O ex-aluno e professor da Academia Internacional de Cinema (AIC), Cristiano Burlan, ganhou na última segunda-feira (24), o prêmio Governador do Estado, na categoria de Cinema, pelo seu último documentário “Mataram Meu Irmão”. A cerimônia, realizada no Theatro São Pedro, concedeu um total de R$ 520 mil em prêmios para os artistas e instituições vencedoras.
No discurso de agradecimento, Burlan, bastante emocionado, disse que trocaria tudo isso pela vida do irmão. “Mataram meu Irmão” reconstrói, por meio de relatos de parentes e amigos, o assassinato de Rafael Burlan, irmão de Cristiano, morto com sete tiros, em 2001. Além de uma jornada pessoal, o filme retrata a violência de bairros da periferia paulista, como o Capão Redondo, onde ele morava com a família.
Alguns dias antes da cerimônia de premiação, o crítico Jean-Claude Bernardet, publicou em seu blog uma longa entrevista com Cristiano, onde ele revela uma infância complicada, marcada pela violência. “Considerando que, no passado, morou em uma região tão degradada e esquecida pelas políticas públicas, como se sente hoje, ao receber um prêmio do Estado?”, perguntamos a Cristiano. Ele respondeu: “como eu disse ontem no prêmio, é um tanto irônico. Primeiro porque o mesmo governo que me premiou é o governo responsável pela morte do meu irmão. Não só do meu, mas de vários irmãos que vêm sendo assassinados nas periferias brasileiras. O meu irmão foi morto por uma quadrilha comandada por policiais militares. Eu preferiria nem ter feito este filme, trocaria tudo isso pela vida do meu irmão”.
Mesmo depois de ganhar alguns dos prêmios mais importantes do cinema, Cristiano não se deixar afetar. “O filme não se justifica pelos prêmios que vêm angariando ou pelas boas críticas, mas por trazer luz a uma questão aparentemente banal para muitos, a barbárie em que vivemos nos bolsões de pobreza das periferias brasileiras. O mais importante pra mim é se o filme tem a potência necessária para gerar alguma reflexão”, comenta.
Conheça todos os vencedores da noite:
Destaque Cultural
- Tomie Ohtake, pelo conjunto da obra
Voto do júri
- Artes visuais José Resende – instalação “A Cabana do Vento” (Sesc Belenzinho)
- Cinema Cristiano Burlan – “Mataram Meu Irmão”
- Circo José Wilson Leite – Picadeiro Circo Escola
- Dança Janice Vieira – Espetáculo “Vis-à-Vis” e trajetória
- Inclusão cultural Espaço Clariô – Sarau do Binho, Quintasoito e Mostra Teatro do Guedo
- Música Ná Ozzetti – “Embalar”
- Teatro Núcleo Bartolomeu de Depoimento – “Antígona Recortada – Contos que Cantam Sobre Pousopássaros”
Voto popular
- Artes visuais Carlito Carvalhosa – Instalação “Sala de Espera” (MAC – USP)
- Cinema Tata Amaral – “Hoje”
- Circo José Wilson Leite – Picadeiro Circo Escola
- Dança Antonio Nóbrega – Espetáculo “Humus” e trajetória
- Inclusão cultural Ilu Obá de Min
- Música Emicida – “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”
- Teatro Mundana Cia – “O Duelo”
- Fomento CPFL Energia
- Inclusão cultural Jardim Miriam Arte Clube (JAMAC)
*Fotos Divulgação e Arquivo Pessoal