Como criar uma boa premissa para uma série cômica?
M.C.: Boa pergunta haha. Não acredito que exista uma forma/fórmula para criar uma premissa de humor. Na verdade, o humor pede um talento muito específico, que não é exatamente saber fazer piada ou ser engraçado. Acho que o humor envolve ponto de vista. Um ponto de vista peculiar. Sim, a escrita sempre será uma questão de ponto de vista, mas num drama, num romance, você pode simplesmente abordar um tema, uma situação humana, apresentando versões alternativas de fatos e sentimentos. Você pode escrever uma história envolvendo drogas a partir do traficante, do dependente, do combatente, do familiar etc. (Scarface, Trainspotting, Requiém Para Um Sonho, Traffic, Cidade de Deus, Christiane F., Blow…). Já em “O Barato de Grace” o humor está diretamente relacionado ao ponto de vista enviesado da personagem em relação às drogas: uma viúva inglesa, dona de casa em cidade pequena, precisando de dinheiro para pagar as dívidas deixadas pelo marido morto e para sobreviver, acaba plantando e vendendo maconha. Só isso já é engraçado. A imagem que a gente faz na cabeça meio que imediatamente já é um ponto de partida sensacional pro humor.
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Os diálogos de sitcom são diferentes das séries dramáticas? Como?
M.C.: Diálogos sempre serão diferentes em função do gênero. Mas não acredito em diálogo como uma entidade apartada dos personagens e suas relações. Não é propriamente o diálogo que tem graça, é o ser humano que carrega aquelas falas. Se o personagem não for um personagem de humor – ou seja, se não tiver um ponto de vista enviesado sobre o mundo, se não amar de um jeito enviesado, se não sofrer de um jeito enviesado (e por aí vai) – não abrirá a boca pra dizer nada engraçado. Lógico, ritmo é fundamental no humor, mas não é exatamente isso o que faz uma coisa ser engraçada ou não. Vide Curb Your Enhusiasm, que tem falas longas, improvisadas, aparentemente sem ritmo de comédia, e é engraçadíssimo. Porque o personagem Larry David é absolutamente enviesado.
Como você vai trabalhar em sala de aula?
M.C.: Vou apresentar as diversas possibilidades do humor e suas variáveis, a partir de trechos de séries e filmes. Analisando a estrutura das cenas e dos diálogos, minha ideia é demonstrar o quanto a graça está mais relacionada às relações/situações do que à graça propriamente dita. Pra aula seguinte vou pedir que os alunos trabalhem em cenas de projetos pessoais – ou a partir de uma situação proposta, vai depender da preferência. As cenas serão lidas em voz alta (uma das coisas mais importantes é ler cenas em voz alta, na minha opinião), analisadas e discutidas, para que todos tenham a oportunidade de testar (como escritores e espectadores) o conteúdo da aula teórica.
O Curso de Roteiro de Humor
Com o objetivo de desenvolver as capacidades criativas do aluno na redação de roteiros engraçados e originais, o curso alia teoria e prática de escrita, dividido em módulos dedicados a três veículos de narrativas cômicas no audiovisual: cinema, televisão e internet.
No primeiro módulo o curso apresenta as estruturas fundamentais do humor, usando exemplos do cinema e de mestres da comédia, de Chaplin e Billy Wilder a Woody Allen e Judd Apatow, analisando a mecânica da comédia e da dramaturgia de humor. No segundo, trata das formas como a televisão explora o humor em diferentes formatos, traçando um breve panorama de diferentes produções, como o esquete, o sitcom – a comédia de situação – e também o humor de personagem. No terceiro e último módulo o foco é o humor na internet.
Clara Meirelles, professora orientadora do curso, conta um pouco sobre o curso: “É um curso de roteiro que tem como foco a escrita para o humor, que é um mercado à parte e muito aquecido. Vamos estudar ferramentas usadas nesse tipo de narrativa, como punchline, timing, quebra de expectativa. Espero que seja divertido. Se não for, não devolvemos o dinheiro, mas distribuímos piadas grátis”, brinca.