Arthur Tuoto, ex-aluno da primeira turma da Academia Internacional de Cinema (AIC), teve seu vídeo “Não Me Fale Sobre Recomeços” exibido na Mostra Cinema Agora! do Festival de Brasília deste ano, destinada a produções com linguagens experimentais. Seus filmes e videoinstalações se caracterizam por transitar entre cinema e artes visuais e já foram exibidos em festivais e exposições como Berlinale, BAFICI, Videonale, Les Rencontres internationales, Videoformes, Mostra de Cinema de Tiradentes, Semana dos Realizadores, entre outros.
“Não me Fale Sobre Recomeços” foi criado unicamente a partir de imagens coletadas das mais variadas fontes, como vídeos do Youtube, filmes clássicos e outros. Nesse sentido, é evidente uma mistura de linguagens em seus trabalhos. Em uma entrevista para AIC, Arthur fala sobre seus novos trabalhos, e como vê o cinema experimental, suas inspirações e linguagens.
AIC – Você trabalha tanto com artes visuais como com cinema. Como essas artes se influenciam?
AT: Tanto o meu trabalho em artes visuais (as videoinstalações) como os trabalhos de cinema (os curtas e os longas) acabam, inevitavelmente, dialogando entre si. Uma pesquisa complementa a outra. E o mais importante, nenhuma das disciplinas acaba se limitando. As minhas referências em artes acabam subvertendo os curtas e os longas tanto quanto a minha referência em cinema acaba subvertendo o trabalho em artes.
AIC – Como você idealizou “Não Me Fale Sobre Recomeços”?
AT: O filme parte de uma pesquisa sobre apropriação de imagens. Quase todo o meu trabalho, a partir de 2011, é realizado unicamente a partir de material encontrado. Ou seja, eu não filmo mais, eu apenas coleto imagens, das mais variadas fontes, e vou rearticulando esse material em prol de um novo processo criativo, em prol de um novo significado. O filme não partiu propriamente de uma ideia, mas de um processo ensaístico, de um exercício de rearticulação de significado dessas imagens, um exercício diário que, naturalmente, deu origem à obra.
AIC – Em uma entrevista que você deu recentemente ao jornal de Curitiba Gazeta do Povo, falou sobre a heterogeneidade da imagem e da informação. O que isso significa em seu filme “Não me fale de recomeços”?
AT: O filme trabalha muito com uma rearticulação do olhar, bastante em voga na contemporaneidade. A todo o momento, somos abordados pelos mais diversos tipos de imagem: publicidade, vídeos de YouTube, cinema, séries… a nossa experiência como espectador on-line acaba se transformando em uma experiência de rearticulação do olhar, ou seja, nós precisamos processar todo tipo de imagem, todo tipo de discurso. E o filme tenta refletir sobre essa heterogeneidade, essa diversidade de imagens e sons, tenta criar uma espécie de breviário digital sobre essas novas possibilidades cognitivas.
AIC – Você também diz que aposta em uma mistura de linguagens, o que isso significa?
AT: Sempre me interessei por todo tipo de imagem: baixa resolução, alta resolução, imagens de arquivo, fotografias, imagens de celular. E os trabalhos, de alguma forma, refletem isso. Nao deixam de ser, também, sobre a própria natureza da imagem. Tentam entender o que é, hoje, uma imagem. Como essa imagem é produzida, como ela é processada. Que procedimentos sociais e imagéticos estão em voga nesse caminho.
AIC – Quando começou a se interessar por cinema?
AT: Comecei a cursar a AIC quando a escola ainda estava em Curitiba e terminei o curso em São Paulo, e desde o começo da minha carreira, tenho me interessado por um cinema de vanguarda, que concilia vários elementos sensoriais das artes visuais. Meu trabalho, naturalmente, foi se concentrando nisso, e meus vídeos são exibidos tanto em festivais como em museus. Mas ainda mantenho um interesse muito grande pelo cinema de ficção, pela elementaridade do cinema em si. Boa parte dos meus trabalhos, mesmos os mais experimentais, acabam lidando com várias referências cinematográficas; lancei um curta narrativo esse ano no Olhar de Cinema (http://arthurtuoto.com/last-portrait.html) e pretendo, seguir paralelamente fazendo trabalhos de ficção, ainda que aliando alguns elementos sensoriais.
AIC – Como foi sua experiência na AIC?
AT: . Terminei em 2007, e como entrei no curso bastante novo, meus trabalhos em vídeo começaram ali. O interesse pelo cinema surgiu de uma cinefilia que vem desde a infância, dos tempos de locadora, mesmo. Acho que o cinema, talvez mais do que qualquer arte, tem o poder de nos transpor para outras realidades. E sempre me interessou essa natureza fantasiosa, essa vocação convidativa do cinema. Por isso, desde muito novo, já tinha me decidido que era isso o que queria fazer.
AIC: O que você falaria para quem está começando e se interessa por cinema experimental?
AT: Acho que qualquer trabalho com artes é, antes de tudo, um trabalho de frustração. O artista é, provavelmente, uma das pessoas que mais lida com rejeição durante a vida. Por isso é preciso, antes de tudo, acreditar no seu trabalho. Fazer o trabalho não pensando exatamente em um futuro glorioso, mas fazer pelo ato de fazer, pela paixão pessoal que aquilo alimenta. Com isso, consequentemente, o reconhecimento vai surgir.