Overview do fenômeno deepfake: como vem sendo utilizado?
Se você acompanha a internet e o YouTube, provavelmente já leu sobre o fenômeno do deepfake. Essa tecnologia, baseada em inteligência artificial, permite criar vídeos simulados com um alto grau de precisão e realismo e tem sido destaque nos últimos três anos no mundo virtual.
Como esse conceito está se tornando cada vez mais popular, é fundamental entender a fundo como ele funciona e quais os seus efeitos sobre a indústria do cinema.
Esse é justamente o objetivo deste artigo. Se quiser saber mais e se preparar melhor para o futuro do mundo do audiovisual, acompanhe atentamente este conteúdo. Boa leitura!
O que é deepfake?
Você já deve ter visto montagens de vídeo na internet e algumas discussões acerca do quão fascinantes e perigosas elas são, não é mesmo? O conceito de deepfake é muito novo, mas já gera esse abismo de reações. Trata-se basicamente de uma aplicação da inteligência artificial (IA) para realizar cruzamentos entre vídeos de forma a simular algo que não é real.
Em uma das aplicações, a tecnologia de IA consegue colocar o rosto de uma pessoa no corpo de outra, com suas expressões, trejeitos e voz, a fim de enganar espectadores sobre o que esse indivíduo teria feito ou fazê-los imaginar como seria se ele realmente tivesse praticado determinada ação.
É uma evolução natural das montagens feitas em aplicações de edição de fotos, como o Adobe Photoshop. A diferença, no entanto, é que, com os vídeos, a simulação se torna ainda mais realista.
O conceito, como conhecemos hoje, surgiu em 2017, quando um usuário do Reddit ficou famoso por disseminar simulações envolvendo rostos de pessoas famosas em filmes pornográficos. Desde então, o termo explodiu e se espalhou pela internet, com diversas amostras do que as ferramentas podem realizar.
O termo “deepfake” vem de “deep learning”. Em português, aprendizado profundo. É uma subárea da inteligência artificial que busca treinar computadores para realizar tarefas e aprender como os seres humanos. Essas atividades incluem reconhecimento de imagens/vídeos e processamento de fala. O deep learning existe basicamente desde 1950, quando a IA começou a ser levada a sério.
Treinamento
Para gerar uma simulação, o sistema passa por duas etapas principais: uma delas é o aprendizado das expressões, movimentos faciais e trejeitos da pessoa-alvo, que geralmente é alguém famoso.
Nesse momento, quanto mais imagens forem fornecidas, melhor é o resultado. A vantagem do computador fazer isso, em vez do ser humano, é o fato de que a máquina pode processar uma quantidade imensa de dados em um tempo menor.
Na segunda etapa, o computador aprende os movimentos do molde, ou seja, do corpo que será usado como base para a montagem. Então, ele é capaz de cruzar dois vídeos, com um nível muito bom de precisão e realismo, já que sabe cada detalhe dos dois modelos e consegue encontrar um ponto em comum entre eles.
Como ele vem sendo utilizado?
Os deepfakes já estão sendo utilizados para diversos fins. Um tipo famoso de vídeo é o que coloca o rosto de um determinado ator em uma cena de um filme estrelado por outro profissional.
Um exemplo disso é a montagem que coloca Jim Carrey para atuar no lugar de Jack Nicholson, em “O Iluminado”, filme do diretor Stanley Kubrick. Existe outro exemplo que mostra como Will Smith atuaria se estivesse em “Matrix”, dirigido pelas irmãs Wachowski.
Além disso, o ator Harrison Ford apareceu em uma das simulações do filme “Han Solo: Uma História Star Wars” exatamente no lugar do protagonista que interpreta a versão jovem do personagem Han Solo.
Também existem vídeos de políticos realizando pronunciamentos que eles nunca fizeram de fato. Do mesmo modo, discursos que só existiam em versão escrita ganharam vida em uma versão audiovisual.
Ainda, existem usos para o humor, em que rostos de atores são trocados em situações inusitadas e cômicas, nas quais o efeito se torna facilmente perceptível.
Potencial
No entanto, você deve estar imaginando: de certa forma, isso não é algo novo na indústria do cinema. Realmente, não é. Efeitos visuais estão sendo usados em massa nos blockbusters das últimas décadas, pois permitem criar universos e expandir as narrativas com simulações fascinantes e fantásticas.
Atualmente, esses efeitos estão sendo aplicados em seres humanos na tela, a fim de rejuvenescer atores ou compensar cenas não filmadas por alguma fatalidade (como a morte de atores no período de produção). Em 2019, os filmes “Projeto Gemini” e “O Irlandês“ ficaram famosos por usar recursos de rejuvenescimento para lidar com a limitação de idade de seus protagonistas.
O que vemos na tela não é exatamente deepfake, mas a revolução desse conceito pode ser útil para a indústria cinematográfica no futuro. Ao permitir a possibilidade de criar simulações com uma boa qualidade, o realismo nas produções será ainda maior, o que vai conferir mais peso aos filmes e garantir uma imersão completa ao espectador.
O grande destaque dessa ferramenta baseada em IA é justamente o fato de que ela democratiza o que antes só poderia ser feito por grandes estúdios e empresas de efeitos visuais. Agora, qualquer usuário consegue encontrar um aplicativo ou uma ferramenta para misturar vídeos e criar essas simulações com um alto grau de realismo e precisão.
Isso vai permitir que produções independentes consigam bons resultados com computação gráfica, viabilizando as criações e as mudanças diante de incidentes limitantes. Além disso, será preciso investir menos para conseguir um resultado satisfatório, o que pode ajudar no orçamento dos filmes e permitir o financiamento de alguns projetos.
Atores e atrizes também precisam se adaptar a esse novo universo, pois ele requer novas formas de atuar, com novos aparatos e recursos adicionais de câmera e captura de movimento.
Quais as implicações negativas?
O que preocupa alguns usuários é o fato de que o deepfake pode ser utilizado por pessoas mal-intencionadas para objetivos escusos, como difamar indivíduos ou propagar notícias falsas. Em um cenário político, é possível influenciar decisões da população. Além disso, pessoas famosas são expostas e caluniadas por vídeos que mostram algo que elas não fizeram na realidade.
Contudo, o que os especialistas defendem é que essa tecnologia ainda tem certas limitações. Assim, é possível claramente separar o que é real e o que não é.
Um exemplo disso é o fato de que essas simulações ficam melhores quando as imagens estão em baixa resolução. Quando o conteúdo é consumido em uma resolução maior, os defeitos são destacados, e a diferença se torna inteligível.
Além disso, é possível perceber detalhes, como a quantidade de vezes que uma pessoa pisca, as características do cabelo e os movimentos da boca, a fim de identificar se os vídeos são reais. Plataformas como o Facebook já trabalham com especialistas em realizar essa identificação, com o objetivo de excluir publicações falsas.
Como vimos, o deepfake é um fenômeno importante dos nossos tempos, tendo nascido recentemente e já conquistado uma ampla divulgação. Seu potencial para a indústria do cinema é grande, pois ele pode ser somado a outras estratégias de efeitos visuais para enriquecer produções e permitir filmes que superem as principais limitações. Mesmo com algumas implicações negativas, é possível solucionar os problemas e fazer com que o uso seja saudável.
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*Crédito Foto: Dani Botelho