
AF – A paixão com que meus professores falavam sobre cinema. Isso foi o que mais me marcou. Vê-los falar com tanta força, com tanta fé dessa arte espetacular que é o cinema era pra mim a maior lição. Tenho saudades.
Abraço – A Única Saída é Lutar está disponível nas plataformas Apple Tv, Google Play, NOW, Looke, Vivo Play e Youtube Filmes.