Debate sobre mercado internacional com André Sturm e Laura Rossi abre evento da AIC
A globalização do cinema brasileiro foi o tema central do primeiro dia da 12ª Semana de Cinema e Mercado, evento organizado pela AIC que convida especialistas do mercado audiovisual para colocar em perspectiva assuntos contemporâneos do setor. Participaram do debate André Sturm, diretor-executivo do MIS-SP (Museu da Imagem e do Som), diretor do REAG Belas Artes e fundador da Pandora Filmes, e Laura Rossi, produtora-executiva, pesquisadora e head da área internacional da Gullane.
A conversa começou com cada um dos convidados fazendo um retrospecto das suas trajetórias. “Eu não vim de uma família com conexões com a indústria audiovisual. Começou como um sonho mesmo, por gostar da área”, disse Laura, que estudou na Universidade de Cinema de Buenos Aires e pediu transferência para a FAAP por entender que, à época, o audiovisual brasileiro estava aquecido. E ela acertou. “Na FAAP, eu conheci muitas pessoas do mercado, inclusive o Fabiano Gullane, com quem eu trabalho até hoje”. Desde 2018, ela lidera o departamento de internacionalização da Gullane.
Já Sturm contou o início da sua relação com o cinema, quando se dividia entre os estudos de administração de empresas na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a programação de filmes no auditório da universidade. “Era uma época, 1984, [ótima] porque era mais fácil fazer um ciclo Bergman do que exibir um vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Havia pequenas distribuidoras que não lançavam coisas novas, mas que tinham um acervo maravilhoso. Aí eu fui descobrindo o trabalho de cada uma delas e conhecendo os profissionais envolvidos”. Anos depois ele fundou uma das principais distribuidoras do país, a Pandora Filmes.
O olhar para o mercado internacional, para Rossi e Sturm, começou de formas diferentes, mas complementares. A Laura, pela aposta no aquecimento do cinema brasileiro pós-anos 2000, e o André, por se deparar com a ausência de filmes brasileiros em festivais internacionais. “Eu fui a Paris uma vez, depois do Festival de Cannes, e vi três filmes argentinos em cartaz mas nenhum brasileiro”, afirma Sturm. Para ele, a resposta era que a Argentina mantinha parcerias de coprodução com diversos países, ao contrário do Brasil.
Foi esse o estímulo para que ele retornasse ao país com a missão de mobilizar o setor e plantar uma semente que anos depois, em 2006, viria a se tornar o Cinema do Brasil, o principal programa de divulgação do cinema brasileiro em território internacional.
Sobre a dinâmica da internacionalização, Rossi esclarece que o movimento é resultado de um traço cultural na forma como o público brasileiro enxerga o que vem de fora do Brasil. “O mercado nacional não é muito forte na comercialização de produtos brasileiros, principalmente os filmes autorais e de arte. Quando eles dão certo, a gente é um país que olha para fora para buscar validação. E a melhor forma de buscar essa aprovação é indo para o exterior”. Ela lembra, inclusive, que a Gullane estabelece essa estratégia há muito anos, desde o lançamento do filme “O Bicho de Sete Cabeças”, da cineasta Laís Bodanzky.
Laura ainda deu uma dica para quem deseja se aventurar na internacionalização de projetos audiovisuais. “O melhor caminho é criar um tipo de cinema parecido com outras cinematografias presentes nos principais festivais do mundo [como Cannes, Veneza, Berlim, entre outros]”.
O debate também deu espaço para outros temas como a consolidação do cinema enquanto indústria no Brasil, o que, de acordo com Sturm, ainda caminha a passos curtos. “Até hoje a política pública federal não entendeu que é preciso incentiva a empresa [do audiovisual], e não apenas os projetos”. O gestor cultural propõe criar dois tipos de financiamento: o seletivo, voltado para quem quer fazer filmes mais ousados; e o automático, para quem já está no mercado há algum tempo. “Sem isso não haverá uma indústria efetiva”, conclui.