Academia Internacional de Cinema (AIC)

Como aplicar efeitos de Hollywood em um curta de baixo orçamento

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O Antes e o Depois, já com os efeitos, no filme argentino “O Segredo dos Seus Olhos”, do diretor Juan José Campanella. Foto: Divulgação

Difícil saber o que é ‘real’ e o que ‘ilusão’ quando vamos ao cinema. Hoje em dia é normal ver nas telas zumbis, pessoas voando, bichos falando, explosões e ondas imensas invadindo cidades. O que pouca gente sabe é que esses efeitos grandiosos não são os únicos por trás de uma produção audiovisual. Os efeitos visuais estão em quase todo lugar, ou melhor, em quase toda cena. Se você acha que eles são exclusividade dos filmes hollywoodianos, está enganado. O premiado filme argentino “O Segredo dos Seus Olhos”, do diretor Juan José Campanella tem vários efeitos especiais, como a cena do estádio de futebol, feita em chroma key. Ou você acha que todos os torcedores-figurantes realmente estavam ali?

As razões mais comuns para utilização de efeitos são simples: redução de custos e controle total da iluminação, afinal, confiar na previsão do tempo nem sempre dá certo. Imagine parar uma filmagem por conta de uma chuva que dura uma semana. Além do que, construir um castelo no computador é mais fácil e mais barato do que levar equipe e elenco para um castelo real nos confins da Europa.

André Catoto, Diretor, ilustrador, animador, motion designer e professor do novo curso de Introdução Prática em Efeitos Especiais da AIC.

André Catoto, professor do novo curso de Introdução Prática em Efeitos Especiais da Academia Internacional de Cinema (AIC), confirma isso: “Hoje em dia a computação gráfica é bastante utilizada, também, para compor cenas captadas e auxiliar na construção do filme. Muitos estúdios utilizam o chroma key e elementos 3D para compor cenários e objetos de cena. Isso faz com que a grande maioria das produções acabe utilizando recursos de composições e finalização para um melhor controle e um menor custo”, diz.

Um pouco de história

Tudo começou com o cinema fantástico do francês George Meliés, que adaptou seu trabalho

Cena do curta “A Viagem à Lua”, de George Melies (1902).

de ilusionismo para o cinema, tornando-se responsável por um dos primeiros efeitos usados em filmes, a filmagem quadro-a-quadro (hoje conhecido como stop motion). Meliés descobriu os efeitos especiais acidentalmente, quando filmava um ônibus em movimento e o obturador de sua câmera pifou. A partir disso fundiu imagens e fez o primeiro filme de ficção científica: “Viagem à Lua” (1902).

Em “Metrópolis” (1927), Fritz Lang usa o processo conhecido como Schufftan, que usava espelhos para inserir atores em cenários em miniatura, processo utilizado depois em outros clássicos, como “King Kong” (1933) e “Tempos Modernos” (1936).

Harrison Ford em “Star Wars” (1977) – além dos efeitos analógicos, os primeiros efeitos feitos por computador

“O Ladrão de Bágda” (1940) foi o primeiro a usar as telas verdes do Chroma key. Em “Star Wars” (1977) todos os efeitos visuais analógico existentes na época estavam presentes no filme e foi com ele que surgiu o uso do computador para criar novos e diferentes tipos de efeitos. “Tron” (1980) foi o primeiro a usar o computador para criar cenários e em “Jurassic Park” (1993) houve a primeira junção de robôs animatrônicos com computação gráfica.

Se der uma olhada no Youtube nesses filmes “velhos”, talvez ache os efeitos desatualizados, se levar em conta as referências que tem hoje, mas, eles marcaram a história do cinema, usaram as tecnologias mais avançadas da época e foram essenciais para a história dos efeitos visuais. Sem eles, não conheceríamos o cinema como é hoje.

No vídeo, compilado pelo diretor Jim Casey, dá pra apreciar um pouco dessa história dos efeitos especiais. Ele recorta cenas em ordem cronológica, começando em 1878 e terminando com filmes de 2014. Aprecie:

 

Os efeitos mais comuns

Chroma e cena já com as aplicações de efeitos de “As Aventuras de Pi”. Imagem repdrodução site The Loop

Segundo André, existem diversas técnicas que são bastante usadas hoje em dia, entre elas estão a gravação em Chroma Key, a composição e a animação – as duas últimas podem ser feitas em 3D ou 2D.

A técnica do Chroma Key é utilizada quando o fundo ou cenário precisa ser substituído. A cena é gravada dentro de um estúdio com uma cor sólida por traz da cena, geralmente verde ou azul, o que facilita o recorte e a inserção do novo cenário. “Hoje é possível pensar em uma composição ou pós-produção em um filme de custo reduzido, mas para isso é preciso uma pré-produção muito alinhada e muito clara. A maioria dos erros ocorre quando a captação desse material é feita sem antes uma boa definição juntamente com o diretor de arte e a tentativa da aplicação ou ajuste do material mal captado em uma estação gráfica. Os efeitos visuais podem reduzir custos de locações, principalmente os de época, cenas de explosões e tiros. Mas é preciso o cuidado com a pré-produção”, conta André.

O vídeo (clique no link para assistir) dos bastidores do filme Sin City: A Dama Fatal, que será lançado aqui no Brasil no dia 11 de setembro, dá pra ter bem a triste noção de como tudo é feito.

Outros efeitos famosos e populares hoje em dia são o “Bullet Time” – quem não lembra daquela cena do Neo, no Matrix, desviando do tiro?! E o Slow Motion, que são os movimentos em câmera lenta.

Faça você mesmo!

O melhor disso tudo é que com a popularização de softwares e equipamentos, você não precisa de 50 câmeras para criar o Bullet Time e nem de uma câmera caríssima para conseguir uma imagem boa em câmera lenta. É possível SIM, fazer bons efeitos com baixo orçamento. Confira as dicas do André Catoto, especialmente para a reportagem da AIC.

“Basicamente você precisa de um tecido de Chroma Key ou pintar uma parede ou tapadeira com a cor. Cuidando, claro, com a especificação da cor. É preciso ter cuidado com a luz da cena final. Se na cena final estiver nublado, tem que tentar seguir essa luz no chroma. Também tem que evitar sombras no verde. Depois da cena captada, você precisa de um software de edição ou finalização de imagem, como o After Effects ou Premier, para recortar e aplicar a cena que gravou”, diz Catoto.

“Para compor uma cena, geralmente, você tem um ator gravado em chroma e, posteriormente, o aplica em um cenário que você compõe. Para criar essas composições você também precisará de um softwares de edição, como o que citamos acima. A minha dica é que você sempre crie camadas para ambientar qualquer cenário. Essas camadas podem conter fumaça, nuvens, elementos de vento, grama, árvores etc. Criando camadas, entre o cenário, o ator e a câmera ajuda a construir um ambiente real para qualquer cena”, conta.

“No caso do Slow Motion, quanto mais quadros por segundo a câmera captar, melhor o resultado final. Já no caso do Bullet Time, com uma câmera você consegue fazer um efeito bem próximo, basta gravar a pessoa no movimento que deseja e finalizar a cena com softwares de criação de ambiente em 3D, como o Cinema 4D e o 3D Studio Max”, finaliza André.

*Foto em destaque: Yuri Pinheiro – estúdio da AIC

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